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Benedito Bacurau - O pássaro que não nasceu de um ovo

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Disfarçado na charanga

a noite em que descobri que o Benedito Bacurau tinha o poder de

se transformar em qualquer coisa que fosse necessária para promover uma boa

brincadeira, ele estava metido em uma bandinha de música na maior animação.

Fiquei olhando, assim meio como quem não quer nada, para ele não desconfiar.

Por alguns instantes ele aparecia na forma de um imponente e majestoso

saxofone. De repente eu sentia que ele estava na alegria dedilhada do trompete

ajudando a dar vida à bagunçada. Num piscar de olhos ele escapava e podia

ser visto no estica-e-puxa do esbelto trombone de vara. Sei que era ele porque

quando o trombonista soprava o braço bem para longe eu via as perninhas do

bacurau esticando como liga de baladeira.

Vamos brincar

Brincar agora

Subindo e descendo a rua

Terreiro da lua

Onde a fantasia mora

Benedito Bacurau voava entre os instrumentos saltitando na vibração da

música pela rua. Para qualquer lugar, em todos os sentidos. Para cima, para

baixo, para um lado, para o outro. Um ziguezague danado. Ele deslizava em

rodopio no reluzente cone circular da tuba, dando muitas e muitas voltas e

parecia não ficar tonto nem nada. E olhe que a tuba é um instrumento musical

bem grandão. Mesmo assim, naquela diversão toda, o bacurau ainda conseguia

se transformar em tuba. Eu vi, por isso não há por que não acreditar. Era uma

tuba engraçada, uma tuba com um bico bem pequenininho lá em cima e uma

boca enorme escancarada. Só que em vez de estar aberta para pegar insetos,

aquela boca do tamanho não-sei-de-quê se unia aos bonecos cabeçudos para

fazer a festa.

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