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freud-sigmund-obras-completas-imago-vol-19-1923-1925

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reconheceremos que ele é o resultado de dois fatores altamente importantes, um de natureza

biológica e outro de natureza histórica, a saber: a duração prolongada, no homem, do desamparo e

dependência de sua infância, e o fato de seu complexo de Édipo, cuja repressão demonstramos

achar-se vinculada à interrupção do desenvolvimento libidinal pelo período de latência, e, assim ao

início bifásico da vida sexual do homem. De acordocom uma hipótese psicanalítica, o fenômeno

por último mencionado, que parece ser peculiar ao homem, constitui herança do desenvolvimento

cultural tornado necessário pela época glacial. Vemos, então, que a diferenciação do superego a

partir do ego não é questão de acaso; ela representa as características mais importantes do

desenvolvimento tanto do indivíduo quanto da espécie; em verdade, dando expressão permanente

à influência dos pais, ela perpetua a existência dos fatores a que deve sua origem.

A psicanálise freqüentemente foi censurada por ignorar o lado mais elevado, moral,

suprapessoal, da natureza humana. A censura é duplamente injusta, tanto histórica quando

metodologicamente. Em primeiro lugar-porque já desde o início atribuímos às tendências morais e

estéticas do ego a função de incentivar a repressão; e, depois, houve uma recusa geral em

reconhecer que a pesquisa psicanalítica não podia, tal como um sistema filosófico, produzir uma

estrutura teórica completa e já pronta, mas teve de encontrar seu rumo passo a passo ao longo do

caminho da compreensão das complexidades da mente, efetuando uma dissecção analítica tanto

dos fenômenos normais quanto dos anormais. Enquanto tivemos de nos preocupar com o estudo

do que é reprimido na vida mental, não houve necessidade de aderir a quaisquer apreensões

agitadas quanto ao paradeiro do lado mais elevado do homem. Mas agora que empreendemos a

análise do ego, podemos dar uma resposta a todos aqueles cujo senso moral ficou chocado e que

se queixaram de que, certamente, deveria haver uma natureza mais alta no homem: ‘Muito certo’,

podemos dizer, ‘e aqui temos essa natureza mais alta, neste ideal do ego ou superego, o

representante de nossas relações com nossas relações com nossos pais. Quando éramos

criancinhas, conhecemos essas naturezas mais elevadas, admiramo-las e tememo-las, e,

posteriormente, colocamo-las em nós mesmos.’

O ideal do ego, portanto, é o herdeiro do complexo de Édipo, e, assim, constitui também a

expressão dos mais poderosos impulsos e das mais importantes vicissitudes libidinais do id.

Erigindo esse ideal do ego, o egodominou o complexo de Édipo e, ao mesmo tempo, colocou-se

em sujeição ao id. Enquanto que o ego é essencialmente o representante do mundo externo, da

realidade, o superego coloca-se, em contraste com ele, como representante do mundo interno, do

id. Os conflitos entre o ego e o ideal, como agora estamos preparados para descobrir, em última

análise refletirão o contraste entre o que é real e o que é psíquico, entre o mundo externo e o

mundo interno.

Através da formação do ideal, o que a biologia e as vicissitudes da espécie humana

criaram no id e neste deixaram atrás de si, é assumido pelo ego e reexperimentado em relação a si

próprio como indivíduo. Devido à maneira pela qual o ideal do ego se forma, ele possui os vínculos

mais abundantes com a aquisição filogenética de cada indivíduo - a sua herança arcaica. O que

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