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Nunca saberia bem o que ainda lhe restava de memória, ou
provinha da imaginação. Por isso hesitava, e persistia em
dúvidas no género:
– O mais bizarro é que eu nem aqui estive, logo não
poderia ter-me lembrado do que jamais aconteceu… –
ponderou ela, fechando os olhos para ver-se por dentro, à
procura de sinais ou registos fidedignos.
Antes que se precipitasse… Outrora, pelo lento e longo
passeio no limiar entre realidade e devaneio, toda se entregara à
volúvel volúpia de viver, tão só, o íntimo fascínio em seu
domínio mínimo, exorbitando uma espiral intensa sob
paroxismos ou cintilações. Assumindo a Moda recriada como
bailado extremo, exterior, e cúmplice aos estilos sensuais.
Os monstros ou os modelos que a estimulavam – pleno
veículo sofisticado, inebriante, de se soltar, irradiar… Vertigem
de signos, mitos – que ela em si possuísse, e por que se
transfigurasse… Precedendo. No ritual híbrido, mutante,
assim inspiração. Existindo. Viagem sofisticada ao artifício da
natureza, à essência do desejo. O cerne de ser, sublimado.
E, todavia, debatia-se no auge do tempo. Repetição.
Reinvenção. Própria. Fortuita. Neutra. Outra. Inédita.
Exposta. Invólucro, sortilégio.
– Ou passaria, talvez, a haver-me com o mesmo… – arrisca
a Moda arisca, exibindo um perdulário frenesim de emoções e
omissões. Contrafeita. Solícita. Imitando o senso comum, à
hora do lusco-fusco…
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