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Temos saudades do público...

Ouçam a Música!

Ede repente o mundo mudou!

Mudou o fluxo das

nossas realidades, liberdades,

prioridades, valores e rotinas!

A interação e contacto com o próximo

deixou de ser presencial, confinou-se

e restringiu-se a núcleos

mais pequenos e em alguns aspetos

num cenário quase que virtual

de caracter tecnológico. Mudou o

mundo, não mudou a música, não

mudaram as artes, não mudou a essência

daquilo que nos caracteriza

como humanos, a nossa necessidade

de expressão, o nosso sentido

de humor, e acima de tudo os

nossos sentimentos mais básicos

e genuínos. O nosso cerne continua

intacto na sua criatividade, sabedoria,

espiritualidade, empatia,

e fisicalidade (mesmo que ameaçada

por uma pandemia sem precedentes).

O Músico que outrora

animava pequenas e grandes multidões,

deixando o som lhe percorrer

os sentidos, aqueles músicos

que nunca se conseguiram

imaginar a fazer outra coisa na vida

a não ser seguir sua vocação, talento,

o “trabalho” não confinado

a uma secretária mas a uma paixão

incontrolável, em que só assim

a vida faz sentido! O músico

não é alheio a riscos, a constrições,

a aventuras, a estar exposto e a se

adaptar ao mundo! O problema é

quando o mundo é outro, é quando

não tem com quem partilhar

a sua arte, nem como ter seu ganha-pão.

Sim há esses músicos…

que trabalham intensamente, que

se dedicam a horas infindáveis de

estudo e preparação, ensaios, que

muito sacrificaram sua vida pessoal

para poder levar ao “mundo”

seu talento e engenho. Força “operária”

tão válida quanto outras, alma

e voz de uma nação, mas acima

de tudo de uma Cultura! Eu não

sou um desses músicos, nunca tive

essa ousadia, essa coragem, não

segui esse chamamento de entrega

total a minha arte sem me preocupar

com a minha sustentabilidade.

Ironicamente fui um dos que ainda

tiveram sorte, que ainda tinha

forma dita convencional de sustento.

Vejo muitos amigos e colegas

meus que heroicamente abraçaram

seu chamamento musical

cair de repente num mundo confinado

ao isolamento, um planeta

quase que estático e restringido,

ameaçado por um vírus em que a

arma mais eficaz arma é ficar em

casa. Definitivamente é esse o dever

de todos nós, mesmo que custe,

roubando um dos direitos humanos

mais básicos como é o caso

da “proximidade”. Esses músicos

têm famílias para sustentar, contas

e impostos para pagar. O seu papel

na sociedade é tão válido quanto

um político ou médico. “Sim, os

apoios são válidos!” A música é a

arte que une culturas, raças, credos

e ideologias, mesmo antes da era

da globalização! Não admira que

neste momento é consolo, voz, escape,

choro, “vida”, e antidote para

a “demência” ruidosa deste tempo

que vivemos. Temos saudades do

público, do contacto, dos aplausos,

das produções, das parcerias,

dos espetáculos, da cumplicidade,

do toque, e de poder olhar o outro

nos olhos! (…) Vejo os grandes

músicos desta terra a mostrar seu

talento, a cumprir seu chamamento,

obedecendo a uma força maior

que os ultrapassa, trazendo alento

através de canções nos circuitos da

era digital chegando a todos nós!

Mais uma vez, que orgulho! Mantenham-se

seguros, mantenham-se

criativos e ouçam a Música!. ••

• Duarte Santos (trabalha no Instituto de Segurança Social da Madeira e nas

horas vagas é vocalista da banda madeirense Outerskin) • Fotos: Duarte Santos

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