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#2 Revista Voa

Publicação bianual do IDEF - Instituto de Desenvolvimento da Empresa Familiar com foco nos temas de Gestão e Governança Corporativa.

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Gestão do Negócio /

Os desafios Da gestão

na agricultura

familiar

“Ficamos orgulhosos por ele estar aqui. A gente sabe que é puxado, precisa

trabalhar muito, mas os filhos enxergam além. Estudando, eles ampliam a visão

do negócio e pensam em coisas diferentes para agregar valor à propriedade”.

Simone Motter Uez

A sucessão é um dilema que preocupa as famílias

empresárias não apenas da cidade, mas também do

interior. Os filhos crescem e começam a tomar suas

próprias decisões. No contexto dessas famílias,

sejam elas da área urbana ou rural, há uma história

e a construção de um legado. “A ideia do meu filho

é continuar na propriedade. E a melhor herança que

podemos deixar a ele é o estudo, uma boa educação.

Estudando, eles ampliam a visão do negócio e

pensam em coisas diferentes para agregar valor à

propriedade”, diz Simone Motter Uez.

Aos 46 anos, ela conta que nasceu, cresceu

e começou a ajudar a família desde cedo, assim

que conseguiu alcançar as uvas nos parreirais em

meio ao cultivo da fruta iniciado pelo bisavô na

localidade da Terceira Légua, em Caxias do Sul.

Simone aprendeu a administrar a propriedade com

os irmãos e, quando casou, há 21 anos, passou a

dividir a gestão com o marido, Vilmar, 52. “Tenho

oito irmãos. Todos casaram, criaram asas, saíram

daqui. Quando meu pai faleceu, fiquei com a minha

mãe tocando a propriedade”, conta ela. Dentre os

principais desafios da gestão de uma propriedade

rural, o marido de Simone destaca a falta de mãode-obra

qualificada, o preço mínimo da uva vendida

às vinícolas e atravessadores inadimplentes. A

família se mantém concentrada no cultivo de três

variedades de uva (com uma colheita média anual

de 80 mil quilos) e frutas cítricas (em especial

quatro variedades de bergamota), que têm um ciclo

mais longo.

A maior parte da produção é comercializada no

Ponto de Safra, programa da Prefeitura Municipal

de Caxias do Sul que existe há 20 anos, onde

Vilmar e Simone aproveitam para levar temperos,

hortaliças e frutas cultivadas para consumo

próprio, como açafrão, gengibre, batata yacon,

carambola, jabuticaba e butiá. “Sempre plantamos

um pouco a mais porque tem uma boa aceitação

pelo consumidor. Assim, vamos diversificando o

negócio”, afirma Vilmar.

O pai reconhece a importância do filho na

continuidade da administração da propriedade,

que possui seis hectares de uva e 2 mil pés de

citrus. “A gente tem muito ainda pela frente,

mas se o Victor não tivesse interesse seria um

problema. Aqui na comunidade tem produtor

com quase 80 anos de idade trabalhando

sozinho porque os filhos não ficaram. Então

a falta do sucessor na família rural é um

problema”, acrescenta.

EDUCAR PARA SUCEDER

O investimento na educação dos sucessores,

para que eles consigam enxergar a agricultura

familiar com uma visão estratégica e ajudem a

fortalecer o negócio no futuro, teve influência

direta no caminho escolhido pelo filho mais velho

do casal, Victor Motter Uez. Aos 18 anos, ele está

no terceiro semestre da faculdade de Agronomia,

na Universidade de Caxias do Sul (UCS). “No

começo, achava que não tinha vocação, não

pensava em seguir. Depois do segundo ano de

Efaserra comecei a ver o nosso potencial e a

pensar na hipótese de ficar. Coloquei a mão na

massa junto com meus pais, terminei o curso

técnico e decidi continuar estudando, sem fugir

da área”, relata o jovem.

Na Efaserra – Escola Família Agrícola da Serra

Gaúcha, que também fica na Terceira Légua –

Victor concluiu o Curso Técnico em Agropecuária.

Através de um projeto pedagógico focado nas

propriedades rurais, a escola incentiva os alunos

a criarem soluções de fomento à agricultura,

promovendo a qualificação profissional concreta e

eficaz do jovem da área rural, dando continuidade

aos agronegócios familiares e valorizando o

legado de seus antepassados. “Meus pais me

ensinaram a ter vontade de trabalhar, a ver que

aquilo que produzimos dá certo. Muita coisa

aprendi em casa, de um jeito simples, depois

adquiri mais conhecimento no curso técnico, e

agora, na faculdade, estou analisando tudo de

forma mais detalhada. Dá para relacionar os dois

e isso é o máximo”, reconhece Victor.

Em 2018, a pesquisa “A Mulher na

Empresa Familiar”, realizada pelo IDEF com

82 respondentes – entre esposas e filhas de

fundadores de empresas familiares da Serra

Gaúcha –, incluiu um recorte com mães de alunos

da Efaserra, sendo todas produtoras rurais de

três municípios da região, dentre elas Simone,

mãe de Victor.

Revista VOA • Edição 02 • Março de 2020

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