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Revista Dr Plinio 262

Janeiro 2020

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O pensamento filosófico de <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />

Arquivo <strong>Revista</strong><br />

Santinho de Santa Teresinha de Menino<br />

Jesus pertencente a <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />

to o desejo de coisas extraordinárias,<br />

não expressas, mas<br />

nas quais entrava a graça. Porém<br />

pouco mais tarde a minha<br />

atenção foi, não inteira,<br />

mas fortemente, desviada desse<br />

campo de cogitação para os<br />

problemas referentes à minha<br />

perseverança, à interlocução e<br />

polêmica com o pensamento<br />

revolucionário, à necessidade<br />

de me agarrar na minha fidelidade<br />

para não me deixar levar<br />

e, portanto, para a luta.<br />

Assim, essas cogitações superiores<br />

saíram um tanto de<br />

minha atenção, sem que jamais<br />

eu as recusasse. Mas era<br />

como se não coubesse na minha<br />

mente tanta coisa para<br />

pensar ao mesmo tempo. Então,<br />

isso ficou um pouco de<br />

lado como um quadro que se<br />

tem dentro de casa, do qual<br />

se gosta muito, mas que a vida<br />

cotidiana obriga a não estar<br />

prestando atenção sempre<br />

nas excelências do quadro.<br />

Assim também era isso dentro<br />

da minha alma.<br />

Eu tinha a ideia de que dia<br />

viria no qual teria tempo de<br />

cogitar e de somar o que ia conquistando<br />

na luta, na polêmica, na concepção<br />

da sociedade temporal com<br />

aquelas alcandoradas e anteriores<br />

elucubrações, percepções, conaturalidades,<br />

apetências naturais elevadas,<br />

etc. A isso juntou-se o fato de<br />

que, ao começar a frequentar o mundo<br />

do entre deux guerres, ele me oferecia,<br />

mesmo dentro do lícito, muitas<br />

delícias. E eu, “truculento” em<br />

tudo, embora negando-me categoricamente<br />

qualquer complacência<br />

com o ilícito, era muito apreciador<br />

do lícito material: o luxo, a boa comida,<br />

o conforto, a vida agradável.<br />

Essas coisas passaram a se representar<br />

para mim como muito desejáveis<br />

e criavam a ilusão, mais ou menos<br />

implícita, de que o homem, possuindo<br />

virtude, prestígio e grande luxo,<br />

teria atingido o teto do que esta vida<br />

pode dar. Até certo ponto, isso projetava<br />

a poeira de um olvido sobre as<br />

apetências alcandoradas de outrora.<br />

As felicidades apresentadas<br />

pelo mundo eram<br />

festivais do demônio<br />

Nos primeiros cinco anos do que<br />

eu poderia chamar minha conversão,<br />

caiu-me nas mãos uma biografia de<br />

Santa Teresa de Jesus, em dois volumes,<br />

escrita por uma carmelita de<br />

Caen, na França. A descrição dos êxtases<br />

deliciosíssimos feita pela autora,<br />

acrescida ao fato de que eu estava<br />

numa fase onde nadava nas consolações<br />

muito mais deleitáveis do<br />

que o prestígio, conforto e luxo<br />

dentro da virtude, isso tudo<br />

me levou a compreender<br />

que havia outra gama de felicidade<br />

para a qual a minha<br />

alma estava desatenta, em<br />

virtude do curso das coisas.<br />

Comecei, então, a procurar<br />

o que era isso. Para Santa<br />

Teresa de Jesus gostar tanto<br />

daqueles êxtases fantásticos,<br />

deveria haver na alma dela<br />

uma aptidão natural, que o<br />

sobrenatural satisfazia.<br />

Fazendo a introspecção de<br />

mim mesmo, eu notava uma<br />

violentíssima vontade de degustar<br />

aquilo porque era a<br />

união com Deus, mas também<br />

– devo dizer – e muito,<br />

pelo gáudio inseparável dessa<br />

união. Quer dizer, essa união<br />

em si mesma, e salvo as noites<br />

escuras e provações, é cheia<br />

de gáudio como uma esponja<br />

pode estar cheia de água.<br />

Então me perguntava: onde<br />

existe na minha alma uma<br />

apetência dessas coisas, tão<br />

dormente que eu não percebia,<br />

mas tão viva que, posto<br />

diante da descrição, levanto-<br />

-me inteiro como que num bramido?<br />

Muitos anos depois, lendo fragmentos<br />

de literatura grega, em geral,<br />

um pouco de Platão e, depois, Padres<br />

do Oriente, percebi que a alma deles<br />

se movia numa atmosfera de delícias<br />

do espírito. Nos gregos, eram delícias<br />

naturais, mas andando na linha da<br />

transesfera 3 ; nos Padres gregos, eram<br />

sobrenaturais e também naturais, visto<br />

que eles eram algum tanto herdeiros<br />

da cultura grega.<br />

Perguntando-me qual o suporte dessas<br />

coisas, cheguei à conclusão de que<br />

aqueles arroubos da infância indicavam<br />

a zona natural da alma voltada para o<br />

desejo dessas graças, e na qual, entrando<br />

a graça, aquilo se desenvolve.<br />

Deveria, pois, haver uma educação<br />

na qual a pessoa compreendesse<br />

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