REVISTA MÁRCIA TRAVESSONI - EDIÇÃO #12
Márcio Crisóstomo - Uma carreira pautada na paixão pela pesquisa e no rigor médico As novas fronteiras que a literatura cearense pode alcançar com Angela Gutiérrez + Cultura, Decoração, Estilo, Empreendedorismo e Gastronomia
Márcio Crisóstomo - Uma carreira pautada na paixão pela pesquisa e no rigor médico
As novas fronteiras que a literatura cearense pode alcançar com Angela Gutiérrez
+ Cultura, Decoração, Estilo, Empreendedorismo e Gastronomia
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CULTURA<br />
A pedido da revista Márcia Travessoni —<br />
GALERIA, Angela Gutiérrez elencou três obras<br />
essenciais para conhecer e compreender a<br />
literatura cearense.<br />
foge da realidade. “Ao longo do tempo, a literatura cearense<br />
tem tido algum reconhecimento no resto do Brasil.<br />
A Padaria Espiritual, por exemplo, foi um movimento<br />
que impressionou, porque se anteciparam ao Modernismo,<br />
usando a graça, a piada, o lado mais brincalhão do cearense.<br />
Em outro momento, Rachel de Queiroz foi referência”,<br />
destaca a escritora. “Mas nós nunca fomos metrópole literária,<br />
como Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre.<br />
Parece que estamos um pouco à margem do núcleo central<br />
da literatura no País”, pondera.<br />
ESCRITORES EM TEMPO INTEGRAL<br />
Nomes como Ana Miranda (de “Boca do Inferno” e “Dias<br />
e Dias”) e Socorro Acioli (de “A Cabeça do Santo”) são alguns<br />
dos que, na visão de Angela, conseguiram “furar o bloqueio”<br />
existente no mercado editorial e alcançar notoriedade no<br />
cenário nacional e até internacional. Entretanto, para serem<br />
lidos, a grande maioria dos autores locais precisa ultrapassar<br />
barreiras em todos os elos da cadeia produtiva literária.<br />
A própria dedicação exclusiva à literatura é uma<br />
delas. “Vargas Llosa dizia que ser escritor é uma vocação<br />
excludente. Para ser escritor, tem que ser só escritor,<br />
tem que publicar quase anualmente. Mas é muito difícil<br />
viver de literatura aqui no Ceará e, durante muito tempo,<br />
no Brasil. Muitos escritores, até Machado de Assis, tinham<br />
seu emprego. Foi já com Érico Veríssimo, Jorge Amado,<br />
que alguns escritores brasileiros começaram a ser em tempo<br />
integral”, destaca.<br />
As dificuldades também passam pela busca de editoras<br />
e, principalmente, distribuidoras de maiores dimensões,<br />
que tenham poder de difundir as obras locais e levá-las ao<br />
alcance dos leitores. Angela é categórica ao afirmar que todo<br />
escritor de carreira deseja obter divulgação nacional. Porém,<br />
mesmo os publicados por vezes batalham para chegar às<br />
prateleiras das livrarias. “Se eu publico aqui e meus livros<br />
ficam aqui, como vou ser conhecida fora?”, reflete. “Temos<br />
- A primeira escolha é considerada uma<br />
espécie de “Bíblia” do gênero. Escrito por<br />
Sânzio de Azevedo e publicado em 1976, o livro<br />
“Literatura Cearense”, como o próprio nome<br />
diz, é um grande catálogo das escolas literárias<br />
que tiveram expoentes no Ceará e dos trabalhos<br />
feitos por autores locais. “Quando queremos<br />
lembrar de algum autor do passado, ele tem<br />
todas as indicações. É uma fonte de pesquisa,<br />
um livro importantíssimo”, afirma Angela.<br />
- A segunda obra é um dos maiores clássicos<br />
cearenses: “Iracema”, de José de Alencar.<br />
Angela, no entanto, ressalta a edição bilíngue<br />
organizada por ela e por Sânzio de Azevedo,<br />
e publicada em 2005, para comemorar os 140<br />
anos da obra alencarina. Além do texto original,<br />
o livro traz a versão em francês da história da<br />
índia dos lábios de mel e estudos críticos sobre o<br />
título. Outro destaque é a presença de ilustrações<br />
ao longo das páginas. “É um livro muito bonito.<br />
Tem xilogravuras, aquarelas, um desenho<br />
em bico de pena e poemas de Virgílio Maia<br />
sobre cada uma das estátuas de Iracema que<br />
existem”, conta.<br />
- Por fim, Angela destaca o livro “Poemas de<br />
Amor a Fortaleza”, uma antologia de poesias de<br />
Artur Eduardo Benevides, lançada em 2000.<br />
Dentre os muitos textos que compõem a obra,<br />
a escritora cita “Canto de amor a Fortaleza”, cujos<br />
versos descrevem uma cidade não tão bela<br />
quanto no passado, porém ainda encantadora.<br />
Como admiradora da Fortaleza antiga, Angela diz<br />
que o poema é uma homenagem à capital. “Artur<br />
não era fortalezense, era de Pacatuba. Mas nesse<br />
poema ele tem uma enorme sensibilidade<br />
poética”, elogia.<br />
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