Revista Educar Transforma - 2019
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DIZ AÍ, MESTRE<br />
JOSÉ MARCOS COUTO é professor de História<br />
da rede municipal do Rio de Janeiro, mestre em Educação e coautor<br />
do projeto As caravanas: limites da visibilidade, vencedor do prêmio<br />
Educador Nota 10 de 2018.<br />
EDUCAÇÃO QUE<br />
ROMPE BARREIRAS<br />
A importância do contato cultural e artístico para<br />
que os alunos sejam socialmente integrados<br />
<strong>Educar</strong> uma criança<br />
vai além de ensinar<br />
o que está nos livros<br />
didáticos. É preciso<br />
inseri-la nos espaços<br />
culturais, oferecendo<br />
as ferramentas necessárias para<br />
que enxergue o mundo além dos<br />
próprios limites. Nesse contexto,<br />
compreender e dialogar com os<br />
processos sociais também faz parte<br />
da formação.<br />
Cada um de nós cresce com<br />
uma bagagem cultural diferente.<br />
O contato que temos com o mundo<br />
artístico ainda no início da infância,<br />
seja por meio de músicas, filmes,<br />
teatro ou museus, contribui para<br />
a criação da nossa identidade social.<br />
Mas nem todos têm acesso fácil<br />
a esses produtos.<br />
Aqueles que têm melhores condições<br />
sociais são incentivados, pela<br />
família ou pelo meio, a conhecer os<br />
espaços culturais. O sociólogo francês<br />
Pierre Bourdieu (1930 – 2002)<br />
chama essa bagagem de capital<br />
cultural e, aos jovens, sobretudo<br />
os que vêm de famílias mais humildes,<br />
cabem buscar esse mesmo<br />
capital para que se desenvolvam<br />
como indivíduos.<br />
A escola é um caminho para<br />
incentivar esses alunos, principalmente<br />
entre 11 e 15 anos e que<br />
iniciaram os anos finais do Ensino<br />
Fundamental. É nessa faixa etária<br />
que os adolescentes iniciam a<br />
busca para descobrir quem são<br />
perante o mundo.<br />
“Nunca antes haviam<br />
sonhado esses jovens<br />
com uma série de coisas,<br />
mas, hoje, eles veem que<br />
podem acreditar e buscar<br />
seus sonhos, sentindo-se<br />
visíveis por meio da arte<br />
e da cultura.”<br />
O projeto As caravanas: limites<br />
da visibilidade, vencedor do prêmio<br />
Educador Nota 10 de 2018, surgiu<br />
com a intenção de incentivar a<br />
interação com espaços culturais e<br />
contou com a coautoria da professora<br />
Ana Beatriz Ramos de Souza.<br />
O projeto foi desenvolvido com as<br />
turmas de 6º a 9º ano da Escola<br />
Municipal Áttila Nunes, em Realengo,<br />
no Rio de Janeiro. Nunca antes<br />
haviam sonhado esses jovens com<br />
uma série de coisas, mas, hoje, eles<br />
veem que podem acreditar e buscar<br />
seus sonhos, sentindo-se visíveis<br />
por meio da arte e da cultura.<br />
Tudo começou com a música<br />
As caravanas, de Chico Buarque.<br />
A letra gerou reflexões sobre as<br />
dificuldades que os próprios alunos,<br />
por serem do subúrbio, enfrentam<br />
para chegar à parte mais rica da<br />
cidade. Outras canções foram adicionadas<br />
às aulas de História e, posteriormente,<br />
foram incorporadas<br />
à programação visitas a museus,<br />
bibliotecas, centros culturais, peças<br />
de teatro e filmes. Os alunos passaram<br />
a dialogar sobre o conteúdo<br />
durante as aulas, além de produzir<br />
textos, poemas e outros materiais<br />
artísticos que expressassem um<br />
pouco de suas experiências.<br />
Essa ideia de conscientização e<br />
visibilidade social desperta interesse<br />
nos alunos, incentiva-os a ocupar<br />
espaços culturais, conhecer a história<br />
do próprio país e lhes oferece<br />
ferramentas para se tornarem cidadãos<br />
conscientes. Juntas, a educação<br />
e a cultura oferecem aos jovens<br />
o desejo de ser e de crescer.<br />
34 <strong>Revista</strong> <strong>Educar</strong> <strong>Transforma</strong> Junho <strong>2019</strong>