#2 Revista Voa
Publicação bianual do IDEF - Instituto de Desenvolvimento da Empresa Familiar com foco nos temas de Gestão e Governança Corporativa.
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Gestão do Negócio /
De pequena propriedade rural
à grande empresa de logística
Uma grande família com uma pequena produção rural. Dessa forma, João Silvestrin
define o início de seu trabalho na agricultura junto aos pais e irmãos no município
de Farroupilha. Reforçando que o incentivo familiar em relação aos estudos foi
fundamental para o seu desenvolvimento profissional, o empresário, que vislumbrou
no kiwi um produto próspero, também criou um negócio especializado em importação e
exportação de frutas que hoje está entre os maiores do segmento no Brasil.
“Aprendi que trabalhar sozinho é mais Ao relembrar do início de seu trabalho no
difícil. É preciso buscar pessoas que tenham ramo da agricultura, o empresário destaca
sintonia com o seu pensamento e a sua visão o fator educacional. “A família transmite
de negócio, e manter o foco no crescimento. princípios que norteiam a nossa conduta e nos
Nesse sentido, é importante que o dinheiro mantêm alinhados. A vida nos abre janelas que,
que se ganha seja reinvestido. Quando os às vezes, parecem ser importantes, mas não
interesses dos sócios estão dispersos, o estão de acordo com aquilo que acreditamos. E
negócio enfraquece”, afirma o empresário João são os valores que nos colocam no rumo”, ensina.
Fernando Silvestrin, 60 anos, que muito tempo Ele conta que os pais enxergavam nos estudos
antes de começar a trabalhar com logística e uma alavanca para desenvolver os filhos. “No
transporte de frutas foi seminarista e cursou verão, além de estudar, a família inteira ficava
duas faculdades: Filosofia e Direito.
em casa, ajudando eles na colheita da uva,
nada de praia. Éramos uma grande família com
Nascido em uma família de produtores uma pequena produção rural”. Aos 23 anos,
rurais, ele tem nove irmãos, dentre os quais Silvestrin começou a se envolver, de fato, com as
dois também são sócios-fundadores da questões relacionadas à agricultura no âmbito
Silvestrin Frutas – hoje um grupo de seis dos negócios. Isso ocorreu quando ele assumiu
empresas, com 550 funcionários, matriz e a presidência do Sindicato dos Trabalhadores
filiais localizadas em dois estados brasileiros Rurais de Farroupilha. Na entidade, o então
(Rio Grande do Sul e São Paulo) e no Distrito produtor rural organizava viagens para fora do
Federal, e faturamento anual próximo aos R$ Brasil com agricultores da região, para conhecer
400 milhões.
a atividade do cultivo de frutas em países como
Chile, Uruguai e Argentina.
Foi no Chile que ele e o irmão enxergaram que
o kiwi era originário de uma região parecida com a
Serra Gaúcha. Por volta de 1989, eles decidiram que
iriam trabalhar com aquela fruta exótica, até então
inexistente no Brasil, e importaram 10 mil mudas
chilenas. O projeto era substituir as parreiras pelo
kiwi, que era muito valorizado à época. “Observamos
que cultivar mudas para comercializar era viável
não apenas para a nossa família, mas também para
outros agricultores”, revela. No primeiro ano, um erro
técnico causou a perda de toda produção de 50 mil
mudas e, consequentemente, de um ano de trabalho.
“Foi um desastre. Até plantar a muda novamente,
esperar amadurecer, colher, vender e ganhar dinheiro
demoraríamos muito tempo. Então resolvemos
trabalhar também com a fruta”.
A primeira carreta do Chile, com 22 mil quilos de kiwi,
chegou em Farroupilha no ano de 1991. Para Silvestrin, o
que fez a família tomar a decisão de iniciar este negócio
foi o estado de necessidade, de querer melhorar as
condições de vida. “O kiwi era novidade, vimos nele um
produto próspero, com que poderíamos ter uma boa
fonte de renda”, conta. Com o passar do tempo e os
negócios crescendo, os irmãos adquiriram um box na
Ceasa em Porto Alegre e começaram a importar outras
frutas, como maçãs do Chile e da Argentina. Havia
chegado a hora de aprimorar a gestão e constituir,
de fato, uma firma. “Nossa ideia era criar um negócio
especializado em importação de mudas e frutas com a
condição de que ninguém seria remunerado. Vivíamos
de outras economias. Chamamos outro profissional, de
fora da família, para tocar a parte comercial”, afirma.
A matriz da Silvestrin Frutas foi na casa do
irmão. Depois, eles negociaram a compra de meio
hectare de área de um vizinho para construir a
estrutura e comprar equipamentos adequados
para armazenar os produtos. Já com a empresa
criada, o empresário recorda de um acordo que
fez com os irmãos. “Nunca misturamos o dinheiro
da empresa com o dinheiro pessoal. Quando você
faz uma boa venda se vê com a possibilidade de
receber um bom dinheiro, mas dentro do nosso
planejamento a empresa distribuiu resultados
para os sócios apenas a partir de 2003. Antes
disso, passamos a receber dois salários mínimos,
que reinvestíamos no negócio”.
Conforme o empresário, os filhos só
irão assumir cargos de gestão se estiverem
preparados para isso, apresentando resultados.
Atualmente, a empresa está reestruturando a
gestão do negócio, que inclui o desenvolvimento
de novas lideranças. A filosofia e a missão
continuam as mesmas desde a fundação, em
01/12/94: dentro do segmento de frutas há um
mundo a ser explorado. As frutas comercializadas
pela Silvestrin têm três origens: local (Rio
Grande do Sul), de outras regiões brasileiras
(principalmente o Nordeste) e do exterior. A
empresa já exporta caqui para o Canadá, sendo
que a previsão para 2020 é a de negociar cerca
de 140 toneladas. Anualmente, são importados
três milhões de quilos de kiwi do Chile, da Nova
Zelândia e da Itália, incluindo cinco variedades.
Revista VOA • Edição 02 • Março de 2020
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