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o pintor de fato queria do Diabo, quando assinou um compromisso com ele. Algum motivo ele deve
ter tido para seus tratos com o Demônio.
Também sobre esse ponto o Trophaeum nos proporciona informações fidedignas. Ele
ficara abatido, era incapaz ou não tinha disposição de trabalhar adequadamente, e estava
preocupado sobre como ganhar a vida; isso equivale a dizer que sofria de depressão melancólica,
com uma inibição em seu trabalho e temores (justificados) quanto ao seu futuro. Podemos ver que
estamos tratando realmente com um caso clínico. Ficamos sabendo também a causa excitante da
doença, que o próprio pintor, na legenda a um de seus retratos do Diabo, chama realmente de
melancolia (‘que eu procurasse diversão e banisse a melancolia’). A primeira de nossas três fontes
de informação, a carta de apresentação do pároco da aldeia, fala, é verdade, apenas no estado de
depressão (‘dum artis suae progressum emolumentumque secuturum pusillaminis perpenderet‘),
mas a segunda fonte, o relatório do Abade Franciscus, conta-nos também a causa desse
desalento ou depressão. Diz ele: ‘acceptâ aliquâ pusillanimitate ex morte parentis’, e no prefáciodo
compilador são usadas as mesmas palavras, embora em ordem inversa: (‘ex morte parentis
acceptâ aliquâ pusillanimitate‘). Seu pai, portanto, falecera, e, em conseqüência, ele havia caído
em um estado de melancolia, após o que o Demônio se aproximara dele e lhe perguntara por que
estava tão abatido e triste, e prometera ‘auxiliá-lo de todas as maneiras e dar-lhe apoio’.
Temos aqui, portanto, uma pessoa que assinou um compromisso com o Diabo, a fim de
ser libertado de um estado de depressão. Um motivo excelente, indubitavelmente, como
concordará quem quer que possa ter um senso compreensivo dos tormentos de tal estado e que
saiba bem quão pouco os remédios podem fazer para aliviar essa enfermidade. Entretanto,
ninguém que tenha acompanhado a história até aqui seria capaz de adivinhar qual foi realmente o
fraseado desse compromisso (ou melhor, desses dois compromissos) com o Demônio.
Esses compromissos nos trazem duas grandes surpresas. Em primeiro lugar, não
mencionam nenhuma promessa feita pelo Demônio, em troca de cuja efetivação o pintor
comprometa a sua felicidade eterna, mas apenas uma exigência efetuada pelo Diabo, que o pintor
deve satisfazer. Impressiona-nos como inteiramente ilógico e absurdo que esse homem deva
entregar sua alma, não por algo que deva conseguir do Demônio, mas por algo que tem de fazer
para este. A promessa feita pelo pintor, porém, parece ainda mais estranha.
O primeiro ‘syngrapha’ [compromisso], redigido a tinta, diz o seguinte: ‘Ich Christoph
Haizmann vndterschreibe mich disen Herrn sein leibeigener Sohn auff 9. Jahr. 1669 Jahr.’ O
segundo, escrito com sangue, diz:
‘Anno 1669.
‘Christoph Haizmann. Ich verschreibe mich disen Satan ich sein leibeigner Sohn zu sein,
und in 9. Jahr ihm mein Lieb und Seel zuzugeheren.’ Todo o nosso espanto se desfaz, contudo, se
lermos o texto dos compromissos no sentido de que aquilo que é representado neles como uma
exigência feita pelo Demônio, é, pelo contrário, um serviço por ele desempenhado - quer dizer,
trata-se de um pedido feito pelo pintor. O pacto incompreensível teria, nesse caso, um significado