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Orion 5

Sci-Fi Fantasy web-zine

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- Ótimo, agora senta-te, espera como os outros, ou

fica de pé, como quiseres, vão-te chamar pelo nome.

O jovem permaneceu no mesmo lugar, não havia

muito mais espaço mesmo para se mexer. A grávida

encolheu as pernas para lhe dar um pouco mais de espaço,

e isso foi apreciado. Sorriu-lhe e agradeceu baixinho. Ela

respondeu:

- Eu ainda não tenho nome, mas ela já tem, vai

chamar-se Maria. - Sorriu com uma boca de dentes

castanhos esburacados. Não parecia muito incomodada

com a dentição podre, mas àquela distância o jovem sentiu

o mau odor vindo daquela boca e conteve-se para não

demonstrar o incómodo. Afinal estavam todos ali pelo

mesmo, tinham sido reciclados, processados e iam refazer

a vida a partir do nada de consciência tranquila, diziam

eles.

Joshua, chamava-se Joshua, o nome parecia-lhe

estranho como tudo o resto. Tinha um vislumbre muito

ténue da sua vida passada. Em algum ponto do tempo

nasceu, teve uma mãe, um pai, uma irmã bebé, sim tinha

uma ideia de uma irmã, uma família e era amado. Depois

deixou de merecer o direito a ser amado. Sabia o que tinha

feito, do que era acusado, que tinha assinado um papel que

consentia em todo aquele procedimento invés de vinte e

cinco anos fechado num estabelecimento prisional. E

aquela mulher tão grávida, que teria ela feito? Parecia feliz,

cansada, mas feliz, seria a proximidade da maternidade?

Ele só tinha dúvidas, seu espírito permanecia num

estado geral de confusão, em que tudo lhe parecia

alienígena e ao mesmo tempo familiar, talvez fruto da sua

natureza ou de alguma estranha reação aos químicos com

que tinha sido processado. Seria isso, tinha que ser um

bom exemplo de processamento, para justificar o dinheiro

Estava ali sem nada, era um composto de nada a

aguardar para saber como ia pagar a sua dívida ao estado,

contudo perante aquela mulher, teve um vislumbre de

outra mulher assim tão grávida. Um vislumbre do que

perdera, de outra vida que já não era sua e foi invadido por

uma dor estranha, a dor da perda de algo que não recordava.

Uma porta abriu-se e um homem enorme e

volumoso saiu do seu interior, ao sair comprimiu dois

utentes, passou por sima de um terceiro e quase que o levou

com ele à frente. Estranhamente, o seu cheiro fresco foi

um alívio e um prazer para os seus sentidos. O homem

pousou-lhe uma mão enorme no ombro direito, pregoulhe

uma palmada valente nas costas, e soltou um: - Boa

sorte na próxima vida, Joshua!! - E o jovem já transpunha

em desequilíbrio a ombreira da porta agitando os braços

finos, quase caindo com aquele gesto de boa disposição.

Assim que recuperou o equilíbrio voltou para trás para

reclamar, mas encontrou apenas uma porta fechada, ele

trancado no seu interior, sem saber bem como aquilo

aconteceu

Ali no gabinete as paredes eram beges e havia

quadros a embelezar o espaço de jardins paradisíacos, o

chão estava coberto por uma carpete de pelo curto, e ao

fundo estava uma secretária longa com duas poltronas

confortáveis à frente. Atrás da secretária estava a sua agente

condicional sentada numa cadeira de costas altas que,

parecia, mexia-se com ela, acompanhando os movimentos

do seu ocupante.

- Joshua, podes avançar! Como te sentes hoje? –

Ela levantou-se e inclinou-se ligeiramente para lhe estender

uma mão que ele aceitou e apertou timidamente. Era uma

mulher ainda jovem, talvez uns quarenta e pouco anos,

uns quilos a mais, de rosto redondo e simpático. Depois

dos contribuintes na sua reabilitação.

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