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Conversa
LEVE: O que é inovação?
É pensar fora da caixa. Melhor: é pensar como se
não houvesse caixa. Nós, brasileiros, temos dificuldade
em inovar porque queremos resultados muito
imediatos, é uma mentalidade de curto prazo.
Se o resultado não aparece logo, desistimos. Para
mudar, precisamos pensar em como melhorar os
processos atuais. E, para isso, é preciso, antes, sonhar.
Ou seja, leva tempo.
Qual é a diferença entre inovação e invenção?
A inovação é a invenção aplicada ao contexto do
negócio. Você pode criar algo superimportante
cientificamente, mas aquilo precisa trazer uma
mudança na estratégia de negócio para que se torne
realmente inovador.
Qualquer pessoa pode inovar?
Não é todo mundo que está pronto para inovar.
A inovação está ligada ao perfil do sonhador. Há
pessoas que são excelentes executoras; um cirurgião,
por exemplo, que realiza uma cirurgia há
cinco anos e sempre vai ter um bom resultado no
final. Mas imagine se não tiver gente pensando em
como fazer aquele processo melhor, com menos
custo e menos risco? São duas características diferentes,
ambas necessárias.
Quais são os principais desafios da inovação?
Um deles é pensar que não é preciso inovar porque
a maneira pela qual determinada coisa está
funcionando é suficiente. Essa é a primeira barreira,
o preconceito, esse mecanismo engessado que
temos na cabeça. Cito aqui uma passagem do filme
Wiplash – Em Busca da Perfeição, quando o professor
diz que não há expressão pior que “bom trabalho”.
Ele explica que dizer a uma pessoa que ela
fez um bom trabalho é limitante, porque ela achará
que não precisa fazer nada melhor que aquilo.
Para quem quer inovar: como começar?
Um amigo, doutor em engenharia elétrica, diz que
o departamento de inovação serve para apagar
fogo. Discordo. A primeira coisa que é preciso entender
é que um departamento de inovação precisa
fazer inovação. Ele não está ali como bombeiro,
ele precisa pensar, ler, estudar. Inovação
não implica diretamente um processo produtivo.
Muitas vezes, você está sentado no computador,
lê um artigo sobre uma ideia absolutamente inovadora
e não consegue pegar aquilo no mesmo
momento e aplicar. Isso demanda tempo. É tempo,
tempo, tempo.
E investimento, certo?
Sim, é superimportante. Quando vejo que recursos
de pesquisa têm sido ceifados, fico muito triste.
Não existe inovação sem pesquisa. Então, sem investimento,
a gente vai continuar fazendo as mesmas
coisas durante anos.
Como se pensa a inovação no Brasil?
O Brasil é um país de dimensões continentais, então
seria injusto analisá-lo de maneira uniforme.
Temos polos de inovação, como São Paulo, Campina
Grande, na Paraíba, e Recife, em Pernambuco.
Mas, ainda assim, não é uma avaliação simples.
Veja, certa vez, escutei uma entrevista com um
professor que dizia que essas cidades nordestinas
são excelentes fabricantes de cérebro, mas que,
por limitações políticas, não têm condições de fabricar
tecnologia. É o caso do talento e da vontade,
mas sem o recurso.
E o que mais falta para sermos inovadores?
O problema é que nós consumimos tecnologia,
mas não temos o costume de produzi-la. Então
falta ter mais empresas investindo em inovação.
É a iniciativa e o desprendimento da organização
de dizer: “Olha, vou pagar para uma empresa vir
para cá e passar uns dias conversando com a gente
sobre o que está sendo feito no mundo, porque
a gente quer fazer melhor aqui e precisa definir
estratégias para isso”. Nenhuma inovação vai ser
factível se não houver um comprometimento lá de
cima, da gestão.
Não é todo mundo que
está pronto para inovar.
A inovação está ligada
ao perfil do sonhador”
30 LEVE 12 . SET/NOV 2019
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