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LEVE_12_VERSÃO-DIGITAL

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Conversa

LEVE: O que é inovação?

É pensar fora da caixa. Melhor: é pensar como se

não houvesse caixa. Nós, brasileiros, temos dificuldade

em inovar porque queremos resultados muito

imediatos, é uma mentalidade de curto prazo.

Se o resultado não aparece logo, desistimos. Para

mudar, precisamos pensar em como melhorar os

processos atuais. E, para isso, é preciso, antes, sonhar.

Ou seja, leva tempo.

Qual é a diferença entre inovação e invenção?

A inovação é a invenção aplicada ao contexto do

negócio. Você pode criar algo superimportante

cientificamente, mas aquilo precisa trazer uma

mudança na estratégia de negócio para que se torne

realmente inovador.

Qualquer pessoa pode inovar?

Não é todo mundo que está pronto para inovar.

A inovação está ligada ao perfil do sonhador. Há

pessoas que são excelentes executoras; um cirurgião,

por exemplo, que realiza uma cirurgia há

cinco anos e sempre vai ter um bom resultado no

final. Mas imagine se não tiver gente pensando em

como fazer aquele processo melhor, com menos

custo e menos risco? São duas características diferentes,

ambas necessárias.

Quais são os principais desafios da inovação?

Um deles é pensar que não é preciso inovar porque

a maneira pela qual determinada coisa está

funcionando é suficiente. Essa é a primeira barreira,

o preconceito, esse mecanismo engessado que

temos na cabeça. Cito aqui uma passagem do filme

Wiplash – Em Busca da Perfeição, quando o professor

diz que não há expressão pior que “bom trabalho”.

Ele explica que dizer a uma pessoa que ela

fez um bom trabalho é limitante, porque ela achará

que não precisa fazer nada melhor que aquilo.

Para quem quer inovar: como começar?

Um amigo, doutor em engenharia elétrica, diz que

o departamento de inovação serve para apagar

fogo. Discordo. A primeira coisa que é preciso entender

é que um departamento de inovação precisa

fazer inovação. Ele não está ali como bombeiro,

ele precisa pensar, ler, estudar. Inovação

não implica diretamente um processo produtivo.

Muitas vezes, você está sentado no computador,

lê um artigo sobre uma ideia absolutamente inovadora

e não consegue pegar aquilo no mesmo

momento e aplicar. Isso demanda tempo. É tempo,

tempo, tempo.

E investimento, certo?

Sim, é superimportante. Quando vejo que recursos

de pesquisa têm sido ceifados, fico muito triste.

Não existe inovação sem pesquisa. Então, sem investimento,

a gente vai continuar fazendo as mesmas

coisas durante anos.

Como se pensa a inovação no Brasil?

O Brasil é um país de dimensões continentais, então

seria injusto analisá-lo de maneira uniforme.

Temos polos de inovação, como São Paulo, Campina

Grande, na Paraíba, e Recife, em Pernambuco.

Mas, ainda assim, não é uma avaliação simples.

Veja, certa vez, escutei uma entrevista com um

professor que dizia que essas cidades nordestinas

são excelentes fabricantes de cérebro, mas que,

por limitações políticas, não têm condições de fabricar

tecnologia. É o caso do talento e da vontade,

mas sem o recurso.

E o que mais falta para sermos inovadores?

O problema é que nós consumimos tecnologia,

mas não temos o costume de produzi-la. Então

falta ter mais empresas investindo em inovação.

É a iniciativa e o desprendimento da organização

de dizer: “Olha, vou pagar para uma empresa vir

para cá e passar uns dias conversando com a gente

sobre o que está sendo feito no mundo, porque

a gente quer fazer melhor aqui e precisa definir

estratégias para isso”. Nenhuma inovação vai ser

factível se não houver um comprometimento lá de

cima, da gestão.

Não é todo mundo que

está pronto para inovar.

A inovação está ligada

ao perfil do sonhador”

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