Revista Penha | julho 2021

A gota
A gota é uma doença reumática inflamatória resultante
da deposição de cristais de monourato de sódio (forma
de acumulação de ácido úrico). Afeta sobretudo
os homens, com início habitualmente entre os 40
e os 60 anos, sendo muito rara em mulheres antes
da menopausa. Em ambos os sexos, a obesidade,
a hipertensão arterial, os triglicéridos elevados e a
insuficiência renal aumentam o risco de aparecimento
desta doença.
O ácido úrico elevado (acima de 6,8 mg/dL no sangue)
é o principal fator de risco para a gota. A principal
causa de aumento do ácido úrico é hereditária. Outros
fatores que contribuem para o aumento do ácido úrico
são o consumo excessivo de álcool (em particular
bebidas brancas e cerveja), uma alimentação incorreta
(sobretudo quando rica em purinas - carnes vermelhas,
vísceras, marisco), ou a toma de alguns medicamentos
(como o ácido acetilsalicílico ou diuréticos tiazídicos).
As formas agudas de gota surgem como crises
súbitas de artrite (tumefação, rubor, dor e calor
de uma articulação). Os sinais inflamatórios na
articulação envolvida são exuberantes e surgem
repentinamente entre 6 a 12 horas. Habitualmente,
nas fases iniciais da doença apenas uma articulação
é afetada, sendo a localização mais típica nos
membros inferiores, particularmente no 1º dedo do
pé, tornozelos e joelhos. Menos frequentemente,
atinge as articulações dos membros superiores (mãos,
punhos e cotovelos). Durante a crise, podem também
surgir sintomas inflamatórios gerais como a febre. As
crises podem ser autolimitadas (resolução em 1 a 2
semanas), mas com o início de terapêutica adequada
é possível encurtar a sua duração.
As formas crónicas resultam na deposição de agregados
de cristais dentro e em torno das articulações, com
progressiva destruição das mesmas. A gota pode ainda
apresentar sintomas renais (cálculos e insuficiência
renal) e metabólicos (hipertensão arterial, elevação
dos triglicéridos).
É necessário evitar os fatores que propiciam a formação
de ácido úrico, além de aumentar a ingestão de líquidos
para melhorar a sua eliminação pelo fluxo urinário. A
crise aguda de gota pode ser controlada com o uso de
anti-inflamatórios não esteroides, entre outros, para
diminuir a dor e inflamação. Os medicamentos com
objetivo específico de diminuir os níveis de ácido úrico
também devem ser iniciados e mantidos a longo prazo,
de forma a prevenir episódios futuros e evitar lesões
sobretudo nas articulações.
Apesar de não ter cura, é importante frisar que a gota
quando tratada adequadamente não interfere na
qualidade de vida. A prática de exercício físico regular,
uma alimentação regrada e o cumprimento da toma
de medicamentos crónicos são os meios de evitar as
consequências da gota a longo prazo.
Artigo escrito pela Dra. Marta Barroso
Médica Interna de Medicina Geral e Familiar
USF Oriente
Telefone: 218 10 10 10
Avenida Afonso III, Lote 16
16