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Página 2 A VOZ DO VALE De 15 a 21 de setembro de 2019<br />
José Carlos Santos Peres<br />
É PRECISO VIGIAR<br />
Nos dias de hoje é bom que se proteja, diz a canção.<br />
Essa história do Jô Silvestre, a de deixar sua mesa<br />
de trabalho na prefeitura para operar outra, de som, em<br />
Arandu, por ocasião de evento que marcou entrega de<br />
casas populares naquela cidade, está dando o que falar.<br />
Foi um descuido do prefeito. Ele deveria saber que “cairiam<br />
matando”, ao sabê-lo, em pleno horário de expediente,<br />
ocupar-se de um ato tão prosaico, em se tratando de<br />
alguém que ocupa cargo de alta responsabilidade.<br />
Que o prefeito gosta de festa, sabemos. Ouviu um<br />
acordeão no horizonte ele já balança a bota: eita, sô!.<br />
Não á toa essa dinheirama toda empenhada para<br />
ouvir o Guma (se o vereador deixar) dizer na arena de<br />
Peão, no Parque “Fernando Pimentel”: “chuva fina e<br />
choro de muié não atrapaia o caminho du home”.<br />
O “JoSom” - caminhão equipado para matar de inveja<br />
os amantes de parafernália que joga os decibéis na estratosfera<br />
- é um bem particular que não nos diz respeito.<br />
Qualquer um tem as suas preferências, os seus mimos,<br />
as suas coleções, seja lá o que for... E se o prefeito,<br />
amanhã, fizer do seu caminhão o aparato do seu<br />
oficio para shows pelo Brasil está no seu direito.<br />
A mim não incomodou o fato do Jô Silvestre dispor<br />
de tempo para aquela ação. A cidade não perdeu seus<br />
buracos e suas mazelas porque o homem a deixou um<br />
tempo no vácuo.<br />
Não acredito, obviamente, que o prefeito tenha recebido<br />
algum para estar no comando da mesa ou o “JoSom” tenha<br />
custado alguma coisa à prefeitura de uma cidade com a qual<br />
ele mantém intima e, com certeza, carinhosa relação.<br />
O problema é mais do prefeito, mesmo. Uma coisa<br />
particular que chama atenção pelo inusitado. Também<br />
não é bizarrice, como disse alguém. É apenas uma situação<br />
insólita.<br />
A repercussão não foi boa, com muita gente “esticando<br />
a corda”, dizendo que Jô Silvestre desenvolve uma<br />
atividade paralela à da prefeitura, que não estaria “nem<br />
aí” com a cidade... Exagero!<br />
Foi um descuido. E o prefeito terá de administrar tal situação<br />
se amanhã algum dos servidores faltar ao serviço<br />
e justificar o não comparecimento em decorrência de uma<br />
“saidinha” para fazer um bico qualquer ou para tocar o disquinho<br />
da galinha pintadinha no aniversário do sobrinho.<br />
Nos dias de hoje, já cantava Elis, não ande nos bares,<br />
esqueça os amigos, não pare nas praças, não corra perigo.<br />
Sempre haverá um celular pronto para o disparo,<br />
uma Rede Social como campo minado, um batom esquecido<br />
na dobra da cueca...<br />
Nos dias de hoje qualquer som pode virar ruído.<br />
José Carlos Santos Peres<br />
ESTÁ MELHOR<br />
Parece que o 7 a 1 que a Alemanha nos impôs durante<br />
a Copa fez bem ao futebol brasileiro. Nosso jogo,<br />
como um todo, melhorou.<br />
Estamos tendo jogos bem melhores, em relação ao<br />
passado recente. Contribu para tanto as participações<br />
de treinadores como Jorge Jesus, Sampaoli e Diniz.<br />
Treinadores inovadores, antenados.<br />
Ainda estamos longe da instalação de uma dinâmica<br />
de jogo que se aproxime da exibida pelos times das<br />
grandes ligas. Mas estamos a caminho.<br />
Quem acompanhou Santos x Flamengo e Atlético x<br />
Internacional com certeza concorda com o articulista:<br />
nosso futebol ganhou em intensidade.<br />
Os times estão subindo as linhas, marcando no campo<br />
adversário, ocupando espaços quando se está sem<br />
bola. O ensinamento mais importante é o de estimular a<br />
movimentação dos jogadores quando sem a bola.<br />
Há portanto, mais um jogo sendo jogado: o da movimentação<br />
dos jogadores, ocupando espaços e se movimentando<br />
para abrir expectativas de jogadas, para estabelecer<br />
o jogo de imposição. Sem ligação direta. Agora é<br />
bola no chão, posse de bola, troca de passes e infiltrações.<br />
Estão sendo mais intensos os nossos jogos, há maior<br />
envolvimento e aplicação tática dos jogadores. Em decorrência,<br />
os estádios estão se enchendo nos grandes jogos.<br />
Torcedor quer vitória, mas com o seu time jogando bem.<br />
O futebol europeu “inventou” a tática, buscou alternativas<br />
para enfrentar o Brasil. Mas, com exceções, os jogadores<br />
são cumpridores de deveres táticos, pouco se vê em<br />
improvisação, em dribles, em lances de habilidade.<br />
Como o Brasil possui o talento natural, em absorvendo<br />
essa capacidade de se impor, de jogar com intensidade<br />
então, daqui a pouco, estaremos enfrentando e<br />
vencendo os grandes da Europa.<br />
Esperar para ver. O futuro está sendo elaborado. Joga-se<br />
melhor hoje, depois dos 7 a 1. Quem apanha, às<br />
vezes, aprende. Acho que o Brasil está se reiventado.<br />
José Carlos Santos Peres<br />
MORREU UM<br />
OPERÁRIO<br />
Benedito da Silva, o bugrinho, ajudou a carregar<br />
nos ombros o esporte avareense, nestas três<br />
últimas décadas. Estamos falando da modalidade<br />
futebol, também na vertente Futsal.<br />
Conheci o esportista no final dos anos 80, num<br />
dia em que fazia um programa de entrevistas na<br />
Rádio Avaré. Em conversa com Wander Manoel<br />
Gonçalves, então presidente da Comissão Central<br />
de Esportes, o dirigente dizia da necessidade de<br />
contar com colaboradores, nas diversas modalidades,<br />
para incrementar o esporte local.<br />
Bugrinho, então, jovem ainda, deixando a bola<br />
de lado, em decorrência de uma séria contusão, e<br />
como conhecia e gozava de prestigio na várzea,<br />
ofereceu seus préstimos, através de telefonema a<br />
Rádio, assim que terminou o programa, no que foi<br />
prontamente aceito pelo dirigente.<br />
Falamos da condição de operário do esporte.<br />
A definição é a expressão autêntica a quem dedicou<br />
uma vida à causa, lutando com sacrifícios,<br />
contando com o apoio da esposa e de alguns<br />
poucos. E fazendo acontecer.<br />
O que sempre chamava atenção no trabalho<br />
do Bugrinho, e daí a expressão “operário”,<br />
dizia respeito a enorme capacidade de “fazer<br />
tudo”. Num campeonato como o Municipal de<br />
Futebol, o coordenador (como ele gostava de<br />
ser chamado) se havia com arbitragem, segurança<br />
(policiamento, ambulância...), cobranças<br />
de jogadores, técnicos, dirigentes e torcedores.<br />
Fazia de tudo, para fazer acontecer.<br />
Bugrinho enfrentava e resolvia todas as demandas.<br />
Sabia negociar, mas sabia ser intransigente<br />
em suas decisões, principalmente para conter atos<br />
indisciplinares no campo ou fora dele, quando se<br />
fazia necessário agir com rigor.<br />
Operário porque Bugrinho não ficava atrás de<br />
uma mesa. Nunca! Acho que nem mesa ele possuía.<br />
Era alguém que “dava a cara”, que estava na<br />
linha de frente dos acontecimentos.<br />
Assim, durante um longo tempo, Bugrinho elaborava<br />
e fazia ser obedecido um significativo calendário<br />
de eventos contemplando o futebol amador<br />
veterano, adulto, juvenil, infantil... Se fazia ao lado<br />
dos monitores das escolinhas e, a partir de certo<br />
momento, abraçou o futsal por entender que essa<br />
modalidade se colocava como melhor alternativa<br />
para receber os garotos.<br />
Pois é isso: engana-se aquele que pensa o trabalho<br />
do Bugrinho apenas na perspectiva de uma<br />
bola num campo ou numa quadra. A dimensão era<br />
bem outra e bem maior. Era social!<br />
Esse viés social, o de tirar as crianças do ócio, o<br />
de permitir a interação social, o de possibilitar todos<br />
os benefícios na formação de um garoto é que residia<br />
o maior feito do trabalho do amigo.<br />
Benedito da Silva começou com o Wander Gonçalves<br />
na CCE e, a partir de então, todos os demais<br />
Secretários de Esportes não abriram mão da<br />
mão-de-obra qualificada do esportista por reconhecer<br />
nele o verdadeiro operário-padrão, o homem<br />
de confiança para lidar com uma das modalidades<br />
mais emblemáticas e problemáticas do esporte.<br />
Bugrinho fez muito pelo esporte e poderia ter<br />
feito muito mais, se Avaré tivesse lhe dado condições<br />
ainda mais favoráveis. E se as demais<br />
secretarias de governo tivessem tido a lucidez<br />
de fazer com ele um trabalho conjunto. Ficou<br />
faltando essa interação entre as pastas.<br />
Com certeza, todos os dirigentes do esporte local<br />
ao longo destas três décadas, a partir de Wander<br />
Gonçalves até Leonardo Ripoli, têm uma palavra<br />
de apreço, de carinho, de respeito e de agradecimento<br />
ao operário Bugrinho, aquele que conhecia<br />
cada mancha numa quadra, cada saliência num<br />
gramado, a índole de cada um das centenas de jovens<br />
que passaram pelas suas mãos e que, com<br />
certeza, saíram maiores para a vida<br />
Bugrinho morreu aos 64 anos... A doença o tirou<br />
do nosso convívio muito cedo, ele que tinha planos<br />
e sabedoria para continuar na labuta por muito<br />
tempo ainda, mesmo agindo como Dom Quixote no<br />
combate aos moinhos das dificuldades.<br />
José Carlos Santos Peres<br />
PASSAGEIROS<br />
DA CHUVA<br />
Insuficiente o toldo azul. Um furo ao acaso, sobre<br />
o arco de sustentação, fazia de uma gota um chuveiro.<br />
Sem falar no vento que em rajadas projetava parte<br />
do dilúvio para dentro do abrigo.<br />
Os quatro, solitários e silenciosos sob o toldo. Entre<br />
nós, a quarta-feira e a monotonia da chuva repicando<br />
pela calçada. De quando em quando um carro,<br />
já em faróis acesos, iluminando o Atlântico em que a<br />
cidade se transforma quando chove.<br />
Alguém lamenta por não carregar guarda-chuva.<br />
Coisa de velho, diz a senhora gorda que ocupa boa<br />
parte do espaço. E ri, contido.<br />
Apresento-me à coletividade aquática:<br />
- Sou Zé, severino dessa vida quando chove.<br />
A gorda é Lourdes. Maria De, diz. E tenta explicar os<br />
remédios na sacolinha transparente da Drogal:<br />
- Nem parece que estou nos 48... A vida tem me<br />
custado caro em remédios e rugas.<br />
Aníbal, o que esquecera o guarda-chuva, é tocador<br />
de obras e está de passagem para visitar a família.<br />
No domingo pega a estrada para aquele fim do<br />
mundo que lá, de bom mesmo só a mulherada, com<br />
todo o respeito à dona De Lourdes.<br />
A mulher contemporiza, diante do olhar humilde do<br />
nosso inquilino:<br />
- Não se avexe... O finado foi mestre de obras da<br />
Camargo Correa. Uma vadia em cada porto; mas no<br />
instante final da vida tomou de minhas mãos o último<br />
caldo... Ficaram alguns retratos, filhos espalhados e<br />
a pensão do INSS...<br />
E completa, com a voz sumida, olhando as luzes<br />
dos postes já acesas, tentando dissipar a neblina:<br />
- E a saudade... Ainda hoje, a mesma medida de<br />
sal na comida. E xícaras para dois sobre a toalhinha<br />
com o corcovado, presente de casamento.<br />
Talvez a tarde, a chuva, as luzes dos carros desfazendo-se...<br />
Talvez tudo isso para nos fazer pianíssimos.<br />
Então falo de minhas meias molhadas, do desconforto...<br />
Porém, diante do silêncio geral, percebo o<br />
quanto estou ridículo, em relação ao homem que veio<br />
de longe para trazer o sustento à família; da solidão<br />
de dona Maria tomando café de dois...<br />
Mas então, quando pensava que melhor estaria a<br />
caminho de casa, mesmo debaixo de chuva, agora<br />
menos intensa, eis que a vejo, por inteiro. Última a<br />
falar, ofuscada que estivera pela timidez e pelo corpanzil<br />
de Das Dores.<br />
Cabelos molhados, blusinha vermelha, jeans arranhado<br />
nas pernas e um olhar em desalinho... Não diz<br />
nada, apenas ilumina a tarde quando sorri antes de estender<br />
a mão para testar a intensidade da chuva.<br />
De repente já não havia mais o arco democratizando<br />
as goteiras e nem o azul do toldo era sem cor... E<br />
nem a chuva me fazia severino quando ela me olhou<br />
sem jeito e sem história antes de se perder na esquina<br />
do nunca mais.<br />
MEMÓRIA<br />
1959 – DECISÃO DO PAULISTA<br />
PALMEIRAS – 2 X SANTOS - 1<br />
Data: 10/01/1960<br />
Local: Pacaembu.<br />
PALMEIRAS: Valdir; Djalma Santos, Valdemar e<br />
Geraldo: Zequinha e Aldemar; Julinho, Nardo, Américo,<br />
Chinesinho e Romeiro.<br />
Técnico: Osvaldo Brandão.<br />
SANTOS: Laércio; Urubatão, Getúlio e Dalmo; Zito e<br />
Formiga; Dorval, Jair Rosa Pinto, Pagão, Pelé e Pepe.<br />
Técnico: Lula.<br />
Árbitro: Anacleto Pietrobom<br />
Gol do Santos: Pelé, aos 13 minutos do primeiro tempo.<br />
Gols do Palmeiras: Julinho Botelho aos 41 minutos do<br />
primeiro tempo e Romeiro aos 2 minutos da etapa final.<br />
é uma publicação semanal da Editora Vieira Aires Ltda<br />
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César, Holambra II, Iaras, Itaí, Itatinga e Paranapanema.