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CONVITE À REFLEXÃO E AO APRENDIZADO
O que o olhar
não delimita
Por Dra. Telma Mª S. Machado
Aracaju - SERGIPE - BRASIL
Delegada da ABRAME (Associação brasileira dos Magistrados Espíritas) em Sergipe, Graduada em Ciências
Biológicas e em Direito, Pós-Graduada em Direito Processual Público, Juiza Federal da Seção Judiciária de
Sergipe, Mestre em Filosofia,
Há um ditado popular que diz: “os olhos são o espelho
da alma”.
Não é que não seja verdadeira tal assertiva, tendo
em vista que, através dos olhos, externamos sentimentos
que não ousamos ou não podemos exprimir com palavras.
Entretanto, sob o contexto puramente biológico, a visão
humana é tão restrita que tal fato deveria nos deixar prevenidos
em relação a determinadas afirmativas que podem
ser desmentidas com o avanço científico-tecnológico.
Hoje coisas que podem parecer bizarras e fantasiosas
para alguns, talvez se tornem, no decorrer de décadas
ou séculos, de clareza fotofóbica. A ciência nos proporciona
um exemplo clássico: antes dos experimentos do
cientista italiano Francesco Redi (1626-1697), a teoria
da abiogênese (ou da geração espontânea, segundo a
qual a vida poderia se originar de matéria inanimada) era
aceita pacificamente entre nomes de peso, a exemplo de
Aristóteles (385-323 a.C.) e Paracelso (1493-1541). A tal
ponto chegava aquela “certeza”, que o médico e cientista
belga Johann Baptista van Helmont (1580-1644, realizou
relevante estudo sobre nutrição das plantas), nos idos do
século XVII, até elaborou uma receita de como produzir
camundongo a partir de roupas suadas e trigo.
Pois bem, felizmente Francesco Redi, por volta de
1668, partiu da hipótese de que as moscas presentes no
material em putrefação não surgiam da matéria apodrecida
e sim de ovos depositados em tal material.
É bem verdade que tal discussão ainda foi retomada
(1632 a 1723) graças às observações obtidas pelo cientista
holandês Antoine Van Leeuwenhoek. Considerado o pai
da microbiologia, esse cientista aperfeiçoou o microscópio
mediante a utilização de lentes que permitiam ampliar o
objeto observado em aproximadamente 200 (duzentas)
vezes, possibilitando a visão de diversos micro-organismos.
Uma vez que o uso do microscópico permitiu a visualização
de micro-organismos, por mais que se protegesse
a matéria orgânica dos frascos, a teoria da geração espontânea
voltou a ganhar força, especialmente com um experimento
feito pelo cientista John Needham (1713-1781),
por volta de 1745.
Na segunda metade do século XIX, porém, o cientista
francês Louis Pasteur (1822-1895) praticamente sepultou
a teoria da abiogênese também em nível microscópico,
com o famoso experimento dos frascos em formato de
pescoço de cisne.
Com esse prefácio pretendo pontuar que se a visão
humana já é restrita do ponto de vista biológico, o que
dizer então relativamente às percepções extrassensoriais.
Quando nos deslocamos da visão física para a “visão”
do entendimento, ou seja, para a compreensão das coisas,
necessário ainda mais cuidado.
Há vários séculos a ciência tem levantado cortinas de
equívoco, fulminando concepções divorciadas da realidade
nem sempre por nós vislumbrada. Mesmo assim, há os que
defendem que o acaso pode criar algo que a inteligência
humana nem sonha em fazê-lo. Nessa perspectiva, o acaso
seria de extrema precisão, não somente porque teria criado
a natureza com todos os seus ciclos ordenados, relacionados,
estruturados, sequenciais e causais, como também
por ter originado a inteligência do homem. Para os que
entendem que Deus é o criador do Universo, a hipótese de
um acaso é injustificável, pois tem plena convicção de que
“coincidência é a maneira que Deus encontrou para
permanecer no anonimato” (alguns atribuem a Albert
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Atração_maio de 2020