Atos I Médicos de corpo e alma (Monólogo)_Paulo Vitor Grossi (2018)
“MÉDICOS DE CORPO E ALMA” MONÓLOGO Adaptação teatral de Paulo Vitor Grossi com base nas citações de Fílon de Alexandria, Flavio Josefo, Anne e Daniel Meurois-Givaudan e no Evangelho Essênio da Paz Arte da capa: Marília Veloso
“MÉDICOS DE CORPO E ALMA” MONÓLOGO
Adaptação teatral de Paulo Vitor Grossi com base nas citações de Fílon de Alexandria, Flavio Josefo, Anne e Daniel Meurois-Givaudan e no Evangelho Essênio da Paz
Arte da capa: Marília Veloso
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<strong>Atos</strong> I <strong>Médicos</strong> <strong>de</strong> <strong>corpo</strong> e <strong>alma</strong> (<strong>Monólogo</strong>)
“MÉDICOS DE CORPO E ALMA” MONÓLOGO<br />
Adaptação teatral <strong>de</strong> <strong>Paulo</strong> <strong>Vitor</strong> <strong>Grossi</strong> com base nas citações <strong>de</strong> Fílon <strong>de</strong> Alexandria,<br />
Flavio Josefo, Anne e Daniel Meurois-Givaudan e no Evangelho Essênio da Paz<br />
Arte da capa: Marília Veloso<br />
<strong>Atos</strong> I <strong>Médicos</strong> <strong>de</strong> <strong>corpo</strong> e <strong>alma</strong> (<strong>Monólogo</strong>)
“MÉDICOS DE CORPO E ALMA”<br />
PERSONAGEM<br />
O Orador, que apresenta o estilo <strong>de</strong> vida essênio<br />
ÉPOCA<br />
Primeira parte do século XXI<br />
LUGAR<br />
Um calmo palco e seu fundo preto.<br />
Projeções permeiam o discurso<br />
<strong>Atos</strong> I <strong>Médicos</strong> <strong>de</strong> <strong>corpo</strong> e <strong>alma</strong> (<strong>Monólogo</strong>)
ATO ÚNICO<br />
[O pano é aberto. O Orador sobe ao palco enquanto é anunciado pelo locutor do teatro.]<br />
LOCUTOR<br />
(animado)<br />
E agora fiquem com um dos essênios, um dos poucos, dos novos... um<br />
dos médicos da <strong>alma</strong>.<br />
[Com passos vagarosos chega o Orador essênio ao centro do palco e se ajeita colocando<br />
<strong>de</strong> lado as sandálias <strong>de</strong> couro surrado em um canto. Sorri, apenas veste uma túnica <strong>de</strong> linho<br />
gasto. Seus longos cabelos e barba espessa completam uma feição muito percorrida. E ele<br />
fala sem pensar em cerimônias.]<br />
ORADOR<br />
(calmo)<br />
Todas as referências encontradas nos textos dirigem-se a eles como “os<br />
novos”, “os muitos”, “os piedosos”; falam também <strong>de</strong> uma “comunida<strong>de</strong><br />
santa”. O nome “Essênios” era dado pelas <strong>de</strong>mais pessoas e significava<br />
“santos, aqueles que podiam curar”. Atualmente, o que vocês sabem vem<br />
através das crônicas do passado, as mesmas que até os dias <strong>de</strong> hoje nos<br />
restringem a um grupo secreto, e que não se chamava entre si por um<br />
nome específico. Talvez não precisasse!<br />
[A partir daqui a imagem <strong>de</strong> um sol nascente lentamente se mescla à figura do Orador. A<br />
projeção bastante luminosa <strong>de</strong>marca o ator.]<br />
ORADOR<br />
Nossos a<strong>de</strong>ptos estão agora espalhados pelo mundo, contam com homens<br />
e mulheres que preferem os povoados nos quais os costumes sejam<br />
simples, fugindo das cida<strong>de</strong>s por causa da corrupção dos seus habitantes;<br />
ficamos sim suficientemente afastados para evitar efeitos nocivos; via <strong>de</strong><br />
regra, se afastar <strong>de</strong> todas essas tecnologias! Somos sim uma gente solitária<br />
mas não quer dizer que nos afastamos <strong>de</strong> vez do resto da Humanida<strong>de</strong>,<br />
ainda que seja necessário ao menos por um período. É preciso pensar<br />
com a cabeça livre. Viver sem paixões e renunciar ao comércio, carecer <strong>de</strong><br />
<strong>Atos</strong> I <strong>Médicos</strong> <strong>de</strong> <strong>corpo</strong> e <strong>alma</strong> (<strong>Monólogo</strong>)
dinheiro e apenas estar no meio natural é mais que uma aventura, é uma<br />
doação, tantas vezes nossa única companhia. Mas é por amor, o mesmo<br />
amor incondicional prescrito pelo Mestre Jesus Cristo em sua poesia, em<br />
seu Evangelho da Paz:<br />
“Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tenho amor,<br />
minhas palavras serão como o som do metal ou como o tinido <strong>de</strong> um<br />
prato. Ainda que diga o que há <strong>de</strong> vir e conheça todos os segredos e toda a<br />
sabedoria; e ainda tenha uma fé tão forte como a tormenta que move as<br />
montanhas <strong>de</strong> lugar, se não tenho amor não sou nada. E ainda que dê<br />
todos meus bens para alimentar ao pobre e lhe ofereça todo o fogo que<br />
recebi <strong>de</strong> meu Pai, se não tenho amor não encontrarei nisto proveito<br />
algum. O amor é paciente e o amor é amável. O amor não é invejoso, não<br />
faz mal, não conhece o orgulho; não é ru<strong>de</strong> nem egoísta. É equânime, não<br />
crê na malícia; não se regozija na injustiça, senão que se <strong>de</strong>leita em toda<br />
justiça. O amor <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> tudo, o amor crê tudo, o amor espera tudo, o<br />
amor suporta tudo; nunca se esgota; mas quanto às línguas, cessarão, e<br />
quanto ao conhecimento, ele se <strong>de</strong>svanecerá. Pois possuímos em parte a<br />
verda<strong>de</strong> e em parte o erro, mas quando venha a plenitu<strong>de</strong> da perfeição, o<br />
parcial será aniquilado. Quando o homem era criança, falava como<br />
criança, entendia como criança, pensava como criança; porém quando se<br />
fez homem abandonou as coisas <strong>de</strong> criança. Porque nós vemos agora<br />
através <strong>de</strong> um cristal e através <strong>de</strong> sentenças escuras. Agora conhecemos<br />
parcialmente, mas quando tivermos acudido ante o rosto <strong>de</strong> Deus, já não<br />
conheceremos em parte, pois nós mesmos seremos ensinados por Ele. E<br />
agora nos restam três coisas: a fé, a esperança e o amor, porém a maior<br />
<strong>de</strong>las é o amor.”<br />
Queremos recorrer a esse amor, expressá-lo, divulgá-lo. O vocabulário do<br />
amor é sempre simples, tenho certeza que sabem.<br />
Eu vim <strong>de</strong> perto <strong>de</strong> vocês, e acredite, há muitos <strong>de</strong> nós que querem o bem<br />
que o amor traz. A fraternida<strong>de</strong> então se renova continuamente <strong>de</strong>vido à<br />
essa incessante corrente <strong>de</strong> refugiados que nos procuram em gran<strong>de</strong><br />
número, são seres fustigados pela existência, gente a quem as vicissitu<strong>de</strong>s<br />
da sorte impulsionaram a se adaptar a tal gênero <strong>de</strong> vida. Assim, através<br />
dos séculos, por incrível que pareça, nosso povo se perpetuou em lugares<br />
on<strong>de</strong> ninguém havia nascido, mas que muitos por fim queriam estar. Acho<br />
que já imaginam!<br />
[Agora as projeções focam em diversas pessoas sendo ajudadas pela benevolência alheia.<br />
A sugestão é que se utilizem imagens icônicas da cultura popular, <strong>de</strong> hospitais até a ajuda<br />
humanitária e solidária realizada pelo mundo.]<br />
<strong>Atos</strong> I <strong>Médicos</strong> <strong>de</strong> <strong>corpo</strong> e <strong>alma</strong> (<strong>Monólogo</strong>)
ORADOR<br />
Além <strong>de</strong> nossa renúncia às riquezas, comemos só os alimentos mais<br />
simples. Usamos roupas e calçados até às últimas antes <strong>de</strong> adquirir outros<br />
novos. Temos como norma a limpeza e ainda o cultivo da terra, e vocês<br />
enten<strong>de</strong>rão como é se <strong>de</strong>dicar a esses ofícios pacíficos. Não há entre nós<br />
escravos nem senhores, entre nós somos convictos <strong>de</strong> que a fraternida<strong>de</strong><br />
humana é a relação natural do homem; notem o quanto essa noção foi<br />
<strong>de</strong>sacreditada na socieda<strong>de</strong> atual; não apenas por causa <strong>de</strong> um punhado<br />
<strong>de</strong> ambiciosos, mas sim por equívocos sucessivos. Por isso, mantemos<br />
uma igualda<strong>de</strong> fraternal. É o caminho da vida, é inclusive o mais simples!<br />
Com isso a mente fica mais leve; não chegamos à toa em tudo isso,<br />
estudamos muito, sentimos o chamado <strong>de</strong> Deus, fomos estudar o que o<br />
planeta nos dava, suas raízes medicinais e as proprieda<strong>de</strong>s das plantas,<br />
pedras e das águas, por exemplo, e aí então utilizamos para curar. Não é<br />
que para isso tivemos que praticar a predição do futuro! Era o natural,<br />
apenas.<br />
[Pausa, e o Orador caminha pelo palco espaçoso olhando <strong>de</strong> um lado a outro. Depois olha<br />
para cima e uma luz cai sobre ele, que sorri. Depois se volta para a plateia.]<br />
ORADOR<br />
(sempre calmo)<br />
Era nosso costume não falar antes do nascer do Sol, e nos limitávamos a<br />
recitar preces tradicionais, nas quais suplicávamos ao Astro que se<br />
mostrasse. Guar<strong>de</strong>m em seus corações. A oração era a seguinte:<br />
“Dou graças, Senhor, porque tudo inunda com a Tua Luz, porque vence<br />
as trevas, porque ilumina o meu rosto, e porque nos prepara a Semente<br />
Eterna.”<br />
Depois íamos para o trabalho, que se prolongava até às onze, e voltávamos<br />
satisfeitos das nossas terras, lavando com água fria o que <strong>de</strong>veria ser<br />
lavado. Já <strong>de</strong>sse modo purificados, vestíamos nossas roupas <strong>de</strong> linho e nos<br />
dirigíamos ao refeitório. Sentados em silêncio, assim era servido diante <strong>de</strong><br />
cada qual um pão e um pouco <strong>de</strong> alimento num pequeno prato. O<br />
sacerdote que presidia o refeitório recitava a ação <strong>de</strong> graças e voltávamos a<br />
rezar ao finalizar a refeição, para terminar como começamos, com<br />
louvores a Deus, a fim <strong>de</strong> testemunhar que somente <strong>de</strong> sua liberalida<strong>de</strong><br />
recebemos tudo o que temos para nossa alimentação. Após retirarmos as<br />
roupas <strong>de</strong> linho, que consi<strong>de</strong>rávamos sim como sagradas, voltávamos<br />
então ao trabalho.<br />
<strong>Atos</strong> I <strong>Médicos</strong> <strong>de</strong> <strong>corpo</strong> e <strong>alma</strong> (<strong>Monólogo</strong>)
À noite, ao nos reunirmos <strong>de</strong> novo, falávamos, um <strong>de</strong> cada vez, sem<br />
interrupções nem alvoroço; o silêncio tinha suma importância entre nossa<br />
gente. Quando <strong>de</strong>z <strong>de</strong> nós nos sentávamos juntos e um <strong>de</strong>sejava falar, este<br />
último <strong>de</strong>via conter-se se os nove restantes <strong>de</strong>sejassem permanecer<br />
calados. O silêncio não era consi<strong>de</strong>rado como ausência <strong>de</strong> palavra, mas<br />
sim o momento em que se recebia instruções sobre a Palavra Divina. Na<br />
ausência <strong>de</strong>sta, o silêncio era também sagrado. A importância do silêncio<br />
recorda-nos os pitagóricos, os quais prescreviam para os seus discípulos<br />
cinco anos <strong>de</strong> silêncio, em que só recebiam ensinamentos. Também no<br />
Budismo só se <strong>de</strong>viam pronunciar as palavras necessárias e nunca utilizar<br />
palavras ociosas.<br />
Mais tar<strong>de</strong> o Mestre iria traduzir esse silêncio em um pacífico<br />
cumprimento, ouçam o que repito:<br />
“Venham a mim quantos se sintam cansados e quantos pa<strong>de</strong>çam em<br />
conflitos e aflições! Pois minha paz nos fortalecerá e nos confortará.<br />
Porque minha paz <strong>de</strong>rrama complacência. Por isso cumprimento vocês<br />
sempre <strong>de</strong>ssa forma: ‘A paz esteja conosco!’ Cumprimente portanto entre<br />
vocês <strong>de</strong> igual maneira, para que a seu <strong>corpo</strong> <strong>de</strong>scenda a paz <strong>de</strong> nossa Mãe<br />
Terrestre, <strong>de</strong> igual maneira, e a seu espírito a paz <strong>de</strong> nosso Pai Celestial. E<br />
então encontrarão a paz também em vocês, pois o reino <strong>de</strong> Deus estará<br />
em nosso interior. E agora regressem entre nossos Irmãos, com quem até<br />
agora estiveram em guerra, e <strong>de</strong>em a eles também <strong>de</strong>ssa paz. Pois felizes<br />
são aqueles que lutam pela paz, pois encontrarão a paz <strong>de</strong> Deus. Vão, e<br />
não pequem mais. E <strong>de</strong>em a todos nossa paz, como eu lhes <strong>de</strong>i a minha.<br />
Pois minha paz é a <strong>de</strong> Deus. ‘A paz esteja conosco.’”<br />
[Um pequeno intervalo no qual o Oração parece refletir sobre suas próprias palavras. Ele<br />
então volta a si.]<br />
ORADOR<br />
(concentrado)<br />
Como outros, também sustentávamos que a Alma era imortal. O Espírito<br />
emana do mais puro éter, e uma magia natural arrasta-o para baixo,<br />
ficando enredado na prisão do <strong>corpo</strong>. Mas, uma vez posto em liberda<strong>de</strong><br />
pela morte, alegra-se e é levado para o alto. Também acreditávamos,<br />
como os gregos, que as <strong>alma</strong>s cobertas <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>s tinham reservado um<br />
lugar <strong>de</strong> repouso <strong>de</strong>finitivo mais para além do mar, lugar refrescado por<br />
uma brisa suave, on<strong>de</strong> não havia neve, chuva nem calor.<br />
Assim qualquer um <strong>de</strong> nós praticaria a pieda<strong>de</strong> em relação à <strong>de</strong>ida<strong>de</strong> e<br />
observaria a justiça com respeito aos homens; não causaria dano a<br />
ninguém, nem por própria <strong>de</strong>terminação nem sob or<strong>de</strong>m alheia; manteria<br />
<strong>Atos</strong> I <strong>Médicos</strong> <strong>de</strong> <strong>corpo</strong> e <strong>alma</strong> (<strong>Monólogo</strong>)
constantemente a fé nos homens e em especial nos po<strong>de</strong>res existentes,<br />
porque nenhum governante obtém o seu cargo senão “pela vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Deus”; da mesma forma qualquer um <strong>de</strong> nós aceitaria para sempre o<br />
injusto e lutaria pelo justo; no caso <strong>de</strong> obter autorida<strong>de</strong>, não abusaria<br />
jamais <strong>de</strong>la; seria eternamente um amante da Verda<strong>de</strong> e a colocaria em<br />
evidência face aos mentirosos; manteria as suas mãos afastadas do roubo e<br />
a sua <strong>alma</strong> pura <strong>de</strong> toda a ganância pecaminosa; não ocultaria nada aos<br />
membros da fraternida<strong>de</strong> e nada revelaria dos seus segredos aos estranhos,<br />
ainda que fosse torturado até à morte. Juramos <strong>de</strong>ssa maneira transmitir as<br />
regras tal como as recebemos, juramos preservar com cuidado os livros da<br />
fraternida<strong>de</strong> e os nomes dos Anjos. Bem, isso é um pouco do nosso dia a<br />
dia, assim como as pessoas hoje em dia têm o seu. É assim em cada época.<br />
[Pausa. Daqui por diante um sem número <strong>de</strong> projeções é apresentada por cima da figura<br />
do Orador. São campos e plantações, montanhas e animais serenos. As cores animam<br />
ainda mais o ambiente.]<br />
ORADOR<br />
(enfático)<br />
Para construir um mundo novo e melhor, o homem precisa encontrar<br />
propostas alternativas que o satisfaçam pessoalmente e que se possam<br />
consi<strong>de</strong>rar boas para os outros. O homem do nosso tempo necessita <strong>de</strong><br />
uma Nova Aliança. A oração ajuda. Vamos orar, é tão simples:<br />
“Ó Fonte da Manifestação! Alento da vida! Pai-Mãe do Cosmo! Faça Tua<br />
Luz brilhar <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nós, para que possamos torná-la útil. Nos aju<strong>de</strong> a<br />
seguir nosso caminho movidos apenas pelo sentimento que emana <strong>de</strong> Ti.<br />
Que nosso eu possa estar em sintonia contigo, para que caminhemos com<br />
realeza com todos os outros seres criados. Estabelece Teu Reino <strong>de</strong><br />
unida<strong>de</strong> agora. Que Teu <strong>de</strong>sejo e os nossos sejam um só, em toda a luz,<br />
assim como em todas as formas. Nos dê o que precisamos cada dia, em<br />
pão e compreensão. Desfaz os laços dos erros que nos pren<strong>de</strong>m, assim<br />
como nós soltamos as amarras que mantemos da culpa dos outros. Não<br />
permita que a superficialida<strong>de</strong> e a aparência das coisas do mundo nos<br />
iludam. Mas nos liberte <strong>de</strong> tudo que nos aprisiona. E não nos <strong>de</strong>ixe<br />
sermos tomados pelo esquecimento <strong>de</strong> que <strong>de</strong> ti nasce a vonta<strong>de</strong> que tudo<br />
governa, o po<strong>de</strong>r e a força viva <strong>de</strong> todo movimento, e a melodia que tudo<br />
embeleza e <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> em ida<strong>de</strong> tudo renova. Amém!”<br />
Estes são os nossos caminhos no mundo: iluminar os corações dos<br />
homens, endireitar diante <strong>de</strong>les todos os caminhos da Justiça e da<br />
Verda<strong>de</strong>, instalar em seus corações o espírito <strong>de</strong> humilda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> paciência,<br />
<strong>Atos</strong> I <strong>Médicos</strong> <strong>de</strong> <strong>corpo</strong> e <strong>alma</strong> (<strong>Monólogo</strong>)
abundante misericórdia, bonda<strong>de</strong> eterna, inteligência, compreensão,<br />
sabedoria po<strong>de</strong>rosa que confia em todas as obras <strong>de</strong> Deus e se apoia na<br />
abundância <strong>de</strong> Sua graça; um espírito <strong>de</strong> conhecimento em todos os<br />
planos <strong>de</strong> ação, <strong>de</strong> zelo pelos mandamentos da Justiça, <strong>de</strong> planos santos<br />
com inclinação firme, <strong>de</strong> abundante misericórdia com todos os filhos da<br />
Verda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> pureza gloriosa que o<strong>de</strong>ia todos os ídolos impuros, <strong>de</strong><br />
conduta mo<strong>de</strong>sta com prudência em tudo, <strong>de</strong> discrição acerca da verda<strong>de</strong><br />
dos mistérios do Conhecimento.<br />
Meus Amigos, cada dia, cada dia <strong>de</strong> sua vida se alimente <strong>de</strong> nosso Pai,<br />
tome sua vida. Seja, então, puro. Apren<strong>de</strong> a transformar o amor pelos<br />
apetites materiais em amor pelo Eterno. Desta forma, conhecerá o Divino<br />
que brilha em cada coisa. Apren<strong>de</strong> a amar o amor pelo amor, apren<strong>de</strong> a<br />
não mais se sentir diferente dos outros. É esta diferença que complica<br />
tudo. Eu afirmo, a vocês todos que me escutam, só a sensação <strong>de</strong> unida<strong>de</strong><br />
total com o Pai e sua criação é libertadora. Eis o começo do verda<strong>de</strong>iro<br />
caminho.<br />
Estes são os conselhos do Espírito aos filhos da Verda<strong>de</strong> no mundo. E a<br />
visita <strong>de</strong> todos os que nele caminham será para cura, paz abundante em<br />
uma vida longa, frutuosa <strong>de</strong>scendência com todas as bênçãos perpétuas,<br />
gozo eterno com vida sem fim, e uma coroa <strong>de</strong> glória com uma veste <strong>de</strong><br />
majesta<strong>de</strong> na Luz eterna.<br />
Vejam como nos ocupávamos em viver na prática os mandamentos da<br />
Justiça. Já que a vida do grupo colocava o serviço ao Eterno como foco <strong>de</strong><br />
existência, não nos ocupávamos com estudos seculares, apenas nos<br />
concentrávamos em estudar aquilo que diz respeito a Deus, à origem do<br />
Universo, aos mistérios do Reino do Céu e às normas éticas da Justiça.<br />
Éramos homens <strong>de</strong> ação e não <strong>de</strong> divagação. Quem <strong>de</strong>ntre nós não<br />
po<strong>de</strong>ria dizer as palavras a seguir:<br />
“De que adianta, meus Irmãos, alguém dizer que tem fé, se não tiver ações<br />
que a comprovem? Esse tipo <strong>de</strong> ‘fé’ é capaz <strong>de</strong> salvar? (...) Hunnf. Da<br />
mesma forma, a fé por si mesma, se não for acompanhada <strong>de</strong> ações, está<br />
morta.<br />
Mas alguém dirá que você tem fé e eu tenho ações concretas. Me mostre<br />
essa sua fé sem atos, eu lhe mostrarei a minha fé por intermédio das<br />
minhas ações!”<br />
[O Orador se <strong>de</strong>tém um pouco, abaixa o <strong>corpo</strong> e toca o solo do teatro, pegando assim um<br />
punhado <strong>de</strong> areia. Ele ergue a mão e <strong>de</strong>ixa a areia imaginária cair das mãos. É um gesto<br />
prosaico que termina em um leve sorriso.]<br />
<strong>Atos</strong> I <strong>Médicos</strong> <strong>de</strong> <strong>corpo</strong> e <strong>alma</strong> (<strong>Monólogo</strong>)
ORADOR<br />
(questionando)<br />
Eram então os essênios dotados <strong>de</strong> nobres valores morais e espirituais?<br />
Talvez isso, e algo mais! Somos sim instruídos na pieda<strong>de</strong>, na santida<strong>de</strong>,<br />
na retidão, na economia, na política, no conhecimento do que<br />
verda<strong>de</strong>iramente é bom, mau e indiferente, para escolher as coisas que são<br />
necessárias e evitar as que são contrárias. Nisso usávamos uma regra e uma<br />
<strong>de</strong>finição tríplice, isto é: amor a Deus, amor à humanida<strong>de</strong> e à virtu<strong>de</strong>.<br />
De tamanho amor a Deus dávamos inúmeras <strong>de</strong>monstrações; por<br />
exemplo, uma constante e inalterável santida<strong>de</strong> em todos os aspectos da<br />
vida; uma abstenção <strong>de</strong> juramentos e falsida<strong>de</strong>s, e uma firme crença <strong>de</strong><br />
que Deus é a fonte <strong>de</strong> todo o bem, mas <strong>de</strong> nada <strong>de</strong> mal. De tal amor à<br />
virtu<strong>de</strong> daríamos provas no <strong>de</strong>sprezo pelo dinheiro, pela fama e pelos<br />
prazeres, na sua continência, na sua resistência, na fácil satisfação <strong>de</strong><br />
nossas necessida<strong>de</strong>s, na simplicida<strong>de</strong>, alegria <strong>de</strong> temperamento, modéstia,<br />
or<strong>de</strong>m, firmeza, e em todas sãs coisas do gênero.<br />
Na transcrição supra, constata-se que priorizávamos o amor nessas três<br />
dimensões, sempre. Eu recordo quando da vez que um dos mestres da<br />
Torá se aproximou e ouviu um <strong>de</strong>bate nosso. Notando que o Mestre lhe<br />
<strong>de</strong>ra uma boa resposta, perguntou: ‘Qual é o mandamento mais<br />
importante?’<br />
O Mestre respon<strong>de</strong>u. O mais importante é: ‘Ouçam, Irmãos, nosso Deus<br />
é um, e você <strong>de</strong>ve amar, amar seu Deus, <strong>de</strong> todo o coração, <strong>de</strong> toda a<br />
<strong>alma</strong>, <strong>de</strong> todo o entendimento e com toda a força.’<br />
A segunda raiz do amor é esta: ‘Ame o próximo como a si mesmo.’ Não<br />
existe mandamento maior que estas máximas. ‘Porque o fruto do Espírito<br />
é amor, alegria, paz, paciência, afabilida<strong>de</strong>, bonda<strong>de</strong>, fé, humilda<strong>de</strong>,<br />
autocontrole. Virtu<strong>de</strong>.’<br />
Mas se vivíamos na simplicida<strong>de</strong> e éramos <strong>de</strong>spidos <strong>de</strong> ambições<br />
materiais, como não acreditam alguns até hoje que cultivávamos <strong>de</strong> bom<br />
grado a terra, que estávamos empenhados nas diversas artes que<br />
promovem a paz, beneficiando assim a nós mesmos e aos nossos<br />
vizinhos? Ninguém seria capaz <strong>de</strong> acumular tesouros <strong>de</strong> ouro e prata, nem<br />
adquirir gran<strong>de</strong>s extensões <strong>de</strong> terra por um <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> lucro, nosso<br />
provedouro era somente para com as necessida<strong>de</strong>s absolutas da vida.<br />
Embora fôssemos quase as únicas pessoas em toda a humanida<strong>de</strong> que não<br />
se satisfaziam com riquezas e posses, e isso por nossa própria escolha e<br />
não por carência <strong>de</strong> sucesso... no entanto, ainda nestes dias somos<br />
consi<strong>de</strong>rados os mais ricos, porque sustentamos que o suprimento <strong>de</strong><br />
nossas necessida<strong>de</strong>s e o contentamento da mente são as reais riquezas,<br />
como na verda<strong>de</strong> o são. Quem <strong>de</strong>ra aí sim... dividir!<br />
<strong>Atos</strong> I <strong>Médicos</strong> <strong>de</strong> <strong>corpo</strong> e <strong>alma</strong> (<strong>Monólogo</strong>)
[O Orador esten<strong>de</strong> as mãos na direção do público. Após seu gesto são refletidas muitas<br />
imagens <strong>de</strong> pássaros. O palco é tomado pelos voos e acrobacias dos pássaros.]<br />
ORADOR<br />
Não lembram que o Mestre também seguiu o estilo <strong>de</strong> vida essênio ao<br />
<strong>de</strong>sprezar as riquezas materiais e <strong>de</strong>dicar-se exclusivamente ao Reino do<br />
Céu? Ensinou o Messias que a riqueza do mundo não é importante, e sim<br />
ser rico para com Deus. Leio <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os livros imemoriais e repito já que é<br />
o momento:<br />
“Não juntem riquezas para vocês na Terra, on<strong>de</strong> traças e ferrugem e<br />
<strong>de</strong>stroem, e on<strong>de</strong> os ladrões abrem à força e roubam. Em vez<br />
disso, juntem riquezas para vocês no Céu, on<strong>de</strong> nem a traça nem a<br />
ferrugem <strong>de</strong>stroem, e on<strong>de</strong> os ladrões não entram nem roubam.”<br />
[Pausa para uma outra longa respiração. O Orador fica olhando a plateia curiosa.]<br />
ORADOR<br />
(caminhando)<br />
Eu lembro <strong>de</strong> outros povos <strong>de</strong>screvendo as ativida<strong>de</strong>s essênias. “Eles<br />
vivem em conjunto no mesmo lugar, comentavam, e organizam-se em<br />
companhias, socieda<strong>de</strong>s, agrupamentos e associações, e trabalham juntos<br />
durante toda a vida para o bem comum da irmanda<strong>de</strong>. Os diferentes<br />
membros da Or<strong>de</strong>m estão empenhados em ocupações diversas; trabalham<br />
alegre e diligentemente, e nunca abandonam suas tarefas por causa do frio,<br />
do calor e <strong>de</strong> qualquer mudança climática. Dirigem-se para o trabalho<br />
diário antes que o Sol se levante, e não o <strong>de</strong>ixam senão <strong>de</strong>pois que o Sol<br />
se ponha, quando, então, voltam para casa não menos alegres do que<br />
aqueles que estiveram se exercitando em qualquer outro concurso.<br />
Acreditam que sua ocupação é uma espécie <strong>de</strong> ginástica <strong>de</strong> maior<br />
benefício para a vida, <strong>de</strong> maior prazer, tanto para a <strong>alma</strong> como para o<br />
<strong>corpo</strong> e <strong>de</strong> uma vantagem mais duradoura do que quaisquer competições<br />
atléticas, porque eles po<strong>de</strong>m continuar alegremente em seu trabalho como<br />
uma recreação mesmo quando a juventu<strong>de</strong> e o vigor do <strong>corpo</strong> já se foram.<br />
Os que conhecem o cultivo da terra empenham-se na agricultura; outros,<br />
que sabem como lidar com animais, cuidam dos rebanhos; alguns são<br />
hábeis para lidar com as abelhas; e outros, ainda, são artesãos e<br />
manufatureiros, precavendo-se <strong>de</strong>ssa forma contra a falta do que quer que<br />
seja. Eles não excluem nada que seja indispensável para suprir as<br />
necessida<strong>de</strong>s absolutas da vida. Eles se <strong>de</strong>dicavam a um trabalho<br />
comunitário com intenso prazer, atuando em diversas áreas com o<br />
<strong>Atos</strong> I <strong>Médicos</strong> <strong>de</strong> <strong>corpo</strong> e <strong>alma</strong> (<strong>Monólogo</strong>)
objetivo <strong>de</strong> tornar a comunida<strong>de</strong> autossuficiente (...)” Eles eram como...<br />
‘nós’ <strong>de</strong>veríamos ser... até então??”<br />
Eu vejo esses comentários como uma curiosida<strong>de</strong> boa. Havia simplicida<strong>de</strong><br />
e comunhão na irmanda<strong>de</strong> dos essênios, inclusive por meio <strong>de</strong> um sistema<br />
comunitário <strong>de</strong> bens. Acredito que isso interesse. Saibam que, para<br />
começar, ninguém tinha casa própria, pois elas pertenciam a todos. Ao<br />
que me lembre, trabalhávamos lá <strong>de</strong> comum acordo. Não passava pela<br />
i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> alguém dizer: ‘Aqui é minha terra, lá, a tua.’ Todos diziam: ‘Eis a<br />
nossa terra.’ Além do mais, todos vivíamos juntos em socieda<strong>de</strong>; as casas<br />
também estariam abertas para os membros da irmanda<strong>de</strong> que vinham <strong>de</strong><br />
outros lugares. Com isso, todos mantínhamos um único tesouro em<br />
comum, um armazém <strong>de</strong> provisões, <strong>de</strong> roupas comuns e <strong>de</strong> alimentos<br />
partilhados para todos os que comiam juntos. Esse modo <strong>de</strong> viver em<br />
igualda<strong>de</strong>, e <strong>de</strong> comer juntos, na verda<strong>de</strong> não po<strong>de</strong>ria ter sido tão<br />
facilmente criado em qualquer outro povo; com efeito, isso teria sido<br />
impossível em certos lugares, países inteiros, tão estreito é o conceito <strong>de</strong><br />
vivência... tão estreita é a mesquinharia humana em alguns lugres,<br />
infelizmente ainda não compreen<strong>de</strong>. Que <strong>de</strong>sperdício. Bem, pelo que<br />
quer que recebíamos diariamente, quando trabalhávamos por salários, não<br />
tínhamos o direito <strong>de</strong> retê-lo como coisa própria, mas entregávamos ao<br />
fundo comum, e <strong>de</strong>ixávamos todos os que o quisessem fazer disso um uso<br />
comum.<br />
Os doentes também não eram negligenciados pelo fato <strong>de</strong> não po<strong>de</strong>rem<br />
ganhar coisa alguma, mas recebiam o que era necessário para o seu auxílio<br />
do mesmo fundo comum, <strong>de</strong> modo que eles sempre passavam muito<br />
bem, sem carecer <strong>de</strong> coisa alguma. “Se um <strong>de</strong> nós fica doente, é curado<br />
com os recursos comuns e atendido pelo cuidado e preocupação <strong>de</strong><br />
todos”, claro. A comunida<strong>de</strong> mostrava seu respeito, reverência e cuidado<br />
para com os idosos também, como os filhos fazem com os pais, ajudandoos<br />
continuamente com toda a generosida<strong>de</strong>, tanto material como<br />
espiritualmente em sua ida<strong>de</strong> provecta. E então todos comiam na mesma<br />
mesa e recebiam todos os dias o mesmo alimento, sendo sempre amantes<br />
da frugalida<strong>de</strong> e da mo<strong>de</strong>ração e avessos ao luxo e extravagâncias;<br />
futilida<strong>de</strong>s são como uma moléstia tanto na mente como no <strong>corpo</strong>!<br />
Não somente nossa mesa era em comum como também nossas vestes.<br />
Havia uma provisão <strong>de</strong> tecido <strong>de</strong> capas rústicas para o inverno, e para o<br />
verão roupas baratas, sem mangas, a cujo estoque podíamos recorrer e<br />
apanhar livremente a espécie que <strong>de</strong>sejássemos, porque o que quer que<br />
seja que pertença a cada um pertence a todos, e o que quer que seja que<br />
pertencia a todos pertence a cada um.<br />
Amigos, todos nós éramos crentes <strong>de</strong> que tínhamos o necessário,<br />
tínhamos um coração e uma <strong>alma</strong>, e ninguém reivindicava suas posses;<br />
<strong>Atos</strong> I <strong>Médicos</strong> <strong>de</strong> <strong>corpo</strong> e <strong>alma</strong> (<strong>Monólogo</strong>)
todos, porém, partilhávamos o que possuíamos. Com gran<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, os<br />
emissários, os ‘apóstolos’, continuaram a testemunhar a ressurreição do<br />
Mestre, e eles eram tidos em alta conta. Eram essênios na forma <strong>de</strong> viver.<br />
Também tinham o necessário. Nenhum <strong>de</strong>les era pobre, porque os<br />
proprietários <strong>de</strong> terras ou casas as vendiam e entregavam o valor<br />
correspon<strong>de</strong>nte aos emissários, para fazer a distribuição a cada um <strong>de</strong><br />
acordo com sua necessida<strong>de</strong>.<br />
Todos os que confiavam no Messias permaneciam unidos e possuíam<br />
tudo em comum; na verda<strong>de</strong>, eles ven<strong>de</strong>ram suas proprieda<strong>de</strong>s e bens e<br />
distribuíram o dinheiro a cada um conforme a necessida<strong>de</strong>.<br />
[As projeções se voltam para os <strong>de</strong>sertos e suas caravanas e tribos inteiras se <strong>de</strong>slocando.<br />
O Orador chega bem perto da borda do palco, cada vez mais próximo do público.]<br />
ORADOR<br />
(esperançoso)<br />
E por que eu venho aqui dizer tudo isso? Para alertá-los, para ativar em<br />
suas mentes a luz da compreensão, pois um dia haverá uma <strong>de</strong>cisão e<br />
estaremos todos frente a frente, todos prontos a sermos limpos <strong>de</strong>ntro da<br />
maior paz <strong>de</strong> espírito. Éramos os amantes da paz, <strong>de</strong> vida em vida<br />
espalhando tais notícias com as mãos abertas. Nenhum fabricante,<br />
nenhum fabricante <strong>de</strong> armas ou <strong>de</strong> engenhos <strong>de</strong> guerra, nem qualquer<br />
homem que faça coisas relacionadas com a guerra, ou até coisas que<br />
po<strong>de</strong>riam levar à malda<strong>de</strong> em tempos <strong>de</strong> paz é encontrado aqui. No<br />
mundo existe apenas uma arma que merece ser respeitada, a única que<br />
Deus poliu para todos: o amor. É equivalente ao ensino do Mestre Jesus:<br />
“Quão abençoados os que promovem a paz! Porque serão chamados<br />
filhos <strong>de</strong> Deus.”<br />
O rabino <strong>Paulo</strong> assim abordou o tema, e ele adicionou que “Se possível,<br />
quanto <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> vocês, tenham paz com todos os homens.” Sim!<br />
Eu venho <strong>de</strong> bom coração, me acompanhem, por favor, porque penso<br />
que os homens são iguais e, consequentemente, repudiam a escravidão;<br />
ela infelizmente é tão natural nessa época, em muitas <strong>de</strong>las. Não só a<br />
escravidão referente ao <strong>corpo</strong> mas também à mente, falo da <strong>de</strong>pendência<br />
sensorial, moral. Mas nenhuma forma <strong>de</strong> dominação é eterna. Eterna é a<br />
mente <strong>de</strong> Deus.<br />
<strong>Atos</strong> I <strong>Médicos</strong> <strong>de</strong> <strong>corpo</strong> e <strong>alma</strong> (<strong>Monólogo</strong>)
Juntos não encontraremos nenhum escravo, porque todos serão livres e se<br />
servirão mutuamente. Lado a lado con<strong>de</strong>naremos os proprietários, os...<br />
empresários! <strong>de</strong> escravos, não apenas como injustos, visto que corrompem<br />
o princípio da igualda<strong>de</strong>, mas também como ímpios. As próximas<br />
gerações precisam ser livres, todas as gerações precisam!<br />
À luz do pensamento essênio, nossa irmanda<strong>de</strong> formaria uma<br />
“comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> santida<strong>de</strong>” e a própria santida<strong>de</strong> seria a oferta a Deus,<br />
consoante a prescrição da Regra da Comunida<strong>de</strong>:<br />
“Quando as coisas existirem <strong>de</strong> acordo com estas disposições para<br />
fundamentar o espírito <strong>de</strong> santida<strong>de</strong> na verda<strong>de</strong> eterna, para expiar pela<br />
culpa da transgressão e pela infi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> do pecado, e pelo beneplácito<br />
para a terra sem a carne dos holocaustos e sem as gorduras do sacrifício,<br />
quer dizer, a oferenda dos lábios segundo o preceito será como o perfume<br />
agradável <strong>de</strong> justiça, e a perfeição <strong>de</strong> conduta será como a oferenda<br />
voluntária aceitável.”<br />
Tínhamos então uma vida perfeita e feliz? Sempre, sem dúvida, e todos<br />
nos reconhecíamos como in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e livres por natureza, muitos<br />
elogiavam nossas refeições em comum e comunhão <strong>de</strong> bens, o que<br />
ultrapassava qualquer <strong>de</strong>scrição e constituía prova evi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> uma vida<br />
perfeita e muito feliz. Estava em nossos rostos!<br />
Nós os essênios, a terceira seita, atribuíamos e entregávamos todas as<br />
coisas, sem exceção, à providência <strong>de</strong> Deus. Crendo que as <strong>alma</strong>s são<br />
imortais, achando que se <strong>de</strong>ve fazer todo o possível para praticar a Justiça<br />
e sem se contentar com ofertas vagas, sempre fomos felizes; não é um<br />
sacrifício, é uma cerimônias ainda maior. Esses são costumes<br />
irreprocháveis. A virtu<strong>de</strong> é tão admirável que supera em muito a <strong>de</strong> outras<br />
nações, porque fazíamos com todo empenho e preocupação e a ela nos<br />
aplicávamos continuamente.<br />
Vejam a diferença para com a sua socieda<strong>de</strong>, o que veem por todo lado;<br />
em nossa comunida<strong>de</strong> todos possuíamos os bens em comum, sem que os<br />
ricos tivessem maior parte que os pobres. Não tolerávamos nem criados,<br />
porque consi<strong>de</strong>rávamos uma ofensa à natureza, que fez todos os homens<br />
iguais; também não havia esse querer sujeitar os outros. Assim, nos<br />
servíamos igualmente e apenas pela ocasião da or<strong>de</strong>m escolhíamos<br />
homens <strong>de</strong> bem como sacerdotes, que recebiam tudo e tinham o cuidado<br />
<strong>de</strong> fornecer alimento a todos; nós confiamos uns nos outros como seres <strong>de</strong><br />
coração. Você ainda confia? Esse era um viver em estreita união, uma<br />
contínua troca <strong>de</strong> bons procedimentos e todos se sentiam bem!<br />
<strong>Atos</strong> I <strong>Médicos</strong> <strong>de</strong> <strong>corpo</strong> e <strong>alma</strong> (<strong>Monólogo</strong>)
Eu vou propor uma analogia. Será preciso que todas as pessoas se<br />
transformem em taça, isso, em taça, para receber o que nosso povo<br />
acumulou durante gerações. Mas, não esqueça... uma taça não se <strong>de</strong>stina<br />
só a receber... a meta<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua riqueza evapora se ela <strong>de</strong>mora muito a<br />
chegar aos lábios <strong>de</strong> quem tem fome e se<strong>de</strong>.<br />
Se <strong>de</strong>sprezávamos as riquezas era porque todas as coisas sempre serão<br />
comuns entre a gente, com uma igualda<strong>de</strong> tão admirável; quando alguém<br />
abraça a seita, <strong>de</strong>spoja-se <strong>de</strong> toda proprieda<strong>de</strong>, para evitar, por esse meio,<br />
a vaida<strong>de</strong> das riquezas, poupar aos outros a vergonha da possessão e em<br />
tão feliz união vivermos juntos como seres irmãos.<br />
Nada ven<strong>de</strong>remos e nada compraremos entre si; mas permutaremos uns<br />
com os outros tudo o que tivermos.<br />
Já sobre os vícios que há tempos assolam a Humanida<strong>de</strong>, consi<strong>de</strong>rávamos<br />
por exemplo os prazeres como vícios, que se <strong>de</strong>viam evitar, e a<br />
continência e a vitória sobre as paixões tínhamos como virtu<strong>de</strong>s, que<br />
muito <strong>de</strong>vemos estimar; isso é para qualquer era.<br />
[O Orador faz mais essa pausa para se aliviar um pouco. Coloca as mãos cruzadas na frente<br />
do <strong>corpo</strong> e por alguns segundos fica em silêncio. Uma nova projeção contendo o globo<br />
terrestre é exibida.]<br />
ORADOR<br />
(refeito)<br />
Não acham que <strong>de</strong>ve a gente atual também se voltar para a religião e para<br />
Deus? É a vez <strong>de</strong> sermos novamente piedosos para com Ele, falem então<br />
<strong>de</strong> coisas santas; antes que o Sol <strong>de</strong>sponte façam suas orações, recebam a<br />
tradição dos povos místicos; isso para pedir a Deus que faça brilhar sobre<br />
a Terra a surpresa do verda<strong>de</strong>iro Sol. Depois vá trabalhar, cada qual em<br />
seu ofício, segundo o que lhe é <strong>de</strong>terminado.<br />
‘Todo homem <strong>de</strong>veria conhecer a terra. A terra não é apenas este<br />
ajuntamento <strong>de</strong> poeiras negras ou vermelhas sobre as quais o homem se<br />
<strong>de</strong>sloca, a terra é um fermento, um mundo, uma multidão <strong>de</strong> pequenos<br />
seres que refletem a vida do Pai em si próprios. Uma vida que existe, e<br />
que pensa, para ser querida, por nós, a cada instante através dos éons, as<br />
formas <strong>de</strong> expressão do Ser Divino. Em contato com o solo, pés na argila,<br />
<strong>de</strong>vemos apren<strong>de</strong>r a falar <strong>de</strong> grão em grão <strong>de</strong> vida e, assim por diante, ao<br />
infinito. Este grão <strong>de</strong> vida é o Uno, e nós somos os filhos do Uno. Eis por<br />
que <strong>de</strong>vemos procurar a i<strong>de</strong>ntificação com a poeira ínfima que o vento<br />
joga em nossos olhos. A i<strong>de</strong>ntificação é a chave da compaixão e a<br />
compaixão é a chave do Pai, a chave do Homem.’<br />
<strong>Atos</strong> I <strong>Médicos</strong> <strong>de</strong> <strong>corpo</strong> e <strong>alma</strong> (<strong>Monólogo</strong>)
O dia passará com seus <strong>de</strong>veres, <strong>de</strong> fato vivemos com as portas abertas,<br />
sempre com gratidão.<br />
Jamais haverá barulho em nossas casas; nunca se vê a menor<br />
perturbação; cada qual fala por sua vez e sua posição e seu silêncio<br />
causam respeito aos estrangeiros. Tão gran<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>ração é efeito <strong>de</strong><br />
uma contínua sobrieda<strong>de</strong>; não comemos nem bebemos mais do que é<br />
necessário para a sustentação da vida e a benfeitoria com os mais<br />
necessitados. Com a anuência <strong>de</strong> nossos superiores ajudamos os pobres, a<br />
compaixão pelos infelizes é nossa razão! Já dizia a sabedoria que o nome<br />
da primeira coisa que o homem per<strong>de</strong>u na Terra é ‘compaixão’. Irmãos,<br />
só ela abrirá a porta da ajuda total... absolutamente total, absoluta, sem<br />
‘mas’ nem ‘talvez! Se um ser sofre, procura saber qual é seu sofrimento,<br />
procura tomar sua <strong>de</strong>sarmonia, se i<strong>de</strong>ntificando com ele. Através disso,<br />
respirará e vibrará no ritmo <strong>de</strong>sse ser, captando assim com precisão a<br />
fonte da sua doença, <strong>de</strong>sviando e fazendo teu <strong>corpo</strong> luminoso tocar o<br />
<strong>de</strong>le. Bastará que <strong>de</strong>seje com toda a força do mundo. Por isso estamos<br />
neste mundo!<br />
[O Orador sorri para a plateia em imensa concórdia. Mexe em sua barba e dá mais alguns<br />
passos mexendo um pouco mais na barba..]<br />
ORADOR<br />
(caminhando)<br />
Temos imenso cuidado <strong>de</strong> reprimir também a cólera; amamos a paz e<br />
cumprimos tão inviolavelmente o que prometemos que se po<strong>de</strong> prestar fé<br />
às nossas simples palavras, como a juramentos. Que resta das palavras se<br />
não passam <strong>de</strong> promessas <strong>de</strong> fatos? Que resta das palavras se os fatos as<br />
traem? Basta tua palavra. Adote este princípio por toda a vida, lembra e<br />
age <strong>de</strong> modo que um ‘sim’ seja um ‘sim’ e um ‘não’, um ‘não’. Então, que<br />
o discurso seja o ato ao mesmo tempo. Compreendam bem isto: uma<br />
palavra po<strong>de</strong> ser um carregamento <strong>de</strong> amor que corre ao encontro da<br />
Humanida<strong>de</strong>; quero falar <strong>de</strong> um mundo tangível que penetra em outro<br />
mundo. Quando a palavra se faz ato, o objetivo é atingido, porque ela<br />
transmuta. Nesse sentido, jamais po<strong>de</strong>ríamos tolerar quaisquer perjúrios,<br />
porque não po<strong>de</strong>mos crer que um homem seja um mentiroso quando tem<br />
necessida<strong>de</strong>, e ainda tome a Deus por testemunha; a isso tudo acertamos<br />
solenemente honrar e servir a Deus <strong>de</strong> todo o coração, observar a justiça<br />
para com os homens, nunca fazer voluntariamente mal a ninguém, mesmo<br />
quando isso fosse or<strong>de</strong>nado; igualmente temos aversão pelos maus; ajudar<br />
sempre aos homens <strong>de</strong> bem é nosso lema, <strong>de</strong> todos os modos possíveis, e<br />
manter fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> a todos, porque recebemos esse po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> Deus. A isso<br />
acrescentamos que, se formos constituídos num cargo, não abusaremos<br />
do po<strong>de</strong>r para maltratar os inferiores; que nada tenhamos mais que os<br />
<strong>Atos</strong> I <strong>Médicos</strong> <strong>de</strong> <strong>corpo</strong> e <strong>alma</strong> (<strong>Monólogo</strong>)
outros, nem em suas roupas, nem no que se refere às suas pessoas, melhor<br />
é ter um amor inviolável pela Verda<strong>de</strong>, Ética, e, diante disso,<br />
repreen<strong>de</strong>remos severamente os mentirosos; conservaremos assim as<br />
mãos e as <strong>alma</strong>s puras <strong>de</strong> todo roubo e <strong>de</strong> todo <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> lucro injusto.<br />
Esses mesmos conceitos nos esclarecem que as <strong>alma</strong>s são criadas imortais,<br />
para se darem à virtu<strong>de</strong> e se afastarem do vício; que os bons se tornam<br />
melhores nesta vida pela esperança <strong>de</strong> serem felizes <strong>de</strong>pois da morte, e os<br />
maus, que imaginam po<strong>de</strong>r escon<strong>de</strong>r neste mundo suas más ações, são<br />
castigados com tormentos eternos. Tais são os nossos sentimentos com<br />
relação à excelência da <strong>alma</strong>, dos quais não nos afastamos. Saibam<br />
reconhecer, eu anuncio, não façam mais o bem apenas por temer o mal.<br />
[O Orador sorri novamente. Ganha cada vez mais energia. Um céu em harmonia é<br />
projetado no palco, suas nuvens <strong>de</strong>sfilam compassadamente.]<br />
ORADOR<br />
(amistoso)<br />
O Eterno <strong>de</strong>lega seus po<strong>de</strong>res a todos que têm a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer<br />
surgir luz à sua volta. Assim, nós somos os anjos <strong>de</strong> Deus e nossa Terra<br />
está neste diamante pulsante que clareia as noites da fraternida<strong>de</strong>. Des<strong>de</strong> o<br />
início dos tempos, nós semeamos este mundo e seu coração a fim <strong>de</strong><br />
expulsar as trevas. ‘O coração é simplesmente todo-po<strong>de</strong>roso e para<br />
sempre. O homem ou o sufoca ou lhe escuta. Com muita frequência,<br />
infelizmente, o homem pensa ouvi-lo quando mal o <strong>de</strong>ixa respirar sob as<br />
razões e as <strong>de</strong>sculpas <strong>de</strong> sua mente. Vocês sabem que não estou falando<br />
do coração que pulsa em nós ao ritmo das estações. Falo do sol interior<br />
que nos liga à ca<strong>de</strong>ia dos mundos transcen<strong>de</strong>ntes. Estamos no universo do<br />
ser, Irmãos, então fiquem agora no universo do futuro. É a hora <strong>de</strong><br />
abolirmos as barreiras, pois elas nos sujeitam às técnicas e ao tempo.<br />
Saibam simplesmente pedir sem se preocupar com a resposta, pois a<br />
resposta é sempre a mesma: sim. A força do Pai é concedida<br />
incondicionalmente, assim como a todo homem.’<br />
Falamos assim aos homens da Terra em múltiplas línguas, sob múltiplas<br />
aparências. Fincamos nossos pés como raízes móveis <strong>de</strong> nossa árvore<br />
<strong>corpo</strong>ral e recebemos constantemente uma seiva secreta, maternal em sua<br />
polarida<strong>de</strong>, reflexo transmutado da seiva solar. Não se escandalizem com<br />
estas palavras, Amigos, porque uma luz <strong>de</strong>masiado forte cega quem<br />
sempre viveu na noite. As cortinas que velam o esplendor da Terra do Pai<br />
só po<strong>de</strong>m ser afastadas uma a uma, com infinitas precauções. Sabemos o<br />
que dizemos. Houve um tempo em que os homens <strong>de</strong>ste mundo viviam<br />
numa outra Terra, diferente <strong>de</strong>sta, em alguma parte da espiral... a luz forte<br />
<strong>de</strong>mais aniquilou o sopro <strong>de</strong> seus corações; a força mental matou seu<br />
amor, e seu mundo foi projetado nos confins dos universos. Nós<br />
<strong>Atos</strong> I <strong>Médicos</strong> <strong>de</strong> <strong>corpo</strong> e <strong>alma</strong> (<strong>Monólogo</strong>)
cultivamos as <strong>alma</strong>s, e a providência do Eterno quis que as replantássemos<br />
aqui, entre a luz e as trevas, para ensiná-las a discernir.<br />
A nossa doutrina é esta: que todas as coisas são melhor atribuídas a Deus.<br />
Ensinamos a imortalida<strong>de</strong> das <strong>alma</strong>s, e consi<strong>de</strong>ramos que as recompensas<br />
da retidão são zelosamente adquiridas com esforço.<br />
O julgamento divino <strong>de</strong> todos que caminham com este espírito será a<br />
saú<strong>de</strong>, uma vida longa em gran<strong>de</strong> paz, e abundância, junto com todas as<br />
bênçãos eternas e alegrias infinitas numa vida sem fim, uma coroa <strong>de</strong><br />
glória e uma vestimenta majestosa <strong>de</strong> luz infinda. Amém!<br />
[O Orador reverencia o público e se movimenta pensativo, <strong>de</strong>pois sua expressão vira algo<br />
serena. Uma enorme lua é projetada no palco.]<br />
ORADOR<br />
(com pesar)<br />
Ainda não acabei, ouçam, meus caros. O bom Irmão avisa, não será<br />
sempre <strong>de</strong> vitórias que viverão; na vida em certos momentos <strong>de</strong>cisivos nos<br />
<strong>de</strong>paramos com o mal. Mas os caminhos do espírito da.. falsida<strong>de</strong> são<br />
estes: ganância e negligência na busca da retidão, malda<strong>de</strong> e mentiras,<br />
arrogância e orgulho, hipocrisia e engano, cruelda<strong>de</strong> e mal abundantes,<br />
mau humor, muita insensatez e <strong>de</strong>scarada insolência, atos abomináveis<br />
cometidos com espírito <strong>de</strong> luxúria e conduta lasciva a serviço da impureza;<br />
e também uma língua blasfema, cegueira do olho e sur<strong>de</strong>z o ouvido, cerviz<br />
dura, dureza <strong>de</strong> coração, infelizmente... assim caminham, assim caminham<br />
estes homens equivocados para as sendas das trevas e do logro inútil. Por<br />
tudo isso passamos, por tudo isso tropeçou a Humanida<strong>de</strong> e aqui estamos,<br />
mais sábios. Pois fujam em nome da paz, e aju<strong>de</strong>m quem ainda não<br />
consegue por seus próprios meios; Deus nos ajuda!<br />
[Mais uma pausa, a última, e o Orador se dirige para o canto do palco e apanha um jarro<br />
<strong>de</strong> barro. Ele bebe o liquido, é a mais pura água. Ele se refresca e com as mãos lava o rosto<br />
e joga o cabelo para trás.]<br />
ORADOR<br />
(mais positivo)<br />
De agora em diante, o homem se purificará pela água, é a água que<br />
queimará suas escórias. A água, como a terra, é uma matriz. Eis, Irmãos, a<br />
força <strong>de</strong> uma outra iniciação! Ela é o segundo nascimento dos que veem,<br />
mas também sua primeira morte.<br />
<strong>Atos</strong> I <strong>Médicos</strong> <strong>de</strong> <strong>corpo</strong> e <strong>alma</strong> (<strong>Monólogo</strong>)
Os <strong>corpo</strong>s são corruptíveis e a matéria <strong>de</strong> que são feitos não é<br />
permanente; mas as <strong>alma</strong>s são imortais e continuam para sempre; e vieram<br />
do mais sutil ar e são unidas a nossos <strong>corpo</strong>s como a uma prisão, a que<br />
foram arrastadas por um espécie <strong>de</strong> atração natural; mas quando são<br />
libertadas dos laços da carne, então elas, como libertas <strong>de</strong> um longo<br />
cativeiro, regozijam-se e ascen<strong>de</strong>m. Essa é a ressurreição que aperaremos,<br />
para nós ela realmente existe, é a ressureição do próprio homem, a do<br />
espírito humano que se regenera, que encontra sua fonte e reconquista sua<br />
verda<strong>de</strong>ira nobreza. Assim seja.<br />
[O Orador abaixa o <strong>corpo</strong> em sinal <strong>de</strong> reverência, ficando <strong>de</strong> cabeça baixa enquanto o<br />
pano <strong>de</strong>sce lentamente. A luz da lua vai ficando cada vez mais intensa até embranquecer o<br />
palco por completo.]<br />
LOCUTOR<br />
(animado)<br />
Sim, muito obrigado por sua presença aqui! O amor absoluto grita sua<br />
existência até no menor átomo <strong>de</strong> vida, então que ódio absoluto se anule a<br />
si mesmo e não conseguirá ter consistência. Que um terço dos homens se<br />
ponha ao mesmo tempo, e voluntariamente, a emitir i<strong>de</strong>ias semelhantes<br />
<strong>de</strong> paz e <strong>de</strong> amor incondicional, e a estrutura <strong>de</strong> toda matéria será<br />
modificada para sempre. Irmãos, recebam nossa paz, a paz das <strong>alma</strong>s<br />
<strong>de</strong>ste mundo e a paz do Uno!<br />
FIM<br />
<strong>Atos</strong> I <strong>Médicos</strong> <strong>de</strong> <strong>corpo</strong> e <strong>alma</strong> (<strong>Monólogo</strong>)