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Página 2 A VOZ DO VALE De 30 de junho a 6 de julho de 2019<br />
José Carlos Santos Peres<br />
O TEMPO É AGORA<br />
Chuvas passageiras, nestes dias. A temporada do aguaceiro<br />
já se foi, oportunidade para os gestores de cidades ativarem<br />
os mecanismos de prevenção, para não serem surpreendidos<br />
quando o ciclo hídrico, lá pelo mês de outubro, reiniciar.<br />
Como bem disse o engenheiro e consultor do Instituto<br />
Brasileiro de Avaliações e Pericias de Engenharia de São<br />
Paulo, Flávio Figueiredo, em recente artigo na Folha de<br />
São Paulo: “esta é uma oportunidade para prevenir acidentes<br />
em obras públicas, com seu inevitável cortejo de mortos<br />
e feridos, de bloqueios no trânsito, de milionários prejuízos,<br />
de redução do ritmo da atividade econômica”.<br />
Com o tempo firme, sem enxurradas e enchentes, é<br />
uma boa hora para cuidar da manutenção da infraestrutura<br />
de que dispomos. Em cidades como a nossa, a demanda<br />
é bem menor em relação aos grandes centros, porém não<br />
menos importantes nesse processo de prevenção.<br />
Cuidar de córregos e rios que cortam a cidade, providenciando<br />
o desassoreamento e recuperação da mata<br />
ciliar em pontos necessários; limpeza das bocas de lobo<br />
e bueiros, campanhas de conscientização da população<br />
com relação ao descarte de lixo etc.<br />
Ações cotidianas de prevenção que deveriam fazer parte<br />
do protocolo natural de uma administração pública, mas<br />
que, lamentavelmente, não são consideradas no tempo<br />
certo. Daí a correria de última hora para tentar remediar situações<br />
causadoras dos chamados desastres ambientais.<br />
Culpa-se a natureza, como bem diz o engenheiro,<br />
quando os acidentes acontecem. “Choveu em dois dias<br />
o que se previa para um mês”, como se isso desculpasse<br />
o descaso com obras que custaram muito dinheiro público;<br />
a fatalidade, o destino, a falta de recursos e a falta<br />
de mão de obra qualificada... E se promete que, daquele<br />
momento em diante, tudo será diferente.<br />
O fato, diz Figueiredo, é que os administradores do patrimônio<br />
público e da infraestrutura precisam elaborar e<br />
apresentar, com urgência, planos de ação, ao menos para<br />
as obras mais importantes, para manter em ordem áreas<br />
sob suas responsabilidades. Esses planos devem compreender<br />
vistorias técnicas, intervenções de emergência, de<br />
médio prazo e manutenção, dentre outras providências.<br />
Há ações que não podem ser adiadas e que, se aplicadas<br />
com profissionalismo, no tempo e nas condições<br />
certas, evitam consequências desastrosas, como as gigantescas<br />
erosões que teimam em se manter nos bairros<br />
da zona norte da nossa cidade.<br />
Entramos agora, passados estes dias instáveis, num<br />
período sem chuvas. Tempo bom para quem deseja trabalhar<br />
com afinco e inteligência.<br />
Poesia<br />
Santos Peres<br />
FILHOS DE PAPEL<br />
A mulher define dobras<br />
na geometria tátil:<br />
quinas, vazios, dobraduras<br />
e entalhes;<br />
suaviza a textura do papel<br />
na doce-severidade dos dedos,<br />
sentindo nas amarras intricados<br />
frisos em labirinto.<br />
(segredos de experimento?<br />
Olhos alumbrados de meninos).<br />
Da gestação no palimpsesto<br />
um pássaro renasce entre mãos<br />
descarnadas na labuta<br />
de reciclados...<br />
Por um momento a gari reinventa o mundo:<br />
sopra o barro de sua magia e o vê<br />
alado sol solto no espaço<br />
iluminando a tarde cinza.<br />
Depois, passos apressados se bastam<br />
às sobras da cidade:<br />
seu pássaro dorme<br />
nos braços do vento.<br />
é uma publicação semanal da Editora Vieira Aires Ltda<br />
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José Carlos Santos Peres<br />
OUTRO OLHAR<br />
“A religião ganha onde a democracia falha, a revolução<br />
fracassa, o mundo moderno falha. A religião<br />
triunfa no fracasso da modernidade”. (Edgar Morin)<br />
Belíssima reflexão nos proporciona Edgar Morin,<br />
em entrevista publicada na edição do último<br />
dia 24 de junho na Folha de São Paulo, assinada<br />
pela jornalista Úrsula Passos.<br />
Vale conhecer a íntegra da matéria. Respeitado<br />
no mundo acadêmico, de extraordinária lucidez, um<br />
exemplo a todos nós que sonhamos com a aposentadoria...<br />
Pois Morin completa neste mês 98 anos e<br />
continua escrevendo e expondo ideias em conferências<br />
em universidades e eventos.<br />
A entrevista – até para fazer justiça à transdisciplinaridade<br />
que o Pensador tanto defende – deveria ser<br />
pauta, em algum momento, do ensino universitário,<br />
tal a condição de reflexão que proporciona.<br />
Vamos à reportagem (um trecho dela), na esperança<br />
de motivar os leitores a se interessar pelo potencial<br />
de reflexão que Edgar Morin estimula:<br />
“(...) a crise da democracia se deve aos enormes<br />
poderes do dinheiro terem levado a casos de<br />
corrupção em todo lugar. O vazio do pensamento,<br />
somado a essa corrupção, leva a uma perda<br />
de confiança na democracia, e isso favoreceu os<br />
regimentos neoautoritários, como vimos na Turquia,<br />
Rússia, Hungria e como agora na crise da<br />
democracia no Peru e no Brasil.<br />
A regressão histórica começou muito fortemente<br />
com os anos Thatcher e Reagan, que no fim do século<br />
passado impuseram a regra do liberalismo econômico<br />
absoluto, como se as leis da concorrência<br />
pudessem regrar e melhorar todos os problemas sociais,<br />
mas isso só favoreceu a especulação e a força<br />
do dinheiro que controla a política.<br />
A crise da democracia é o controle do poder político<br />
pelo poder financeiro, que é cego, que vê só<br />
os interesses imediatos, não tem consciência do<br />
destino da humanidade. A prova é a degradação<br />
da biosfera, que e evidente, e que vemos na degradação<br />
da Amazônia ou na poluição das cidades,<br />
por exemplo, mas que é ignorada em detrimento de<br />
um benefício imediato. Assim, damo-nos conta de<br />
que vivemos em uma época de cegueira e de sonambulismo.<br />
Isso participa na crise da democracia.<br />
Eu vivi – sou muito velho, como sabe – nos<br />
anos 1930 e 1940, um período da ascensão da<br />
guerra, vínhamos de uma grande época em que<br />
acreditávamos estar em paz, mas numa crise<br />
econômica enorme que provocou a chegada de<br />
Hitler ao poder por vias democráticas.<br />
Vivemos esse período como sonâmbulos, sem saber<br />
que íamos em direção ao desastre. Continuamos<br />
como sonâmbulos e estamos indo rumo ao desastre,<br />
em condições diferentes. O que é certo é o desastre<br />
ecológico, e o desastre dos fanatismos.<br />
A menos que as pessoas tomem consciência da<br />
comunidade de destino dos humanos sobre a Terra,<br />
as pessoas se fecharão em suas identidades religiosas,<br />
étnicas etc. Vivemos um período obscuro da história,<br />
a única consolação é que esses períodos obscuros<br />
não são eternos...”<br />
Eternos são os pensamentos de Edgar Morin.<br />
MEMÓRIA<br />
1960 – CAMPEONATO PAULISTA<br />
SANTOS 1 x CORINTHIANS 1<br />
Local: Vila Belmiro.<br />
SANTOS: Laércio; Getulio, Mauro e Dalmo; Zito<br />
e Formiga; Dorval, Nei, Sormani, Pelé e Pepe (Tite).<br />
CORINTHIANS: Gilmar; Egidio, Olavo e Ari;<br />
Oreco e Roberto; Lanzoninho, Almir, Joaquinzinho,<br />
Luizinho e Zague.<br />
Gols: Pelé e Luizinho.<br />
Árbitro: Catão Montez Junior.<br />
Renda: 19.500 pagantes<br />
1960 – CAMPEONATO PAULISTA<br />
SÃO PAULO 2 x PALMEIRAS 2<br />
Local: Pacaembu.<br />
SÃO PAULO: Albertino; De Sordi, Servilio e<br />
Riberto; Dino e Vitor; Peixinho, Paulo, Gino, Gonçalo<br />
e Agenor.<br />
PALMEIRAS: Valdir; Djalma Santos, Valdemar<br />
e Geraldo; Zequinha e Aldemar; Julinho, Ari, China,<br />
Chinezinho e Valter Prado.<br />
Gols do Palmeiras: Zequinha e China .<br />
Gol do São Paulo: Dino e Gonçalo<br />
Árbitro: Anacleto Pietrobom.<br />
José Carlos Santos Peres<br />
TUDO MUDA<br />
De tempos em tempos chega-nos a informação: a<br />
banana está em fase de extinção. Não duvido, pela<br />
qualidade dos produtos ofertados ultimamente...<br />
Tenho comigo que banana existe desde quando<br />
não existia. Não havia banana no planeta e já havia<br />
banana em algum lugar.<br />
Problema maior estaria na provável extinção das<br />
abelhas. Há um estudo da FAO (organização das<br />
Nações Unidas para Alimentação e Agricultura)<br />
alertando o mundo sobre as consequências que o<br />
possível desaparecimento do inseto provocaria em<br />
toda a cadeia alimentar.<br />
Projeção ainda mais dura rola nas Superinteressantes<br />
da vida: “se as abelhas desaparecessem<br />
da face da Terra, a espécie humana teria somente<br />
mais quatro anos de vida”. Sem abelhas, não há<br />
polinização.<br />
As monoculturas, a intensificação do uso de<br />
agrotóxicos e as queimadas são prováveis causas<br />
da diminuição das abelhas.<br />
A domesticação para a produção de mel também,<br />
que, nesse caso, as espécies descendentes geralmente<br />
não conseguem mais sobreviver na natureza.<br />
A guerra no Iraque, com uso de explosivos em<br />
larga escala, causou a diminuição de 90% das colônias<br />
naquele país, dizem os cientistas.<br />
A banana corre o risco de desaparecer, pelo<br />
menos uma ou outra espécie da enorme série; a<br />
população das abelhas diminui consideravelmente<br />
em alguns continentes, o Aedes, porém, resolveu<br />
ampliar o seu poder de ação.<br />
São tantas as mazelas no mundo, e tantas novidades<br />
que nos chegam... Dizem, por exemplo, que<br />
a Terra é plana; que mais vale uma arma na mão<br />
que um bom livro de filosofia.<br />
Tudo em ebulição e transformação.<br />
Nunca fui otimista juramentado, mas também<br />
estou longe de ser pessimista. Mas hoje, diante<br />
do quadro que se apresenta, gostaria muito de ser<br />
como São Tomé, aquele que precisava ver para<br />
crer, que não sofria por antecipação. A expectativa<br />
de tudo pode ser ainda pior nos mata de desilusão,<br />
de decepção com o ser humano. O que será o<br />
amanhã dos nossos descendentes?<br />
A propósito, a banana São Tomé não corre risco<br />
de extinção. Também, quem a consome, haveria<br />
de perguntar a nanica, olhando para a prata e<br />
a maçã e todas condoídas pela situação da ouro,<br />
esta já em entrando em fase terminal.<br />
José Carlos Santos Peres<br />
NEM TANTO AO CÉU...<br />
A seleção brasileira deve ficar com o título de<br />
campeã da Copa América. Será outro jogo contra<br />
o Peru, que aquele da goleada deve ter servido<br />
ao Gareca para reestruturar sua equipe, partindo<br />
do princípio de que atacar o Brasil de peito aberto<br />
nem sempre é um bom negócio.<br />
Em conquistando o título, deve-se analisar criteriosamente<br />
o desempenho da seleção. Não foi<br />
dos melhores, com exceção aquela partida contra<br />
o Peru; contra a Argentina, na semi, o jogo<br />
foi parelho e tivesse o VAR entrado em ação o<br />
resultado até poderia ter sido outro.<br />
Preocupa, porém, a informação de que Tite<br />
estaria de saída. Ruim com ele, pior sem. O treinador<br />
gaúcho devolveu ao time um jeito de jogar<br />
que se aproxima do modelo europeu sem perder,<br />
porém, a essência da nossa escola.<br />
O trabalho na Libertadores foi ótimo e na Copa<br />
de regular para bom. Fica a expectativa com relação<br />
a essa decisão diante do Peru. Claro que uma<br />
derrota joga por terra o que de bom foi realizado.<br />
Dois nomes, de acordo com informações da<br />
imprensa são especulados, caso se confirme a<br />
saída do Tite: Renato Gaucho e Mano.<br />
Ambos, vencedores em seus clubes. Mas,<br />
com todos os defeitos – entre eles a fidelidade<br />
exagerada com alguns jogadores – sou pela permanência<br />
do Tite, por entendê-lo mais capaz que<br />
os citados, e contar com a valiosa experiência de<br />
ter estado na última Copa.