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Lavoura n. 4

Quarta edição da revista semestral Lavoura, dedicada à publicação de literatura brasileira contemporânea. Editada por André Balbo, Arthur Lungov e Lucas Verzola

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NDAMENTAL DE<br />

48<br />

LÍSIAS<br />

mais com uma obra. É o caso de Samuel Beckett.<br />

Confesso que não tenho tanta atração<br />

pelos outros livros de James Joyce quanto<br />

pelo Ulysses. Talvez isso se deva exclusivamente<br />

à intensidade com gosto do livro. Já<br />

no caso de Beckett, não tenho exatamente<br />

um livro preferido. O que me importa nesse<br />

caso é a trajetória da obra. Consigo enxergar<br />

um caminho coerente dos primeiros livros,<br />

um pouco mais narrativos, aos últimos, absolutamente<br />

afásicos. A obra de Beckett<br />

me fascina. Confesso que em momentos de<br />

maior angústia – e que não são poucos –<br />

tento esconder-me neles, ou talvez fugir.<br />

4. mac e seu contratempo, de<br />

enrique vila-matas<br />

É o último livro publicado no Brasil do grande<br />

escritor espanhol. Do mesmo jeito que o<br />

anterior, aparece para representar a obra inteira,<br />

que das que pude conhecer talvez seja<br />

a mais interessante do nosso tempo. Aqui,<br />

não temos mais exatamente um gênero literário<br />

específico, o que acaba causando a<br />

dissolução inclusive das outras bases. Para<br />

Vila-Matas falar em ficção ou não-ficção é<br />

um atraso. O melhor é deixar o leitor buscar<br />

suas próprias conclusões, oferecendo<br />

subsídios de ampla natureza. Todos os seus<br />

livros merecem atenção, mas outro notável<br />

é Não há lógica em Kassel.<br />

5. submissão, de michel houellebecq<br />

Aqui, não escolho um livro pela obra. Embora<br />

ache todos os seus livros interessantes,<br />

os dois últimos são muito superiores<br />

aos outros. Houellebecq parece compreender<br />

não apenas diversos aspectos da cultura<br />

contemporânea como, com bastante<br />

habilidade, cria uma literatura com forte<br />

poder de intervenção, tornando seus livros<br />

objetos culturais e não apenas “representação”<br />

literária. Por isso incomoda bastante.<br />

Se não utilizei seu livro como representante<br />

da obra, quero deixá-lo porém como sinal<br />

do enorme poder da literatura francesa contemporânea.<br />

Acho que o século XXI está<br />

vendoma reação forte dos franceses. Aqui<br />

eu poderia ter substituído Houellebecq por<br />

Sophie Calle sem nenhum prejuízo.

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