A jornalista durante uma <strong>de</strong> suas palestras. Na foto, Lucieli conversa com estudantes no Unifafibe, em Bebedouro-SP. (Arquivo Pessoal) <strong>ComTempo</strong>: Para você, ser jornalista é? Lucieli: Um propósito <strong>de</strong> vida. Hoje sei que não vou conseguir mudar o mundo (meu gran<strong>de</strong> i<strong>de</strong>al quando entrei na faculda<strong>de</strong>), mas continuo valorizando o papel social da minha profissão. Principalmente porque sei que, por meio <strong>de</strong>la, consigo transformar pequenos mundos, pequenas comunida<strong>de</strong>s, todos os dias. Isso já é suficientemente incrível pra mim. Aliás, esse é outro diferencial do jornalismo <strong>de</strong> TV, impulsionado pela internet: as mídias sociais ampliaram o po<strong>de</strong>r do jornalismo comunitário. Sinto que somos como o espelho do telespectador. Estamos ali para refletir o que eles vivem, para dar voz e vez para quem nos assiste. Desconheço sensação melhor. <strong>ComTempo</strong>: Existe <strong>de</strong>svalorização da profissão por parte do público? E do mercado? Lucieli: O jornalismo, assim como acontece com outras profissões, está mudando muito rápido. Quem não acompanhar vai ficar para trás, isso é inevitável. E é lógico que, diante <strong>de</strong> tudo o que as mídias sociais proporcionam hoje, é impossível não refletir sobre a parte que ainda nos cabe. Mas sem esquecer: em meio a uma avalanche <strong>de</strong> informações compartilhadas, minuto a minuto, os nossos gran<strong>de</strong>s diferenciais são a capacitação e a experiência. Afinal, como eu já disse aqui, quem mais, além do profissional <strong>de</strong> jornalismo, vai filtrar a informação e ouvir todas as versões <strong>de</strong> um mesmo fato? Creio que o público entenda e reconheça isso. Já tivemos muitos exemplos <strong>de</strong> boatos <strong>de</strong>smentidos ao vivo, no jornal do meio-dia. O telespectador ligou a TV para checar a veracida<strong>de</strong> da informação recebida pela internet. <strong>ComTempo</strong>: Como é o mercado <strong>de</strong> trabalho para quem quer seguir a área da comunicação? Que conselhos você dá para quem está começando? Lucieli: Destaco dois pontos importantes. Primeiro, lembrar que esta é a hora do jornalista <strong>de</strong>scobrir novos nichos no mercado e se reinventar, sem comodismo. As oportunida<strong>de</strong>s aumentaram com o boom da internet, basta olhar para elas com carinho, sem preconceito. O segundo ponto é ter a consciência <strong>de</strong> que sempre haverá espaço no mercado para o trabalhador proativo, bem-disposto e comprometido. No jornalismo, a parte do comprometimento ganha uma relevância ainda maior, já que o nosso trabalho nem sempre tem hora para começar ou terminar. É fundamental que o estudante leve isso em consi<strong>de</strong>ração, quando for escolher a profissão. Não há glamour! O glamour é uma ilusão. Nós trabalhamos muito, com prazos curtos, responsabilida<strong>de</strong>s gigantes e muita pressão interna e externa. Eu adoro isso. Amo! Mas conheço centenas <strong>de</strong> pessoas que <strong>de</strong>sistiram por não dar conta <strong>de</strong> tanta pressão. Ah, po<strong>de</strong> parecer óbvio, mas também tem que gostar bastante <strong>de</strong> ler e <strong>de</strong> escrever – já vi muito aprendiz <strong>de</strong> jornalista preguiçoso ou escrevendo errado na redação. <strong>ComTempo</strong>: Como é seu dia-a-dia? Lucieli: Bastante corrido. A maioria das pessoas olha pra gente e pensa que a nossa vida é um conto <strong>de</strong> fadas, principalmente por causa da imagem que se vê na televisão. Mas apresentar o jornal é apenas 10% da minha realida<strong>de</strong> profissional. Quando entro no ar, já trabalhei por muitas horas longe dos holofotes (chego cedo, também sou editora <strong>de</strong> texto dos telejornais e coor<strong>de</strong>nadora <strong>de</strong> mídias sociais em Ribeirão) e continuo trabalhando nos bastidores, <strong>de</strong>pois que o jornal termina. Nossa jornada ainda inclui feriado, fim <strong>de</strong> semana, Natal, Réveillon, etc. É uma profissão repleta <strong>de</strong> abdicações, a pessoa tem que gostar muito. Sem contar que somos jornalistas 24 horas por dia, né? Não tem como ser diferente, faz parte do compromisso que assumimos. Tudo o que a gente enxerga ou enfrenta no dia-a-dia po<strong>de</strong> virar pauta. Quando estou <strong>de</strong> folga, tento acalmar a mente com leitura, filmes, séries e, claro, na companhia dos amigos: jogo vôlei toda semana, sou fã <strong>de</strong> um bom churrasco com samba/pago<strong>de</strong> e amo viajar. <strong>ComTempo</strong>: Você possui 23mil seguidores no Instagram, como consegue dar atenção a tantos comentários e questionamentos que chegam até você? Como é sua interação com os fãs? Lucieli: A minha gran<strong>de</strong> preocupação hoje na internet é mostrar quem é a pessoa física por <strong>de</strong>trás da pessoa jurídica. Não quero ser “a moça da televisão”. Quero que me enxerguem como uma mulher <strong>de</strong> 34 anos que estudou e trabalhou muito para ser quem é e estar on<strong>de</strong> está. Uma mulher como todas as outras - que fica triste e tem problemas. Parece simplório falar assim, mas é incrível perceber como consigo me conectar melhor com o público quando falo sobre alguma dificulda<strong>de</strong> pela qual passei. Hoje, faço questão <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r a todos (com exceção <strong>de</strong> perguntas <strong>de</strong>srespeitosas e invasivas, claro). São questionamentos variados: sobre a minha alimentação, meus cuidados com a saú<strong>de</strong>, minha trajetória profissional, meu dia-a-dia atribulado, enfim. Confesso que até pouco tempo atrás eu não conseguia me organizar para respon<strong>de</strong>r, mas hoje – mesmo que <strong>de</strong>more – consigo dar atenção para todos os seguidores. E sinto como isso é importante para a pessoa que está do outro lado! A troca <strong>de</strong> energia é surreal. Algumas me acompanham há muitos anos (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a época da faculda<strong>de</strong>, quando eu escrevia em um blog). Elas torcem por mim, passaram comigo por vários momentos felizes ou difíceis e se lembram <strong>de</strong> coisas que às vezes nem eu mesma me lembro. É maravilhoso sentir esse carinho e essa energia positiva! Tento retribuir como posso. Hoje, gosto <strong>de</strong> falar sobre assuntos que possam contribuir com a reforma íntima <strong>de</strong> cada um que está ali no meu perfil: autoconhecimento, saú<strong>de</strong>, fé, <strong>de</strong>pressão, solidão, vaida<strong>de</strong>, liberda<strong>de</strong>, relacionamento, amor próprio, intolerância, empatia, preconceito, etc, etc. O retorno é instantâneo. E sensacional. <strong>ComTempo</strong>: Você tem o hábito <strong>de</strong> ler. Qual o primeiro livro que você leu? E qual sua melhor leitura até hoje? Lucieli: Comecei a ler muito cedo, pouco antes <strong>de</strong> completar quatro anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Minha paixão da infância eram os gibis da Mônica e outros livros infantis. Na adolescência, <strong>de</strong>vorei (em apenas um fim <strong>de</strong> semana) “Gabriela, Cravo e Canela”, <strong>de</strong> Jorge Amado, e nunca mais consegui <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> lado o hábito da leitura. Além <strong>de</strong>le, “O Nome da Rosa”, <strong>de</strong> Umberto Eco, “O Morro dos Ventos Uivantes”, <strong>de</strong> Emily Brontë e “A Arte da Guerra”, <strong>de</strong> Sun Tzu foram livros que me marcaram profundamente. Uma curiosida<strong>de</strong>: gosto <strong>de</strong> ler mais <strong>de</strong> um livro ao mesmo tempo, faz parte da minha personalida<strong>de</strong> inquieta.
VOCÊ REPÓRTER ANSIEDADE QUEM AINDA NÃO ENFRENTOU ESSE MAL? PEDRO LEAL E MARIANA FERREIRA