You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
reconheceremos que ele é o resultado de dois fatores altamente importantes, um de natureza
biológica e outro de natureza histórica, a saber: a duração prolongada, no homem, do desamparo e
dependência de sua infância, e o fato de seu complexo de Édipo, cuja repressão demonstramos
achar-se vinculada à interrupção do desenvolvimento libidinal pelo período de latência, e, assim ao
início bifásico da vida sexual do homem. De acordocom uma hipótese psicanalítica, o fenômeno
por último mencionado, que parece ser peculiar ao homem, constitui herança do desenvolvimento
cultural tornado necessário pela época glacial. Vemos, então, que a diferenciação do superego a
partir do ego não é questão de acaso; ela representa as características mais importantes do
desenvolvimento tanto do indivíduo quanto da espécie; em verdade, dando expressão permanente
à influência dos pais, ela perpetua a existência dos fatores a que deve sua origem.
A psicanálise freqüentemente foi censurada por ignorar o lado mais elevado, moral,
suprapessoal, da natureza humana. A censura é duplamente injusta, tanto histórica quando
metodologicamente. Em primeiro lugar-porque já desde o início atribuímos às tendências morais e
estéticas do ego a função de incentivar a repressão; e, depois, houve uma recusa geral em
reconhecer que a pesquisa psicanalítica não podia, tal como um sistema filosófico, produzir uma
estrutura teórica completa e já pronta, mas teve de encontrar seu rumo passo a passo ao longo do
caminho da compreensão das complexidades da mente, efetuando uma dissecção analítica tanto
dos fenômenos normais quanto dos anormais. Enquanto tivemos de nos preocupar com o estudo
do que é reprimido na vida mental, não houve necessidade de aderir a quaisquer apreensões
agitadas quanto ao paradeiro do lado mais elevado do homem. Mas agora que empreendemos a
análise do ego, podemos dar uma resposta a todos aqueles cujo senso moral ficou chocado e que
se queixaram de que, certamente, deveria haver uma natureza mais alta no homem: ‘Muito certo’,
podemos dizer, ‘e aqui temos essa natureza mais alta, neste ideal do ego ou superego, o
representante de nossas relações com nossas relações com nossos pais. Quando éramos
criancinhas, conhecemos essas naturezas mais elevadas, admiramo-las e tememo-las, e,
posteriormente, colocamo-las em nós mesmos.’
O ideal do ego, portanto, é o herdeiro do complexo de Édipo, e, assim, constitui também a
expressão dos mais poderosos impulsos e das mais importantes vicissitudes libidinais do id.
Erigindo esse ideal do ego, o egodominou o complexo de Édipo e, ao mesmo tempo, colocou-se
em sujeição ao id. Enquanto que o ego é essencialmente o representante do mundo externo, da
realidade, o superego coloca-se, em contraste com ele, como representante do mundo interno, do
id. Os conflitos entre o ego e o ideal, como agora estamos preparados para descobrir, em última
análise refletirão o contraste entre o que é real e o que é psíquico, entre o mundo externo e o
mundo interno.
Através da formação do ideal, o que a biologia e as vicissitudes da espécie humana
criaram no id e neste deixaram atrás de si, é assumido pelo ego e reexperimentado em relação a si
próprio como indivíduo. Devido à maneira pela qual o ideal do ego se forma, ele possui os vínculos
mais abundantes com a aquisição filogenética de cada indivíduo - a sua herança arcaica. O que