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Ciências Sociais UNIP

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<strong>Ciências</strong> <strong>Sociais</strong><br />

Autora: Profa. Josefa Alexandrina da Silva<br />

Colaboradores: Prof. Flávio Celso Müller Martin<br />

Prof. Fábio Gomes da Silva<br />

Profa. Angélica Lucia Carlini


Professora conteudista: Josefa Alexandrina da Silva<br />

Possui graduação em <strong>Ciências</strong> <strong>Sociais</strong> (1990) e mestrado em <strong>Ciências</strong> <strong>Sociais</strong> (1997) pela Pontifícia<br />

Universidade Católica de São Paulo. Atualmente, é doutoranda do programa de pós-graduação na área de<br />

educação: currículo pela mesma instituição.<br />

É professora adjunta da Universidade Paulista, onde atua como líder da disciplina <strong>Ciências</strong> <strong>Sociais</strong>, e docente<br />

do curso de Administração de Empresas no campus Marquês de São Vicente da mesma universidade, em São<br />

Paulo.<br />

Foi membro da equipe técnica de sociologia da Secretaria de Estado da Educação e coordenadora de<br />

conteúdos para educação à distância na Fundação Padre Anchieta. Tem experiência na área de sociologia, com<br />

ênfase em ensino, atuando principalmente a partir das seguintes áreas: política educacional, precarização do<br />

trabalho, trabalho docente, metodologia de ensino, educação a distância e currículo.<br />

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)<br />

S586c<br />

Silva, Josefa Alexandrina da<br />

<strong>Ciências</strong> <strong>Sociais</strong>. / Josefa Alexandrina da Silva. - São Paulo:<br />

Editora Sol, 2015.<br />

128 p., il.<br />

Notas: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e<br />

Pesquisas da <strong>UNIP</strong>, Série Didática, ano XXI, n. 2-098/15, ISSN 1517-9230.<br />

1. Sociologia. 2. Pensamento Clássico 3. Sociologia<br />

Contemporânea I.Título<br />

CDU 303<br />

© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou<br />

quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem<br />

permissão escrita da Universidade Paulista.


Prof. Dr. João Carlos Di Genio<br />

Reitor<br />

Prof. Fábio Romeu de Carvalho<br />

Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças<br />

Profa. Melânia Dalla Torre<br />

Vice-Reitora de Unidades Universitárias<br />

Prof. Dr. Yugo Okida<br />

Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa<br />

Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez<br />

Vice-Reitora de Graduação<br />

Unip Interativa – EaD<br />

Profa. Elisabete Brihy<br />

Prof. Marcelo Souza<br />

Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar<br />

Prof. Ivan Daliberto Frugoli<br />

Material Didático – EaD<br />

Comissão editorial:<br />

Dra. Angélica L. Carlini (<strong>UNIP</strong>)<br />

Dra. Divane Alves da Silva (<strong>UNIP</strong>)<br />

Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)<br />

Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)<br />

Dra. Valéria de Carvalho (<strong>UNIP</strong>)<br />

Apoio:<br />

Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD<br />

Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos<br />

Projeto gráfico:<br />

Prof. Alexandre Ponzetto<br />

Revisão:<br />

Simone Oliveira


Sumário<br />

<strong>Ciências</strong> <strong>Sociais</strong><br />

APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7<br />

INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................7<br />

Unidade I<br />

1 INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO CIENTÍFICO SOBRE O SOCIAL....................................................13<br />

1.1 As origens do pensamento científico sobre o social...............................................................13<br />

1.2 A sociologia pré-científica.................................................................................................................16<br />

1.2.1 Renascimento............................................................................................................................................16<br />

1.2.2 O século das luzes....................................................................................................................................19<br />

1.3 O pensamento científico sobre o social.......................................................................................23<br />

1.3.1 Augusto Comte (1798-1857)..............................................................................................................23<br />

2 TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS DO SÉCULO XVIII....................................................................................27<br />

2.1 Revoluções burguesas.........................................................................................................................27<br />

2.1.1 Revolução Francesa................................................................................................................................28<br />

2.1.2 Revolução Industrial...............................................................................................................................30<br />

3 AS PRINCIPAIS CONTRIBUIÇÕES DO PENSAMENTO SOCIOLÓGICO CLÁSSICO.......................38<br />

3.1 Émile Durkheim e o pensamento positivista.............................................................................39<br />

3.1.1 A relação indivíduo versus sociedade.............................................................................................. 41<br />

3.1.2 Os fatos sociais e a consciência coletiva........................................................................................42<br />

3.1.3 O crime.........................................................................................................................................................43<br />

3.1.4 Solidariedade mecânica e orgânica..................................................................................................45<br />

3.2 Karl Marx e o materialismo histórico e dialético.....................................................................47<br />

3.2.1 Divisão do trabalho social....................................................................................................................49<br />

3.2.2 Classes sociais...........................................................................................................................................50<br />

3.2.3 Salário, valor, lucro e mais-valia........................................................................................................ 51<br />

3.2.4 Ideologia burguesa e alienação.........................................................................................................52<br />

3.2.5 A amplitude da contribuição de Karl Marx...................................................................................53<br />

3.3 Max Weber e a busca das conexões de sentido........................................................................54<br />

3.3.1 Ação social e tipo ideal..........................................................................................................................54<br />

3.3.2 A tarefa do cientista...............................................................................................................................55<br />

3.3.3 A ética protestante e o espírito do capitalismo..........................................................................56<br />

3.3.4 Teoria da burocracia e os tipos de dominação............................................................................58<br />

4 A FORMAÇÃO DA SOCIEDADE CAPITALISTA NO BRASIL..................................................................60<br />

4.1 Industrialização e formação da sociedade de classes............................................................ 61<br />

4.2 O capitalismo dependente................................................................................................................. 61


Unidade II<br />

5 A GLOBALIZAÇÃO E SUAS CONSEQUÊNCIAS........................................................................................ 70<br />

5.1 A globalização comercial e financeira..........................................................................................72<br />

5.2 As novas tecnologias...........................................................................................................................73<br />

5.3 A globalização cultural.......................................................................................................................74<br />

6 TRANSFORMAÇÕES NO MUNDO DO TRABALHO................................................................................75<br />

6.1 Precarização das relações de trabalho..........................................................................................76<br />

6.2 Desemprego estrutural e informalidade......................................................................................78<br />

7 POLÍTICA E RELAÇÕES DE PODER: PARTICIPAÇÃO POLÍTICA E DIREITOS DO CIDADÃO......82<br />

7.1 Política, poder e Estado......................................................................................................................82<br />

7.1.1 Interesses particulares, grupais e gerais.........................................................................................83<br />

7.2 Democracia e cidadania.....................................................................................................................83<br />

7.3 Participação política.............................................................................................................................84<br />

8 AS QUESTÕES URBANAS E OS MOVIMENTOS SOCIAIS.....................................................................86<br />

8.1 A cidade e seus problemas................................................................................................................87<br />

8.2 Violência urbana....................................................................................................................................87<br />

8.3 Movimentos sociais..............................................................................................................................88<br />

8.3.1 Características dos movimentos sociais: identidade, oposição e totalidade...................90<br />

8.4 A sociedade em movimento.............................................................................................................92<br />

8.4.1 O movimento feminista........................................................................................................................93<br />

8.4.2 O movimento ambientalista................................................................................................................95<br />

8.5 Movimentos da sociedade em rede...............................................................................................97<br />

8.6 Os novos movimentos sociais........................................................................................................101


APRESENTAÇÃO<br />

Caro aluno,<br />

Partindo das premissas básicas que norteiam a missão da universidade de atuar para o progresso da<br />

comunidade, para o fortalecimento da solidariedade entre os homens e para o desenvolvimento do país,<br />

a disciplina <strong>Ciências</strong> <strong>Sociais</strong> visa contribuir com a compreensão da realidade global através do estudo da<br />

formação da sociedade contemporânea.<br />

Para isso, os objetivos da disciplina se focam numa compreensão construída sob a perspectiva<br />

científica, a fim de permitir o entendimento dos principais problemas da sociedade capitalista a partir<br />

do desenvolvimento das seguintes competências:<br />

• Senso crítico e capacidade de contextualização;<br />

• Pensamento estratégico;<br />

• Visão sistêmica;<br />

• Consciência ética e social.<br />

Além disso, através das estratégias de trabalho e de avaliação, os alunos deverão ter a oportunidade<br />

de também aprimorar:<br />

• A comunicação e a expressão;<br />

• O desenvolvimento pessoal;<br />

• O trabalho em equipe.<br />

De forma mais específica, o objetivo primeiro da disciplina <strong>Ciências</strong> <strong>Sociais</strong> é levar os estudantes a<br />

compreender que o capitalismo é um modo de organização econômica e social construído historicamente<br />

e refletir sobre os fundamentos teóricos desse modelo de sociedade.<br />

Outro objetivo da disciplina tem a ver com o aprendizado dos diferentes princípios explicativos para<br />

os fenômenos sociais. Esses princípios abarcam diferentes estilos de pensamento e distintas visões de<br />

sociedade e de mundo.<br />

Por fim, busca-se a formação de um profissional ético, competente e comprometido com a sociedade<br />

em que vive e, principalmente, que reflita frente aos diferentes princípios explicativos sobre os problemas<br />

latentes do mundo contemporâneo.<br />

INTRODUÇÃO<br />

O propósito deste texto é fornecer aos alunos material de apoio para o acompanhamento da<br />

disciplina <strong>Ciências</strong> <strong>Sociais</strong>. A primeira questão que precisa ser colocada é: qual o sentido do aprendizado<br />

das ciências sociais na formação universitária?<br />

7


As ciências sociais se definem a partir da possibilidade de o homem contemporâneo entender a<br />

realidade social em que vive sob uma perspectiva científica.<br />

A sociologia como ciência é vista por Mills (1965, p. 11) como um “conhecimento capaz de conduzir<br />

o homem comum a compreender os nexos que ligam sua vida individual com os processos sociais mais<br />

gerais”. A percepção que o homem comum tem da realidade social é marcada pelo seu cenário mais<br />

imediato, o do cotidiano, levando-o à formação de uma visão distorcida do todo. Segundo Mills (1965),<br />

a superação dessa condição de alienação se dá com o desenvolvimento do que chama de “imaginação<br />

sociológica”, que permite “usar a informação e desenvolver a razão”.<br />

Ianni (1988) aponta que a realidade não se mostra em sua totalidade e que a compreensão abrangente<br />

do mundo depende da ciência. O autor concebe a sociologia como a autoconsciência da sociedade, pela<br />

sua capacidade de levar o ser humano a refletir sobre os rumos da vida social.<br />

Ao refletir sobre o sentido da sociologia, Giddens (2001) atribui a essa ciência um papel central para a compreensão<br />

das forças sociais que vêm transformando nossas vidas. Para ele, a vida social tornou-se episódica, fragmentária e<br />

marcada por incertezas. Sendo assim, o pensamento sociológico deve contribuir para seu entendimento.<br />

Todos nós vivemos em sociedade e, pela nossa condição humana, somos capazes de elaborar uma visão<br />

sobre o mundo e formular hipóteses e opiniões sobre os eventos sociais. No entanto, isso ainda não é ciência.<br />

O que vai caracterizar a reflexão científica sobre o social é a utilização de métodos adequados de análise<br />

e formulação de teorias. Mesmo sem ter estudado uma ciência, todas as pessoas conhecem certos fatos<br />

sociais. Os temas do nosso curso são familiares ao senso comum, porém, espera-se que vocês, estudantes,<br />

superem esse senso comum para desenvolver uma reflexão mais elaborada sobre a sociedade em que<br />

vivem. É importante salientar que o conhecimento científico é crítico, pois esforça-se por descobrir bases<br />

sólidas e justificações claras e exatas, enquanto o senso comum limita-se ao conhecimento superficial.<br />

Figura 01 – Homem e engrenagens girando<br />

Por ser uma ciência que se preocupa com o entendimento das regras que organizam a vida social,<br />

a sociologia desenvolveu métodos de análise que buscam tornar a ação social humana explicável por<br />

meio de informações baseadas em conhecimentos precisos. O saber sociológico é organizado e isso se<br />

evidencia no empenho pela construção de sistemas que formem conjuntos nos quais os elementos<br />

estejam relacionados de maneira ordenada. Ainda, outra característica da sociologia é que seus<br />

conhecimentos são gerais, ou seja, trata-se de um conjunto de fatos e situações e não apenas de um<br />

estudo de determinadas circunstâncias isoladas.<br />

8


Desse modo, o conhecimento científico sobre o mundo social não é produto de uma sequência de<br />

acasos ou situações imprevisíveis. É preciso orientar a inteligência para certa noção de ordem social, pois<br />

a realidade social é capaz de ser observada, entendida e explicada à luz da razão.<br />

Ao explicar relações entre acontecimentos complexos e diferenciados, o conhecimento sociológico<br />

permite ao ser humano transpor os limites de sua condição particular e perceber-se como parte de<br />

uma totalidade mais ampla. Isso faz da sociologia um conhecimento indispensável num mundo que<br />

diferencia e isola os homens e os grupos entre si.<br />

Figura 02 – Livros<br />

Mas, afinal, o que se estuda na disciplina <strong>Ciências</strong> <strong>Sociais</strong>?<br />

Iniciamos nosso curso discutindo o processo de formação do pensamento científico sobre o mundo<br />

social. Procuraremos conhecer a sociedade capitalista na qual estamos imersos sob a perspectiva<br />

científica. Para tanto, será necessário refletir sobre os fundamentos desse modelo de organização social<br />

que se desenvolveu na Europa a partir do século XV.<br />

Num segundo momento, discutiremos rapidamente um conjunto de transformações sociais que<br />

ocorreram na Europa no século XVIII e conduziram o sistema capitalista a se firmar como hegemônico<br />

no mundo.<br />

Em seguida, discutiremos sobre as principais contribuições de autores clássicos da sociologia. A<br />

intenção dessa discussão é refletirmos conjuntamente sobre a pertinência das análises desses autores<br />

no entendimento do mundo atual.<br />

Não podemos deixar de discutir também a sociedade brasileira. Por isso, vamos abordar como se deu a<br />

inserção do Brasil no sistema capitalista, sua industrialização, sua urbanização e procuraremos entender<br />

de que maneira criamos um sistema econômico dependente de recursos e tecnologia externos.<br />

De posse de referências mais consistentes sobre o sistema capitalista, nos voltaremos à compreensão<br />

da sociedade atual. Discutiremos o que é globalização, o impacto das novas tecnologias e seguiremos<br />

analisando as transformações no mundo do trabalho que têm conduzido aos processos de precarização<br />

do trabalho, desemprego e informalidade.<br />

9


No senso comum, é usual encontrarmos pessoas simples que atribuem todas as mazelas de sua<br />

existência ao governo. Como queremos fugir do senso comum, vamos refletir: afinal, o que é política? O<br />

que é poder? Qual é o papel do Estado? A participação política é importante?<br />

Dedicaremos o final do nosso curso para analisar as questões urbanas. Sabemos hoje que a maior<br />

parte da população brasileira vive em áreas urbanas, e essas são portadoras de inúmeros problemas,<br />

como a questão ambiental e a violência, por exemplo. Assim, não podemos deixar de olhar esses assuntos<br />

novamente sob uma perspectiva científica.<br />

Por último, trataremos dos movimentos sociais, pois a vida em sociedade é extremamente dinâmica<br />

e marcada por lutas constantes de grupos sociais que defendem interesses específicos.<br />

Assim, espera-se que vocês, alunos, desenvolvam um olhar mais crítico sobre a sociedade, o que<br />

certamente contribuirá para o seu aprimoramento profissional. A seguir, um texto complementar para<br />

marcar o início do nosso trabalho.<br />

Bons estudos!<br />

Estratégias para o desenvolvimento da reflexão sociológica: o uso da produção cinematográfica<br />

Figura 03 – Hollywood, em Los Angeles, Califórnia (EUA)<br />

Os estudos sobre a utilização do cinema como recurso para o ensino da sociologia têm apontado<br />

para a complementaridade que o filme pode exercer no despertar da reflexão crítica sobre a sociedade.<br />

Mesmo filmes do circuito comercial, que são produzidos para um público amplo, tratam de temas<br />

do cotidiano e, por isso, oferecem possibilidades para a análise de temas básicos da sociologia, já que o<br />

cinema representa o imaginário social.<br />

10


CIÊNCIAS SOCIAIS<br />

Os filmes possibilitarão a percepção e discussão das realidades retratadas a partir de referenciais<br />

teóricos a serem discutidos no decorrer do curso, o que ampliará e refinará a compreensão de conceitos<br />

e teorias, além de auxiliar no processo de contextualização histórica.<br />

O cinema pode provocar um tipo de pensamento que ultrapassa o âmbito do senso comum e gera<br />

um novo olhar sobre o mundo, contribuindo, assim, para a formação de uma consciência da diversidade<br />

e da pluralidade e para o entendimento sobre o nosso próprio comportamento social.<br />

Desse modo, é necessário que haja adequação dos filmes selecionados ao conteúdo da disciplina<br />

<strong>Ciências</strong> <strong>Sociais</strong>, já que o filme pode servir como forma de ilustrar conteúdos. Martins (1990), por<br />

exemplo, enfatiza justamente que o desenvolvimento de um olhar sobre o filme possibilita a apreensão<br />

de “comportamentos, visões de mundo, valores, identidades e ideologias de uma sociedade”.<br />

A utilização de filmes pode contribuir para estimular a prática de estudos independentes e transversais<br />

que ajudam a desenvolver o senso crítico e a capacidade de contextualização.<br />

A partir dessas considerações iniciais, os filmes que serão indicados ao longo deste livro-texto<br />

aprofundarão suas reflexões sobre os assuntos abordados durante o curso. É importante ler os textos<br />

e, em seguida, assistir aos filmes indicados, tendo por premissa a análise dos detalhes das obras<br />

cinematográficas em relação aos conceitos lidos e discutidos. Por fim, procure sempre elaborar os<br />

seguintes questionamentos:<br />

• Qual a relação entre a história do filme e a realidade em que vivemos?<br />

• Em que época e local se passam os fatos narrados na obra?<br />

• Qual a mensagem do filme?<br />

• Após assistir ao filme, a qual conclusão pode-se chegar sobre ele?<br />

Além disso, acreditamos também que o hábito de assistir a filmes acrescenta prazer ao processo de<br />

aprendizado da sociologia.<br />

Saiba mais<br />

Para saber mais sobre o assunto, leia os textos indicados a seguir:<br />

MARTINS, A. L. Cinema e ensino de sociologia: usos de filme em sala de<br />

aula. XIII Congresso Brasileiro de Sociologia. UFPE, Recife, 2007. Disponível em<br />

< http://bib.praxis.ufsc.br:8080/xmlui/bitstream/handle/praxis/60/Cinema%20e<br />

%20Ensino%20de%20Sociologia.pdf?sequence=1>. Acesso em: 22 jun. 2011.<br />

PAIVA JÚNIOR, Y. E. B. Viver e pensar o cotidiano. Revista Sociologia, São Paulo,<br />

n. 32, 2010. Seção Reportagens. Disponível em . Acesso em: 13 fev. 2011.<br />

11


CIÊNCIAS SOCIAIS<br />

Unidade I<br />

1 INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO CIENTÍFICO SOBRE O SOCIAL<br />

1.1 As origens do pensamento científico sobre o social<br />

Desde que o ser humano desenvolveu a capacidade de pensar, está em busca de explicações para<br />

os fenômenos que o circundam. A partir dessa preocupação básica, o homem se tornou produtor de<br />

conhecimento sobre o mundo. Num primeiro momento, as explicações sobre o funcionamento da<br />

natureza e da vida humana eram dadas a partir de mitos e explicações mágicas não pautadas em um<br />

sistema lógico e coerente. Posteriormente, foram criadas outras formas de conhecer e explicar o mundo,<br />

como as religiões, a filosofia e a ciência.<br />

Nesta unidade, nosso propósito é identificar as diferentes formas de se pensar a vida social e delimitar<br />

nosso campo de estudo científico.<br />

O conhecimento mítico se manifesta através de um conjunto de histórias, lendas e<br />

crenças. Os mitos carregam mensagens que traduzem os costumes de um povo e constituem<br />

um discurso explicativo da vida social. O mito se explica pela fé, ou seja, não precisa de<br />

comprovação.<br />

Segundo Meksenas (1993, p. 39), “o mito fez com que o ser humano procurasse entender<br />

o mundo através do sentimento e busca da ordem das coisas”. Na medida em que o homem<br />

desenvolveu sua consciência, sentiu necessidade de descobrir as leis que regem o mundo e<br />

procurou entendê-lo de um modo racional. Enquanto o mito contribuía para o homem aceitar o<br />

mundo através de histórias, a filosofia atuou no sentido de permitir o entendimento das coisas<br />

através da reflexão sobre elas.<br />

O conhecimento filosófico é valorativo 1 , porém, se apoia na formulação de hipóteses, é pautado na<br />

razão e tem como finalidade buscar uma representação coerente da realidade estudada. Como ilustram<br />

Lakatos e Marconi (2009, p. 19), “o conhecimento filosófico é caracterizado pelo esforço da razão pura<br />

para questionar os problemas humanos e poder discernir entre o certo e o errado, unicamente recorrendo<br />

às luzes da razão humana”.<br />

1<br />

O termo valorativo é aqui empregado com o sentido de emitir juízo de valor.<br />

13


Unidade I<br />

Figura 04 – Adão e Eva provando o fruto da Árvore do conhecimento (Adán y Eva, de Vecellio di Gregorio Tiziano, 1628-1629)<br />

De acordo com Sócrates (apud MEKSENAS, 1993, p. 41), “não existe no mundo conhecimento pronto,<br />

acabado e que, se desejamos chegar à raiz do conhecimento, devemos – em primeiro lugar – criticar o<br />

que já conhecemos”.<br />

O conhecimento religioso também se baseia em doutrinas valorativas, mas suas verdades são<br />

consideradas indiscutíveis. É um tipo de conhecimento que não se vale diretamente da razão e da<br />

experimentação, mas sim da fé na revelação divina. Esse conhecimento se impôs como dominante no<br />

mundo ocidental durante o período medieval e, assim, o cristianismo impediu o florescimento de outras<br />

maneiras de conhecer a realidade e se constituiu um saber absoluto que justificava o poder de uma<br />

instituição: a igreja Católica.<br />

Quanto ao senso comum, ele é a nossa primeira forma de compreensão do mundo, resultante da<br />

herança cultural dos grupos sociais onde estamos inseridos. É um conhecimento transmitido de geração<br />

em geração por meio da educação informal e é baseado em imitações e experiências pessoais.<br />

Todos os seres humanos possuem conhecimentos práticos de como agir e de como participar das<br />

instituições. O senso comum é um saber que parte da prática do homem comum, do não especialista. É<br />

um conhecimento que se volta à compreensão dos dados imediatos e não procura explicações profundas<br />

dos eventos.<br />

As transformações que ocorreram no mundo a partir do século XVI — como as grandes navegações e<br />

a internacionalização do comércio — foram acompanhadas pela crítica ao poder eclesiástico de explicar<br />

a realidade.<br />

Com a desagregação do mundo feudal, foi conferida uma importância única ao conhecimento<br />

científico. Surgiu uma necessidade histórica de formular um saber que permitisse estabelecer um critério<br />

de verdade pautado na razão e na funcionalidade.<br />

14


CIÊNCIAS SOCIAIS<br />

A razão, ou capacidade racional do homem de conhecer a realidade, foi definida como elemento<br />

essencial para confrontar o dogmatismo religioso e a autoridade eclesial. O desenvolvimento da razão<br />

conduziu a uma nova atitude diante da possibilidade de explicar os fatos sociais de maneira lógica e<br />

coerente (COSTA, 2005).<br />

O conhecimento científico se pauta na realidade concreta e é baseado na experimentação<br />

e não apenas na razão. É um saber que possui uma ordenação lógica e busca constantemente<br />

se repensar. A característica elementar do pensamento científico é a procura pela verdade<br />

através do desenvolvimento de métodos de análise e de uma linguagem objetiva que evite<br />

ambiguidades.<br />

Figura 05 – Pesquisa científica<br />

Esse tipo de saber é produzido e transmitido através de treinamento apropriado nos institutos de<br />

pesquisa e nas universidades. Trata-se de um conhecimento desenvolvido no mundo ocidental a partir<br />

do século XVII.<br />

Portanto, mito, religião, filosofia e ciência são formas de conhecimento produzidas pelo ser humano<br />

e o sentido da busca pelo conhecimento é chegar à verdade.<br />

Para refletir: qual a diferença entre conhecimento mítico, filosófico e científico? Por que a<br />

universidade é o espaço do pensamento científico?<br />

Cada forma de conhecer o mundo é representada por instituições próprias. O pensamento religioso é<br />

amplamente difundido por instituições religiosas. O senso comum está disseminado por toda a sociedade<br />

e encontra nos meios de comunicação de massa espaço para sua expressão. Mas, e o conhecimento<br />

científico?<br />

A universidade é concebida como centro de criação e difusão do conhecimento científico.<br />

Materializa-se pela união de professores e alunos para o avanço do conhecimento. Seu compromisso<br />

é com o desenvolvimento da ciência e da sociedade através da formação de profissionais<br />

15


Unidade I<br />

competentes e com sólida formação científica. Desse modo, nosso foco neste curso se volta para<br />

a análise científica da sociedade, pois nosso compromisso institucional é com o desenvolvimento<br />

da ciência.<br />

Figura 06 – Homem estudando<br />

Saiba mais<br />

Para saber mais sobre a natureza da ciência social e o conhecimento do<br />

mundo, consulte a obra a seguir:<br />

GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas,<br />

2008.<br />

1.2 A sociologia pré-científica<br />

1.2.1 Renascimento<br />

Neste tópico, abordaremos a contribuição de alguns filósofos para a compreensão das transformações<br />

sociais que culminaram no desenvolvimento do capitalismo.<br />

Observação<br />

O termo sociologia pré-científica foi desenvolvido pela professora<br />

Cristina Costa e se refere ao pensamento social anterior ao desenvolvimento<br />

da sociologia como ciência. Trata-se do pensamento filosófico que se<br />

desenvolveu a partir do Renascimento e se estendeu até a Ilustração.<br />

16


CIÊNCIAS SOCIAIS<br />

No século XV, significativas mudanças ocorreram na Europa: iniciou-se uma nova era marcada<br />

por inovações na organização do trabalho e por transformações no modo de o homem conceber o<br />

conhecimento, a partir de então pautado na razão e na ciência.<br />

Além de se preocupar com o desenvolvimento de explicações racionais sobre o funcionamento da<br />

natureza, o homem renascentista passou a se preocupar com a questão de como utilizar melhor os<br />

recursos naturais com o intuito de aumentar a produtividade e o lucro. Essa nova forma de conhecimento<br />

da natureza e da sociedade se fundamentou em processos de experimentação e observação e foi<br />

representada pelas obras de Galileu Galilei (1564-1642), Francis Bacon (1561-1626) e René Descartes<br />

(1596-1650).<br />

O pensamento social do Renascimento se expressou também na criação imaginária de mundos<br />

ideais que mostrariam como a realidade deveria ser, sugerindo que tal sociedade seria construída pelos<br />

homens através de sua ação e não pela crença ou pela fé.<br />

Em A Utopia, Thomas Morus (1478-1535) defende a igualdade e a concórdia e concebe um modelo de<br />

sociedade no qual todos têm as mesmas condições de vida e executam em rodízio os mesmos trabalhos.<br />

Figura 08 – Thomas Morus<br />

Em sua obra O Príncipe, Maquiavel afirma que o destino da sociedade depende da ação dos<br />

governantes e explora as condições pelas quais um monarca absoluto é capaz de obter êxitos. Além disso,<br />

o autor analisa as condições para se chegar a conquistas, reinar e manter o poder. Maquiavel acredita<br />

que o poder depende das características pessoais do governante, de suas virtudes, das circunstâncias<br />

históricas e de fatos que ocorrem independentemente de sua vontade.<br />

17


Unidade I<br />

A obra O Príncipe ainda disserta a respeito das relações que o monarca deve manter com a nobreza,<br />

o clero e o povo:<br />

[O Príncipe] mostra como deve agir o soberano para alcançar e preservar o<br />

poder, como manipular a vontade popular e usufruir seus poderes e aliados.<br />

Como conseguir exércitos fiéis, como castigar inimigos, como recompensar<br />

aliados, como destruir na memória do povo a imagem dos antigos líderes<br />

(COSTA, 2005, p. 34).<br />

A importância dessa obra reside no tratamento dado ao poder, que passou a ser visto a partir da<br />

razão e da habilidade do governante para nele se manter, separando, assim, a análise do exercício do<br />

poder da ética.<br />

Figura 09 – Príncipe César Bórgia e Nicolau Maquiavel<br />

Segundo Costa (2005), as ideias de Thomas Morus e Maquiavel expressavam os valores de uma<br />

sociedade em mudança, portadora de uma visão laica de si e do poder.<br />

Com o Renascimento, novos valores sociais passaram a ser compartilhados entre os homens. Houve<br />

uma crescente valorização da riqueza em detrimento da origem do indivíduo e a ordem social se voltou<br />

para a competição por novos mercados e ampliação do consumo.<br />

Com o desenvolvimento das atividades comerciais, uma nova classe social ganhou evidência: a<br />

burguesia comercial, constituída por comerciantes que aspiravam lucros e tinham interesses de domínio<br />

político.<br />

Os valores sociais da sociedade moderna eram:<br />

18


CIÊNCIAS SOCIAIS<br />

• Antropocentrismo: o homem se coloca como centro de tudo;<br />

• Laicidade: separação das questões transcendentais das preocupações imediatas do dia a dia;<br />

• Individualismo: valorização da autonomia individual em detrimento da coletividade;<br />

• Racionalismo: modo de pensar que atribui valor somente à razão;<br />

• Hedonismo: dedicação ao prazer como estilo de vida.<br />

1.2.2 O século das luzes<br />

Saiba mais<br />

O pensamento renascentista foi expresso em obras importantes, tais como:<br />

ALIGHIERI, D. A Divina Comédia. Trad. Ítalo E. Mauro. São Paulo: 34, 2010.<br />

MAQUIAVEL, N. O Príncipe. São Paulo: Martins Fontes, 2010.<br />

MORUS, T. A Utopia. Trad. Marcelo B. Cipolla. São Paulo: Martins Fontes, 2009.<br />

SHAKESPEARE, W. Macbeth. Trad. M. Bandeira. São Paulo: Cosac Naify, 2009.<br />

______. Romeu e Julieta. Trad. Beatriz Viégas-Faria. Porto Alegre: L&PM, 1998.<br />

Se houver dificuldade no acesso a essas obras, todas elas estão disponíveis<br />

no diretório .<br />

A partir do século XVII, o capitalismo entrou em franca expansão pelo mundo. Os valores sociais<br />

básicos burgueses se voltaram para o individualismo e para a busca pelo lucro. A expansão das atividades<br />

comerciais conduziu a uma procura crescente pelo aumento da produtividade e esse aumento precisou<br />

do desenvolvimento tecnológico e da racionalidade no planejamento da produção. Desse modo, recorreu-se<br />

ao apoio na razão como fonte de conhecimento das atividades econômicas.<br />

Com a Ilustração 2 , as ideias de racionalidade e liberdade se converteram em valores supremos. A<br />

racionalidade aqui é compreendida como a capacidade humana de pensar e escolher.<br />

2<br />

Movimento filosófico do século XVIII que partia da convicção na razão como fonte de conhecimento.<br />

19


Unidade I<br />

Figura 10 – Estátua da Liberdade<br />

Lembrete<br />

A liberdade é concebida sob a perspectiva política. As relações entre os<br />

homens devem ser pautadas na liberdade contratual, desse modo, todos os<br />

homens são livres e iguais.<br />

De acordo com Quintaneiro (2002):<br />

A ideia de liberdade passou, então, a conotar emancipação do indivíduo<br />

da autoridade social e religiosa, conquista de direitos e autonomia<br />

frente às instituições. A burguesia europeia ilustrada acredita que a ação<br />

racional traria ordem ao mundo, sendo a desordem um mero resultado<br />

da ignorância. Educados, os seres humanos seriam bons e iguais<br />

(QUINTANEIRO, 2002, p. 13).<br />

É interessante observar que a concepção de liberdade e igualdade no período em questão ainda não<br />

concebia a igualdade civil entre homens e mulheres, ou seja, as mulheres ainda possuíam um status<br />

inferior ao dos homens. 3<br />

3<br />

Quintaneiro (2002) ainda relata que Helvétius afirmou em 1758 que as diferenças entre os seres humanos não<br />

se referiam à sua capacidade de conhecer, mas a fatores sociais, políticos ou morais. Propunha que a educação deveria ser<br />

oferecida igualmente a homens e mulheres. Seu livro foi tão revolucionário para a época que foi condenado pelo Papa e<br />

queimado no Parlamento de Paris e na Faculdade de Teologia.<br />

20


CIÊNCIAS SOCIAIS<br />

Os filósofos iluministas concebiam a política como uma coletividade organizada e contratual. O<br />

poder surgiu como uma construção lógica e jurídica que independia de quem o ocupava e se fazia de<br />

forma temporária ou representativa.<br />

A sociedade passou a ser vista como portadora de diferentes instâncias como a política, a jurídica,<br />

a social e a econômica, ou seja, surgiu a percepção de que o funcionamento da sociedade dependia da<br />

relação entre as partes que a compunham (COSTA, 2005).<br />

Em um contexto de luta contra o poder absolutista 4 que atravancava o desenvolvimento do<br />

comércio e a efetivação dos princípios de representatividade política, as massas foram conclamadas<br />

a defender a democracia e a igualdade jurídica entre os homens na constituição de um regime<br />

republicano.<br />

A partir daí inicia-se o liberalismo, ideologia política que preconiza a liberdade da economia frente<br />

ao poder. Desse modo, a economia deveria ser regida por leis próprias (a lei da oferta e da procura) e a<br />

organização do Estado se voltaria para a defesa dos interesses burgueses.<br />

Em sua obra O contrato social, Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) afirma que a base da sociedade<br />

estava no interesse comum pela vida social e no consentimento unânime dos homens em renunciar a<br />

suas vontades em favor de toda a comunidade (COSTA, 2005).<br />

Encontrar uma forma de associação que defenda e proteja de toda a força<br />

comum a pessoa e os bens de cada associado e pela qual cada um, unindose<br />

a todos, não obedeça, portanto, senão a si mesmo, e permaneça tão livre<br />

como anteriormente. Tal é o problema fundamental cuja solução é dada<br />

pelo contrato social.<br />

(...) Todas essas cláusulas, bem entendido, se reduzem a uma única, a saber,<br />

a alienação total de cada associado, com todos os seus direitos, em favor de<br />

toda a comunidade; porque primeiramente, cada qual se entregando por<br />

completo e sendo a condição igual para todos, a ninguém interessa torná-la<br />

onerosa para outros (ROUSSEAU, 1978, p. 30).<br />

Quanto à desigualdade social, Rousseau identificou na propriedade privada a fonte das injustiças<br />

sociais e defendeu um modelo de sociedade pautada em princípios de igualdade. Sobre a desigualdade<br />

entre os homens, Rousseau afirma:<br />

Eu concebo na espécie humana duas espécies de desigualdades: uma,<br />

que chamo de natural ou física, porque foi estabelecida pela natureza<br />

e que consiste na diferença das idades, da saúde, das forças corporais e<br />

4<br />

O absolutismo foi um sistema político de governo em que os dirigentes assumiam poderes absolutos, sem<br />

limitações ou restrições, passando a exercer de fato e de direito todos os atributos da soberania. Esse sistema político<br />

perdurou na Europa entre os séculos XV e XVIII.<br />

21


Unidade I<br />

22<br />

das qualidades do espírito ou da alma; outra, a que se pode chamar de<br />

desigualdade moral ou política, pois depende de uma espécie de convenção<br />

e foi estabelecida, ou ao menos autorizada, pelo consentimento dos homens.<br />

Consiste esta nos diferentes privilégios desfrutados por alguns em prejuízo<br />

dos demais, como o de serem mais ricos, mais respeitados, mais poderosos<br />

que estes, ou mesmo mais obedecidos (ROUSSEAU, 1978, p. 143).<br />

Em relação à identificação da propriedade privada como fonte das desigualdades e da injustiça<br />

social, Rousseau coloca que:<br />

O primeiro que, cercando um terreno, se lembrou de dizer: isto é meu, e<br />

encontrou pessoas bastantes simples para o acreditar, foi o verdadeiro<br />

fundador da sociedade civil.<br />

Quantos crimes, guerras, assassínios, misérias e horrores não teria poupado<br />

ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas ou tapando os buracos,<br />

tivesse gritado aos seus semelhantes: “Livrai-vos de escutar esse impostor;<br />

estareis perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos, e a terra de<br />

ninguém!” (ROUSSEAU, 1978, p. 175).<br />

A partir das ideias expostas, Rousseau se tornou partidário de uma sociedade que defendesse<br />

princípios igualitários e preservasse uma base livre e contratual.<br />

Assim como Rousseau, John Locke (1632-1704) era partidário da ideia de que a sociedade é<br />

resultante da livre associação entre indivíduos dotados de razão e vontade, porém, diferentemente<br />

daquele, Locke reconhecia a diferença entre os direitos individuais e o respeito à propriedade<br />

e defendia que os princípios de organização social fossem codificados em torno de uma<br />

Constituição.<br />

John Locke concebia a propriedade privada como um direito natural do ser humano. Todo indivíduo<br />

teria o direito de usá-la em seu proveito para sobrevivência ou para ampliar seus bens e aumentar sua<br />

riqueza.<br />

Segundo Lucien Goldamnn (1913-1979), os valores fundamentais defendidos pelos filósofos<br />

iluministas, como igualdade jurídica, liberdade contratual e respeito à propriedade privada, foram<br />

apropriados pela burguesia como os fundamentos da atividade comercial. Basta pensarmos em<br />

como operam as relações comerciais até os dias de hoje: são relações que, independentemente das<br />

desigualdades sociais, são marcadas pelo princípio da igualdade jurídica. Esse princípio prevalece mesmo<br />

na relação entre desiguais economicamente. A defesa da propriedade privada confere a seu proprietário<br />

o poder de usar e dispor livremente daquilo que lhe pertence.<br />

Concluímos, portanto, que a sociologia pré-científica foi caracterizada por estudos sobre a vida social<br />

que não tinham como preocupação central conhecer a realidade como ela era, mas sim propor formas<br />

ideais de organização social. O pensamento filosófico de então já concebia diferenças entre indivíduo e


CIÊNCIAS SOCIAIS<br />

coletividade e, como afirma Costa (2005, p. 49), “(...) presos ainda ao princípio da individualidade, esses<br />

filósofos entendiam a vida coletiva como a fusão de sujeitos, possibilitada pela manifestação explícita<br />

das suas vontades”.<br />

Saiba mais<br />

Para um estudo mais aprofundado sobre o assunto aqui abordado,<br />

consulte as obras listadas a seguir:<br />

DESCARTES, R. O Discurso do Método. São Paulo: Nova Cultural, 1987.<br />

HOBBES, T. Leviatã. São Paulo: Nova Cultural, 1988.<br />

HUBERMAN, L. História da riqueza do homem. Rio de Janeiro: LTC, 2010.<br />

LOCKE, J. Segundo tratado sobre o governo. São Paulo: Abril Cultural, 1978.<br />

ROUSSEAU, J.-J. O contrato social e outros escritos. São Paulo: Cultrix,<br />

1978.<br />

VOLTAIRE. Dicionário filosófico. São Paulo: Nova Cultural, 1988.<br />

1.3 O pensamento científico sobre o social<br />

Até aqui, percebemos que a inquietação em conhecer e explicar os fenômenos sociais sempre<br />

foi uma preocupação da humanidade. Porém, a explicação com base científica é fruto da sociedade<br />

moderna, industrial e capitalista. A formação da sociologia no século XIX significou que o pensamento<br />

sobre o social se desvinculou das tradições morais e religiosas. Como afirma Costa (2005):<br />

1.3.1 Augusto Comte (1798-1857)<br />

Tornava-se necessário entender as bases da vida social humana e da<br />

organização da sociedade por meio de um pensamento que permitisse<br />

a observação, o controle e a formulação de explicações plausíveis, e que<br />

tivessem credibilidade num mundo pautado pelo racionalismo (COSTA,<br />

2005, p. 18).<br />

Augusto Comte nasceu em Montpellier, na França, em 1798. Aos 16 anos, ingressou na Escola<br />

Politécnica de Paris, fato que exerceu grande influência na orientação de seu pensamento. Em carta<br />

de 1842 à John Stuart Mill (1806-1873), Comte fala da Politécnica como a primeira comunidade<br />

verdadeiramente científica que deveria servir como modelo de toda educação superior. Contudo, dois<br />

anos depois, ele foi expulso da instituição por insubordinação e rebelião.<br />

23


Unidade I<br />

Amigo e secretario de Saint-Simon — que colaborou imensamente em sua formação intelectual —,<br />

Comte desenvolveu um curso de filosofia positiva ministrado em sua casa e obteve reconhecimento.<br />

Em 1831, foi convidado a trabalhar como professor na própria Escola Politécnica, onde se dedicou ao<br />

magistério e à elaboração de seus livros. Comte morreu em Paris em 1857 e é considerado o fundador<br />

da sociologia.<br />

Saiba mais<br />

Infelizmente, a maior parte das obras de Augusto Comte não foi traduzida<br />

para o português. Suas principais obras editadas em português são:<br />

Reorganizar a Sociedade. São Paulo: Escala, 2009.<br />

Discurso sobre o espírito positivo. São Paulo: Escala, 2009.<br />

Comte foi o autor que desenvolveu pela primeira vez reflexões acerca do mundo social sob bases<br />

científicas. Influenciado pelo cientificismo 5 e o organicismo 6 , o teórico compreendia a sociedade como<br />

um grande organismo no qual cada parte possuía uma função específica, assim, o bom funcionamento<br />

do corpo social dependia da atuação de cada órgão.<br />

Figura 11 – O corpo humano<br />

Observação<br />

Referências ao funcionamento do corpo humano e à teoria da evolução<br />

geral das espécies de Darwin foram utilizadas como parâmetros para o<br />

estudo da sociedade.<br />

5<br />

Crença no poder absoluto da razão para explicar todas as coisas.<br />

6<br />

O organicismo concebe a sociedade como um grande corpo humano constituído de partes coesas e integradas<br />

que funcionam harmonicamente (COSTA, 2005).<br />

24


CIÊNCIAS SOCIAIS<br />

De acordo com Comte, a sociedade teria passado por três fases ao longo da história: a teológica, a<br />

metafísica e a científica. O autor concebia a fase teológica como aquela em que os homens recorriam à<br />

vontade de Deus para explicar os fenômenos da natureza. Na fase metafísica, o homem já seria capaz de<br />

utilizar conceitos abstratos, entretanto, é somente na fase científica, que corresponde à sociedade industrial,<br />

que o conhecimento passou a se pautar na descoberta de leis objetivas para determinar os fenômenos.<br />

Comte procurou estudar o que já havia sido acumulado em termos de conhecimentos e métodos por<br />

outras ciências, como a matemática, a biologia e a física, para saber quais deles poderiam ser utilizados<br />

na sociologia. O teórico buscava garantir assim um estatuto científico à sociologia, como indica Costa<br />

(2005):<br />

Foi ele o primeiro a definir precisamente o objeto, a estabelecer conceitos e<br />

uma metodologia de investigação e, além disso, a definir a especificidade do<br />

estudo científico da sociedade (COSTA, 2005, p. 70).<br />

Preocupado com os problemas sociais de sua época, Comte concebia que o papel da sociologia<br />

como ciência seria o de conhecer as leis que regem a vida social para poder prever os fenômenos e agir<br />

racionalmente, sempre respeitando os princípios gerais que regem o mundo, a manutenção da ordem e<br />

o caminho para o progresso.<br />

Para o autor, todas as sociedades possuíam movimentos vitais de evolução e de ajustamento.<br />

Identificado com o progresso, o primeiro movimento conduziria as sociedades a sistemas mais complexos<br />

de existência. É como se houvesse um movimento inexorável que conduziria todas as sociedades para o<br />

progresso. Identificado com a ordem, o segundo movimento, por sua vez, seria responsável pela adaptação<br />

dos indivíduos ao meio social, ajustando os indivíduos às condições estabelecidas. Esse movimento seria<br />

o responsável pela preservação dos elementos permanentes de toda organização social, como a família<br />

e a religião, por exemplo. Desse modo, todas as sociedades teriam um duplo movimento: caminhariam<br />

para o progresso e preservariam, ao mesmo tempo, a ordem social.<br />

Observe como os movimentos identificados por Comte se relacionam com a bandeira brasileira:<br />

Figura 12 – Bandeira do Brasil<br />

Analise a bandeira nacional e reflita: Nossa bandeira tem alguma relação com o pensamento de<br />

Augusto Comte? O Brasil é um país que se orienta pelos princípios de ordem e progresso?<br />

25


Unidade I<br />

Comte foi um dos principais expoentes do positivismo, uma corrente de pensamento filosófico que<br />

aceitava os problemas advindos da industrialização e da urbanização como um dado da realidade. O<br />

termo surgiu em oposição aos grupos intelectuais que defendiam a volta ao passado agrário e feudal.<br />

O estudioso foi um crítico das ideias de Rousseau, pois, para ele, o homem é um animal gregário por<br />

natureza e o indivíduo só pode ser explicado pela sociedade. Além disso, Comte concebe a família como<br />

a verdadeira célula social.<br />

Para o autor, a propagação das ideias iluministas que preconizavam a liberdade e a igualdade entre<br />

os homens conduziu estes à discórdia. O restabelecimento da coesão social só seria possível com a<br />

constituição de uma nova ordem de ideias e conhecimentos representados pelo positivismo (MARTINS,<br />

1990).<br />

Como afirma o sociólogo Carlos Benedito Martins (1990):<br />

O advento da sociologia representava para Comte o coroamento da evolução<br />

do conhecimento científico, já constituído em várias áreas do saber (...).<br />

Ela deveria utilizar em suas investigações os mesmos procedimentos das<br />

ciências naturais, tais como a observação, a experimentação, a comparação<br />

etc. (MARTINS, 1990, p. 44).<br />

O conhecimento sociológico permite ao homem transpor os limites de sua condição particular para<br />

percebê-la como parte de uma totalidade mais ampla, que é o todo social. Isso faz da sociologia um<br />

conhecimento indispensável num mundo que, à medida que cresce, mais diferencia e isola os homens<br />

e os grupos entre si.<br />

Saiba mais<br />

O texto indicado abaixo permite um aprofundamento sobre o conceito<br />

de positivismo:<br />

GIANNOTTI, J. A. A primeira vítima do positivismo. CulturaBrasil. s. d.<br />

Disponível em . Acesso em:<br />

03 mar. 2011.<br />

Os filmes sugeridos a seguir apresentam um panorama do período<br />

histórico sobre o qual discorremos até aqui:<br />

EM NOME de Deus. Dir. Stealin Heaven. Estados Unidos. 1988. 108 min.<br />

JOANA D’Arc. Dir. Luc Besson. França. 1999. 158 min.<br />

26


CIÊNCIAS SOCIAIS<br />

O NOME da Rosa. Dir. Jean-Jacques Annaud. Estados Unidos. 1986. 131 min.<br />

ROMEU e Julieta. Dir. Baz Luhrmann. Estados Unidos. 1996. 120 min.<br />

SHAKESPEARE Apaixonado. Dir. John Madden. Estados Unidos/Inglaterra.<br />

1998. 122 min.<br />

1492 – A conquista do Paraíso. Dir. Ridley Scott. Espanha/França/<br />

Inglaterra. 1992. 150 min.<br />

2 TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS DO SÉCULO XVIII<br />

2.1 Revoluções burguesas<br />

O intuito deste tópico é analisar o contexto em que o capitalismo se impôs como modo de organização<br />

econômica, social e política predominante na sociedade moderna.<br />

Figura 13 – Patrick Henry Rothermel: a luta da burguesia americana contra a Lei do Selo (1765)<br />

Lembrete<br />

Por revoluções burguesas entende-se um conjunto de movimentos que<br />

ocorreram no século XVIII na Europa e nos Estados Unidos.<br />

As revoluções burguesas foram: a Revolução Gloriosa (1680), na Inglaterra, a Revolução Francesa<br />

(1789), a Independência Americana (1776) e a Revolução Industrial inglesa a partir de 1750. Neste<br />

curso, somente as revoluções Francesa e Industrial serão nosso foco, pois ambas constituem as duas<br />

faces de um mesmo processo: a consolidação do regime capitalista moderno.<br />

27


Unidade I<br />

O que caracterizou esses movimentos revolucionários foi sua capacidade de suplantar as formas<br />

feudais de organização social. Sua importância está no estímulo dado ao desenvolvimento do capitalismo,<br />

pois essas revoluções colocaram um fim às monarquias absolutistas e contribuíram para a eliminação de<br />

barreiras que impediam o livre desenvolvimento econômico.<br />

2.1.1 Revolução Francesa<br />

As ideias iluministas exerceram profunda influência sobre a sociedade francesa ao longo do século<br />

XVIII. A crescente crítica racional da vida em sociedade propiciou ao povo questionar as instituições<br />

políticas absolutistas e de base feudal presentes na França.<br />

Figura 14 – O juramento do jogo da Péla, em Versailles (1789), durante a Revolução Francesa<br />

Segundo Martins (1990):<br />

O conflito entre as novas forças sociais ascendentes chocava-se com uma<br />

típica monarquia absolutista, que assegurava consideráveis privilégios a<br />

aproximadamente 500 mil pessoas, isso num país que possuía ao final do século<br />

XVIII uma população de 3 milhões de indivíduos. (MARTINS, 1990, p. 23).<br />

Sobre os privilégios concedidos pelo rei à nobreza e ao clero, que não pagavam impostos e cobravam<br />

tributos e dízimos do povo, Huberman (2010) cita em sua obra a resolução do parlamento francês para<br />

a manutenção desses privilégios:<br />

28


CIÊNCIAS SOCIAIS<br />

A monarquia francesa, pela sua constituição, é formada por vários Estados<br />

distintos. O serviço pessoal do clero é atender às funções relacionadas<br />

com a instrução e o culto. Os nobres consagram seu sangue à defesa do<br />

Estado e ajudam o soberano com seus conselhos. A classe mais baixa da<br />

nação, que não pode prestar ao rei serviços tão destacados, contribui<br />

com seus tributos, sua indústria e seu serviço corporal (HUBERMAN,<br />

2010, p. 116).<br />

A partir das considerações anteriores, é possível compreender as razões que levaram as massas<br />

populares a ir às ruas lutar contra a monarquia, numa revolução marcada por posturas radicais. O povo<br />

não aguentava mais pagar as altas taxas de impostos para manutenção de um grupo social que nada<br />

produzia.<br />

Como nos relata Martins (1990), além de não pagar impostos, a nobreza possuía o privilégio de<br />

cobrar tributos feudais e investir contra o desenvolvimento das forças capitalistas, coibindo assim a<br />

abertura de empresas e o desenvolvimento da agricultura.<br />

A monarquia francesa procurava garantir os privilégios da nobreza em um contexto no qual crescia<br />

a miserabilidade do povo. A burguesia também se opunha ao regime monárquico, pois este não permitia<br />

a livre constituição de empresas e a impossibilitava de realizar seus interesses econômicos.<br />

Quanto aos interesses burgueses na derrubada no regime absolutista, Huberman (2010) pontua que:<br />

A burguesia desejava que seu poder político correspondesse ao poder econômico<br />

que já tinha. Era dona de propriedades – queria agora os privilégios. Queria ter<br />

certeza de que sua propriedade estaria livre das restrições aborrecidas a que<br />

estivera sujeita na decadente sociedade feudal. Queria ter certeza de que os<br />

empréstimos feitos ao governo seriam pagos. Para isso, tinha de conquistar<br />

não somente uma voz, mas a voz do governo. Sua oportunidade chegou – e<br />

ela soube aproveitá-la (HUBERMAN, 2010, p. 119).<br />

Em 1789, com a mobilização das massas em torno da defesa da igualdade e da liberdade, a burguesia<br />

tomou o poder e passou a atuar para a desestruturação do sistema feudal que ainda era predominante<br />

na Europa.<br />

Como informa Martins (1990), entre as medidas tomadas pelo governo após a Revolução Francesa,<br />

merece destaque a legislação que limitava os poderes patriarcais na família, reprimindo os abusos da<br />

autoridade do pai. Além disso, os bens da igreja foram confiscados e as funções de educação foram<br />

transferidas para o Estado.<br />

A burguesia defendia a organização de um Estado independente do poder religioso e promoveu<br />

profundas inovações na área econômica ao criar medidas para favorecer o desenvolvimento de empresas<br />

capitalistas.<br />

29


Unidade I<br />

Contudo, as massas que participaram da Revolução logo foram surpreendidas por outras medidas burguesas,<br />

como a proibição das manifestações populares e a repressão violenta dos movimentos contestatórios.<br />

O significado histórico da Revolução Francesa é descrito por Huberman como:<br />

O privilégio de nascimento foi realmente derrubado, mas o privilégio do<br />

dinheiro tomou seu lugar. “Liberdade, Igualdade, Fraternidade” foi uma frase<br />

popular gritada por todos os revolucionários, mas coube principalmente à<br />

burguesia desfrutá-la (HUBERMAN, 2010, p. 120).<br />

Observação<br />

A Revolução Francesa pôs fim ao sistema feudal não só na França, mas<br />

em todos os territórios conquistados por Napoleão Bonaparte.<br />

Saiba mais<br />

Para complementar sua leitura, consulte os textos a seguir:<br />

A DECLARAÇÃO dos Direitos do Homem e do Cidadão. AmbaFrance. s.<br />

d. Disponível em .<br />

Acesso em: 08 mar. 2011.<br />

HOBSBAWM, E. A era das revoluções: 1789-1848. São Paulo: Paz e Terra, 2009.<br />

VOVELLE, M. A Revolução Francesa e seu eco. Estudos Avançados, São<br />

Paulo, v. 3, n. 6, maio/ago., 1989. Disponível em . Acesso em 08 mar. 2011.<br />

2.1.2 Revolução Industrial<br />

A Revolução Industrial eclodiu na Inglaterra na segunda metade do século XVIII. Ela foi fruto de um<br />

conjunto de inovações que possibilitou um aumento sem precedentes na produção de mercadorias.<br />

Chamamos de Primeira Revolução Industrial o período de 1760 a 1820, quando o sistema industrial<br />

efetivamente suplantou o sistema feudal. Em sua primeira fase, a introdução de teares mecânicos<br />

possibilitou ao setor têxtil ampliar extraordinariamente sua produtividade.<br />

A Revolução Industrial significou mais do que a introdução da máquina a vapor e o aperfeiçoamento<br />

dos métodos produtivos, ela nasceu sob a égide da liberdade ao permitir aos empresários industriais que<br />

desenvolvessem e criassem novas formas de produzir e enriquecer (MARTINS, 1990).<br />

30


CIÊNCIAS SOCIAIS<br />

Quadro 01 - Origem e consequências da Revolução Industrial<br />

Aparecimento da máquina a vapor<br />

↓<br />

Aumento da produção<br />

↓<br />

Melhoria nos transportes<br />

↓<br />

Crescimento das cidades<br />

Os antecedentes históricos da Revolução Industrial remontam ao acúmulo de capital oriundo da<br />

intensificação do comércio internacional mercantilista. A utilização de mão de obra escrava na América<br />

possibilitou um grande aumento de riquezas que precisavam ser investidas na produção.<br />

Para que houvesse desenvolvimento econômico, era necessário exportar mercadorias e importar<br />

apenas o necessário 7 . Para isso, era primordial o estímulo à indústria, pois os produtos industriais possuem<br />

mais valor que os artigos do setor primário (agricultura e extrativismo). Como afirma Huberman:<br />

Era também importante ter indústria produzindo as coisas de que o povo<br />

precisava e isso equivalia a não ser necessário comprá-las no estrangeiro.<br />

Era um passo na direção da balança de comércio favorável, bem como no<br />

sentido de tornar o país autossuficiente, independente de outros países<br />

(HUBERMAN, 2010, p. 96).<br />

A Revolução Industrial desencadeou uma maciça migração do campo para cidade. Esse processo<br />

de migração teve início no século XVI, com a expulsão de camponeses de suas plantações. Sem<br />

ter para onde ir, os camponeses seguiram para as estradas, onde se tornaram pedintes. No século<br />

XVIII, houve um novo fechamento de terras e, como afirma Huberman (2010, p. 130): “dessa<br />

forma, o exército de infelizes sem terra, que tinham de vender sua força de trabalho em troca<br />

de salário, aumentou tremendamente”. Desse modo, o fechamento das terras com a expulsão dos<br />

camponeses sem título de propriedade foi uma das principais formas de obter mão de obra para<br />

a indústria.<br />

Um dos efeitos dessa revolução na área rural foi a aceleração da produtividade agrícola a partir da<br />

introdução de técnicas que permitiam a intensificação da utilização do solo. Assim, a atividade agrícola<br />

se voltou para o mercado e teve sua produção orientada para o lucro.<br />

Somado à expulsão dos camponeses de suas áreas de produção, o aumento da produtividade agrícola<br />

é um elemento fundamental para compreender como se formou a classe operária. A falta de trabalho no<br />

campo forçou os camponeses a buscar trabalho nas áreas urbanas.<br />

O grande fluxo migratório tornou as áreas urbanas palco de grandes transformações sociais.<br />

Formaram-se multidões que revelavam nas ruas uma nova face do desenvolvimento do capitalismo: a<br />

miserabilidade.<br />

7<br />

Sistema vigente até hoje no mercado mundial.<br />

31


Unidade I<br />

O sistema de trabalho na indústria se diferenciava de outras formas de organização existentes na<br />

época. Dias (2004) cita entre as principais modificações a crescente divisão do trabalho, a necessidade<br />

de coordenação e também as mudanças culturais ocorridas dentro da questão do labor.<br />

O desenvolvimento de técnicas levou os empresários a incrementar o processo produtivo e aumentar<br />

as taxas de lucro. Isso permitiu que eles se interessassem cada vez mais pelo aperfeiçoamento das<br />

técnicas de produção, visando produzir mais com menos gente.<br />

Para refletir: o trabalho sempre foi uma fonte de riquezas?<br />

A divisão do trabalho foi implementada como técnica no interior da fábrica para o aumento da<br />

produtividade, como nos relata Huberman:<br />

Quando se emprega um grande número de pessoas para fazer certo<br />

produto, podemos dividir o trabalho entre elas. Cada trabalhador tem uma<br />

tarefa particular a fazer. Executa-a repetidamente e, em consequência, se<br />

torna perito nela. Isso poupa tempo e acelera a produção (HUBERMAN,<br />

2010, p. 86).<br />

A divisão do trabalho imposta pela grande indústria conduziu os operários a um crescente<br />

processo de especialização que, por sua vez, reduziu drasticamente o conhecimento desses<br />

operários, agora realizadores de tarefas repetitivas e rotineiras que dispensavam formas de<br />

conhecimento mais sofisticado. 8 Analisando as consequências dessa intensa divisão do trabalho,<br />

Dias esclarece que:<br />

(...) há um empobrecimento intelectual do operário, por realizar tarefas<br />

cada vez mais repetitivas e altamente especializadas. O que, por outro lado,<br />

facilita a introdução no trabalho industrial de mulheres e crianças (DIAS,<br />

2004, p. 18).<br />

Assim, a atividade produtiva se voltou para as grandes unidades fabris e a relação de classes<br />

que passou a existir entre a burguesia e os trabalhadores foi orientada pelo contrato – isso<br />

permite inferir que existia a liberdade econômica e a democracia política, pois tínhamos o<br />

trabalhador livre para escolher um emprego qualquer e o empresário livre para empregar quem<br />

desejasse (MEKSENAS, 1991) –, o que significou uma profunda transformação na maneira de os<br />

homens se relacionarem.<br />

Eis o que constata Huberman sobre as características do trabalho industrial:<br />

8<br />

Dias (2004) remete a discussão sobre a divisão do trabalho à obra A Riqueza das Nações (1776), de Adam Smith,<br />

que compara a produção de alfinetes entre operários em uma linha de produção com a capacidade de produzir de um<br />

operário isolado.<br />

32


CIÊNCIAS SOCIAIS<br />

Produção para um mercado cada vez maior e oscilante, realizada fora de<br />

casa, nos edifícios do empregador e sob rigorosa supervisão. Os trabalhadores<br />

perderam complemente sua independência. Não possuíam a matéria-prima,<br />

como ocorria no sistema das corporações, nem os instrumentos, tal como no<br />

sistema doméstico. A habilidade deixou de ser tão importante como antes,<br />

devido ao maior uso da máquina. O capital tornou-se mais necessário do<br />

que nunca. Do século XIX até hoje (HUBERMAN, 2010, p. 89).<br />

A relação de interdependência entre empresários e operários é um elemento fundamental na nova ordem<br />

social capitalista. A configuração do mercado de trabalho conduz os operários a vender sua força de trabalho<br />

como uma mercadoria. As indústrias se converteram na única possibilidade de trabalho para este trabalhador que<br />

perdeu conhecimento do processo produtivo e só possui a força física, vendida como força de trabalho. Quanto<br />

aos empresários, há o reconhecimento da necessidade de mão de obra para a movimentação das indústrias.<br />

Aspectos importantes da Revolução Industrial<br />

• A produção passa a ser organizada em grandes unidades fabris, onde predomina uma intensa<br />

divisão do trabalho;<br />

• Aumento sem precedentes na produção de mercadorias;<br />

• Concentração da produção industrial em centros urbanos;<br />

• Surgimento de um novo tipo de trabalhador: o operário.<br />

Figura 15 – Indústria e tecnologia<br />

Sobre a organização do sistema fabril e seus reflexos na sociedade inglesa, Hubermann descreve:<br />

O sistema fabril, com sua organização eficiente em grande escala e sua divisão<br />

de trabalho, representou um aumento tremendo na produção. As mercadorias<br />

saíam das fábricas num ritmo intenso. Esse aumento da produção foi em parte<br />

provocado pelo capital, abrindo caminho na direção dos lucros. Foi, em parte,<br />

uma resposta ao aumento da procura. A abertura de mercados das terras<br />

recém-descobertas foi uma causa importante desse aumento. Houve outra.<br />

33


Unidade I<br />

As mercadorias produzidas nas fábricas encontravam também um mercado<br />

interno simultâneo ao mercado externo. Isso devido ao crescimento da<br />

população da própria Inglaterra (HUBERMANN, 2010, p. 138).<br />

No interior das fábricas, as condições de trabalho eram ruins. As fábricas não possuíam ventilação ou<br />

iluminação e os trabalhadores eram submetidos a jornadas de trabalho de até 16 horas por dia. Como<br />

ilustra Huberman:<br />

Os fiandeiros de uma fábrica próxima de Manchester trabalhavam 14 horas<br />

por dia numa temperatura de 26 a 29ºC, sem terem permissão de mandar<br />

buscar água para beber (...) Quando os trabalhadores conquistaram o direito<br />

de trabalhar em dois turnos de 12 horas, consideraram isto uma “benção”<br />

(HUBERMAN, 2010, p. 143).<br />

A cultura que os operários levavam para o ambiente industrial era a apreendida no meio rural. Isso conduzia<br />

os empresários a perceber que a gestão dos recursos humanos constituía um problema a ser solucionado.<br />

Dessa forma, um rígido sistema disciplinar acompanhado de constante supervisão dos empresários foi<br />

introduzido nas indústrias para garantir a produtividade com eficiência. Como informa Dias (2004, p. 19): “o<br />

fator disciplina assume um papel fundamental na nova forma de organizar a empresa, não só pelo aspecto<br />

cultural – com a necessidade de desenvolvimento de novos hábitos”. Os operários tinham grande dificuldade<br />

de adaptação ao sistema disciplinar, que não era pautado na liberdade e igualdade dos indivíduos.<br />

Era usual nas fábricas a presença de mulheres e crianças a partir de cinco anos atuando na linha de<br />

produção com salários inferiores aos dos homens. Quanto aos homens, naquela época estes já sofriam<br />

com os efeitos do desemprego.<br />

A princípio, os donos de fábricas compravam o trabalho das crianças pobres nos<br />

orfanatos; mais tarde, como os salários do pai operário e da mãe operária não<br />

eram suficientes para manter a família, também as crianças que tinham casa<br />

foram obrigadas a trabalhar nas fábricas e minas (HUBERMAN, 2010, p. 144).<br />

A seguir, a maneira como Engels (2010) descreve o trabalho infantil sob a ótica de um empresário:<br />

34<br />

Visitei várias fábricas em Manchester e em seus arredores e jamais vi crianças<br />

maltratadas, submetidas a castigos corporais ou mesmo que estivessem de mau<br />

humor. Pareciam todas alegres e espertas, tendo prazer em empregar seus músculos<br />

sem fadiga e dando livre vazão à vivacidade própria da infância. O espetáculo do<br />

trabalho na fábrica, longe de despertar-me pensamentos tristes, foi, para mim,<br />

sempre reconfortante. Era delicioso observar a agilidade com que reuniam os<br />

fios rompidos em cada recuo do carreto da mula e vê-las, depois de segundos<br />

de atividades com seus dedinhos delicados, divertirem-se muito a descansar nas<br />

posições que lhes davam prazer, até que a atividade recomeçasse. O trabalho<br />

desses elfos velozes parecia um jogo, que executavam com a encantadora destreza<br />

que um longo treinamento lhes conferira. Conscientes de sua própria habilidade,


CIÊNCIAS SOCIAIS<br />

compraziam-se em mostrá-la a qualquer visitante. Nenhum sinal de cansaço: à<br />

saída da fábrica, imediatamente se punham a brincar num espaço livre vizinho<br />

com o mesmo ardor de crianças que saem da escola (ENGELS, 2010, p. 204). 9<br />

Alem disso, as condições de moradia eram altamente precárias nos bairros periféricos. As doenças eram<br />

epidêmicas. Nassau Sênior (apud HUBERMAN, 2010) ilustra a situação na cidade de Manchester em 1837:<br />

Essas cidades, pois pela extensão e número de habitantes são cidades, foram<br />

construídas sem qualquer consideração pelo que não fosse a vantagem imediata do<br />

construtor especulador... Num lugar encontramos toda uma rua seguindo o curso<br />

de um canal porque dessa forma era possível conseguir porões mais profundos, sem<br />

o custo de escavações, porões destinados não ao armazenamento de mercadorias<br />

ou lixo, mas à residência de seres humanos. Nenhuma das casas dessa rua esteve<br />

isenta de cólera. Em geral, as ruas desses subúrbios não têm pavimentação, e pelo<br />

meio corre uma vala ou há um monturo; os fundos das casas quase se encontram,<br />

não há ventilação nem esgotos, e famílias inteiras moram num canto de porão ou<br />

numa água-furtada (SÊNIOR apud HUBERMAN, 2010, p. 145).<br />

Para refletir: atualmente, as condições de vida dos trabalhadores melhoraram?<br />

Figura 16 – Casas e fábricas<br />

9<br />

Em junho de 2007, durante a comemoração do Dia Mundial contra o Trabalho Infantil, foram divulgados<br />

impressionantes dados estatísticos sobre o trabalho infantil no Brasil, diante dos quais, sem dúvida, temos que parar para<br />

fazer uma reflexão.<br />

De acordo com os pesquisadores da <strong>UNIP</strong>, professor Dr. José Eduardo Azevedo e professor Fernando Perillo, em<br />

texto ainda inédito, nos dados divulgados pelo IBGE a partir de 2005 houve infelizmente o crescimento do trabalho infantil<br />

em 10,3%, isto é, em 2005, apesar da proibição legal, houve a utilização se aproximadamente 5 milhões de crianças e<br />

adolescentes entre cinco e 17 anos de idade nas frentes de trabalho. Desse total, por volta de 80 mil (1,6%) possuíam<br />

idade entre cinco e nove anos, sendo que 76,7% destas 80 mil crianças estavam trabalhando em atividades agrícolas e<br />

mais de 64% não recebiam nenhuma remuneração, pois auxiliavam a família em diversas atividades no campo. Nas áreas<br />

rurais, evidentemente, há menor fiscalização em relação ao trabalho infantil, enquanto que, apesar da maior fiscalização,<br />

nos grandes centros urbanos há inúmeras crianças que perambulam pelas ruas como pedintes e/ou são exploradas como<br />

vendedoras ambulantes. A região do Brasil que mais emprega a mão de obra infantil é o Nordeste, com quase 40% do total<br />

de crianças trabalhando no campo.<br />

Em termos de dados mundiais, os números são reveladores, pois, segundo a OIT (Organização Internacional do<br />

Trabalho), 230 milhões de crianças ainda trabalham, sendo que 130 milhões delas trabalham em atividades rurais.<br />

35


Unidade I<br />

A descrição anterior nos conduz a pensar sobre as precárias condições de vida que a nascente<br />

classe operária encontrou nas grandes cidades industriais. Os problemas sociais decorrentes do processo<br />

de urbanização e industrialização conduziram ao aumento de doenças epidêmicas nas áreas urbanas;<br />

ao aumento do número de suicídios e dos problemas com o alcoolismo; ao crescimento da violência<br />

urbana, com o surgimento dos delinquentes; e a um crescimento vertiginoso também da prostituição.<br />

Tudo isso contribuiu para tornar as cidades industriais centros de forte tensão social.<br />

Como observa Martins:<br />

Num período de 80 anos, ou seja, entre 1780 e 1860, a Inglaterra havia<br />

mudado de forma marcante sua fisionomia. País com pequenas cidades, com<br />

uma população rural dispersa, passou a comportar enormes cidades, nas<br />

quais se concentravam suas nascentes indústrias, que espalhavam produtos<br />

para o mundo inteiro (MARTINS, 1990, p. 12).<br />

Dessa forma, percebemos como a sociedade industrial era portadora de um alto grau de complexidade<br />

para ser compreendida. Essa é a razão da formação da sociologia como ciência que estuda os problemas<br />

advindos da sociedade moderna, industrial, urbana e capitalista.<br />

As condições de vida da classe trabalhadora fez com que esta lutasse por uma menor jornada de<br />

trabalho. Os trabalhadores dirigiram suas reivindicações ao Parlamento, porém, elas não foram aceitas.<br />

Eles se voltaram então contra as máquinas e organizaram movimentos coordenados para a destruição<br />

destas, acreditando que o motivo de seu infortúnio eram elas e não as relações de trabalho. Em seguida,<br />

passaram a se organizar em sindicatos e partidos na luta política pelo sufrágio universal, pois queriam<br />

intervir no Parlamento para criar leis que os beneficiassem. As principais reivindicações dos trabalhadores<br />

eram:<br />

• Sufrágio universal para os homens;<br />

• Pagamento aos membros eleitos da Câmara dos Comuns (o que tornaria possível aos pobres se<br />

candidatarem ao posto);<br />

• Parlamentos anuais;<br />

• Nenhuma restrição de propriedade para os candidatos;<br />

• Sufrágio secreto, para evitar intimidações;<br />

• Igualdade dos distritos eleitorais (HUBERMANN, 2010).<br />

Assim, a classe trabalhadora se lançou na luta política e novas instituições sociais ganharam evidência<br />

como, por exemplo, as organizações sindicais, que surgiram pelas próprias condições sociais colocadas<br />

pela Revolução Industrial.<br />

Os sindicatos ganharam força porque o sistema fabril concentrou trabalhadores nas grandes cidades,<br />

o que facilitava sua organização. Segundo Engels (2010):<br />

36


CIÊNCIAS SOCIAIS<br />

As grandes cidades são o berço dos movimentos trabalhistas; nelas, os<br />

trabalhadores começam a refletir sobre sua condição e a lutar contra<br />

ela; nelas, a oposição entre proletariado e burguesia se manifestou<br />

inicialmente; delas saíram o sindicalismo, o cartismo e o socialismo<br />

(ENGELS, 2010, p. 84).<br />

Como já explicitado anteriormente, os problemas sociais inerentes à Revolução Industrial foram<br />

inúmeros: aumento da prostituição, suicídio, infanticídio, alcoolismo, criminalidade, violência, doenças<br />

epidêmicas, favelas, poluição, migração desordenada etc. A Revolução Industrial constituiu uma<br />

autêntica revolução social que se manifestou por transformações profundas na estrutura institucional,<br />

cultural, política e social.<br />

Saiba mais<br />

Para saber mais sobre o assunto, consulte a obra indicada a seguir:<br />

CASTRO, A. M.; DIAS, E. Introdução ao pensamento sociológico. Rio de<br />

Janeiro: Eldorado Tijuca, 1976.<br />

As transformações sociais do século XVIII conduziram o sistema capitalista a se consolidar como<br />

forma de organização social, pois colocou fim às relações feudais e em apenas cem anos se espalhou<br />

por outros países.<br />

Lembrete<br />

O capitalismo é um sistema econômico voltado para a produção e<br />

para a troca, para a expansão comercial, para a circulação crescente de<br />

mercadorias e para o consumo de bens materiais (COSTA, 2005).<br />

O desenvolvimento do comércio e das técnicas produtivas não significou melhoria na<br />

condição de vida da classe trabalhadora. Sua concentração em bairros periféricos possibilitou<br />

a organização social para a luta política, transformando as cidades em palco de conflito<br />

social com a concentração das duas classes sociais básicas do sistema: os empresários e os<br />

operários.<br />

Por fim, é preciso esclarecer que os problemas anteriormente expostos são típicos da sociedade<br />

capitalista, que tornou a vida em sociedade altamente complexa. As ciências sociais surgem nesse<br />

contexto e buscam compreender a lógica desse modo de organização da vida social. Assim, a sociologia<br />

nasce e se desenvolve com o mundo moderno e com os impasses criados pela sociedade urbanoindustrial.<br />

37


Unidade I<br />

Saiba mais<br />

O seguinte texto discorre mais sobre a questão do trabalho infantil:<br />

BARATA, G.; CASTELFRANCHI, Y. Pobreza causa trabalho infantil.<br />

ComCiência, Campinas, n. 54, maio 2004. Seção Reportagens. Disponível<br />

em . Acesso<br />

em: 13 fev. 2011.<br />

Os filmes a seguir abordam o contexto do trabalho ou se desenrolam<br />

sobre o pano histórico das grandes revoluções:<br />

CASANOVA e a revolução. Dir. Ettore Scola. Itália. 1982. 121 min.<br />

DAENS: um grito de justiça. Dir. Stinjn Coninx. Holanda/França/Bélgica.<br />

1992. 138 min.<br />

DANTON: o processo da revolução. Dir. Andrzej Wajda. França. 1982. 131 min.<br />

GERMINAL. Dir. Claude Berri. França. 1983. 158 min.<br />

MARIA Antonieta. Dir. Sofia Coppola. Estados Unidos/França. 2006. 123 min.<br />

OLIVER Twist. Dir. Roman Polanski. Estados Unidos/França/Itália. 2005.<br />

130 min.<br />

TEMPOS Modernos. Dir. Charles Chaplin. Estados Unidos. 1936. 87 min.<br />

3 AS PRINCIPAIS CONTRIBUIÇÕES DO PENSAMENTO SOCIOLÓGICO<br />

CLÁSSICO<br />

Aqui, o ponto central é a compreensão das principais reflexões desenvolvidas pela sociologia no que<br />

diz respeito à sociedade industrial. Essas reflexões são denominadas de pensamento sociológico clássico. É<br />

usual que haja o questionamento sobre o motivo de se estudar pensadores que viveram no século XIX.<br />

Para refletir: como é possível pensar o mundo de hoje tendo como referência autores que viveram<br />

no passado?<br />

A importância da compreensão das principais matrizes do pensamento social se deve à sua<br />

capacidade de explicar o mundo contemporâneo, ou seja, a atualidade dessas obras resiste no fato de<br />

38


CIÊNCIAS SOCIAIS<br />

que elas não foram corroídas pelo tempo e são plenamente capazes de lançar luz à compreensão dos<br />

problemas sociais presentes no mundo atual. Assim, é importante conhecer o conjunto dos princípios<br />

fundamentais que formam a teoria social desses autores e seus principais conceitos e relacioná-las com<br />

os problemas da sociedade contemporânea.<br />

3.1 Émile Durkheim e o pensamento positivista<br />

Émile Durkheim (1858-1917) deu continuidade ao trabalho iniciado por Augusto Comte. O positivismo<br />

é uma corrente de pensamento que surgiu no século XIX na Europa e foi fortemente influenciada pela<br />

crescente valorização da ciência como fonte de obtenção da verdade. O positivismo se inspirou no<br />

método de investigação das ciências da natureza, tendo a biologia como principal referência. Para essa<br />

corrente de pensamento, a sociedade era passível de compreensão e o homem possuía uma natureza<br />

social.<br />

Figura 18 – Émile Durkheim<br />

As pesquisas sobre o funcionamento do corpo humano conduziram os positivistas a pensar a<br />

sociedade como um grande organismo social, constituído de partes integradas e coesas que deveriam<br />

funcionar harmonicamente. Assim, seria preciso conhecer sua anatomia e descobrir as causas de suas<br />

doenças.<br />

Outra forte influência do pensamento positivista foi o darwinismo social, uma crença de que as<br />

sociedades mudariam e evoluiriam num mesmo sentido.<br />

39


Unidade I<br />

Figura 19 – A evolução humana<br />

Saiba mais<br />

WAIZBORT, R. Notas para uma aproximação entre o neodarwinismo e<br />

as ciências sociais. História, <strong>Ciências</strong>, Saúde, Rio de Janeiro, v. 12, n. 2, p.<br />

293-318, maio/ago., 2005. Disponível em . Acesso em: 03 fev. 2011.<br />

Émile Durkheim nasceu em 1858 em Epinal, na França. Em 1879, ingressou na Escola Normal Superior.<br />

Em 1887, foi nomeado professor de pedagogia e ciências sociais na Faculdade de Letras da Universidade de<br />

Bordeaux. Em 1902, transferiu-se para a Sorbonne, onde se tornou professor titular de sociologia em 1913. Ele<br />

foi o pensador francês que deu à sociologia o status de disciplina acadêmica. Durkheim viveu em uma época<br />

de grandes crises econômicas e sociais que causavam desemprego e miséria entre os trabalhadores.<br />

A seguir, algumas de suas obras:<br />

• Da divisão do trabalho social (1893);<br />

• Regras do método sociológico (1895);<br />

• O suicídio (1897);<br />

• Sociedade e trabalho (1907);<br />

• As formas elementares de vida religiosa (1912).<br />

Durkheim viveu em uma época onde uma série de inovações sociais propiciadas pelo avanço científico<br />

e tecnológico ocorreu e, dentre elas, destacam-se a invenção e o início da utilização em grande escala<br />

da energia elétrica e a invenção de automóveis.<br />

40


CIÊNCIAS SOCIAIS<br />

Apesar do otimismo com as inovações, as frequentes ondas de suicídio eram analisadas por Durkheim<br />

como indício de que a sociedade encontrava-se incapaz de exercer controle sobre o comportamento de<br />

seus membros. Para Durkheim, os suicídio não era um fenômeno individual, mas estaria ligado ao que<br />

ocorria no âmbito social.<br />

O estudioso identificou em sua obra três categorias de suicídio:<br />

• Altruísta: ocorre quando o indivíduo valoriza mais a sociedade do que a ele mesmo. Exemplo:<br />

terroristas suicidas em vários locais do mundo.<br />

• Egoísta: a falta de redes de convívio e o isolamento social conduzem a pessoa a uma frustração<br />

que pode culminar no suicídio.<br />

• Anômico: as instituições sociais como a família, a igreja e a escola deixam de funcionar e os laços<br />

de solidariedade entre os indivíduos perdem a eficácia, o que os deixa viver de forma desregrada.<br />

Podemos exemplificar com a crise nas instituições familiares, que conduz seus membros ao<br />

abandono.<br />

Perceberam como as causas do suicídio podem ser identificadas na sociedade?<br />

Observação<br />

Por conceber a sociedade como um grande corpo humano onde<br />

cada parte possui uma função específica, Durkheim concebia que as<br />

instituições como a família, a igreja e o Estado tinham de desempenhar<br />

seus papéis.<br />

Quando uma instituição falha, ela contamina todo o corpo social, provocando algo que o teórico<br />

chamou de anomia social, ou seja, uma sociedade doente.<br />

Durkheim acreditava que os problemas de sua época não eram de natureza econômica, mas de<br />

natureza moral, pois as regras de conduta não estavam funcionando. Ele via a necessidade de criação<br />

de novos hábitos e comportamentos no homem moderno, com vistas ao bom funcionamento da<br />

sociedade.<br />

Para refletir: Durkheim acreditava que os problemas de sua época eram de natureza moral.<br />

Atualmente, nossos problemas são de natureza moral ou econômica?<br />

3.1.1 A relação indivíduo versus sociedade<br />

Como quaisquer outros animais, os indivíduos humanos nascem dotados de impulsos, instintos e<br />

desejos herdados da natureza.<br />

41


Unidade I<br />

A sociedade está fora dos indivíduos, sob a forma de outros indivíduos e instituições, e também está<br />

dentro dos indivíduos, sob a forma de valores, normas, costumes, tradições etc.<br />

Para conviverem pacificamente, os indivíduos devem aprender a limitar seus impulsos, desejos e<br />

instintos, que geralmente são violentos ou sexuais. Para isso, a sociedade estabelece valores e normas<br />

para guiar o comportamento dos indivíduos e conduzi-los à convivência harmoniosa. Algumas normas<br />

são explícitas e instituídas em leis; outras normas permanecem tácitas.<br />

São as instituições (escola, família, igreja etc.) que fazem o trabalho de transferência dos valores e<br />

normas sociais para os indivíduos, habituando-os à vida social. A esse processo educativo denominamos<br />

socialização.<br />

Ao nascer, o indivíduo encontra a sociedade pronta e acabada. As maneiras de se comportar, de sentir<br />

as coisas e de aproveitar a vida já foram estabelecidas pelos outros indivíduos e possuem a qualidade<br />

de serem coercitivas (MARTINS, 1990). A impositividade do social sobre o individual é o que determina<br />

nosso comportamento, por isso a conduta social deve ser pautada em regras socialmente aprovadas.<br />

Observe como Durkheim (1985) exemplifica essa questão:<br />

Se não me submeto às convenções mundanas, se, ao me vestir, não levo em<br />

consideração os usos seguidos em meu país e na minha classe, o riso que<br />

provoco, o afastamento em que os outros me conservam, produzem os<br />

mesmos efeitos de uma pena propriamente dita. (...) Não sou obrigado a falar<br />

o mesmo idioma que meus compatriotas, nem empregar as moedas legais;<br />

mas é impossível agir de outra maneira. (...) Se sou industrial, nada me proíbe<br />

de trabalhar utilizando processos e técnicas do século passado; mas, se o fizer,<br />

terei a ruína como resultado inevitável (DURKHEIM, 1985, p. 02).<br />

Portanto, não existe espaço para manifestação da individualidade, pois é o social que determina<br />

nosso comportamento individual, atuando como uma verdadeira “camisa de força” sobre as nossas<br />

individualidades.<br />

3.1.2 Os fatos sociais e a consciência coletiva<br />

Para Durkheim, a sociologia deveria se ocupar com os fatos sociais que são de natureza coletiva e se<br />

apresentam ao indivíduo como exteriores e coercitivos. O autor ainda assinala o caráter impositivo dos<br />

fatos sociais, sendo esse um conceito fundamental para analisar a sociedade.<br />

Os fatos sociais são todos aqueles que apresentam três características:<br />

42<br />

• Exterioridade: não foi criado por nós, é exterior à nossa vontade.<br />

• Coercitividade: enquadra nosso comportamento, atua pela intimidação e induz o homem à<br />

aceitação das regras a despeito de seus anseios e opções pessoais.<br />

• Generalidade: qualidade do que é geral, ou seja, atinge um grande número de pessoas na<br />

sociedade.


CIÊNCIAS SOCIAIS<br />

Os fatos sociais podem ser normais ou patológicos. Um fato social normal é aquele que desempenha<br />

alguma função importante para sua adaptação ou evolução, como, por exemplo, o crime 10 . Um fato<br />

patológico é aquele que se encontra fora dos limites permitidos pela ordem social. Os fatos sociais são<br />

considerados patológicos quando as leis não funcionam.<br />

Para refletir: o desemprego é um fato social? Por quê?<br />

Lembrete<br />

Consciência coletiva é um conjunto de ideias comuns que formam a<br />

base para uma consciência da sociedade.<br />

Cada um de nós possui uma consciência individual, que faz parte de nossa personalidade. Existe<br />

também uma consciência coletiva formada pelas ideias comuns que estão presentes em todas as<br />

consciências individuais de uma sociedade.<br />

A consciência coletiva está difusa na coletividade e, por isso, é exterior ao indivíduo, ou seja, a<br />

consciência coletiva não é o que o indivíduo pensa, mas o que a sociedade pensa. Ela é um tipo de<br />

consciência que atua sobre o indivíduo de maneira repressora, exercendo uma autoridade sobre seu<br />

modo de agir no meio social.<br />

Observação<br />

Podemos concluir que a consciência coletiva não é o que o indivíduo<br />

pensa, mas o que a sociedade pensa. A consciência coletiva representa a<br />

moral vigente na sociedade.<br />

A consciência coletiva define os fatos que são considerados imorais, reprováveis ou criminosos<br />

(COSTA, 2005). É possível sentirmos sua força nos intensos debates públicos que temos em nossa<br />

sociedade nos últimos tempos sobre a legalização do aborto, a descriminalização do uso de drogas, as<br />

leis antitabagismo etc.<br />

3.1.3 O crime<br />

Durkheim afirmou que nenhuma sociedade está livre do crime. Como ela é feita de um conjunto de<br />

instituições que pressupõem a existência de regras para a convivência coletiva, o crime é normal, é um<br />

padrão social.<br />

10<br />

O crime é visto como um fato social normal, pois em todas as sociedades em todas as épocas sempre existiram<br />

criminosos. O crime exerce uma função social importante: reforça os valores morais de renovar os laços de solidariedade<br />

de uma sociedade. Porém, quando os crimes fogem do controle da sociedade, eles se tornam uma patologia.<br />

43


Unidade I<br />

A normalidade do crime não significa que ele seja bom, mas que desempenha um papel social<br />

importante. Esse papel surge quando a criminalidade assume uma forma degenerativa, o que indica que<br />

há uma ausência de normas que ameaça a coesão social e que as instituições sociais não conseguem<br />

socializar os indivíduos. Exemplo: o crime organizado no Rio de Janeiro e em São Paulo.<br />

Observação<br />

As causas do crime devem procuradas na sociedade, não no delinquente.<br />

Quando as instituições de uma sociedade são fracas ou ausentes, a socialização fracassa e os<br />

indivíduos entram num estado de ausência de normas, a anomia. Numa sociedade com alto grau de<br />

anomia, os crimes e os desvios tornam-se mais comuns.<br />

Desvios e crimes são comportamentos que determinadas sociedades consideram antissociais,<br />

esforçando-se por inibi-los, combatê-los ou sublimá-los:<br />

• Desvio: comportamento que viola uma norma social (informal ou tácita). Exemplo: nas sociedades<br />

modernas, o homossexual é considerado desviado, mas não criminoso.<br />

• Crime: é aquele desvio que uma sociedade considerou tão perigoso e ofensivo que resolveu inibir<br />

ou punir com a lei. Exemplo: nas sociedades modernas, o assassino é considerado um desviado e<br />

um criminoso.<br />

Figura 20 – Forças armadas ocupam o Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro<br />

Todo criminoso é um desviado, mas nem todo desviado é um criminoso. Crime é todo<br />

comportamento que traz consequências negativas para a vida social. Portanto, as fronteiras entre<br />

o que é crime e o que é desvio variam conforme a sociedade. Para Durkheim, nenhuma sociedade<br />

estaria livre do crime:<br />

• Como toda sociedade institui normas, o crime existirá sempre que alguém quebrar essas normas;<br />

• O crime representa a desagregação dos laços que unem os indivíduos.<br />

44


CIÊNCIAS SOCIAIS<br />

Para refletir: o que diferencia um herói de guerra de um assassino comum? A culpa pela<br />

existência do criminoso é dele próprio, da natureza ou da sociedade? Por que aquilo que uma<br />

sociedade condena como crime pode não ser condenado ou até mesmo ser estimulado por outra<br />

sociedade?<br />

3.1.4 Solidariedade mecânica e orgânica<br />

Émile Durkheim utiliza o termo solidariedade para designar o vínculo que mantém a coesão e<br />

a unidade de um grupo social. A coesão social se deve ao fato de os grupos partilharem a mesma<br />

consciência coletiva. Assim, a solidariedade é resultante das semelhanças entre os modos de pensar e<br />

sentir existentes entre os membros de um grupo.<br />

É possível exemplificar esse conceito com a ideia de nação. Pertencer a uma mesma nação<br />

faz com que as pessoas partilhem certas crenças e valores comuns, como o respeito ao hino<br />

nacional, a defesa do território etc. Desse modo, a solidariedade social surge desse sentimento<br />

comum.<br />

Durkheim identificou dois tipos de solidariedade social:<br />

• Solidariedade mecânica: significa a união de pessoas a partir da semelhança na religião, na<br />

tradição ou nos sentimentos.<br />

Figura 22 – Parque Tompkins Square, em Nova York<br />

• Solidariedade orgânica: é a união de pessoas a partir da dependência que uma tem da outra para<br />

realizar alguma atividade social.<br />

45


Unidade I<br />

Figura 23 – Homens trabalhando na ferrovia que liga Atchison e Santa Fé, nos Estados Unidos<br />

Na solidariedade orgânica, o que une o grupo é a dependência que cada um tem da atividade do<br />

outro. Essa união é dada pela especialização de funções. Desse modo, Durkheim considerava a crescente<br />

divisão do trabalho como uma possibilidade de aumento da solidariedade entre os homens.<br />

O teórico conclui que a sociedade exerce forte pressão sobre as nossas individualidades e considera<br />

que o único espaço para o exercício da individualidade seria na especialização do trabalho. Ele considera<br />

que instituições que no passado exerciam papel de integração social, como a igreja e a família, por<br />

exemplo, perderam sua eficácia. A partir de então, a sociedade moderna levaria os indivíduos a se<br />

agrupar segundo suas atividades profissionais. Portanto, a profissão assumiria importância cada vez<br />

maior na vida social e tornar-se-ia herdeira da família, substituindo-a.<br />

Figura 24 – Homens trabalhando na construção de barcos nos Estados Unidos<br />

46


CIÊNCIAS SOCIAIS<br />

Para Durkheim, a sociologia como ciência deve ser portadora de uma neutralidade diante dos<br />

fatos sociais, ou seja, a sociologia não deve se envolver com a política. Toda reforma social deve<br />

estar baseada primeiramente no conhecimento prévio e científico da sociedade e não na ação<br />

política.<br />

A função da sociologia seria detectar e buscar soluções para os problemas sociais, restaurando a<br />

normalidade da sociedade e se convertendo em técnica de controle social.<br />

Assim, Émile Durkheim concebe o ser humano como um ser passivo. Não se vislumbra em sua<br />

reflexão a possibilidade do exercício da liberdade. Para o positivismo, o homem não é visto como sujeito<br />

capaz de atuar para a transformação social.<br />

Saiba mais<br />

UENO, K. O suicídio é o maior produto de exportação do Japão? Notas<br />

sobre a cultura de suicídio no Japão. Revista Espaço Acadêmico, trad. Eva<br />

Paulino Bueno, Maringá, ano 4, n. 44, jan. 2005. Disponível em . Acesso em: 06 jan. 2011>.<br />

3.2 Karl Marx e o materialismo histórico e dialético<br />

Com o estudo do pensamento de Karl Marx, nossos objetivos são:<br />

• Compreender o processo de estabelecimento de diferentes formas de desigualdades para entender<br />

suas causas, persistências, possibilidades e dificuldades de amenizações;<br />

• Esclarecer as bases sociais sobre as quais se assentaram as desigualdades;<br />

• Refletir sobre o processo de criação, reprodução e aprofundamento das desigualdades sociais.<br />

Karl Marx (1818-1883) nasceu em Treves, na Alemanha. Ao terminar o ensino secundário, matriculouse<br />

na Universidade de Bonn para estudar direito, mas não concluiu seus estudos. Em 1836, matriculouse<br />

na Universidade de Berlim, onde se dedicou ao estudo de história e filosofia. Nessa época, entrou<br />

em contato com o pensamento filosófico de Hegel (1770-1831), que exerceu grande influência na<br />

formulação de suas teorias.<br />

Marx terminou seu doutorado em filosofia pela Universidade de Iena em 1841 e foi colaborador do<br />

jornal Gazeta Renana, onde escreveu matérias que expressavam problemas políticos e sociais. Com o<br />

fechamento do jornal, migrou para a França para publicar a revista Anais Franco-Alemães.<br />

Em 1845, Marx foi expulso da França e se refugiou em Bruxelas, onde participou da Liga dos<br />

Comunistas. Em 1848, publicou o Manifesto do Partido Comunista junto com Friedrich Engels.<br />

47


Unidade I<br />

Marx teve uma vida ligada à militância política ao lado dos trabalhadores e esteve durante<br />

vários anos no exílio, principalmente entre França, Bélgica e Inglaterra. Suas principais obras<br />

são:<br />

• A ideologia alemã (1845);<br />

• Manifesto do Partido Comunista (1848);<br />

• O capital: crítica da economia política (1867).<br />

Marx foi um pensador que recebeu influências de várias ciências e teve peso na atuação política de<br />

muitas gerações que o sucederam. Iniciaremos nossa exposição discutindo o método de análise desse<br />

filósofo.<br />

Figura 25 – Karl Marx, 1882<br />

Karl Marx foi fortemente influenciado por Hegel (1770-1831), que sistematizou os princípios da<br />

dialética. A dialética considera que as coisas possuem movimento e estão relacionadas umas com as<br />

outras. Desse modo, a realidade seria vista como um constante devir e seria marcada pela luta de<br />

opostos, como, por exemplo, vida versus morte, saúde versus doença etc. Nesse modelo de análise, é a<br />

contradição que atua como verdadeiro motor do pensamento.<br />

Observação<br />

Para Marx, os fatos econômicos constituem a base sobre a qual se<br />

apoiam outros níveis de realidade, como a religião, a arte e a política,<br />

por exemplo. Assim, ele parte da análise da estrutura econômica da<br />

sociedade para colocar em evidência os antagonismos e contradições<br />

do capitalismo.<br />

48


CIÊNCIAS SOCIAIS<br />

3.2.1 Divisão do trabalho social<br />

Ao partir do pressuposto de que é a base econômica que determina as outras formas de organização<br />

da sociedade, Marx concebe o trabalho como atividade fundamental do ser humano e, para compreender<br />

as transformações do trabalho ao longo da história, analisa suas relações.<br />

Nas sociedades tradicionais (antigas e simples), era possível que sozinhos os homens produzissem<br />

quase todas as coisas de que necessitavam para viver.<br />

Quando a sociedade se tornou mais complexa, foi necessário que os indivíduos estabelecessem<br />

relações de trabalho e dividissem as atividades para satisfazer suas necessidades mútuas.<br />

A partir disso, ocorreu a divisão do trabalho rural e do trabalho urbano. Dentro do trabalho urbano, a<br />

indústria se separou do comércio e ambos se especializaram e, assim, dentro de cada atividade produtiva<br />

houve a separação entre quem administra e quem executa o trabalho.<br />

Enquanto prevalecia a produção de bens pelo artesanato, o trabalhador possuía suas próprias<br />

ferramentas, definia o lugar, o período de trabalho, o que, como e quando produzir, além de trabalhar<br />

para si mesmo.<br />

Na manufatura, o trabalhador:<br />

• Usa as ferramentas do patrão, que são como as suas;<br />

• É organizado em linhas ou equipes de produção;<br />

• Não define o lugar do trabalho e obedece o horário de expediente;<br />

• Não define o que, como ou quando produzir;<br />

• O trabalhador usa a máquina.<br />

Na indústria moderna, o trabalhador:<br />

• Não possui máquinas ou ferramentas, apenas seus próprios músculos e nervos;<br />

• Não define o lugar nem a jornada de trabalho;<br />

• Não define o que, como ou com que velocidade produzir;<br />

• A máquina “usa” o trabalhador.<br />

A forma como essa produção é organizada e a maneira como a riqueza produzida é depois<br />

distribuída acaba dividindo a sociedade em camadas superiores e inferiores. Por isso, a divisão do<br />

trabalho cria relações mútuas, porém, desiguais entre as pessoas. É isso o que define a estrutura da<br />

sociedade.<br />

49


Unidade I<br />

3.2.2 Classes sociais<br />

Partindo de questionamentos sobre o motivo de haver ricos e pobres se as oportunidades são dadas<br />

a todos e sobre como são produzidas e distribuídas as riquezas em nossa sociedade, Karl Marx elabora<br />

o conceito de classe social.<br />

Figura 26 – Homens trabalhando na construção civil na Alemanha<br />

50<br />

Lembrete<br />

Para Marx, a classe é dada pela posição do indivíduo na esfera da<br />

produção, o que divide a sociedade capitalista em grupos antagônicos.<br />

O lugar que as pessoas ocupam na divisão do trabalho vai defini-las como pertencentes a uma<br />

determinada classe social, sendo elas:<br />

• A burguesia: classe detentora do poder econômico e dos meios de produção;<br />

• O proletariado: não possui o poder econômico nem os modos de produção e, por isso, vende seu<br />

trabalho em troca de salário.<br />

Segundo Marx, como a troca entre trabalho e salário é injusta, o capitalismo gera as lutas de<br />

classe.<br />

As desigualdades são a base da formação das classes sociais. As duas classes sociais básicas, burguesia e<br />

proletariado, mantêm uma relação de exploração ao mesmo tempo em que são classes complementares,<br />

já que uma só existe se a outra existir.


CIÊNCIAS SOCIAIS<br />

A classe média, os pequenos industriais, os pequenos comerciantes e os camponeses se “proletarizam”<br />

à medida que seu pequeno capital não lhes permite concorrer com a grande indústria. Desse modo, há<br />

uma simplificação dos antagonismos e passa a existir, portanto, apenas as duas classes fundamentais:<br />

Burguesia<br />

Proletariado<br />

Classes sociais para Marx<br />

Figura 27 – Estrutura social segundo a teoria marxista<br />

As classes sociais são compostas por indivíduos que desempenham a mesma função na divisão do<br />

trabalho — seja como detentores dos meios de produção (burgueses), seja como possuidores da força<br />

de trabalho (proletários). Além disso, o prestígio, a educação, a autoridade, a influência e o acesso aos<br />

bens do mercado criam estilos de vida que hierarquizam os indivíduos em inúmeros grupos de status,<br />

com pequenas diferenças entre si.<br />

3.2.3 Salário, valor, lucro e mais-valia<br />

O salário é o valor da força de trabalho, considerada no capitalismo como uma mercadoria qualquer.<br />

O salário deve corresponder à quantia que permite ao trabalhador alimentar-se, vestir e cuidar dos<br />

filhos, garantindo, portanto, a reprodução das condições de vida do trabalhador e de sua família.<br />

O trabalho é fonte de criação de valor, então, como explicar que aqueles que mais trabalham são<br />

os que têm menos dinheiro? Para Marx, todo assalariado ganha menos do que a riqueza que produz.<br />

A diferença entre o valor da riqueza produzida e o salário é o que denominamos lucro. Se o capitalista<br />

pagasse ao assalariado o valor da riqueza que este produz, não haveria exploração.<br />

Figura 28 – Adolescente trabalhando na indústria de tecelagem americana em 1916<br />

51


Unidade I<br />

Ao estabelecer a relação entre salário e produtividade, Marx conclui que, ao pagar os salários aos<br />

trabalhadores, o empresário nunca paga a estes o que realmente produziram. Assim, por mais-valia entendese<br />

a diferença entre o preço de custo da força de trabalho (salário) e o valor da mercadoria produzida. Em<br />

outras palavras, é o valor excedente produzido pelo trabalhador que fica com o capitalista.<br />

3.2.4 Ideologia burguesa e alienação<br />

Karl Marx concebe a ideologia burguesa como um sistema de inversão da realidade, no qual as ideias<br />

da classe dominante aparecem como as ideias principais de uma época.<br />

A ideologia burguesa procura ocultar a verdadeira natureza das relações de produção pautadas na<br />

exploração e atua como uma “falsa consciência”, com o objetivo fazer com que as pessoas não percebam<br />

que a sociedade é dividida em classes sociais. Desse modo, essa ideologia contribui para a manutenção<br />

das estruturas de dominação.<br />

Alienação é a perda da consciência da realidade concreta. No capitalismo, a propriedade privada e o<br />

assalariamento separam o trabalhador dos meios de produção e do fruto do trabalho, dessa maneira, ao<br />

vender sua força de trabalho, o trabalhador se aliena, pois não se vê como produtor das riquezas.<br />

Figura 29 – Desigualdade social - estádio Orlando em Soweto, antigo gueto negro na época do apartheid na África do Sul<br />

A alienação política significa que o princípio da representatividade não garante ao trabalhador<br />

a participação política efetiva, pois ele não se vê como capaz de intervir nos destinos políticos da<br />

sociedade.<br />

A partir desses conceitos, é possível compreender porque os setores oprimidos da sociedade<br />

não se rebelam contra o sistema, já que a estrutura de dominação social é inserida na<br />

cabeça dos oprimidos de tal forma que estes passam a ver a desigualdade e a opressão com<br />

naturalidade.<br />

52


CIÊNCIAS SOCIAIS<br />

3.2.5 A amplitude da contribuição de Karl Marx<br />

Marx considera que o capitalismo se baseia na exploração do trabalho, uma exploração oculta,<br />

mascarada. A dominação burguesa não se restringe ao campo econômico, mas se estende ao campo<br />

político, que se apoia no Estado para reprimir a classe trabalhadora.<br />

No plano cultural, a dominação burguesa se dá pelo controle dos meios de comunicação de massa,<br />

que difunde os valores e concepções da burguesia.<br />

A teoria de Marx teve longo alcance e adquiriu dimensões de ideal revolucionário e de ação<br />

política efetiva. Suas ideias tiveram ampla repercussão em todo mundo, incentivando a formação de<br />

partidos marxistas, de sindicatos contestadores da ordem e de revoluções como a Revolução Russa<br />

(1917), a Revolução Chinesa (1949) e a Revolução Cubana (1959).<br />

Para refletir: como a teoria de Karl Marx contribui para a compreensão da sociedade atual? A<br />

pobreza pode ser considerada como consequência da sociedade capitalista?<br />

Figura 30 – Multidão diante do Palácio Quirinal, em Roma, entre 1910 e 1915<br />

Saiba mais<br />

Para conhecer um pouco mais sobre Karl Marx, leia o artigo indicado a seguir:<br />

ALMÉRI, T. M. Respeito ao clássico. In: Revista Sociologia, São Paulo, n. 26,<br />

2010. Seção Reportagens. Disponível em . Acesso em: 13 fev. 2011.<br />

53


Unidade I<br />

3.3 Max Weber e a busca das conexões de sentido<br />

Max Weber (1864-1920) nasceu em Erfurt, na Alemanha. Em 1882, iniciou seus estudos universitários<br />

na Universidade de Heidelberg, onde se concentrou nas áreas de direito, história, economia, filosofia e<br />

teologia.<br />

Em 1889, conquistou o título de doutor em direito, com tese sobre a história das empresas comerciais<br />

medievais. Em 1891, Weber iniciou a carreira de professor universitário em Berlim e, em 1896, tornouse<br />

professor catedrático da Universidade de Heidelberg. Em 1903, fundou a revista Arquivos de ciência<br />

social e política social, importante publicação da época. O estudioso morreu em Munique, em 1920,<br />

e coube a sua esposa, Marianne Weber, organizar seus escritos. Algumas das principais obras de Max<br />

Weber são:<br />

• A ética protestante e o espírito do capitalismo (1905);<br />

• Ciência e política: duas vocações (1919);<br />

• Economia e sociedade (1922).<br />

Uma das principais preocupações de Weber era compreender a racionalidade, pois o capitalismo<br />

levou a uma crescente racionalização da sociedade e conduziu à mecanização das relações humanas.<br />

Sua preocupação central era entender a maneira como a razão podia apreender o conhecimento,<br />

pois os acontecimentos são compreendidos não pela sua concretude, mas pela maneira como são<br />

interiorizados pelos seres humanos. Desse modo, é preciso entender a ação dos indivíduos, suas intenções<br />

e motivações.<br />

A forma de Weber olhar a sociedade ficou conhecida como sociologia compreensiva, pois o teórico<br />

procurou interpretá-la a partir da apreensão do sentido que os indivíduos dão a suas ações.<br />

Observação<br />

Esses preceitos não significam que as análises de Max Weber se voltam<br />

para o indivíduo, pois esse é o objeto de estudo da psicologia. A sociologia<br />

busca compreender as relações entre os indivíduos em sociedade e esse é<br />

somente o ponto de partida para se chegar ao todo.<br />

3.3.1 Ação social e tipo ideal<br />

Ação social é qualquer ação que um indivíduo faz orientando-se pela ação dos outros como, por<br />

exemplo, um eleitor que define seu voto orientando-se pela ação dos demais eleitores. Embora o ato de<br />

votar seja individual, a compreensão do ato só é possível se percebermos que a escolha feita por aquele<br />

eleitor tem como referência o conjunto dos demais eleitores (TOMAZZI, 1993).<br />

54


CIÊNCIAS SOCIAIS<br />

Figura 31 – Homem com guarda-chuva<br />

Os tipos de ação social identificados por Max Weber são:<br />

Quadro 02 – Tipos de ação social de acordo com Max Weber<br />

Tipos de ação social<br />

Ação social racional por valor<br />

Ação social racional por fim<br />

Ação social tradicional<br />

Ação social afetiva<br />

Elemento polarizador<br />

Valor (determinado pela crença em um valor considerado importante)<br />

Finalidade (determinada pelo cálculo racional que coloca os fins e organiza os meios)<br />

Tradição (determinada por um costume ou hábito)<br />

Sentimento (determinado por afetos ou estados sentimentais)<br />

A partir dessa classificação, é possível perceber que o homem dá um sentido para sua ação: cada sujeito<br />

age levado por um motivo que se orienta pela tradição, pelos interesses racionais ou pela emotividade.<br />

Para refletir: o ato de comprar uma mercadoria pode ser considerado uma ação social?<br />

O tipo ideal é um recurso metodológico que permite dar um enfoque ao pesquisador em meio à<br />

variedade de fenômenos observáveis na vida social. Esse recurso consiste basicamente em enfatizar<br />

determinados traços da realidade, mesmo que estes não se apresentem nas situações efetivamente<br />

passíveis de observação.<br />

3.3.2 A tarefa do cientista<br />

Há uma fronteira que separa o cientista – homem do saber – do político – homem da ação. Assim,<br />

qual é a relação entre ciência e política ou entre cientistas e políticos?<br />

Ao conceber o cientista como o homem das análises frias e penetrantes e o político como o homem<br />

da ação e decisão comprometido com as questões práticas, identifica-se dois tipos de ética: a do cientista<br />

55


Unidade I<br />

é a ética da convicção e a do político é a ética da responsabilidade. Consequentemente, caberia ao<br />

cientista oferecer ao político o entendimento claro de sua conduta.<br />

Figura 32 – Livros<br />

Quanto aos políticos, estes podem ser subdivididos em dois grupos. De um lado, há aqueles que<br />

exercem a política por vocação e realizam seus atos em busca do bem comum. Estes vivem para a<br />

política. Do outro lado, há os políticos sem vocação, que encaram sua atividade como um emprego e<br />

não se comprometem com as necessidades reais do país. Estes vivem da política.<br />

Figura 33 – Protesto popular em Brasília contra a política econômica do governo federal<br />

3.3.3 A ética protestante e o espírito do capitalismo<br />

Como estudioso do sentido das ações sociais, Max Weber identificou que o surgimento do capitalismo<br />

foi impulsionado através dos valores difundidos pela ética dos protestantes calvinistas. O teórico buscou<br />

examinar as implicações das orientações religiosas na conduta econômica dos indivíduos e, com suas<br />

pesquisas, constatou que, para algumas seitas protestantes puritanas, o êxito econômico era um indício<br />

da bênção de Deus. Para os calvinistas, a salvação estava vinculada à glorificação de Deus através do<br />

trabalho.<br />

56


CIÊNCIAS SOCIAIS<br />

A partir de dados estatísticos que mostravam a proeminência de adeptos da Reforma entre os<br />

grandes homens de negócio, Weber procurou estabelecer as conexões entre a doutrina protestante e o<br />

desenvolvimento do capitalismo. O estudioso concluiu que valores como disciplina, poupança, austeridade<br />

e propensão ao trabalho foram fundamentais para o desenvolvimento do capitalismo e, portanto, era<br />

possível estabelecer uma relação entre religião e sociedade na medida em que a primeira deu e dá aos<br />

indivíduos um conjunto de valores que são transformados em motivos de ação (COSTA, 2005).<br />

Figura 34 – Catedral São Pedro, a principal igreja protestante de Genebra, Suíça<br />

A motivação protestante para o trabalho era encará-lo como uma vocação, como um fim absoluto<br />

em si mesmo, e não como um meio de ganho material. Ao buscar sair-se bem na profissão, mostrando<br />

sua própria virtude e vocação e renunciando aos prazeres materiais, o protestante puritano se adequaria<br />

facilmente ao mercado de trabalho.<br />

Figura 35 – Funcionários trabalham em linha de produção de calçados em Sapiranga-RS<br />

Ao analisar os valores do catolicismo e do protestantismo, Weber concluiu que os valores<br />

protestantes revelaram a tendência ao racionalismo econômico que até os dias de hoje predomina<br />

no capitalismo.<br />

57


Unidade I<br />

3.3.4 Teoria da burocracia e os tipos de dominação<br />

A burocracia tem uma presença marcante na sociedade moderna e é definida como uma estrutura<br />

social na qual a direção das atividades coletivas fica a cargo de um aparelho impessoal hierarquicamente<br />

organizado que deve agir sob critérios impessoais e métodos racionais. Burocracia designa poder,<br />

controle, alienação e é baseada na razão e no direito.<br />

A burocracia surge de necessidades técnicas de coordenação, de supervisão e de planejamento<br />

de produção e, também, para proteger o indivíduo e dar tratamento igualitário às partes<br />

interessadas.<br />

A seguir, algumas características da burocracia:<br />

• Todas as burocracias têm uma divisão explícita de trabalho, sendo que cada posição tem um<br />

conjunto limitado de responsabilidades;<br />

• As normas que governam o comportamento em qualquer posição são explícitas, claras e codificadas<br />

por escrito;<br />

• Posições diferentes são ordenadas hierarquicamente, com cargos e postos mais altos<br />

supervisionando os mais baixos;<br />

• Os indivíduos devem reprimir emoções e paixões quando desempenham seus papéis previamente<br />

designados;<br />

• As pessoas ocupam posições por competência técnica e não por atributos pessoais;<br />

• As posições e postos não pertencem à pessoa, mas às organizações.<br />

Lembrete<br />

A burocratização tende a se propagar para todos os setores da vida<br />

social, tais como a economia, a política e a cultura.<br />

Para refletir: a burocracia é necessária?<br />

A burocracia é necessária porque sem ela as organizações se perderiam na improvisação e no<br />

arbítrio. Para Weber, a função da burocracia é reduzir conflitos e as regras economizariam esforços,<br />

pois eliminariam a necessidade de encontrar uma nova solução para cada problema e facilitariam a<br />

padronização e igualdade no tratamento de muitos casos.<br />

58


CIÊNCIAS SOCIAIS<br />

Figura 36 – Operárias trabalhando na linha de produção têxtil de uma empresa em Nashville, Tennessee (EUA)<br />

Os tipos puros de dominação encontrados em uma sociedade são classificados em:<br />

• Dominação tradicional: a legitimidade desse tipo de dominação vem da crença dos dominados<br />

de que há qualidade na maneira como nossos antepassados resolveram seus problemas. Essa<br />

dominação é caracterizada por uma relação de fidelidade política;<br />

• Dominação carismática: sua legitimidade vem do carisma, da crença em qualidades excepcionais<br />

de alguém para dirigir um grupo social. Nesse tipo de dominação, há uma devoção afetiva ao<br />

dominador, que geralmente é portador de um poder intelectual ou de oratória;<br />

• Dominação racional legal: sua legitimidade provém da crença na justiça da lei. Nesse caso, o povo<br />

obedece porque crê que as leis são decretadas segundo procedimentos corretos.<br />

Saiba mais<br />

Leia mais acerca das formulações de Max Weber sobre a burocracia:<br />

QUEIROZ, R. F. A burocracia na sociologia compreensiva de Max<br />

Weber. Revista de Iniciação Científica da FFC, Unesp, Marília v.4, n.1, 2004.<br />

Disponível em . Acesso em: 07 jan. 2011.<br />

Para refletir: como a dominação é exercida em seu trabalho?<br />

Max Weber não considerava o capitalismo injusto, irracional ou anárquico. As instituições constituíam<br />

demonstração de uma organização racional que desenvolvia suas atividades dentro de um padrão de<br />

eficiência e precisão (MARTINS, 1990).<br />

Sua crítica à burocracia reside no fato de que esta levou a um desencantamento do mundo, tirando seu<br />

caráter mágico e mecanizando as relações humanas. A racionalidade do capitalismo nos conduziu a um<br />

59


Unidade I<br />

mundo cada vez mais intelectualizado e artificial que abandonaria para sempre os aspectos ilusionistas e<br />

intuitivos do pensamento. A visão de Weber sobre os tempos modernos era melancólica e pessimista.<br />

Saiba mais<br />

CARNIELLI, F. A era dos homens insaciáveis. Boletim. UFMG, Belo<br />

Horizonte, n. 1423, ano 29, jan. 2003. Disponível em . Acesso em: 15 jan. 2011.<br />

Assista aos filmes sugeridos a seguir como forma de complementar seus<br />

estudos sobre sociologia:<br />

POLICARPO Quaresma, herói do Brasil. Dir. Paulo Tiago. Brasil. 1988. 120 min.<br />

O CHEIRO do ralo. Dir. Heitor Dahlia. Brasil. 2007. 112 min.<br />

A ILHA das flores. Dir. Jorge Furtado. Brasil. 1989. 13 min.<br />

LADRÕES de bicicleta. Dir. Vitório de Sica. Itália. 1948. 90 min.<br />

A CLASSE operária vai ao Paraíso. Dir. Elio Petri. Itália. 1971. 126 min.<br />

BRAZIL, o filme. Dir. Terry Gilliam. Inglaterra. 1985. 124 min.<br />

O PROCESSO. Dir. Orson Welles. Estados Unidos. 1962. 120 min.<br />

4 A FORMAÇÃO DA SOCIEDADE CAPITALISTA NO BRASIL<br />

Até agora, discutimos as bases do capitalismo mundial. Neste capítulo, procuraremos analisar as<br />

particularidades do desenvolvimento do capitalismo no Brasil e identificar as causas de sua dependência<br />

externa.<br />

Partimos das seguintes indagações: como o sistema capitalista se desenvolveu no Brasil? Quais são<br />

as particularidades do desenvolvimento socioeconômico do país?<br />

A sociedade brasileira se constituiu com o processo de expansão do capitalismo europeu a partir do<br />

século XV. No início, todas as relações comerciais eram voltadas para a metrópole e aqui se mantinham<br />

relações sociais baseadas na escravidão.<br />

Somente no século XIX, com a abolição da escravidão e a chegada de um grande contingente de<br />

imigrantes, é que o trabalho livre foi introduzido no Brasil. Em meio ao ciclo do café, outras atividades<br />

econômicas também se desenvolveram, tais como o transporte ferroviário, o sistema bancário, pequenas<br />

indústrias de alimentos e indústrias têxteis, que dinamizaram a vida nas áreas urbanas.<br />

60


CIÊNCIAS SOCIAIS<br />

4.1 Industrialização e formação da sociedade de classes<br />

Vários estudos indicam que o processo de industrialização do Brasil esteve ligado ao desenvolvimento<br />

da economia cafeeira no Estado de São Paulo.<br />

Uma das razões da industrialização foi a introdução do trabalho livre a partir do grande surto<br />

migratório que o país viveu no século XIX, que gerou um mercado consumidor de produtos industriais.<br />

Segundo Vita (1989), a forma como se organizou os negócios do café permitiu a formação de uma<br />

“consciência burguesa” entre os fazendeiros, pois o capital acumulado com a venda do café era utilizado<br />

na diversificação das atividades econômicas. Desse modo, esse capital era investido em outra atividade<br />

que possibilitasse a obtenção de lucro.<br />

Já no início dos anos 1920, grandes empresas norte-americanas instalaram filiais no Brasil: Ford,<br />

Firestone, Armour, IBM etc. (NOVAES, 1984). Com a crise mundial do início dos anos 1930, a economia<br />

brasileira deixou de se voltar à exportação e se apoiou na interiorização e na industrialização. Porém, foi<br />

somente com a chegada de um grande número de empresas estrangeiras que buscavam produzir para o<br />

mercado externo, na década de 1950, que o desenvolvimento industrial ganhou forte impulso.<br />

4.2 O capitalismo dependente<br />

O grau de dependência que a economia brasileira tem em relação às potências estrangeiras pode ser<br />

entendido a partir da compreensão do modelo de desenvolvimento industrial que o país teve, no qual se<br />

privilegiou a indústria de bens de consumo em detrimento da indústria de bens de capital.<br />

Outro aspecto que merece ser mencionado a respeito dessa dependência estrangeira diz respeito<br />

à ausência de produção de tecnologia no país, que adotou um modelo de desenvolvimento industrial<br />

marcado tanto pela dependência tecnológica como pela dependência do capital estrangeiro. Além disso,<br />

não é possível pensar no processo de industrialização brasileiro sem levar em conta o processo de<br />

expansão das empresas europeias e norte-americanas no pós-guerra.<br />

Observe a seguir alguns dados apresentados pelo IBGE sobre a produção industrial do país:<br />

Tabela 01 – Dados do IBGE sobre a produção industrial brasileira<br />

Indicadores da produção industrial por categorias de uso<br />

Brasil - Dezembro de 2009<br />

Categorias de Uso Variação (%)<br />

Mês/mês* Mensal Acumulado Acumulado 12 meses<br />

Bens de capital<br />

Bens intermediários<br />

Bens de consumo<br />

Duráveis<br />

Semiduráveis e não duráveis<br />

Indústria geral<br />

0,3<br />

1,0<br />

-0,6<br />

-4,9<br />

0,4<br />

-0,3<br />

23,0<br />

21,0<br />

15,0<br />

72,1<br />

6,0<br />

18,9<br />

-17,4<br />

-8,8<br />

-2,7<br />

-6,4<br />

-1,6<br />

-7,4<br />

-17,4<br />

-8,8<br />

-2,7<br />

-6,4<br />

-1,6<br />

-7,4<br />

Fonte: IBGE/Diretoria de Pesquisas/Coordenação de Indústria<br />

* Série com ajuste sazonal<br />

61


Unidade I<br />

Uma das mais importantes teorias explicativas para a dependência estrangeira surgiu no encontro<br />

de exilados de diversos regimes ditatoriais que proliferavam na América Latina.<br />

Nos estudos sobre a dependência, destaca-se a obra Dependência e desenvolvimento na América<br />

Latina, de Fernando Henrique Cardoso e Enzo Faletto, uma das publicações da área de ciências sociais que<br />

teve maior repercussão internacional. Essa obra destaca a natureza política e social do desenvolvimento<br />

na América Latina e trata das particularidades do capitalismo no continente. A constituição social do<br />

povo brasileiro, que tem uma burguesia nacional de origem agrária, colocou a burguesia internacional<br />

como principal agente da evolução capitalista nacional. Para não correr os riscos inerentes ao<br />

empreendedorismo, a burguesia do país optou por sua aliança com o capital internacional e pela forte<br />

dependência do Estado.<br />

A obra aponta ainda a fragilidade do povo brasileiro, que lida com uma elite que atua como agente<br />

dependente do capitalismo internacional e do Estado. Dada a situação inicial de escravidão, falta de<br />

terra e ausência de uma consciência de classe, o povo atuaria como mero figurante ou espectador nas<br />

principais decisões sobre o destino do país. Assim, é exposta a fragilidade da sociedade civil, na qual o<br />

povo age como massa e a elite como agente dos interesses internacionais.<br />

Lembrete<br />

A tese central da teoria da dependência é que países como o Brasil são<br />

explorados pelos países centrais, fundamentando a ideia de que há uma<br />

subordinação entre os países componentes do sistema capitalista.<br />

Por fim, a obra Dependência e desenvolvimento na América Latina nos permite compreender tanto<br />

a sujeição das elites empresariais do Estado ao capitalismo internacional quanto a passividade do povo.<br />

Essa fragilidade da sociedade civil contribuiu para o fortalecimento do Estado, que assumiu entre<br />

nós uma função centralizadora e de agente patrocinador do desenvolvimento econômico.<br />

Saiba mais<br />

CARVALHO, E. Os Paradoxos da construção social latino-americana.<br />

Revista Sociologia, São Paulo, n. 29, 2010. Seção Reportagens. Disponível em<br />

. Acesso em: 03 fev. 2011.<br />

COSTA, C. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. São Paulo:<br />

Moderna, 2005.<br />

DOWBOR, L. A formação do 3º mundo. São Paulo: Brasiliense, 1994.<br />

62


CIÊNCIAS SOCIAIS<br />

Resumo<br />

Nesta unidade, vimos que o ser humano desenvolveu a necessidade de<br />

explicar o mundo que o circunda. Assim, desenvolveu diferentes formas de<br />

conhecimento, como o mito, as religiões, o senso comum e o pensamento<br />

científico. A universidade, por exemplo, é uma instituição voltada justamente<br />

para o desenvolvimento e difusão do pensamento científico.<br />

As bases filosóficas da sociedade moderna se encontram no<br />

Renascimento e no Iluminismo. O Renascimento é visto como o momento<br />

de ruptura com os valores do mundo feudal, onde a visão teocêntrica do<br />

mundo foi substituída pela visão antropocêntrica.<br />

Quanto ao Iluminismo, foi uma corrente de pensamento filosófico que<br />

refletiu sobre o modelo de organização política da sociedade moderna,<br />

marcado pela liberdade contratual, igualdade jurídica, representatividade<br />

política e liberdade de comércio.<br />

O estudo científico sobre a sociedade teve início com a obra de Augusto<br />

Comte, um dos fundadores do positivismo que exerceu muita influência<br />

sobre a elite política do Brasil no final do século XIX.<br />

O sistema capitalista se firmou como modo de produção dominante na<br />

sociedade a partir da Revolução Industrial inglesa, na segunda metade do<br />

século XVIII.<br />

Do ponto de vista social, o aspecto mais significativo dessa revolução<br />

foi a formação da classe operária, uma classe constituída de homens e<br />

mulheres pobres que, para sobreviver, se tornaram assalariados. As<br />

condições de trabalho na indústria eram extremamente precárias e, junto<br />

a isso, as péssimas condições de habitação nas grandes cidades industriais<br />

conduziram os trabalhadores e se organizarem coletivamente para<br />

reivindicar uma melhor qualidade de vida.<br />

Diante dos grandes problemas sociais desencadeados pela industrialização<br />

e urbanização, surgiram as reflexões sobre os fundamentos dessa sociedade<br />

moderna. Émile Durkheim foi um dos fundadores da sociologia e se inspirou<br />

no darwinismo social e no organicismo. O teórico concebia a sociedade<br />

como um grande organismo constituído de partes coesas e ordenadas.<br />

Para ele, a sociedade exerce uma pressão sobre as nossas individualidades,<br />

por isso o homem não é o que quer ser, mas o que a sociedade determina.<br />

63


Unidade I<br />

Ela controla os indivíduos a partir de uma consciência coletiva, que é a<br />

média de pensamento de uma coletividade.<br />

Durkheim ainda define os fatos que devem ser estudados pela sociologia<br />

como fatos sociais, que são fatos portadores de exterioridade, generalidade<br />

e coercitividade. Além disso, o estudioso considera a sociedade industrial<br />

como uma forma superior de organização social, já que é baseada em uma<br />

nova forma de solidariedade entre os homens: a solidariedade orgânica.<br />

Na reflexão desenvolvida por Karl Marx, um dos teóricos que mais<br />

influenciou os movimentos sociais a partir do século XIX, as desigualdades<br />

sociais são consideradas como fruto das relações sociais, nas quais uma classe<br />

produz e outra se apropria do produto desse trabalho. Assim, diferenciações<br />

sociais são vistas como consequência das relações econômicas, sociais,<br />

políticas e culturais. Dessa maneira, as desigualdades não são apenas<br />

econômicas, mas também culturais, pois expressam concepções de mundo<br />

diferentes de acordo com a classe social.<br />

Para Marx, os conflitos entre as classes sociais é que constituem o<br />

principal fator de mudança social. Seriam esses conflitos que imprimiriam<br />

movimento e dinamismo à sociedade.<br />

O método de pesquisa social desenvolvido por Max Weber, por sua vez,<br />

parte da busca de uma conexão de sentido nas ações dos indivíduos. O<br />

teórico identifica diferentes orientações de sentido nas ações sociais: ação<br />

social com relação a fins, ação social com relação a valores, ação afetiva e<br />

ação tradicional.<br />

Weber diferencia a atividade do cientista e do político, sendo a primeira<br />

voltada para uma ética da verdade e a segunda orientada por uma ética<br />

da responsabilidade. O teórico ainda analisa a contribuição dos valores do<br />

protestantismo para o desenvolvimento do capitalismo, concluindo que os<br />

valores daquele contribuíram para a evolução deste.<br />

Além disso, o estudioso analisa a crescente racionalização da sociedade<br />

moderna, que tem conduzido ao crescimento da burocratização das<br />

instituições sociais.<br />

Por fim, vimos as particularidades da inserção do Brasil no capitalismo<br />

mundial, com enfoque no significado da abolição da escravatura e nas<br />

migrações como elementos que contribuíram para a modernização do<br />

país.<br />

64<br />

A industrialização do Brasil foi desencadeada em subordinação aos<br />

interesses da cultura cafeeira do oeste paulista. Essa questão é fundamental


CIÊNCIAS SOCIAIS<br />

para compreendermos o grau de dependência que a indústria brasileira<br />

desenvolveu em relação às tecnologias desenvolvidas na Europa e,<br />

posteriormente, nos Estados Unidos.<br />

A análise do sociólogo Fernando Henrique Cardoso sobre o processo de<br />

desenvolvimento e modernização do país aponta para as fragilidades da<br />

burguesia nacional ao empreender negócios sem subvenções estatais e em<br />

associação com o grande capital internacional.<br />

Saiba mais<br />

Para complementar seus estudos, assista aos filmes indicados abaixo:<br />

CORONEL Delmiro Gouveia. Dir. Geraldo Sarno. Brasil. 1978. 90 min.<br />

O POVO brasileiro. Dir. Isa Ferraz. Brasil. 2001. 280 min.<br />

QUEIMADA. Dir. Gillo Pontecorvo. Itália. 1968. 132 min.<br />

Exercícios<br />

Questão 01. Leia atentamente o texto a seguir:<br />

“Se o conhecimento científico é o conhecimento de todos os homens e representa o grau<br />

máximo ao qual a humanidade chegou na interpretação de seu mundo e na criação de mecanismos<br />

e procedimentos para interferir neste, interessa-nos discutir se, da mesma maneira, podemos dizer<br />

que este conhecimento de “todos os homens” serve realmente a todos os homens. Neste sentido,<br />

julgamos conveniente explorar um pouco a maneira como a ciência vem se desenvolvendo e a<br />

maneira como ela chega ao conjunto dos homens enquanto conhecimento. Em outras palavras,<br />

julgamos conveniente fazer uma crítica da relação entre ciência e sociedade com o intuito de<br />

identificar até que ponto a ciência nos serve a todos e até que ponto existem problemas que<br />

impedem que isso aconteça.<br />

A ciência desenvolveu – em todas as áreas – uma linguagem própria cuja compreensão passou a<br />

exigir níveis de formação escolar cada vez mais elevados. Como os sistemas escolares não garantiram<br />

o acesso ao conhecimento para toda a sociedade, grande parte dos indivíduos foram pouco a pouco<br />

marginalizados do saber científico que, por fim, passou a ser propriedade de alguns poucos grupos sociais,<br />

notadamente daqueles que dispõem de condições econômicas para adquiri-lo. Hoje, o complexo discurso<br />

científico, vale dizer, atinge inclusive a própria comunidade científica na medida em que “o avanço da<br />

especialização torna impossível ao cientista, e já não apenas ao cidadão comum, compreender o que se<br />

passa (e porque se passa) à volta do habitáculo (cada vez mais estreito)” em que a ciência se desenvolve.<br />

65


Unidade I<br />

Podemos dizer que “dadas as condições sociais de produção e apropriação do conhecimento científico,<br />

a criação de objetos teóricos está cada vez mais vinculada à criação ou potenciação de sujeitos sociais e,<br />

consequentemente, à destruição ou degradação dos sujeitos sociais que não podem investir no conhecimento<br />

científico ou apropriar-se dele”. Ou seja, muito do que se procurou e do que se procura desenvolver no campo<br />

científico reflete interesses particulares ou de determinados grupos sociais para os quais o conhecimento<br />

científico representa uma maneira de garantir ou conquistar interesses frente a grupos sociais de interesses<br />

diferentes. Podemos citar como exemplo o fato de um estudo econômico poder ser utilizado por uma empresa<br />

para melhorar a sua atuação, ou seja, para afirmá-la e fortalecê-la enquanto sujeito social.<br />

Aos que não detêm o conhecimento científico, resta buscar resolver seus problemas cotidianos sem a<br />

ajuda das construções racionais e metódicas da ciência, sem os instrumentos que a ciência desenvolveu<br />

para que se atinja uma melhor compreensão do mundo. Dotados de informações e interpretações<br />

que adquirem com a experiência de vida, os “homens comuns” procuram dar respostas às questões<br />

e necessidades de seu mundo baseados num “conhecimento” cujo conjunto de formulações a ciência<br />

denomina “senso comum”. Para a ciência, contudo, trata-se de um “conhecimento vulgar”, de uma<br />

“sociologia espontânea”, com a qual é preciso romper para que se torne possível o conhecimento<br />

científico, racional e válido” (TRINDADE, 2001).<br />

A partir da leitura feita, assinale a alternativa correta:<br />

A) O conhecimento científico é uma forma de poder que parte da sociedade, porém, ainda não está<br />

acessível na organização social brasileira a todas as pessoas. O conhecimento vulgar daqueles que não<br />

têm acesso ao conhecimento científico pode significar, muitas vezes, uma estratégia de sobrevivência<br />

na sociedade, pois esse conhecimento está fundamentado na troca de experiências das pessoas.<br />

B) O conhecimento vulgar ou senso comum é incompatível com as formulações científicas<br />

construídas na sociedade brasileira contemporânea. Os extratos sociais que não têm acesso ao<br />

conhecimento científico estarão alijados de qualquer possibilidade de superação das dificuldades<br />

com a construção de mecanismos de sobrevivência.<br />

C) Conhecimento científico é uma forma de poder que não está acessível a todos na sociedade brasileira<br />

contemporânea, mas isso não impede a ascensão social porque no Brasil ainda dá-se muito pouco<br />

valor à formação cultural das pessoas e ao conhecimento científico que elas adquiriram.<br />

D) O conhecimento científico é produzido em locais específicos como as universidades, assim como o<br />

conhecimento religioso é produzido nos templos e nas igrejas. O conhecimento vulgar, no entanto,<br />

é produzido de forma indevida e propositadamente incorreta e dele nada pode ser aproveitado<br />

em benefício da sociedade.<br />

E) O conhecimento do senso comum é adquirido por meio da troca de experiências entre as pessoas<br />

e é transmitido de geração para geração. Quase sempre seu conteúdo é prejudicial, pois ele não<br />

está fundamentado em princípios cientificamente comprovados.<br />

66<br />

Resposta correta: alternativa A.


CIÊNCIAS SOCIAIS<br />

Análise das alternativas:<br />

A) Alternativa correta.<br />

Justificativa: o conhecimento científico ainda não pode ser adquirido por todos os membros da<br />

sociedade brasileira, pois nem todos têm condições de acesso ao estudo formal. É por isso que uma<br />

parte da sociedade detém esse conhecimento e outra parte não o detém. Contudo, o conhecimento do<br />

senso comum é construído a partir das experiências de cada pessoa e é transmitido por meio da troca<br />

de vivência entre elas. O conhecimento do senso comum não deve ser desconsiderado ou desprezado<br />

apenas porque não é científico, ao contrário, muitas vezes, ele traduz aspectos relevantes da construção<br />

cultural de um determinado extrato social.<br />

B) Alternativa incorreta.<br />

Justificativa: como foi mencionado na justificativa da alternativa A, o conhecimento construído<br />

somente a partir da experiência das pessoas não é científico, porém, esse tipo de conhecimento não<br />

impede as pessoas de conseguir superar dificuldades, pois, dependendo da dificuldade enfrentada,<br />

muitas vezes a experiência alheia é positiva para orientar a tomada de decisões certas.<br />

C) Alternativa incorreta.<br />

Justificativa: não é correto afirmar que dá-se pouco valor à formação cultural no Brasil, principalmente<br />

no atual momento histórico e econômico no qual se tem valorizado muito a contratação de pessoas que<br />

possuam grau significativo de conhecimento formal adquirido em cursos profissionalizantes ou superiores.<br />

D) Alternativa incorreta.<br />

Justificativa: o conhecimento do senso comum não é produzido de forma propositadamente<br />

incorreta. Mesmo ele não sendo construído a partir de comprovações científicas, ele não é necessária<br />

ou propositadamente incorreto.<br />

E) Alternativa incorreta.<br />

Justificativa: o conhecimento do senso comum não é necessariamente prejudicial, embora não esteja<br />

fundamentado em princípios cientificamente comprovados.<br />

Questão 02. Ernest Mandel (2001) afirma que:<br />

“O Estado é um produto da divisão da sociedade em classes; um instrumento de consolidação, de<br />

manutenção e de reprodução da dominação de uma determinada classe. Essa é a terceira tese central<br />

do materialismo histórico. O Estado não é consubstancial à “sociedade organizada” nem à “civilização”<br />

no sentido amplo do termo. Ele nem sempre existiu. Ele não existirá sempre. A análise das origens, do<br />

desenvolvimento específico e da possível decadência do Estado é uma das principais contribuições do<br />

marxismo às ciências sociais.<br />

67


Unidade I<br />

As instituições estatais são um dos componentes essenciais da superestrutura social, que compreende,<br />

ao mesmo tempo, elementos de repressão (exército, corpos de repressão, justiça) e os elementos<br />

necessários para tornar aceitável pelas classes produtivas a exploração e a opressão de classe que elas<br />

sofrem, para mascarar e “legitimar” o caráter explorador e opressor dessas instituições. Esta é, em termos<br />

gerais, a função das ideologias dominantes mencionadas anteriormente, e de sua transmissão por<br />

instituições como a escola, as igrejas, os meios de comunicação de massa, a publicidade na sociedade<br />

burguesa etc. Por isso, toda luta de classes ampla ou generalizada é forçosamente uma luta política<br />

– independentemente da consciência que tenham os combatentes –, uma luta pela manutenção,<br />

enfraquecimento ou mesmo derrubada de um poder de Estado determinado, do poder político de uma<br />

determinada classe social” (MANDEL, 2001, p. 35-36).<br />

Na revista Discutindo Filosofia, Luciano Costa comenta a crise norte-americana:<br />

“O cenário econômico vive – principalmente desde meados de setembro – uma crise comparada com<br />

a Grande Depressão de 1929. A época, considerada o mais longo período de recessão na economia do<br />

século XX, causou a queda das taxas de produção industrial, dos preços de ações, do produto interno<br />

bruto e acentuou o desemprego em diversos países do mundo. Hoje, a crise teve início no mercado<br />

imobiliário dos Estados Unidos. Com crédito farto e juros baixos, os imóveis do país sofreram alta<br />

valorização, causando refinanciamento de hipotecas. Para captar dinheiro, os bancos criaram um tipo de<br />

nota promissória, chamada de título lastreado em hipotecas, e venderam para investidores que também<br />

passavam seus títulos.<br />

Outras instituições passaram por problemas semelhantes, à beira de quebrar em meio à crise. E para<br />

ir contra a tendência de falência dos centros financeiros, o Congresso nos EUA aprovou a intervenção<br />

do Estado a partir de um plano de ajuda de 700 bilhões de dólares” (COSTA, 2007, p. 12).<br />

A partir das leituras feitas, considere as seguintes afirmativas:<br />

I – Atualmente, o Estado ainda é imprescindível para a atividade econômica liberal, sendo um<br />

importante aliado dos trabalhadores e essencial para o diálogo com os produtores.<br />

II – O papel do Estado na economia no mundo contemporâneo é controverso, pois, em momentos<br />

de crise econômica, ele é chamado a suportar os prejuízos decorrentes das decisões da iniciativa<br />

privada e, quando as crises são superadas, o Estado é impelido a permitir que a iniciativa privada atue<br />

livremente.<br />

III – Em qualquer época histórica, as classes trabalhadoras e produtoras têm diferentes expectativas<br />

em relação ao papel Estado porque as necessidades materiais de cada uma das classes são completamente<br />

distintas.<br />

IV – Marx defende a ideia de uma sociedade sem classes, na qual o Estado moderno seria desnecessário<br />

porque toda a organização social seria concebida e realizada pelos trabalhadores a partir de suas<br />

necessidades concretas.<br />

68


CIÊNCIAS SOCIAIS<br />

V – Para Marx, o fim do Estado seria também o fim da política, pois o pensamento marxista é, por<br />

excelência, um pensamento que prioriza os aspectos econômicos e desconsidera os demais por entender<br />

que não têm importância.<br />

Assinale a alternativa que contém a(s) afirmativa(s) correta(s):<br />

A) I e V.<br />

B) II, III e V.<br />

C) I, II e III.<br />

D) II, III e IV.<br />

E) I, II e IV.<br />

Resolução desta questão na Plataforma.<br />

69


Unidade II<br />

Unidade II<br />

5 A GLOBALIZAÇÃO E SUAS CONSEQUÊNCIAS<br />

Nesta unidade, nosso objetivo será compreender a partir de diversos ângulos o fenômeno da<br />

globalização e refletir sobre seus impactos na economia e nas novas formas de sociabilidade.<br />

Assim, partimos da seguinte indagação: qual é a influência que a globalização exerce sobre o mundo atual?<br />

O que contemporaneamente chamamos de globalização é compreendido por Ortiz (1994) como<br />

um processo de mundialização do capitalismo, que envolve uma grande diversidade de aspectos de<br />

natureza cultural, social, econômica e política.<br />

O capitalismo passou por uma série de transformações no final do século XX, marcadas por uma<br />

liberalização comercial que levou a uma maior abertura das economias nacionais, resultando em mudanças<br />

nos processos de trabalho, nos hábitos de consumo, nas configurações geográficas e geopolíticas e nos<br />

poderes e práticas do Estado.<br />

A globalização do mundo expressa um novo ciclo de expansão do capitalismo como modo<br />

de produção e ação civilizatória de alcance mundial (ORTIZ, 1994). No cotidiano, a globalização se<br />

manifesta de maneira mais visível nas mudanças tecnológicas e nas alterações nos processos de trabalho<br />

e produção.<br />

Figura 37 – Marcha de abertura do 5º Fórum Social Mundial (2005), em Porto Alegre<br />

Barbosa (2003) define globalização como uma:<br />

Expansão dos fluxos de informações – que atingem todos os países, afetando<br />

empresas, indivíduos e movimentos sociais –, pela aceleração das transações<br />

70


CIÊNCIAS SOCIAIS<br />

econômicas – envolvendo mercadorias, capitais e aplicações financeiras que<br />

ultrapassam as fronteiras nacionais – e pela crescente difusão de valores<br />

políticos e morais em escala universal (BARBOSA, 2003, p. 13).<br />

Sob a perspectiva social, a globalização tem proporcionado fluxos migratórios em todas as direções<br />

e tem possibilitado também uma tentativa dos países avançados de impedir a entrada e permanência<br />

em seus territórios de povos que fogem da miséria e das guerras pelo mundo. 11<br />

Nesse surto de universalização do capitalismo, o desenvolvimento adquire novo impulso a partir das<br />

novas tecnologias, da criação de novos produtos e da mundialização dos mercados.<br />

A globalização é marcada pela transição de um modelo de organização fordista, onde a produção é<br />

organizada em grandes unidades fabris utilizando intensa divisão do trabalho, para um modelo toyotista,<br />

caracterizado pelo trabalho em equipe e o qual Harvey (2005) denomina passagem para um regime de<br />

acumulação flexível.<br />

Eis algumas características do regime de acumulação flexível:<br />

• Flexibilidade dos processos de trabalho, dos produtos e dos padrões de consumo;<br />

• Ampliação do setor de serviços;<br />

• Níveis relativamente altos de desemprego estrutural;<br />

• Rápida destruição e reconstrução de habilidades e ganhos modestos;<br />

• Retrocesso do poder sindical.<br />

Figura 38 – O mundo globalizado<br />

11<br />

George W. Bush, ex-presidente dos Estados Unidos, assinou uma lei que ordenou a construção de uma cerca<br />

dupla em algumas partes da fronteira entre os Estados Unidos e o México. Durante uma cerimônia na sala Roosevelt da<br />

Casa Branca, Bush assegurou que a nova lei “protegerá o povo americano e fará com que as fronteiras sejam mais seguras”.<br />

O presidente americano lembrou que a imigração ilegal aumentou na última década devido ao fato de que, “infelizmente,<br />

os Estados Unidos não mantiveram o controle absoluto da fronteira”. Para maiores informações, acesse: AGÊNCIA EFE.<br />

Agentes de fronteira e autoridades dos EUA pedem a Obama fim de muro com México. Folha de S.Paulo, São Paulo, 14 dez.<br />

2008. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u475430.shtml. Acesso em 15 fev. 2011.<br />

71


Unidade II<br />

5.1 A globalização comercial e financeira<br />

A mundialização dos mercados envolve uma ampla redistribuição das empresas por todo o mundo. As<br />

empresas passam por esse processo para se adaptarem às novas exigências de produtividade, agilidade,<br />

capacidade de inovação e competitividade.<br />

A globalização envolve uma ampla transformação na esfera do trabalho, pois modificam-se as<br />

técnicas produtivas e as condições jurídicas, políticas e sociais. A procura por mão de obra barata faz<br />

com que as grandes companhias busquem força de trabalho em todos os cantos do mundo, levando o<br />

desemprego à escala global.<br />

As empresas transnacionais operam em todo o planeta. Elas vendem as mesmas coisas em<br />

todos os lugares através da criação de produtos universais. Leiam a exemplificação mencionada<br />

por Barbosa:<br />

As empresas multinacionais dominam a produção de vários setores,<br />

desde os mais sofisticados, como automóveis (GM, Volkswagem,<br />

Fiat), eletroeletrônicos (Eletrolux, Sony, Philips), computadores<br />

(Compaq, IBM, Dell), telefones celulares (Ericsson, Motorola, Nokia),<br />

até os tradicionais, como alimentos (Danone, Parmalat, Nestlé), tênis<br />

esportivos (Nike, Reebok), e produtos de higiene e limpeza (Colgate,<br />

Unilever e Procter & Gamble), passando pelos setores de serviços<br />

de ponta como telecomunicações (Telefonica, MCI, British Telecom)<br />

até chegar a serviços tradicionais como cadeias de fast-food<br />

(McDonald’s, Pizza Hut), videolocadoras (Blockbuster) e comércio<br />

varejista (Carrefour), ou mesmo em setores em que a sua presença<br />

era rara até os anos 1990, como nos salões de beleza (Jean Louis<br />

David) ou no saneamento básico (Lyonnaise dês Eaux e Águas de<br />

Portugal) (BARBOSA, 2003, p. 55).<br />

Para refletir: a globalização propicia a concentração de empresas ou possibilita o<br />

empreendedorismo?<br />

Para os executivos das grandes companhias, há a necessidade de distanciamento de suas culturas<br />

particulares e o comprometimento se volta para a competição global. A busca por eficiência e<br />

produtividade se torna uma obsessão social (ORTIZ, 1994).<br />

O sistema financeiro global passou por uma reorganização. Ao lado da acelerada mobilidade geográfica<br />

de fundos, os mercados futuros, de ações e de acordos de compensação recíproca de taxas de juros e<br />

moedas significaram a criação de um único mercado mundial de dinheiro e crédito (HARVEY, 2005).<br />

Desse modo, o sistema financeiro mundial fugiu do controle coletivo, o que levou ao fortalecimento do<br />

capital financeiro.<br />

72


CIÊNCIAS SOCIAIS<br />

Figura 39 – Operadores da Bolsa de Valores de São Paulo<br />

Observação<br />

O número de fusões e aquisições envolvendo empresas de várias partes<br />

do mundo está crescendo. Elas procuram conquistar um mercado cada vez<br />

mais amplo.<br />

Por não estarem concluídas, há a dificuldade de captar-se a natureza das mudanças que estamos<br />

vivenciando. Há tanto análises que enfatizam os elementos positivos quanto outras que se voltam para<br />

os aspectos negativos desse processo.<br />

5.2 As novas tecnologias<br />

No final do século passado, houve uma verdadeira revolução tecnológica em diversas áreas, como,<br />

por exemplo, a microeletrônica, a microbiologia e a engenharia genética.<br />

Lembrete<br />

A utilização de tecnologias modernas tem contribuído para o aumento<br />

da produtividade e possibilitado mudanças com gigantesca velocidade. As<br />

tecnologias já são superadas antes mesmo de cair no domínio público.<br />

As novas tecnologias possibilitaram a estruturação do processo produtivo. Em consequência da revolução<br />

tecnocientífica, o trabalho exige níveis cada vez mais elevados de instrução e maior emprego da inteligência.<br />

De acordo com Barbosa.<br />

As novas tecnologias são responsáveis por um novo estilo de produção,<br />

comunicação, gerenciamento, consumo, enfim, por um novo estilo de vida.<br />

Elas assumiram a dimensão de instrumentos de uma transformação social,<br />

econômica e cultural (BARBOSA, 2003, p. 79).<br />

73


Unidade II<br />

5.3 A globalização cultural<br />

As novas tecnologias têm contribuído para que as fronteiras culturais e linguísticas percam o sentido<br />

e para que se adote o inglês como língua oficial dos negócios internacionais. Os meios de comunicação<br />

baseados na eletrônica têm contribuído para agilizar o mundo dos negócios em uma escala jamais vista.<br />

A cultura encontra horizontes de universalização: o que era local e nacional pode tornar-se mundial.<br />

Essa cultura global conduz a um processo de homogeneização dos hábitos de consumo na medida em<br />

que os meios de comunicação difundem um número cada vez mais restrito de modelos de organização<br />

do modo de vida. Como afirma Ortiz (1994):<br />

A seguir, algumas características culturais da atualidade:<br />

A convergência de comportamento de consumidores é uma tendência<br />

dominante dos últimos 30 anos. Chocava a Europa do pós-guerra a grande<br />

diversidade de comportamentos e a abundância de pluralismos locais e<br />

regionais. Mas em 30 anos, em todos os lugares, uma parcela cada vez maior<br />

da população distanciou-se da sociedade tradicional, de seus valores, para<br />

entrar na modernidade, criadora de novos valores. Essa evolução aproximou<br />

os comportamentos, sobretudo os de consumo (ORTIZ, 1994, p. 173).<br />

• Forte presença da moda, do efêmero, do espetáculo e do consumismo;<br />

• A publicidade assume papel maior nas práticas culturais;<br />

• A publicidade manipula desejos sem relação com os produtos.<br />

Nesse novo contexto, a produção e a difusão de bens culturais ocupam um lugar central<br />

que, no passado, pertenceu aos bens industriais. Haja vista que, entre as maiores empresas do<br />

mundo contemporâneo, há uma presença significativa de empresas ligadas à comunicação e ao<br />

entretenimento.<br />

74<br />

Figura 40 – Loja da rede Mc Donald’s no Japão


CIÊNCIAS SOCIAIS<br />

Saiba mais<br />

Saiba mais sobre o que é globalização a partir dos textos e filmes<br />

indicados a seguir:<br />

Textos:<br />

IANNI, O. (org.) Desafios da Globalização. Petrópolis: Vozes, 2002.<br />

GUIMARÃES, M. Aos 60 anos, a ONU resiste a reformas. ComCiência,<br />

Campinas, n. 75, abr. 2004. Seção Reportagens. Disponível em .<br />

Acesso em: 01 mar. 2011.<br />

PENA, F. M. Democracia, direitos humanos e globalização. Revista Espaço<br />

Acadêmico, Maringá, ano 6, n. 64, set. 2006. Disponível em . Acesso em: 13 jan. 2011.<br />

Filmes:<br />

ADEUS Lênin. Dir. Wolfgang Becker. Alemanha. 2002. 117 min.<br />

BABEL. Dir. Alejandro G. Iñarritu. Estados Unidos/México. 2006. 143 min.<br />

ENCONTRO com Milton Santos ou o mundo global visto do lado de cá.<br />

Dir. Silvio Tendler. Brasil. 2006. 90 min.<br />

O JARDINEIRO fiel. Dir. Fernando Meirelles. Estados Unidos/Inglaterra.<br />

2005. 129 min.<br />

A CORPORAÇÃO. Dir. Mark Akbar. Canadá. 2002. 145 min.<br />

6 TRANSFORMAÇÕES NO MUNDO DO TRABALHO<br />

Neste tópico, nossa reflexão se voltará para a análise das transformações no mundo do trabalho<br />

no contexto da globalização e da reestruturação do sistema produtivo. As mudanças na organização<br />

dos processos de trabalho, já mencionadas em tópico anterior, conduziram a uma nítida redução do<br />

trabalhador fabril em função da automação, da robótica e da microeletrônica.<br />

Tanto no campo quanto na cidade, houve o crescimento da presença feminina no mercado de<br />

trabalho. Segundo pesquisas realizadas pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos<br />

75


Unidade II<br />

Socioeconômicos (Dieese), entre 2009 e 2010, as mulheres ganharam em média 76% do salário pago<br />

aos homens. 12 Figura 41 – Trabalhador cortando madeira na Alemanha nos anos 1960<br />

76<br />

Tendo em vista a crescente mecanização das atividades agrárias, houve redução do número de<br />

empregos oferecidos na área rural, o que tem conduzido a um crescimento sem precedentes da população<br />

nas áreas urbanas.<br />

Considerando-se que as relações de trabalho constituem parte essencial das relações sociais na<br />

atualidade, pergunta-se: com o crescimento vertiginoso do desemprego, como viverá a classe que<br />

necessita do trabalho para sobreviver?<br />

6.1 Precarização das relações de trabalho<br />

A análise das transformações no mundo do trabalho remonta ao início dos anos 1970, quando o<br />

modelo fordista de produção começou a apresentar declínio com a queda da taxa de lucro intensificada<br />

pelo aumento do preço da mão de obra e pelas lutas sociais ocorridas nos anos 1960. A partir disso, teve<br />

início o processo de flexibilização da produção, o toyotismo, modelo de organização da produção que<br />

abrange o sistema just in time, o controle de qualidade da produção e a polivalência de tarefas, com<br />

terceirização e subcontratação de trabalhadores.<br />

12<br />

Os dados da pesquisa são apresentados em: DE LORENZO, F. Mulheres ganham 76% do salário pago aos homens,<br />

aponta Dieese. Valor Online, 02 mar. 2011. Disponível em: . Acesso em: 04 mar. 2011.


CIÊNCIAS SOCIAIS<br />

Figura 42 – Cortador de cana de Porto Rico<br />

Em análise pioneira sobre as transformações sociais que ocorreram no mundo desde os anos 1980,<br />

Harvey (2005) coloca que o desencadeamento de um processo de reestruturação produtiva gerou um<br />

novo modelo de acumulação de riquezas, no qual se excluiu a verticalização da produção. Assim, um<br />

novo processo de terceirização e subcontratação de mão de obra teve início.<br />

Nessa nova estrutura, na qual não há a certeza do lucro, todos têm acesso às tecnologias, o que<br />

torna a concorrência agressiva e avançada. Surge então a necessidade da redução de gastos e de uma<br />

gestão mais enxuta. Por fim, os investimentos se voltam para inovações tecnológicas que tenham efeitos<br />

racionalizadores, contribuindo, consequentemente, para o aumento do desemprego.<br />

Observação<br />

Com o advento da terceira revolução industrial e com o crescimento<br />

da utilização da Internet, a demanda e o fluxo de informação aumentaram<br />

exponencialmente. O conhecimento, a prestação de serviços e a mão de<br />

obra altamente especializada tornaram-se os novos focos do que hoje<br />

chamamos de pós-industrialismo.<br />

Segundo Castells (1999), os teóricos do pós-industrialismo afirmam que atualmente há:<br />

(...) a formação de uma nova estrutura social caracterizada pela mudança<br />

de produtos para serviços, pelo surgimento de profissões administrativas e<br />

especializadas, fim do emprego rural e industrial e pelo crescente conteúdo de<br />

informação do trabalho nas economias avançadas (CASTELLS, 1999, p. 224).<br />

Observação<br />

A precarização do trabalho pode ser entendida como o processo que envolve<br />

a degradação das condições de trabalho e emprego, sejam elas do trabalhador<br />

formal, informal, em tempo parcial ou temporário. O extremo da precarização é a<br />

própria ausência de trabalho vivenciada por aqueles que estão desempregados.<br />

77


Unidade II<br />

Desse modo, a fonte de produtividade e crescimento econômico se transfere da produção de<br />

mercadorias para a produção de conhecimentos. Quanto mais a economia de um país cresce, mais ela<br />

se volta para a prestação de serviços e, assim, a economia global aumenta a importância das profissões<br />

com grande conteúdo de informações e conhecimentos (CASTELLS, 1999).<br />

Para visualizar as transformações do setor produtivo e refletir sobre os impactos no mercado de<br />

trabalho, analisem os dados a seguir sobre a produção industrial brasileira:<br />

Tabela 02<br />

Período<br />

Dezembro 09/Novembro 09<br />

Dezembro 09/Dezembro 08<br />

Média móvel trimestral<br />

4º tri 2009/4º tri 2008<br />

Acumulado 2009<br />

Acumulado 2008<br />

Produção industrial<br />

-0,3%<br />

18,9%<br />

0,5%<br />

5,8%<br />

-7,4%<br />

3,1%<br />

Fonte: IBGE.<br />

Essas transformações conduziram à flexibilização dos processos de trabalho (just in time) e dos contratos<br />

de trabalho (terceirização), além de provocarem a descentralização do processo produtivo. As empresas<br />

passam a investir em automação e em redução de chefias intermediárias, o que resulta em redução de<br />

pessoal. Desse modo, o regime de trabalho é marcado pela instabilidade no posto, pelos baixos níveis<br />

salariais e pelo desemprego estrutural, considerado hoje um dos principais problemas sociais.<br />

Diante desse panorama, as empresas mudam o perfil do trabalhador desejado. O novo quadro do<br />

mercado de trabalho requer um funcionário de perfil polivalente, altamente qualificado e com maior grau de<br />

responsabilidade e de autonomia. O trabalhador necessário no mercado deve desenvolver sua criatividade, reciclarse<br />

permanentemente, possuir flexibilidade intelectual nas situações de constante mudança, ter capacidade de<br />

análise e comunicação e, ainda, priorizar atitudes de participação, cooperação e multifuncionalidade.<br />

6.2 Desemprego estrutural e informalidade<br />

As transformações ocorridas no trabalho não são consequências apenas dos novos padrões<br />

tecnológicos, mas são determinadas também através das mudanças ocorridas na política, na economia<br />

e na sociedade. Ao atingir os trabalhadores, essa reconfiguração traz a diminuição do operariado, o<br />

crescimento dos postos no setor de serviços e a terceirização, produzindo uma maior segmentação e<br />

pulverização dos trabalhadores (ANTUNES, 2002).<br />

Observação<br />

A classe que vive do trabalho é composta por todos aqueles que vendem<br />

sua força de trabalho em troca de salário. São eles:<br />

78


CIÊNCIAS SOCIAIS<br />

• Trabalhadores industriais;<br />

• Trabalhadores rurais;<br />

• Trabalhadores da área de serviços;<br />

• Trabalhadores terceirizados;<br />

• Trabalhadores temporários;<br />

• Trabalhadores em tempo parcial;<br />

• Trabalhadores informais;<br />

• Desempregados.<br />

Entre as ocupações não organizadas, destaca-se a crescente quantidade de trabalhadores temporários,<br />

de meio período, freelancers, autônomos, via correio eletrônico (e-mails), contratados e representantes<br />

independentes, além daquelas ocupações com ganhos flutuantes atrelados aos índices de desempenho.<br />

Nesse cenário, a ideia de um futuro previsível assentado em um emprego estável desaparece.<br />

Gráfico 01<br />

60<br />

Milhões<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Empregado<br />

Trabalhador<br />

doméstico<br />

Conta própria Empregador Não<br />

remunerado<br />

2006 2007 2008<br />

Trabalhador<br />

na produção<br />

para o próprio<br />

consumo<br />

Trabalhador<br />

na construção<br />

para o próprio<br />

uso<br />

Fonte: IBGE.<br />

Antunes (2002) considera que a precarização do trabalho levou a mutações nas quais poucos se<br />

especializaram e muitos ficaram sem qualificação suficiente para introduzir-se no mercado. Isso acabou por<br />

aumentar a fila dos desempregados e gerar uma classe de trabalhadores fragmentada entre trabalhadores<br />

qualificados e desqualificados, trabalhadores do mercado formal e informal, jovens e velhos, homens e<br />

mulheres, estáveis e precários, imigrantes e nacionais etc., isso sem mencionar as divisões que decorrem da<br />

inserção diferenciada dos países e de seus trabalhadores na nova divisão internacional do trabalho. Todo<br />

esse processo conduziu a uma destruição e/ou precarização sem precedentes em toda a era moderna.<br />

79


Unidade II<br />

Figura 43 – Carteira de Trabalho e Previdência Social<br />

Em expansão, o trabalho no setor informal conduz os trabalhadores a uma tarefa isolada. Muitas<br />

vezes, eles mesmos criam seu próprio trabalho, com possibilidade de mobilidade de atividades e<br />

de horários flexíveis. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) aponta que o setor informal já<br />

atinge cerca de 40% do mercado de trabalho na América Latina. A taxa de informalidade tem tido um<br />

crescimento superior ao do setor formal. Os processos de terceirização e a informalidade crescem sob a<br />

forma do trabalho por conta própria em microempresas e/ou em domicílio e esse fator tem obscurecido<br />

o desemprego. A economia informal é o destino de um grande contingente de trabalhadores que não<br />

conseguem inserção na pirâmide do mercado de trabalho formal 13 .<br />

A tendência geral de hierarquização do trabalho, fragilização dos vínculos e ascendente desigualdade<br />

remuneratória é colocada em evidência, o que aprofunda a fratura social, traz insegurança e torna a<br />

economia ineficiente, transformando-a num ciclo de desorganização social (DOWBOR, 2001).<br />

Antunes ressalta que vivemos o fim da centralidade do trabalho no mundo contemporâneo. A<br />

classe trabalhadora não é mais vista com uma potencialidade contestadora capaz de transformar o<br />

capitalismo e, além disso, há uma ampliação do contingente populacional excluído da produção de<br />

bens e serviços.<br />

A informalidade é apenas uma das formas de precarização: atualmente, ganha importância a<br />

escravidão contemporânea. A alta incidência de trabalho em condição análoga à escravidão conduziu a<br />

OIT a pronunciar que:<br />

A escravidão no Brasil contemporâneo existe. Apresenta-se de maneira<br />

mais sutil do que no século passado e, por isso mesmo, com características<br />

perversas. A característica mais visível do trabalho escravo é a falta de<br />

liberdade. As quatro formas mais comuns de cercear essa liberdade são:<br />

13<br />

No topo da pirâmide do mercado de trabalho está o emprego nobre no setor formal. Na parte intermediária,<br />

estão os trabalhadores que atuam em atividades terceirizadas mais ou menos instáveis e, na base da pirâmide, há uma<br />

massa de mão de obra que cai na economia ilegal ou subterrânea.<br />

80


CIÊNCIAS SOCIAIS<br />

servidão por dívida, retenção de documentos, dificuldade de acesso ao local<br />

e presença de guardas armados. Essas características são frequentemente<br />

acompanhadas de condições subumanas de vida e de trabalho e de absoluto<br />

desrespeito à dignidade de uma pessoa (OIT, 2003).<br />

Para refletir: com a crise estrutural do mercado de trabalho, como a classe social que necessita<br />

do trabalho sobreviverá? Que relação há entre a crise do emprego e o crescimento dos movimentos<br />

xenofóbicos pelo mundo?<br />

A xenofobia diz respeito ao medo natural (fobia, aversão) que o ser humano normalmente tem ao<br />

que lhe é diferente. Quando a economia vai bem, os migrantes são tolerados por serem necessários<br />

à reprodução do capital. Mas, aos primeiros sinais de crise econômica, são também os migrantes os<br />

primeiros a sentir as consequências. A crise mundial do mercado de trabalho, por exemplo, reflete o<br />

aumento dos movimentos xenofóbicos na Europa e nos Estados Unidos.<br />

Saiba mais<br />

Para saber mais sobre a configuração atual do trabalho no Brasil, acesse<br />

o site da sede brasileira da Organização Internacional do Trabalho (OIT),<br />

, e a página do Ministério do Trabalho e Emprego,<br />

que traz dados estatísticos sobre o emprego no país: .<br />

Além disso, leia o texto e assista aos filmes indicados a seguir para<br />

aprimorar ainda mais seus conhecimentos sobre o assunto:<br />

Texto:<br />

ROCHA, M. Mais comum nas áreas rurais, trabalho degradante cresce<br />

em obras. Folha de S.Paulo, São Paulo, 20 mar. 2011. Disponível em .<br />

Acesso em: 23 mar. 2011.<br />

Filmes:<br />

AS LOUCURAS de Dick e Jane. Dir. Dean Parisot. Estados Unidos. 2005. 90 min.<br />

O CORTE. Dir. Costa-Gravas. Bélgica/França/Espanha. 2005. 122 min.<br />

PÃO e Rosas. Dir. Kean Loach. Reino Unido/França/Espanha/Alemanha/<br />

Suécia. 2000. 120 min.<br />

81


Unidade II<br />

7 POLÍTICA E RELAÇÕES DE PODER: PARTICIPAÇÃO POLÍTICA E DIREITOS DO<br />

CIDADÃO<br />

Neste capítulo, discutiremos política, pois o Estado é uma instituição que tem forte presença na vida<br />

dos cidadãos comuns e, de um modo geral, é a ele que são dirigidas as críticas das mazelas produzidas<br />

pela sociedade. Nosso objetivo será o de possibilitar ao estudante uma reflexão sobre a complexidade do<br />

sistema político, discutindo seus fundamentos e pensando a política como prática social.<br />

7.1 Política, poder e Estado<br />

A palavra política entrou para o vocabulário do homem comum designando a atividade de um grupo<br />

social pouco confiável: os políticos profissionais. Porém, é preciso esclarecer que todos nós somos seres<br />

políticos e que política diz respeito a uma comunidade organizada e formada por cidadãos.<br />

Segundo Arendt (2003, p. 21): “a política trata da convivência entre diferentes”. Dessa maneira, todos<br />

estão envolvidos na política, mesmo aqueles que não se interessam ou preferem ignorar as decisões que<br />

são tomadas e interferem em suas vidas.<br />

O exercício do poder envolve uma relação de mando e obediência e se fundamenta na imposição<br />

de uma vontade sobre as outras vontades. O poder não está circunscrito somente no âmbito do Estado.<br />

As relações de poder estão presentes em todas as relações sociais. Por exemplo, na família, sempre<br />

existe a figura de alguém que exerce o poder e, nas empresas, todas as relações são marcadas por uma<br />

hierarquia.<br />

O Estado é uma instituição criada pelo homem com o intuito de proteger os seres humanos uns<br />

dos outros. Ele exerce seu poder através do uso das armas e das leis. Max Weber o define como uma<br />

estrutura política que tem o monopólio do uso legítimo da força física em determinado território. O<br />

Estado é visto como uma relação de homens dominando homens por meio de uma violência que é<br />

considerada legítima.<br />

Para que o Estado cumpra suas funções de garantir a ordem e proteger a sociedade para que esta<br />

não se desfaça, é necessário não apenas o exercício do poder, mas sua legitimidade. Essa legitimidade<br />

provém da aceitação desse poder pela sociedade.<br />

Para refletir: para que servem os partidos políticos? Haveria partidos se a sociedade não fosse<br />

partida? Os partidos políticos defendem interesses particulares, grupais ou gerais? Se os partidos políticos<br />

defendem somente os interesses de partes da sociedade, como alguns deles conseguem obter votos de<br />

toda a sociedade?<br />

Um partido político é uma associação de indivíduos que compartilham de interesses semelhantes e,<br />

nas democracias modernas, organizam-se para a disputa do controle do aparato de Estado, ou seja, do<br />

governo. Essa disputa é feita mediante processos eleitorais e o controle do governo permitirá que esses<br />

grupos de indivíduos atinjam seus objetivos.<br />

82


CIÊNCIAS SOCIAIS<br />

Para o sociólogo alemão Karl Marx, os partidos políticos estão intimamente relacionados às lutas<br />

de classe. Nas sociedades capitalistas, o contexto de exploração econômica cria antagonismos entre a<br />

burguesia e o proletariado. Ao se organizarem para a luta, as classes sociais formam partidos políticos e<br />

elegem líderes como seus porta-vozes. Muitos desses líderes são intelectuais e se inserem numa posição<br />

ambígua entre os dominantes e os dominados.<br />

Segundo o sociólogo e economista alemão Max Weber, o partido político é um dos fatores que<br />

modelam a estratificação nas sociedades (juntamente com as classes e o status). Entretanto, os partidos<br />

podem basear suas estratégias e propostas em preocupações que são transversais aos interesses das<br />

classes. Com isso, eles conseguem obter uma quantidade superior de votos de outras classes sociais que<br />

não a sua própria.<br />

Observação<br />

O que é esquerda e o que é direita?<br />

A origem dos termos esquerda (para representar partidos que propõem<br />

mudanças sociais radicais) e direita (para representar partidos que desejam<br />

a manutenção da situação social presente) remonta à Revolução Francesa:<br />

à época, os termos definiam as posições defendidas respectivamente pelos<br />

jacobinos e pelos girondinos.<br />

7.1.1 Interesses particulares, grupais e gerais<br />

Os partidos políticos nascem para defender interesses grupais, que são menores que os interesses<br />

gerais e maiores que os interesses pessoais. Contudo, como mencionado anteriormente, para ampliarem<br />

sua base de apoio eleitoral, os partidos políticos devem apelar para os interesses gerais da sociedade,<br />

incorporando demandas transversais. Por outro lado, como são dirigidos por elites políticas, é frequente<br />

os partidos tornarem-se instrumentos dos interesses pessoais de seus “caciques” ou “coronéis”.<br />

Para atingir o poder do Estado, uma classe social precisa apresentar seus interesses particulares<br />

de classe como se fossem os interesses de toda a sociedade. Com isso, um simples aumento salarial<br />

transforma-se numa luta pela democracia, a defesa de um monopólio comercial torna-se uma luta<br />

nacionalista pela soberania do país e assim por diante.<br />

Além da falta de consciência e politização dos eleitores, o uso dessas “máscaras políticas” pelos<br />

partidos é um dos fatores que explicam o motivo pelo qual um trabalhador pode votar num partido<br />

elitista e vice-versa.<br />

7.2 Democracia e cidadania<br />

O conceito de democracia surgiu na Grécia antiga e significa que todo o poder deve emanar do cidadão,<br />

ou seja, é um tipo de governo que nasce do povo e tem como objetivo atender aos interesses do povo.<br />

83


Unidade II<br />

Figura 44 – Manifestação política pela democracia nos Estados Unidos<br />

De uma forma mais específica, em nossa sociedade a democracia se manifesta através de um sistema<br />

eleitoral onde o povo escolhe seus representantes. Outro elemento fundamental do regime democrático<br />

é a liberdade de ir e vir, a liberdade de expressão e a liberdade de organização.<br />

Vieira (2005) afirma que:<br />

A ideia republicana de cidadania se inspirou na democracia grega e na<br />

república romana, buscando a liberdade civil dos antigos: liberdade<br />

de opinião, de associação e também de decisão política (VIEIRA, 2005,<br />

p. 29).<br />

Dessa forma, os direitos civis são direitos de todos, pois, como consagrado pela Revolução Francesa,<br />

todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos.<br />

Cidadania diz respeito ao direito de qualquer membro da sociedade de participar da vida pública.<br />

Segundo o artigo quinto da Constituição Brasileira, somos todos iguais perante a lei, sem distinção de<br />

qualquer natureza, sendo garantido a todos o direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à<br />

propriedade.<br />

7.3 Participação política<br />

Ninguém escapa da política. Quem não se envolve diretamente nos acontecimentos são envolvidos<br />

indiretamente em suas consequências, pois todo ato humano em sociedade é político, inclusive o ato<br />

de omissão.<br />

A participação política não se restringe ao voto em período eleitoral. Existem outras formas de<br />

exercício político como, por exemplo, os sindicatos e os movimentos sociais.<br />

84


CIÊNCIAS SOCIAIS<br />

Figura 45 – Urna eletrônica do Brasil<br />

Saiba mais<br />

A seguir, indicações de textos e filmes que aprimoram os conceitos de<br />

democracia, cidadania e participação política:<br />

Textos:<br />

CANTARINO, C. O que os brasileiros pensam sobre a democracia?.<br />

ComCiência, Campinas, n. 67, jul. 2005. Seção Reportagens. Disponível em<br />

. Acesso em:<br />

28 jan. 2011.<br />

MOURA, L. L. L. Democracia e sociedade civil no Brasil. Revista Urutágua:<br />

revista acadêmica multidisciplinar, Maringá, n. 21, maio/ago. 2010.<br />

Disponível em . Acesso em: 08 jan. 2011.<br />

Filmes:<br />

A REVOLUÇÃO dos bichos. Dir. John Stephenson. Inglaterra. 1999. 89 min.<br />

O ANO em que meus pais saíram de férias. Dir. Cão Hambúrger. Brasil.<br />

2006. 106 min.<br />

O GRANDE ditador. Dir. Charles Chaplin. Estados Unidos. 1940. 128 min.<br />

VOCAÇÃO para o poder. Dir. Eduardo Escorel. Brasil. 2004. 110 min.<br />

85


Unidade II<br />

8 AS QUESTÕES URBANAS E OS MOVIMENTOS SOCIAIS<br />

A cidade é considerada um local privilegiado para análise da mudança social e revela<br />

o custo do desenvolvimento econômico. Como expressão das relações sociais, a cidade<br />

expressa as desigualdades, pois o lugar que o indivíduo ocupa nela é dado por sua condição<br />

econômica.<br />

A concentração da população pobre em bairros periféricos revela os efeitos devastadores<br />

da aglomeração urbana. A organização do espaço da cidade segue a lógica da valorização<br />

imobiliária, onde os mais pobres são encaminhados para bairros longínquos onde não há recursos<br />

de infraestrutura tais como água, saneamento básico, assistência médica pública e gratuita,<br />

educação e outros elementos necessários para a existência de qualidade de vida. A formação da<br />

multidão é um fenômeno das áreas urbanas que causa a exposição das necessidades das massas<br />

despossuídas.<br />

Atualmente, 80% da população vivem em áreas urbanas. Nos anos 1950, dois terços da população<br />

estavam no campo. Em termos de emprego, a mesma dinâmica que expulsou a mão de obra para<br />

as cidades, criando as imensas periferias caóticas e miseráveis, hoje reduz a própria base urbana de<br />

emprego.<br />

Verifiquem a seguir os dados referentes à distribuição da população brasileira entre as áreas rural e<br />

urbana:<br />

Gráfico 02 – Proporção da população por situação de domicílio (1980-2000)<br />

Fonte: IBGE.<br />

Quais são as consequências sociais da concentração da população nas áreas urbanas? A concentração<br />

de pessoas nessas áreas gera efeitos devastadores. A formação de bairros periféricos destaca a carência de<br />

serviços públicos de infraestrutura e coloca em evidência as duas faces do desenvolvimento econômico:<br />

a opulência e a miséria.<br />

86


CIÊNCIAS SOCIAIS<br />

Segundo a ONU, em 2007 a população urbana se igualou à população rural no mundo. O processo<br />

de urbanização é visto por especialistas como inevitável e cabe às cidades o preparo para receber a<br />

população rural que cada vez mais tende a deixar o campo.<br />

Lembrete<br />

O processo de urbanização é uma manifestação da modernização da<br />

sociedade, que passa por uma transição do rural para o urbano-industrial.<br />

Os migrantes, de um modo geral, buscam progresso através da mobilidade social oferecida pela<br />

urbanização.<br />

8.1 A cidade e seus problemas<br />

Os problemas nas áreas urbanas são inúmeros. A ausência de um planejamento que permita receber<br />

os contingentes populacionais leva à formação de bairros periféricos onde os serviços públicos são<br />

ausentes, as condições de moradia são precárias e as distâncias dos bairros centrais são grandes.<br />

Para Araújo (2009), o grande êxodo rural das últimas décadas conduziu ao crescimento desordenado<br />

das cidades brasileiras, que não contavam com uma infraestrutura adequada para receber esse contingente<br />

vindo do campo. O geógrafo Milton Santos relata que “o problema crítico das cidades é que elas se tornam<br />

cidades sem cidadãos” (apud ARAÚJO, 2009, p. 190). As carências dos bairros periféricos das grandes cidades<br />

constituem um obstáculo para a participação da população pobre na vida pública. No texto supracitado,<br />

Araújo cita a autora Dowbor, que reconhece “ser pequeno o poder de pressão dos mais pobres, que não<br />

conseguem interferir nas prioridades estabelecidas pelo poder público” (apud ARAÚJO, 2009, p. 191).<br />

Figura 46 – Favela em Belo Horizonte, Minas Gerais<br />

8.2 Violência urbana<br />

A violência tem se constituído em um dos principais problemas das áreas urbanas. Assaltos, crimes<br />

e assassinatos, que apontam para as condições degradantes da vida urbana, têm sido frequentes em<br />

87


Unidade II<br />

muitas cidades. Essa situação provoca insegurança social, destruição e/ou depredação física e profundos<br />

abalos morais, além de gerar elevados custos com serviços policiais e equipamentos de segurança.<br />

Há um certo consenso entre sociólogos de que o crescimento desordenado das cidades está<br />

relacionado à violência. As condições precárias de moradia e a falta de acesso à educação de qualidade<br />

e à assistência médica estão entre as razões desse fenômeno social.<br />

Figura 47 – Mapa da violência<br />

8.3 Movimentos sociais<br />

Nos aproximamos do final deste trabalho e já é possível perceber que a sociedade capitalista é<br />

complexa e marcada por jogos de interesses entre classes sociais, crises morais, crescimento da burocracia,<br />

lutas pelo poder etc.<br />

Neste capítulo, analisaremos como a sociedade se organiza em movimentos coletivos com o intuito<br />

de promover ou resistir aos processos de mudança.<br />

Os movimentos sociais expressam os conflitos existentes na sociedade e, assim, procuraremos<br />

explorar a partir de agora a dinâmica desses conflitos e as transformações ocorridas no final do século<br />

XX e início do XXI.<br />

Os movimentos sociais contribuem para que haja transformações na sociedade. Entre eles,<br />

podemos citar o movimento feminista, o movimento ambientalista e o movimento pacifista,<br />

88


CIÊNCIAS SOCIAIS<br />

que possuem ideais que contribuíram e contribuem para mudanças significativas nas relações<br />

sociais.<br />

Observação<br />

Por movimentos sociais entende-se as “ações de grupos sociais<br />

organizados que buscam determinados fins estabelecidos coletivamente e<br />

tem como objetivo mudar ou manter as relações sociais” (FERREIRA, 2001,<br />

p. 146).<br />

Os estudos sobre os movimentos sociais inserem-se na linha de reflexão sobre a possibilidade das<br />

mudanças sociais e a importância desses movimentos nesses processos transformadores deve ser<br />

analisada a partir de diferentes perspectivas.<br />

Os movimentos sociais podem ser divididos em dois tipos: os movimentos que buscam a emancipação<br />

e os movimentos que buscam a manutenção da ordem existente.<br />

Os estudos orientados por uma perspectiva de análise positivista tendem a considerar os movimentos<br />

sociais como evidência de uma situação de anomia, atribuindo ao Estado o papel de conter a ação<br />

dos grupos a fim de manter a ordem social. Para os analistas de inspiração marxista, os movimentos<br />

sociais são expressão das contradições presentes na sociedade e representam fator importante para as<br />

mudanças sociais.<br />

Em todas as sociedades e épocas, há registros de movimentos sociais. Isso indica que a existência<br />

desses movimentos é inerente ao fato de vivermos em sociedade e de nela haver lutas entre segmentos<br />

que buscam mudanças ou a manutenção da ordem.<br />

A origem e a natureza dos movimentos são muito diversificadas, entretanto, os membros do grupo<br />

costumam ser homogêneos. Eles podem ser compostos por um grande ou um pequeno número de<br />

pessoas e elas podem provir, por exemplo, de uma empresa, de um bairro, de uma religião, de uma etnia,<br />

de uma nação inteira ou até mesmo de todo o planeta.<br />

Geralmente, o que movimenta os grupos é a causa ou o objetivo em comum e, para tanto, realizam<br />

uma série de atividades organizadas por pessoas que trabalham em conjunto para alcançar um<br />

determinado fim. Portanto, o fato de existir um propósito em comum é o que dá sentido e coesão aos<br />

movimentos sociais.<br />

Há uma tendência em nossa sociedade de criminalizar os grupos que se organizam em defesa de seus<br />

interesses. Contudo, é preciso considerar que os movimentos sociais procuram interferir na elaboração<br />

das políticas públicas das áreas econômica, social e cultural, algo que o indivíduo isoladamente não<br />

conseguiria.<br />

89


Unidade II<br />

Para Manuel Castells (2001), todos os movimentos sociais refletem a sociedade e entram em choque<br />

com as estruturas sociais. O autor os define como:<br />

Chamamos de movimentos sociais a todas as formas de mobilização<br />

de membros da sociedade que têm um objetivo comum explícito. Os<br />

movimentos sociais são o objetivo por excelência da sociologia dinâmica,<br />

permitindo o estudo dos processos sociais e das mudanças (CASTELLS,<br />

2001, p. 400).<br />

Ou seja, as atividades exercidas pelos movimentos sociais servem como objeto de estudo para todas<br />

as áreas de conhecimento. Os sociólogos, em especial, através da realização de pesquisas e estudos,<br />

constataram que a existência ou ausência de dinamicidade em uma determinada sociedade é justamente<br />

gerada pelos movimentos sociais.<br />

A ideia de conflito associado à ação coletiva constitui um elemento importante para a compreensão<br />

dos movimentos sociais. Não se deve confundir um movimento social com turbas (ações de multidões<br />

voltadas para depredações e linchamentos), pois estas não possuem claramente objetivos em comum<br />

ou sistemas de organização.<br />

Os movimentos sociais expressam conflitos de classes, resistência à autoridade e pressão sobre o<br />

sistema institucional. Eles são consequência das tensões cotidianas e fruto de esforços coletivos para<br />

superar uma situação indesejada.<br />

8.3.1 Características dos movimentos sociais: identidade, oposição e totalidade<br />

Touraine (1977) expõe que:<br />

Um movimento social não é a expressão de uma intenção ou de uma<br />

concepção do mundo. Não é possível falar de um movimento social se não<br />

se pode, ao mesmo tempo, definir o contramovimento ao qual ele se opõe<br />

(apud FORACCHI e MARTINS, 1977, p. 344).<br />

Nesse sentido, o que define os movimentos sociais é a combinação entre os princípios de identidade,<br />

de oposição, de totalidade e de atuação coletiva nas ações da história.<br />

Segundo Touraine (apud FORACCHI e MARTINS, 1977, p. 345), o princípio de identidade “é a definição<br />

do ator por ele mesmo. Um movimento social só pode se organizar se esta definição é consciente”. Essa<br />

consciência geralmente precede a formação do movimento.<br />

A identidade refere-se à autoidentificação, ou seja, a quem fala e em nome de quem, ao que<br />

representa e significa o movimento perante a sociedade, qual é o problema a ser resolvido etc.<br />

90<br />

Portanto, a definição da identidade do movimento diz respeito ao grupo social<br />

que representa: estudantes? Mulheres? Sem terras? É preciso que as pessoas


CIÊNCIAS SOCIAIS<br />

se percebam enquanto oprimidos com interesses comuns. A identidade<br />

é elemento fundamental para que os indivíduos ajam coletivamente<br />

(FORACCHI e MARTINS, 1977, p. 345).<br />

O princípio de oposição é essencial no sentido de identificar o adversário, pois um movimento só se<br />

organiza caso o opositor possa ser apontado. Além disso, é somente a partir do conflito que o adversário<br />

surgirá e isso formará a consciência dos participantes do grupo.<br />

Assim, é necessário que o movimento saiba claramente contra quem e/ou o que se opõe e<br />

saiba também quais grupos sociais terá de enfrentar. Contra quem e/ou o que lutam o Movimento<br />

Sem Terra, o movimento sindical urbano, o movimento feminista e o movimento estudantil, por<br />

exemplo?<br />

O princípio de totalidade diz respeito ao caráter das reivindicações do grupo. Por exemplo, as<br />

reivindicações do movimento sindical vão além do aumento de salário, luta-se pelos direitos sociais. O<br />

movimento estudantil vai além das reivindicações específicas de um grupo, luta-se pela melhoria da<br />

qualidade de ensino para todos. Nesse sentido, as bandeiras de lutas adquirem conotação de defesa de<br />

princípios e valores básicos da sociedade.<br />

Todo movimento social está inserido num campo histórico, em um contexto social. Isso<br />

significa que tanto as pessoas que dele fazem parte como seus adversários tomam atitudes no<br />

decorrer do movimento que são parte de um todo. Nada ocorre de forma isolada, mas há uma<br />

dependência do outro que acaba por interferir no campo de ação histórica sob a forma de uma<br />

atuação coletiva.<br />

Alienação<br />

Touraine ainda relata que, nos movimentos sociais, a alienação está relacionada às chamadas classes<br />

sociais, isto é, àquelas que dominam e àquelas que são dominadas. Para o autor:<br />

Alienação seria como o desabrochar da consciência individual ou coletiva,<br />

submetida à atração contraditória da participação dependente e da<br />

consciência de classe. A primeira impede considerar a sociedade como<br />

um conjunto de relações sociais e impõe a imagem de uma ordem moral,<br />

à qual se deve adaptar para não se tornar culpado. A segunda impede<br />

esta adaptação e produz a recusa na falta de conflito. Isto envolve a<br />

consciência alienada em um isolamento que só pode ser destruído pela<br />

agressão contra a ordem estabelecida (apud FORACCHI e MARTINS, 1977,<br />

p. 357).<br />

A consciência do povo pode ser dominada pela alienação quando os movimentos sociais não são<br />

formados. Geralmente, a luta de um movimento não se dá somente contra seu adversário, mas antes de<br />

tudo se dá contra a própria apatia do grupo. É por isso que é normal encontrar grupos que são incapazes<br />

de lutar contra eles mesmos ou lutam de forma alienada.<br />

91


Unidade II<br />

Figura 48 – Multidão diante do palácio Quirinal, em Roma, entre 1910 e 1915<br />

Assim, há nas sociedades uma dialética entre as classes sociais. Touraine esclarece que:<br />

As formas de decomposição dos movimentos sociais<br />

A [classe] superior é dirigente e dominante ao mesmo tempo, ela cria modelos<br />

culturais e a organização social e também submete toda a sociedade aos<br />

seus interesses particulares. Já a classe popular é ao mesmo tempo defensiva<br />

e progressista. Defensiva porque participa de modo dependente da atividade<br />

econômica e progressista porque contesta a identificação do sistema de<br />

ação histórica com os interesses e a ideologia da classe dominante, ou seja,<br />

sem o progressismo, não poderia haver movimentos sociais (apud FORACCHI<br />

e MARTINS, 1977, p. 359).<br />

Um movimento social pode se transformar em um transmissor de valores ou em um transmissor de<br />

contradições.<br />

Todo movimento social deve ser portador de uma ideologia, de uma organização e de uma liderança.<br />

Eles podem ser constituídos por grupos que têm objetivos em comum e são minuciosamente organizados<br />

sob uma direção central, como o Movimento Sem Terra, por exemplo. O grau de organização de um<br />

movimento como o Movimento Sem Terra surgiu do próprio crescimento do número de adeptos da<br />

causa, espalhados por todo o país.<br />

8.4 A sociedade em movimento<br />

Entre 1850 e 1940, o movimento feminista lutou pelo direito ao voto, à educação e ao emprego. O<br />

código eleitoral de 1932 restringia o direito de voto às mulheres casadas que tivessem autorização dos<br />

maridos e a algumas solteiras ou viúvas com renda própria.<br />

Em 1934, o voto obrigatório foi limitado apenas às mulheres que exerciam cargo público<br />

em funções remuneradas. Nos anos 1960, o movimento feminista reivindicou direitos iguais aos<br />

92


CIÊNCIAS SOCIAIS<br />

dos homens na educação e no emprego, a eliminação da violência sexual e o direito ao controle<br />

reprodutivo.<br />

As mudanças nos padrões culturais da sociedade industrial e o aumento da participação feminina<br />

no mercado de trabalho contribuíram para a eclosão do movimento feminista. A partir dos anos 1950,<br />

os jovens se rebelaram contra os padrões culturais vigentes, o que culminou com o movimento hippie e<br />

outros movimentos pacifistas. Ainda, o crescente processo de politização da juventude contribuiu para<br />

que o movimento estudantil ganhasse evidência.<br />

O crescimento da urbanização brasileira permitiu a eclosão dos movimentos sociais urbanos ligados<br />

à luta por saúde, habitação e educação. Esses movimentos são associados à luta dos setores populares<br />

pela sobrevivência.<br />

Em análise sobre os movimentos sociais urbanos surgidos no Brasil a partir dos anos de 1980, Cardoso<br />

(1984) indica que esses movimentos buscavam valorizar a autonomia, a ação direta e a igualdade entre<br />

seus membros.<br />

Santos (2001) chama atenção para o que denomina novos movimentos sociais, que identificam<br />

formas de opressão não baseadas exclusivamente nas relações econômicas. Esses novos movimentos<br />

podem ser exemplificados com as lutas sociais contra o machismo, o racismo etc. e, desse modo, sua<br />

atuação não está pautada somente na busca pelo bem-estar material.<br />

Os movimentos sociais contemporâneos podem ser divididos em movimentos de interesses<br />

específicos de um grupo social como, por exemplo, o movimento das mulheres e dos negros e, também,<br />

em movimentos de interesses difusos, como a ecologia e o pacifismo. Lutando por causas subjetivas,<br />

esses movimentos buscam emancipação pessoal e não social, por isso, verifica-se certo distanciamento<br />

desses grupos do Estado, dos partidos e dos sindicatos.<br />

Observação<br />

A luta pela reforma agrária sempre foi uma reivindicação que uniu<br />

camponeses. Desde os anos 1980, o Movimento dos Trabalhadores Rurais<br />

Sem Terra (MST) ocupa terras no campo e encontra adeptos em todo o país.<br />

8.4.1 O movimento feminista<br />

No Brasil, os movimentos sociais ganharam evidência no período crítico da ditadura militar, entre<br />

meados dos anos 1970 e 1980. Esses movimentos tiveram como característica a valorização das ações<br />

cotidianas, com forte influência de grupos ligados à igreja e à atuação de intelectuais.<br />

Os movimentos significativos desse período foram o movimento contra a carestia, o movimento<br />

contra o desemprego, o movimento popular de saúde e o movimento pela anistia.<br />

93


Unidade II<br />

94<br />

Há uma tendência em nossa sociedade de criminalizar, em termos éticos ou políticos, os grupos que<br />

se organizam em defesa de seus interesses. Porém, é preciso levar em consideração que esses grupos<br />

buscam transformar um contexto social que se mostra incoerente e opressor frente aos direitos que o<br />

cidadão tem.<br />

O movimento feminista gerou e ainda gera mudanças comportamentais. É um movimento que<br />

desde fins do século XIX apresenta lutas, dinâmicas e desafios e é reconhecido tanto nacional como<br />

internacionalmente por ajudar a mulher a ganhar espaço na sociedade.<br />

Claro está que esse movimento não se desenvolveu isoladamente, alheio ao contexto mundial, mas<br />

esteve presente nas relações com o feminismo latino-americano e com as novas dinâmicas em contextos<br />

mais amplos como o internacional.<br />

Segundo Céli Regina Jardim Pinto (2003), o feminismo teve inicialmente três vertentes:<br />

• A primeira vertente teve como foco o movimento sufragista e, por extensão, a luta pelos direitos<br />

políticos da mulher;<br />

• A segunda vertente do feminismo reuniu uma gama heterogênea de mulheres (intelectuais,<br />

anarquistas e líderes operárias) que, além do direito político, defenderam o direito à educação e<br />

falaram em dominação masculina, abordando temas que eram delicados para a época, tais como<br />

a sexualidade e o divórcio;<br />

• A terceira vertente se manifestou especificamente no movimento anarquista e no Partido<br />

Comunista.<br />

Com o golpe de 1937 no Brasil, houve um longo período de refluxo do movimento feminista que se<br />

estendeu até as primeiras manifestações nos anos 1970. No entanto, isso não significou que, durante<br />

esse longo período, as mulheres não tiveram nenhum papel no mundo público, pelo contrário, houve<br />

momentos importantes de participação da mulher como, por exemplo, o movimento no início da década<br />

de 1950 contra a alta do custo de vida.<br />

O novo feminismo nasceu da ditadura. A emergência do feminismo em pleno governo Médici<br />

determinou que ele surgisse dentro do país e também no exílio. O feminismo no Brasil se fortaleceu com<br />

o evento organizado para comemorar o Ano Internacional da Mulher. Realizado no Rio de Janeiro sob o<br />

título O papel e o comportamento da mulher na realidade brasileira, o evento teve criação do Centro de<br />

Desenvolvimento da Mulher Brasileira.<br />

O ano de 1975 foi também o da organização do Movimento Feminino pela Anistia, fundado por<br />

Terezinha Zerbini. As mulheres exiladas nos Estados Unidos e na Europa voltavam para o Brasil trazendo<br />

uma nova forma de pensar sua condição de mulher: os papéis de mãe, companheira e esposa submissa<br />

e dócil não mais serviam.<br />

Na década de 1980, o movimento feminista enfrentou a redemocratização. A partir de 1985, foram<br />

criadas as delegacias da mulher. Entretanto, o feminismo, as feministas e as delegacias da mulher não


CIÊNCIAS SOCIAIS<br />

resolveram a questão da violência, mas a criação das delegacias foi um avanço na medida em que a<br />

mulher passou a ser reconhecida como vítima de violência.<br />

Na década de 1990, um grande número de Organizações não Governamentais (ONGs) apareceu,<br />

profissionalizando o movimento feminista e marcando uma expressão mais pública do feminismo na<br />

virada do século.<br />

Para refletir: quais são as reivindicações ligadas ao movimento feminista atualmente? Essas<br />

reivindicações estão sendo discutidas pela sociedade? Quais foram as principais conquistas obtidas por<br />

esse movimento?<br />

Podemos afirmar que o movimento feminista desde seu início gerou mudanças<br />

comportamentais e a mulher conquistou espaço tanto em países desenvolvidos como<br />

nos subdesenvolvidos. Essas transformações têm sido objeto de estudo de várias áreas de<br />

conhecimento no mundo.<br />

Figura 49 – Entidades feministas promovem manifestação contra a CPI do Aborto em frente ao plenário da Câmara em Brasília (2008)<br />

Cabe destacar que, historicamente, o movimento feminista recebeu apoio das mulheres da classe<br />

média, pois as mulheres da classe trabalhadora sempre se encontraram submersas na luta pela<br />

sobrevivência. A grande contribuição do movimento feminista é a evocação a valores democráticos e<br />

igualitários.<br />

8.4.2 O movimento ambientalista<br />

Os movimentos sociais que defendem a preservação do meio ambiente ganharam projeção global<br />

no final do século XX. São inúmeros os grupos que se voltam para questões que envolvem toda a<br />

humanidade e atuam internacionalmente, já que as ameaças ao meio ambiente não têm fronteiras.<br />

A ação do movimento ambientalista nas últimas décadas deve-se à ampliação da consciência<br />

ecológica no planeta em meio aos efeitos adversos do desenvolvimento industrial e da sociedade voltada<br />

para o consumo.<br />

95


Unidade II<br />

96<br />

Esse movimento tem estimulado mudanças comportamentais e sociais na população não só no<br />

Brasil, mas no mundo todo. Seus objetivos são planetários, com foco principal na transformação das<br />

relações entre o homem e a natureza.<br />

O movimento ambientalista trabalha a partir da conscientização do homem frente aos prejuízos<br />

causados pela destruição da natureza e, ao mesmo tempo, busca mostrar as vantagens ao preservá-la.<br />

É um movimento que, através de atitudes culturais, tenta indicar os prejuízos causados, por exemplo,<br />

pelas queimadas das florestas e pela poluição dos rios e mares.<br />

Como se sabe, a natureza vem sendo devastada pelo homem há várias gerações. O<br />

capitalismo selvagem estimula o ser humano a praticar ações em nome da ganância pela<br />

riqueza e pelo poder. Essas ações deixam um rastro de destruição dos bens naturais. O<br />

homem passa a queimar florestas inteiras para transformá-las em pastagens, a cortar árvores<br />

para transformá-las em móveis, a transformar rios em depósitos de lixo. Essas atitudes se<br />

enraízam em determinadas culturas, principalmente nos países subdesenvolvidos, já que<br />

estes contam com a ausência de projetos adequados que informem e eduquem a população<br />

em relação à natureza.<br />

O movimento ambientalista faz denúncias em prol da preservação do meio ambiente e<br />

também luta pela manutenção de uma vida humana saudável. Uma das grandes bandeiras do<br />

movimento ambientalista é a luta contra a produção de alimentos transgênicos, por exemplo,<br />

já que considera importante que os consumidores tenham conhecimento sobre os produtos que<br />

compram.<br />

De acordo com a legislação vigente, todos os produtos fabricados com mais de 1% de<br />

organismos geneticamente modificados devem trazer essa informação no rótulo. Isso vale inclusive<br />

para produtos como o óleo, a maionese e a margarina, em que não é possível detectar o DNA<br />

transgênico.<br />

Desse modo, o que podemos afirmar é que determinados problemas sociais estão sendo<br />

apontados por diversos movimentos, com o objetivo de que sejam resolvidos e, assim, seja possível<br />

um melhor entendimento da sociedade, mesmo que seja necessário a mudança de algumas atitudes<br />

culturais.<br />

Castells coloca que:<br />

Estamos entrando em um novo estágio em que a cultura refere-se à<br />

cultura, tendo suplantado a natureza a ponto de a natureza ser renovada<br />

(“preservada”) artificialmente como uma forma cultural: de fato, este é o<br />

sentido do movimento ambiental, reconstruir a natureza como uma forma<br />

cultural ideal (CASTELLS, 1999, p. 573).<br />

Por fim, temos que entender que a preservação da natureza tem que se converter em um fator<br />

cultural e ser inserida no cotidiano até se tornar um hábito.


CIÊNCIAS SOCIAIS<br />

8.5 Movimentos da sociedade em rede<br />

O fenômeno da globalização trouxe para as sociedades contemporâneas a expansão das novas<br />

tecnologias, que influenciaram radicalmente na redefinição dos conceitos entre as fronteiras<br />

espaço-tempo, das formas de ação e de interação e dos formatos de relações sociais com as pessoas<br />

e consigo próprio, o que fez com que se ampliassem as relações dos membros dos movimentos<br />

sociais e fossem amenizados os limites geográficos existentes antes do surgimento dessas novas<br />

mídias.<br />

Hoje, as alternativas com relação à forma de obtenção de informação aumentaram. É possível<br />

acessar qualquer tipo de conteúdo de qualquer lugar do planeta com apenas um pequeno aparelho<br />

celular que cabe em nossas mãos. Atualmente, podemos facilmente adquirir qualquer tipo de<br />

informação que antes era controlada e limitada aos canais tradicionais e às grandes corporações e<br />

instituições.<br />

As novas tecnologias trazem consigo um espaço público que permite novos caminhos para a<br />

interação política, social e econômica, principalmente pelo fato de que, a partir delas, qualquer cidadão<br />

pode assumir simultaneamente uma variedade enorme de papéis – como cidadão, militante, editor,<br />

distribuidor, consumidor etc. –, superando as barreiras geográficas e, até certo ponto, as limitações<br />

econômicas (MACHADO, 2004).<br />

As atuais tecnologias inovadoras possibilitam a ampliação dos modelos com os quais se constroem<br />

as experiências humanas, se percebe a realidade e se organiza um movimento social.<br />

A seguir, algumas características dos movimentos sociais diante das novas tecnologias:<br />

• Proliferação e ramificação: a rapidez e o acesso às novas tecnologias de informação geraram<br />

uma proliferação e uma integração estratégica e eficiente. Novas formas de alianças se basearam<br />

no desejo de participação da comunidade e foram incentivadas pela relação custo-benefício<br />

impostas pelas grandes corporações. Isso fez com que as formas de mobilização, participação<br />

e acesso à informação aumentassem, crescendo inclusive as ramificações dos movimentos<br />

sociais.<br />

• Horizontalidade e flexibilidade: as novas tecnologias promovem maior horizontalidade, na medida<br />

em que diminuem-se as hierarquias, e flexibilidade, pois se produzem nós conectados a um número<br />

imenso de microrredes e eles podem ser instantaneamente ativados.<br />

• Tendência crescentemente em forma de redes: gira em torno de interesses comuns e de alcance<br />

mundial.<br />

• Existência dinâmica ou segundo os fatos: os movimentos que se organizam em torno de<br />

reivindicações específicas e se utilizam das novas tecnologias possuem grande dinamismo, ou<br />

seja, podem se transformar e se expandir a fatos políticos.<br />

• Local físico do movimento: não existe um lugar físico, próprio para encontros ou discussões. Os<br />

encontros geralmente acontecem na rede.<br />

97


Unidade II<br />

98<br />

• Universalismo e particularismo das causas: as causas podem ser universais ou particulares<br />

dentro de um grupo, assim, grupos grandes ou pequenos podem lutar por um mesmo<br />

objetivo.<br />

Podemos afirmar que o uso das novas tecnologias de informação e de comunicação proporciona a<br />

circulação de um grande número de informação. Isso ocasiona grandes mobilizações a partir de centenas<br />

de ligações que vão sendo realizadas na rede.<br />

Novos relacionamentos foram constituídos. Os meios possibilitaram a interação de pessoas em<br />

âmbito local, nacional ou internacional, o que não quer dizer que houve uma unificação dos movimentos<br />

sociais. Segundo Castells:<br />

Os movimentos sociais tendem a ser fragmentados, locais, com objetivo<br />

único e efêmero, encolhido em seus mundos interiores ou brilhando por<br />

apenas um instante em um símbolo da mídia. Nesse mundo de mudanças<br />

confusas e incontroladas, as pessoas tendem a reagrupar-se em torno<br />

de identidades primárias: religiosas, étnicas, territoriais, nacionais. O<br />

fundamentalismo religioso – cristão, islâmico, judeu, hindu e até budista (o<br />

que parece uma contradição de termos) – provavelmente é a maior força<br />

de segurança pessoal e mobilização coletiva nestes tempos conturbados.<br />

Em um mundo de fluxos globais de riqueza, poder e imagens, a busca de<br />

identidade, coletiva ou individual, atribuída ou construída, torna-se a fonte<br />

básica de significado social (CASTELLS, 1999, p. 41).<br />

Esses meios de comunicação podem contribuir para a articulação de grupos que portam as mesmas<br />

ideologias e se encontram dispersos pelo planeta, surgindo daí a potencialidade de movimentos sociais<br />

com estruturas globais.<br />

Outra coisa que esses novos meios têm proporcionado é a desterritorialização do espaço público.<br />

Quem trata desse assunto é o pesquisador e filósofo Pierry Lévy (2003). Ele afirma que:<br />

A emergência das comunidades virtuais – gerais ou específicas, comerciais<br />

ou militares, ocasionais ou duráveis – constitui um dos maiores<br />

acontecimentos sociológicos dos cinco últimos anos. Essas comunidades<br />

virtuais podem duplicar comunidades já existentes, tais como empresas,<br />

cidades ou associações, mas podem também se constituir de maneira<br />

original no ciberespaço a partir de uma vontade de comunicação em torno<br />

de “pontos comuns”, quaisquer que sejam, entre internautas (LÉVY, 2003,<br />

p. 372).<br />

Assim, não precisamos mais de um espaço físico definido ou um território, os novos meios permitem<br />

o rompimento de fronteiras e tabus. Já é possível encontrarmos na rede os mais variados assuntos<br />

possíveis: religião, feminismo, homossexualismo, pobreza, exclusão social, abandono, crianças de rua,<br />

deficiência física, meio ambiente, reciclagem, sexo etc. Tornou-se difícil acompanhar o crescimento


CIÊNCIAS SOCIAIS<br />

do fluxo dessas informações, tendo em vista que a cada momento surge um novo grupo, um novo<br />

movimento, uma nova comunidade virtual.<br />

Os movimentos sociais ganharam com as novas tecnologias potencialidades de organização e<br />

mobilização jamais vistas, podendo unir forças, pressionar governos e partidos políticos etc. Ao mesmo<br />

tempo em que conseguem realizar essa pressão, se projetam no espaço social e, ao mostrar maior<br />

transparência, ganham credibilidade.<br />

Maria da Glória Gohn (1997) identifica essa realidade em sua teoria dos movimentos sociais:<br />

O tempo se altera em função dos novos meios de comunicação. A mídia,<br />

principalmente a TV e os jornais da grande imprensa, passa a ser um grande<br />

agente de pressão social, uma espécie de quarto poder, que funciona como<br />

termômetro do poder de pressão dos grupos que têm acesso àqueles meios.<br />

As Organizações Não Governamentais, por sua vez, ganham proeminência<br />

sobre as instituições oficiais quanto à confiabilidade na gerência dos recursos<br />

públicos (GOHN, 1997, p. 296).<br />

Sem dúvida, a grande mídia (rádio, jornal e TV) sempre fez e continua a fazer pressões em relação<br />

aos movimentos sociais, pois existe um dono da emissora e é ele quem disponibiliza a informação<br />

para seu público. Isso ocorre ao passo que a procura pela informação na internet acontece de forma<br />

diferenciada: é o sujeito que vai à informação. Assim, verifica-se a existência de um diálogo entre o<br />

sujeito e o meio de comunicação, ou seja, há uma interatividade, o que não acontece com os meios de<br />

comunicação de massa. A Internet não é mais um meio de comunicação dirigindo-se a muitos, mas<br />

sim a uma comunidade distribuída por toda parte num mundo de ouvintes, espectadores, leitores e<br />

contribuintes.<br />

Podemos afirmar ainda que esse fato se torna mais evidente com o desenvolvimento das mídias<br />

móveis, nas quais as pessoas se comunicam através de dispositivos com sistema de computação e rede<br />

sem fio.<br />

Para refletir: o uso de novas tecnologias de informação pode fortalecer o potencial de globalização<br />

dos movimentos sociais?<br />

Uma das primeiras manifestações proporcionadas pelo avanço das tecnologias de comunicação<br />

ocorreu em 2001, quando o então presidente das Filipinas, Joseph Estrada, foi o primeiro chefe de estado<br />

na história a perder o poder por uma “pequena multidão”.<br />

Mais de um milhão de moradores de Manila, mobilizados e coordenados por uma onda de<br />

mensagens de texto disparadas pelo site People Power, afrontaram o regime com manifestações<br />

pacíficas. Dezenas de milhares de filipinos convergiram para a avenida Epifanio de Los Santos,<br />

conhecida como Edsa, uma hora após a primeira mensagem de texto ter sido lançada com os dizeres:<br />

“Vá para Edsa. Use preto”.<br />

99


Unidade II<br />

Durante quatro dias, mais de um milhão de cidadãos apareceram vestidos de preto na avenida.<br />

Estrada caiu. A lenda da “geração txt” tinha nascido. Derrubar um governo sem disparar um único tiro<br />

era uma demonstração prematura e momentânea do surgimento do comportamento smart mobs.<br />

Outra demonstração da força dessa mobilização foi em 2004, na cidade de Madri, depois da explosão<br />

de uma bomba no metrô espanhol. Mais de 5 mil pessoas reuniram-se espontaneamente às 6h da tarde<br />

de sábado em frente ao quartel general do Partido Popular, do governo, protestando contra o que eles<br />

achavam ser uma falta de transparência na investigação sobre o bombardeio nos trens na estação de<br />

Atocha. Como é muito comum hoje em dia, o protesto foi mobilizado em questão de horas usando SMS<br />

e e-mails.<br />

Para André Lemos (2004), as tecnologias móveis de comunicação são fenômenos de massa e se<br />

caracterizam por serem:<br />

• Abertas: tendem a crescer e nelas reina a igualdade;<br />

• Rítmicas: acontecem por convocação via SMS, e-mails, blogs, Internet sem fio etc.;<br />

• Rápidas: para o autor, o uso das novas tecnologias de conexão sem fio tende a aumentar a<br />

formação de massas ou multidões abertas.<br />

Outro elemento favorável à formação de movimentos sociais via rede fixa ou móvel é a oportunidade<br />

de compartilhar recursos e conhecimentos entre os vários membros ou entre os grupos ao redor do<br />

mundo. Dessa forma, as pessoas podem estar em qualquer lugar do mundo e participar de conferências<br />

e reuniões e discutir assuntos com vários grupos, o que facilita a comunicação entre os membros dos<br />

movimentos e agiliza as reivindicações.<br />

Observação<br />

A ATACC, associação francesa que defende a cobrança de impostos<br />

sobre a movimentação de capitais — já que estes entram e saem livremente<br />

dos países e causam instabilidades econômicas —, ganhou projeção global<br />

divulgando sua causa pela Internet e angariando adeptos do mundo<br />

inteiro.<br />

O uso e a apropriação da rede para fins sociais têm trazido grandes benefícios aos movimentos<br />

sociais, tais como quebra do isolamento, propagação de lutas particulares, maior presença através da<br />

rede e maior interação e coordenação tanto entre seus membros como com outras redes e movimentos<br />

sociais. Isso gerou a universalização de singularidades.<br />

Segundo Lévy:<br />

100<br />

(...) as singularidades locais universalizam-se e todos os pontos de vista<br />

estão virtualmente presentes em cada ponto da rede. O novo espaço público


CIÊNCIAS SOCIAIS<br />

constrói um território de natureza semântica. A “posição” neste território<br />

virtual vai se tornar determinante, relativizando progressivamente o papel<br />

da situação ou da proveniente geografia. As distâncias e proximidades<br />

semânticas marcam-se através de senhas, de laços hipertextuais, de conexões<br />

entre comunidades virtuais, de trocas de informações, de densidades de<br />

inteligência coletiva (LÉVY, 2003, p. 373).<br />

Podemos dizer que esses novos meios de comunicação se converteram em um espaço público<br />

fundamental para uma nova socialização, espaço este que fundamenta caminhos inovadores para as<br />

interações, especialmente entre os membros dos grupos sociais.<br />

Professor da Escola de Artes, <strong>Ciências</strong> e Humanidades (EACH) da USP, Jorge Alberto S. Machado<br />

(2004) afirma que está se formando um espaço público importantíssimo que propicia a interação<br />

política:<br />

8.6 Os novos movimentos sociais<br />

A rede converteu-se em um espaço público fundamental para o<br />

fortalecimento das demandas dos atores da sociedade civil, que<br />

conseguem contornar a desigualdade de recursos para ampliar o alcance<br />

de suas ações e desenvolver estratégias de luta mais eficazes (MACHADO,<br />

2004, s. p.).<br />

Nos séculos XIX e XX, os movimentos sociais estavam ligados à ideologia marxista que propunha<br />

a ação da classe trabalhadora em sindicatos e partidos políticos empenhados na transformação das<br />

relações capitalistas de produção.<br />

Com o crescente processo de internacionalização das sociedades a partir da segunda metade do<br />

século XX, os valores de diferentes grupos se interpenetraram e o resultado foi a organização de novos<br />

movimentos sociais.<br />

A variedade de movimentos e de orientações indica a tendência de proliferação de movimentos<br />

voltados para a mudança de valores, como os movimentos homossexuais, antirracistas e<br />

pacifistas.<br />

Com a divisão dos movimentos sociais entre os que querem manter a ordem e os que buscam a<br />

emancipação, verifica-se que estes exercem maior influência na sociedade. Como exemplo, citamos o<br />

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o Comitê em Defesa dos Direitos Humanos, o<br />

Fórum Social Mundial, o movimento hippie e o movimento estudantil.<br />

Santos (2001) analisa que os novos movimentos sociais atuam em estruturas descentralizadas, não<br />

hierárquicas e fluídas. Daí a preferência por uma ação política não institucional e dirigida à opinião<br />

pública com vigorosa utilização dos meios de comunicação de massa.<br />

101


Unidade II<br />

Para refletir: qual é o principal alvo dos novos movimentos sociais? As utopias sociais de “preparar<br />

o amanhã da felicidade” acabaram?<br />

Características dos novos movimentos sociais:<br />

• Direito à identidade;<br />

• Democratização de acesso aos mecanismos decisórios da política;<br />

• Autonomia e autogestão das unidades sociais de base;<br />

• Atuação independente dos partidos políticos.<br />

Temos exemplos recentes de movimentos que agem em busca da emancipação pessoal, como é o caso da<br />

mobilização de homossexuais na cidade de São Paulo. Desse modo, ao terem a luta cultural como primazia,<br />

os novos movimentos sociais se voltam para a sociedade como um todo e adquirem um caráter difuso.<br />

Figura 50 – Manifestantes reivindicam a aprovação do projeto que criminaliza a homofobia durante a Parada Gay de Brasília (2008)<br />

102<br />

Resumo<br />

A globalização é um fenômeno contemporâneo que possibilita diversos<br />

ângulos de análise: social, econômico, político, cultural e tecnológico.<br />

Sob a perspectiva tecnológica, ocorreram transformações de grande<br />

alcance nas áreas de microeletrônica e microbiologia, por exemplo, e esse<br />

desenvolvimento possibilitou mudanças significativas na área educacional<br />

e cultural e também na organização do trabalho nas organizações.<br />

A cultura encontrou horizontes de universalização: o que era local se<br />

tornou global e o que era nacional pôde tornar-se mundial.


CIÊNCIAS SOCIAIS<br />

A globalização se manifesta em várias frentes, afetando as grandes e<br />

pequenas empresas, os indivíduos e os movimentos sociais.<br />

Vimos que as relações de trabalho sofreram profundas alterações a<br />

partir dos anos 1980 do século XX. Ocorreram mudanças na composição<br />

da classe trabalhadora urbana e rural, houve considerável aumento<br />

da participação feminina no mercado de trabalho e se manteve a<br />

continuidade dos fluxos migratórios, que fazem do camponês um<br />

trabalhador urbano.<br />

As grandes inovações tecnológicas conduziram a modificações<br />

dos padrões de gestão das organizações, o que gerou como<br />

consequência o crescimento do número de trabalhadores<br />

terceirizados, freelancers e outros. Desse modo, houve a ampliação<br />

do trabalho informal, ou seja, do trabalho sem registro e sem<br />

direitos trabalhistas reconhecidos.<br />

Como aponta a OIT, as transformações mencionadas anteriormente<br />

contribuíram para o aumento do trabalho precário e da incidência da<br />

escravidão contemporânea.<br />

Os conflitos sociais e xenofóbicos se intensificaram e expuseram à<br />

sociedade os problemas do desenvolvimento econômico sem a geração de<br />

empregos.<br />

A concentração populacional nas áreas urbanas formou os bairros<br />

periféricos nas grandes cidades, o que conduziu à perda da qualidade de<br />

vida da população mais pobre e propiciou, também, a organização dos<br />

movimentos sociais.<br />

Os movimentos sociais foram aqui compreendidos como todos<br />

aqueles com um projeto, objetivos e metas. Uma das características<br />

dos movimentos sociais é que seus membros partilham uma mesma<br />

visão de mundo, o que define o sentido de suas lutas. Assim, todo<br />

movimento social pressupõe certa organização.<br />

Na atualidade, os chamados novos movimentos sociais possuem<br />

caráter difuso e reivindicações de âmbito cultural. Do ponto de vista<br />

político, eles se afastam dos partidos e lutam pela transparência na<br />

gestão pública, pela autonomia e pela autogestão.<br />

103


Unidade II<br />

Saiba mais<br />

O site do Observatório das Metrópoles é interessante para pesquisar as<br />

configurações atuais dos grandes conglomerados urbanos. Acesse: .<br />

Ainda, o texto e os filmes indicados a seguir servem de maior<br />

aprofundamento para seus estudos:<br />

Texto:<br />

PAIÃO, C. Quando a cidade é mais que inspiração, é ação. ComCiência.<br />

Campinas, n. 125, fev. 2011. Seção Reportagens. Disponível em . Acesso em: 15 mar. 2011.<br />

Filmes:<br />

CIDADE de Deus. Dir. Fernando Meireles. Brasil/Alemanha/França. 2002.<br />

130 min.<br />

EM NOME do Pai. Dir. Jim Sheridan. Irlanda/Inglaterra/Estados Unidos.<br />

1992. 123 min.<br />

MISSISSIPI em Chamas. Dir. Alan Parker. Estados Unidos. 1988. 128<br />

min.<br />

NOTÍCIAS de uma guerra particular. Dir. João Moreira Sales. Brasil. 1999.<br />

56 min.<br />

O SIGNO da cidade. Dir. Carlos Alberto Ricelli. Brasil. 2007. 95 min.<br />

104<br />

Exercícios<br />

Questão 01. Eric Hobsbawn (2007) afirma que:<br />

“A globalização de estilo laissez-faire dos últimos 20 anos cometeu o mesmo erro. Ela foi obra de<br />

governos que sistematicamente removeram todos os obstáculos que se lhe antepunham, seguindo os<br />

conselhos dos economistas mais influentes, autorizados e tecnicamente competentes. Depois de 20<br />

anos sem prestar atenção nas consequências sociais e humanas de um capitalismo global incontido, o


CIÊNCIAS SOCIAIS<br />

presidente do Banco Mundial chegou à conclusão de que, para a maior parte da população mundial, a<br />

palavra “globalização” sugere medo e insegurança em vez de oportunidade e inclusão. Até Alan Greenspan<br />

e o secretário do Tesouro Nacional dos Estados Unidos, Larry Summers, concordam em que a “antipatia<br />

à globalização é tão profunda” que o recuo das políticas de mercado e o retorno ao protecionismo são<br />

possibilidades reais” (HOBSBAWN, 2007, pp. 110-111).<br />

A partir da leitura feita, considere as afirmativas abaixo:<br />

I – Em alguns países, a globalização pode provocar a perda de postos de trabalho porque os produtos<br />

industrializados vindos de outros países são mais baratos do que os produzidos no próprio país.<br />

II – A globalização é sempre um momento de impulso econômico e cultural, já que vários povos<br />

diferentes podem compartilhar seus meios de produção e suas formas de expressão artística.<br />

III – A globalização enfraquece o Estado, pois este passa a ter importância secundária perante o<br />

poder e perante os interesses econômicos de grandes corporações empresariais que realizam<br />

negócios em muitos países do mundo.<br />

IV – A globalização é um fenômeno que marca o fim da produção nacionalizada e a busca por total<br />

integração econômica e política entre as diversas nações.<br />

V – A globalização econômica repercute apenas em países industrializados que necessitam da<br />

exportação como meio de obtenção de recursos. Os países de produção agrícola muito forte,<br />

como o Brasil e a China, sentem menos os impactos desse processo.<br />

Assinale a alternativa que contém a(s) afirmativa(s) correta(s):<br />

A) II e IV.<br />

B) I e II.<br />

C) I e IV.<br />

D) III e V.<br />

E) I e III.<br />

Resposta correta: alternativa E.<br />

Análise das alternativas:<br />

A) Alternativa incorreta.<br />

Justificativa: a alternativa II está incorreta porque a globalização nem sempre se forma em um<br />

momento de impulso econômico e cultural, até porque os aspectos culturais dificilmente estão em<br />

questão: o importa são os aspectos econômicos. A alternativa IV, por sua vez, está incorreta porque todos<br />

105


Unidade II<br />

106<br />

os países do mundo sofrem as consequências da globalização, ou seja, tanto os países que têm economia<br />

fortemente ancorada na produção agrícola como aqueles que têm sua economia baseada principalmente<br />

na produção industrial sofrem em maior ou em menor escala os efeitos da globalização.<br />

B) Alternativa incorreta.<br />

Justificativa: a alternativa B apresenta a afirmativa II como correta.<br />

C) Alternativa incorreta.<br />

Justificativa: a alternativa C apresenta a afirmativa IV como correta.<br />

D) Alternativa incorreta.<br />

Justificativa: a alternativa V está incorreta porque, independentemente de uma economia agrícola<br />

ou industrializada, os países lidam com os resquícios da globalização.<br />

E) Alternativa correta.<br />

Justificativa: a afirmação I está correta porque há diferenças de domínio tecnológico entre os<br />

diferentes países do mundo, o que permite que a produção de alguns bens seja feita de forma mais<br />

barata em um lugar do que em outro, provocando, portanto, maior facilidade de exportação e importação<br />

e, consequentemente, menor número de postos de trabalho nos países importadores de produtos<br />

industrializados. A afirmação III está correta porque o Estado sofre um decréscimo em sua importância<br />

com a globalização, isso porque as empresas de projeção internacional passam a ser protagonistas de<br />

importantes decisões econômicas, principalmente no que diz respeito à geração de emprego e renda,<br />

deixando, assim, um papel menor para o Estado, que passa a se ocupar apenas da regulação da ordem<br />

econômica.<br />

Questão 02. Em artigo publicado na revista Filosofia, o professor Renato Janine Ribeiro afirma<br />

que:<br />

“O que é então a democracia? Qual a sua vantagem? A vantagem é a transparência. Vários já disseram<br />

que o melhor detergente para a corrupção é tornar transparentes os atos do governo. Quando vieram a<br />

público os gastos indevidos com cartões corporativos, vários detentores de cargos tiveram de se demitir.<br />

Mas, essencialmente, a democracia é o poder do povo. O povo somos todos nós, virtuosos ou não,<br />

competentes ou não. Parodiando o título do romance de Robert Musil, na democracia cada eleitor é um<br />

“homem sem qualidades” – negativas ou positivas. Eu não preciso passar por nenhuma prova para votar.<br />

Posso, claro, ser privado do voto se cometer crimes, como sucede em muitos países – mas, para adquirir<br />

o direito de votar, nada se exige, além da nacionalidade e da idade. Todos somos iguais, portanto, na<br />

urna” (RIBEIRO, 2010).<br />

A partir do trecho, podemos afirmar que, para ser forte e efetiva e, com isso, angariar a credibilidade<br />

da população, uma democracia precisa de:


CIÊNCIAS SOCIAIS<br />

A) Partidos políticos bem estruturados que façam a mediação política entre o Estado e a sociedade.<br />

B) Candidatos com alto grau de carisma que possam levar a população a acreditar em suas propostas<br />

de atuação legislativa ou executiva.<br />

C) Grande quantidade de partidos políticos que representem todas as diferenças existentes na<br />

sociedade.<br />

D) Um governo executivo composto por ministros que tenham credibilidade internacional para que<br />

as relações brasileiras com os demais países do mundo se façam de forma igualitária.<br />

E) Pessoas capazes de orientar o povo para decidir como votar, de modo a garantir que sejam eleitos<br />

aqueles cujas campanhas sejam as mais bem preparadas.<br />

Resolução desta questão na Plataforma.<br />

107


FIGURAS E ILUSTRAÇÕES<br />

Figura 01<br />

J0234687.GIF. Largura: 126 pixels. Altura: 76 pixels. 3,33 KB. Formato: GIF. Disponível em . Acesso em: 27 jun. 2011.<br />

Figura 02<br />

APPLE.GIF. Largura: 138 pixels. Altura: 133 pixels. 1,19 KB. Formato: GIF. Disponível em . Acesso em: 27 jun. 2011.<br />

Figura 03<br />

IMGP2000.JPG. Formato: JPEG. Disponível em: . Acesso em: 6 jun. 2011.<br />

Figura 04<br />

TIZIANO, V. G. Adán y Eva (1628-1629). 1 pintura (óleo sobre tela). Disponível em: . Acesso em: 28 ago. 2011.<br />

Figura 05<br />

MICROSCOPE-FREE-MICROSOFT-CLIPART.JPG. Largura: 160 pixels. Altura: 256 pixels. 23 KB. Formato:<br />

JPEG. Disponível em . Acesso em: 27 jun. 2011.<br />

Figura 06<br />

MB900229913.JPG. Largura: 192 pixels. Altura: 192 pixels. 6,88 KB. Formato: JPEG. Disponível em<br />

. Acesso em: 28 fev. 2011.<br />

Figura 08<br />

54550FCA671F8050A14B66DEEF7D.JPG. Formato: JPEG. Disponível em: . Acesso em: 6 jun. 2011.<br />

Figura 09<br />

3C00795R.JPG. Formato: JPEG. Disponível em: . Acesso em: 6 jun. 2011.<br />

108


Figura 10<br />

FREEDOM_1_70106.JPG. Formato: JPEG. Disponível em: . Acesso em: 6 jun. 2011.<br />

Figura 11<br />

X-RAY.JPG. Largura: 225 pixels. Altura: 193 pixels. 9,13 KB. Formato: JPEG. Disponível em . Acesso em: 27 jun. 2011.<br />

Figura 12<br />

BANDEIRA DO BRASIL.JPG. Largura: 900 pixels. Altura: 630 pixels. 39,97 KB. Formato: JPEG. Disponível<br />

em . Acesso em: 18 mar. 2011.<br />

Figura 13<br />

JONES, A. Patrick Henry before the Virginia House of Burgesses May 30. Formato: JPEG. Disponível em:<br />

. Acesso em: 6 jun. 2011.<br />

Figura 14<br />

3C17942R.JPG. Formato: JPEG. Disponível em: . Acesso em: 6 jun. 2011.<br />

Figura 15<br />

MED_1133404853-316.JPG. Largura: 640 Altura: 480 pixels. 73,4 KB. Formato: JPEG. Disponível em<br />

. Acesso em: 08 maio 2011.<br />

Figura 16<br />

CHIMNEYS-SKYLINE-POLLUTION-439221-L.JPG. Largura: 1.024 pixels. Altura: 719 pixels. 1,8 MB.<br />

Formato: JPEG. Disponível em .<br />

Acesso em: 08 maio 2011.<br />

Figura 18<br />

DURKHEIM.JPG. Largura: 150 pixels. Altura: 200 pixels. Formato: JPEG. Disponível em: . Acesso em: 6 jun. 2011.<br />

109


Figura 19<br />

DARWIN_EVOLUCAO_2.JPG. Largura: 351 pixels. Altura: 248 pixels. 11,17 KB. Formato: JPEG. Disponível<br />

em . Acesso em:<br />

27 jun. 2011.<br />

Figura 20<br />

DIAS, W. As Forças Armadas ocupam o Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, para garantir a<br />

segurança durante as eleições municipais. 2008. 1 fotografia, color. Agência Brasil. Disponível em:<br />

. Acesso em: 6 jun. 2011.<br />

Figura 22<br />

TOMPKINS-SQUARE-PARK-440839-O.JPG. Largura: 1.024 pixels. Altura: 745 pixels. 181,33 KB.<br />

Formato: JPEG. Disponível em .<br />

Acesso em: 08 maio 2011.<br />

Figura 23<br />

DELANO, J. Working with a small steam drop hammer at the blacksmith shop in the Santa Fe R.R.<br />

shops, Topeka, Kansas. 1943. 1 transparência, color. Disponível em: . Acesso em: 6 jun. 2011.<br />

Figura 24<br />

LIFEBOAT-SHIP-DECK-440101-O.JPG. Largura: 1.024 pixels. Altura: 745 pixels. 125,87 KB. Formato:<br />

JPEG. Disponível em . Acesso em: 08.maio 2011.<br />

Figura 25<br />

82KM1.JPG. Formato: JPEG. Disponível em: . Acesso em: 3 mai. 2011.<br />

Figura 26<br />

ATHENE-5J44W6VDRJ82DVWTD0W_LAYOUT.JPG. Formato: JPEG. Disponível em: .<br />

Acesso em: 9 mai. 2011.<br />

110


Figura 28<br />

HINE, L. W. Twister in Weave Room - arranging threads. Thomas Burns, 14 years, 447 Kilburn St. Not<br />

a minor’s occupation. Occupation usually done by adult. Boy was taught by his father. Wage $8.71.<br />

1916. 1 fotografia, colorida (sépia). Formato: JPEG. Disponível em: . Acesso em: 3 mai. 2011.<br />

Figura 29<br />

CASAL JR, M. Antigo gueto negro na época do apartheid, Soweto é exemplo de desigualdades sociais<br />

na África do Sul. 2010. 1 fotografia, color. Disponível em: . Acesso<br />

em: 3 jul. 2011.<br />

Figura 30<br />

ITALY-ITALIA-QUIRINAL-440191-O.JPG. Largura: 1024 pixels. Altura: 749 pixels. 240,53 KB. Formato:<br />

JPEG. Disponível em . Acesso em: 12 maio 2011.<br />

Figura 31<br />

MH900433107.JPG. Largura: 325 pixels. Altura: 325 pixels. 8,96 KB. Formato: JPEG. Disponível em<br />

. Acesso em: 03 fev. 2011.<br />

Figura 32<br />

BOOKS2_XENIA.JPG. Formato: JPEG. 1 fotografia, color. Disponível em: .<br />

Acesso em: 3 jul. 2011.<br />

Figura 33<br />

CRUZ, A. Cerca de 20 mil trabalhadores, estudantes e integrantes de movimentos populares de todo<br />

o País realizam protestos contra a política econômica do governo. Brasília, 2011. 1 fotografia, color.<br />

Disponível em: . Acesso em: 9 set. 2011.<br />

Figura 34<br />

BAIN NEWS SERVICE. Geneva, St. Pierre Cathedral. Formato: JPEG. 1 fotografia (negativo), p&b.<br />

Disponível em: . Acesso em: 3 jul. 2011.<br />

111


Figura 35<br />

CAMPANATO, V. Funcionários da Calçados Pricawi trabalham na linha de produção. 2006. 1 fotografia,<br />

color. Disponível em: . Acesso em: 3 jul. 2011.<br />

Figura 36<br />

MAYFACTORYWORKERSTHS.JPG. Formato: JPEG. Disponível em: . Acesso em: 3 jul. 2011.<br />

Figura 37<br />

CASAL JR, M. Marcha de abertura do 5º Fórum Social Mundial, em Porto Alegre. 2005. 1 fotografia,<br />

color. Disponível em: . Acesso em: 3 jul. 2011.<br />

Figura 38<br />

MPR.JPG. Largura: 1.050 pixels. Altura: 619 pixels. 378,23 KB. Formato: JPEG. Disponível em . Acesso em: 22 fev. 2011.<br />

Figura 39<br />

POZZEBOM, F. R. Operadores da bolsa de valores num dia de forte queda no mercado de ações do<br />

Brasil e do mundo. 2008. 1 fotografia, color. Disponível em: . Acesso em: 3 jul. 2011.<br />

Figura 40<br />

SHINJUKU060730DYSN59.JPG. Formato: JPEG. Disponível em: . Acesso em: 3<br />

jul. 2011.<br />

Figura 41<br />

PALMER, A. T. Dina Hotard operating mortice machine in joiner shop. 1943. 1 fotografia, p&b. Disponível<br />

em: . Acesso em: 3 jul. 2011.<br />

Figura 42<br />

SUGARCANE-CROPS-FARMER-439405-O.JPG. Largura: 1024 pixels. Altura: 728 pixels. 237,59 KB.<br />

Formato: JPEG. Disponível em .<br />

Acesso em: 03 maio 2011.<br />

112


Figura 43<br />

IMAGE_12. Largura: 221 pixels. Altura: 336 pixels. 16,2 KB. Formato: JPEG. Disponível em . Acesso em:<br />

28 fev. 2011.<br />

Figura 44<br />

POLITICS_PROTEST_CORPORATION_17507_L.JPG. Largura: 1.024 pixels. Altura: 844 pixels.<br />

253,74 KB. Formato: JPEG. Disponível em . Acesso em: 03 maio<br />

2011.<br />

Figura 45<br />

URNA-ELETRONICA-MAO-407.JPG. Largura: 407 pixels. Altura: 276 pixels. 34 KB. Formato: JPEG.<br />

Disponível em .<br />

Acesso em: 08 mar. 2011.<br />

Figura 46<br />

BHZ_SLUM_QUARTER_01.JPG. Formato: JPEG. Disponível em: . Acesso em: 3<br />

jul. 2011.<br />

Figura 47<br />

MULTIMÍDIA/AGÊNCIA BRASIL. Mapa da violência no Brasil. Formato: JPEG. Disponível em: . Acesso em: 3 jul. 2010.<br />

Figura 48<br />

ITALY-ITALIA-QUIRINAL-440191-O.JPG. Largura: 1.024 pixels. Altura: 749 pixels. 240,53 KB. Formato:<br />

JPEG. Disponível em . Acesso em: 03 maio 2011.<br />

Figura 49<br />

CRUZ, J. Entidades feministas promovem manifestação contra a CPI do Aborto, em frente ao<br />

plenário da Câmara. 2009. 1 fotografia, color. Disponível em: . Acesso em: 3 jul. 2011.<br />

113


114<br />

Figura 50<br />

POZZEBOM, F. R. Manifestantes protestam, durante a Parada Gay de Brasília, contra a prisão, pelo<br />

Exército, do sargento Lacy Araújo e pedem a aprovação do projeto que criminaliza a homofobia. 2008.<br />

1 fotografia, color. Disponível em: . Acesso em: 3 jul. 2011.<br />

Audiovisuais<br />

REFERÊNCIAS<br />

1492 – A conquista do Paraíso. Dir. Ridley Scott. Espanha/França/Inglaterra. 1992. 150 min.<br />

A CLASSE operária vai ao Paraíso. Dir. Elio Petri. Itália. 1971. 126 min.<br />

A CORPORAÇÃO. Dir. Mark Akbar. Canadá. 2002. 145 min.<br />

A ILHA das flores. Dir. Jorge Furtado. Brasil. 1989. 13 min.<br />

A REVOLUÇÃO dos bichos. Dir. John Stephenson. Inglaterra. 1999. 89 min.<br />

ADEUS Lênin. Dir. Wolfgang Becker. Alemanha. 2002. 117 min.<br />

AS LOUCURAS de Dick e Jane. Dir. Dean Parisot. Estados Unidos. 2005. 90 min.<br />

BABEL. Dir. Alejandro G. Iñarritu. Estados Unidos/México. 2006. 143 min.<br />

BRAZIL, o filme. Dir. Terry Gilliam. Inglaterra. 1985. 124 min.<br />

CASANOVA e a revolução. Dir. Ettore Scola. Itália. 1982. 121 min.<br />

CIDADE de Deus. Dir. Fernando Meireles. Brasil/Alemanha/França. 2002. 130 min.<br />

CORONEL Delmiro Gouveia. Dir. Geraldo Sarno. Brasil. 1978. 90 min.<br />

DAENS: um grito de justiça. Dir. Stinjn Coninx. Holanda/França/Bélgica. 1992. 138 min.<br />

DANTON: o processo da revolução. Dir. Andrzej Wajda. França. 1982. 131 min.<br />

EM NOME de Deus. Dir. Stealin Heaven. Estados Unidos. 1988. 108 min.<br />

EM NOME do Pai. Dir. Jim Sheridan. Irlanda/Inglaterra/Estados Unidos. 1992. 123 min.<br />

ENCONTRO com Milton Santos ou o mundo global visto do lado de cá. Dir. Silvio Tendler. Brasil. 2006. 90 min.


GERMINAL. Dir. Claude Berri. França. 1983. 158 min.<br />

JOANA D’Arc. Dir. Luc Besson. França. 1999. 158 min.<br />

LADRÕES de bicicleta. Dir. Vitório de Sica. Itália. 1948. 90 min.<br />

MARIA Antonieta. Dir. Sofia Coppola. Estados Unidos/França. 2006. 123 min.<br />

MISSISSIPI em Chamas. Dir. Alan Parker. Estados Unidos. 1988. 128 min.<br />

NOTÍCIAS de uma guerra particular. Dir. João Moreira Sales. Brasil. 1999. 56 min.<br />

O ANO em que meus pais saíram de férias. Dir. Cão Hambúrger. Brasil. 2006. 106 min.<br />

O CHEIRO do ralo. Dir. Heitor Dahlia. Brasil. 2007. 112 min.<br />

O CORTE. Dir. Costa-Gravas. Bélgica/França/Espanha. 2005. 122 min.<br />

O GRANDE ditador. Dir. Charles Chaplin. Estados Unidos. 1940. 128 min.<br />

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