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Capa
Observo no consultório que muitas
das queixas que geram suspeitas
de doenças cardiológicas são de
cunho puramente psicológico”
ciedade de Cardiologia do Estado de São Paulo,
também apontou que 31% dos que já tinham infartado
confessavam uma perda significativa de
fé – entre os que não apresentaram problemas de
coração, o índice foi de apenas 9%. “Lembranças
ruins provocam estresse e isso prejudica nosso
corpo. Ruminar os acontecimentos antigos faz
com que eles se tornem presentes – e, todas as
vezes que você relembra, sente tudo de novo. O
efeito prolongado disso vai bombardeando o organismo
com substâncias que podem prejudicar a
saúde ao longo do tempo”, conclui.
MENTE SÃ, CORPO SÃO
Os efeitos a longo prazo que mágoas e sentimentos
negativos podem causar na nossa saúde mostram
que a relação entre nosso estado mental e
físico é, muitas vezes, direta. “Existem reações
autonômicas – que independem de nossa vontade
– a situações de estresse agudo, como um assalto
ou uma discussão, em que a pressão arterial
se eleva, a frequência cardíaca aumenta e podem
ocorrer palidez e sudorese”, explica o Dr. Pedro
Graziosi, médico coordenador do Centro Diagnóstico
de Cardiologia Não Invasiva do Hospital
Alemão Oswaldo Cruz. Ele reforça também que,
embora o perfil psicológico possa ser um fator de
Dr. Pedro Graziosi, médico
risco independente, causas mais clássicas para
esse tipo de problema de saúde, como hipertensão,
diabetes, colesterol elevado e tabagismo,
entre outras, também podem estar conectadas a
algum transtorno emocional. “Observo no consultório
que muitas das queixas que geram suspeitas
de doenças cardiológicas são de cunho puramente
psicológico – ou são exacerbadas pelo perfil
emocional do paciente. Palpitações, arritmias, dor
no peito, sensação de ofegância, entre outras, podem
estar relacionadas à ansiedade. Obviamente,
somente o médico, depois de solicitar os devidos
exames e diante da avaliação clínica do paciente,
terá condições de diagnosticar se a questão tem
cunho mais psicológico ou fisiológico”, completa.
Sabendo que essa conexão é tão intrínseca,
fica ainda mais fácil relacionar o aumento dos casos
de infarto no Brasil – de acordo com o último
levantamento da Sociedade Brasileira de Cardiologia
(SBC), doenças cardíacas atingem mais de
300 mil pessoas por ano – e o crescimento dos
diagnósticos de transtornos de ansiedade – o
Brasil lidera o ranking mundial, segundo dados
da Organização Mundial da Saúde (OMS). E mais:
associar esse número alarmante ao momento social
que vivemos. “O enorme acesso à informação
praticamente em tempo real, as mudanças
de estilo de vida nas últimas décadas, a vida nas
grandes metrópoles, o aumento da competitividade
profissional, a banalização da violência e a perda
de valores como a empatia estão, sem dúvida,
entre os fatores que impactam diretamente em
nosso emocional”, diz o Dr. Pedro.
PARA DENTRO E PARA FORA
Entendemos, então, que, inclusive para nossa saúde,
perdoar é preciso. Mas não é tarefa fácil. Afinal,
libertar-se de ressentimentos, injustiças, mágoas e
conseguir abrir caminho para um diálogo honesto
e conciliatório com o outro são demandas emocionais
altas. Como exercitar, então, a nobre arte
do perdão? A resposta, para muitos, está em três
palavras que estão ganhando cada vez mais destaque
na mídia: comunicação não violenta.
O conceito, que ganhou relevância com as pesquisas
do psicólogo britânico Marshall Rosenberg,
tem entre suas premissas o diálogo e a escuta
empática, defendendo que o conflito é algo inerente
às relações e, por isso, deve ser encarado
de forma saudável e acolhido em nosso dia a dia.
“Comunicação é coconstrução de sentido e não
se faz sozinho. Só acontece quando há a correspondência
entre minha expressão e aquilo que
você entende. Não só no nível de palavras, mas
de sentido”, explica o também britânico Dominic
Barter, colega e pupilo de Rosenberg que estuda
o tema há mais de 20 anos e trabalha com práticas
restaurativas e mediação de conflitos.
Morando no Rio de Janeiro desde 1995, ele lembra
que se chocou com a desigualdade social e ao
ver como os cariocas viviam submetidos ao medo
da violência. Aproveitando sua condição de estrangeiro,
decidiu que não faria parte dessa estatística
e encarou o problema de frente: pegou os ônibus
do Rio até o fim da linha, para conhecer de perto o
subúrbio perigoso do qual tanto falavam, e subiu os
morros cariocas. Sua motivação era um raciocínio
simples: para ele, a violência era um conflito que
não foi bem resolvido e precisou de uma via bélica
Existem
benefícios
em encerrar
determinadas
situações
ou cortar
determinados
laços em nossas
vidas: é uma
tentativa de
diminuir a
chance de que
o sofrimento
se repita”
Dominic Barter
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LEVE 12 . SET/NOV 2019
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