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Felipa de Sousa, algarvia condenada na Inquisição

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Felipa de Sousa, algarvia condenada na Inquisição pelo “pecado nefando da sodomia”

José Carlos Vilhena Mesquita

com o cargo de Inquisidor Geral, que competia a Frei

Diogo da Silva por imposição da bula papal. Pode

dizer-se que foi a partir da nomeação de D. Henrique

que a Inquisição verdadeiramente nasceu. E também

pode dizer-se que foi por sua influência que a

Companhia de Jesus, veio para Portugal. Em 1545, o

rei premiou-o com o ambicionado título de Cardeal. Os

anos seguintes foram extenuantes, não só na

superintendência da Inquisição, como também na

regência do trono após a morte do irmão em 1557, na

educação do sobrinho D. Sebastião, e após o desastre

de Alcácer Quibir, ascendeu ao trono pátrio em 28-8-

1578, num momento particularmente difícil e

desastroso da nossa história. Teve um trono efémero,

pois faleceu em 31 de Agosto de 1580, abrindo

caminho à entronização da dinastia filipina.

Devido aos excessos perpetrados pelos tribunais do

Santo Ofício em Coimbra, Lamego, Tomar, Évora e

Lisboa, o mesmo Papa Paulo III, que os havia instituído,

decidiu extingui-los em 1544 e suspender todas as

D. Diogo da Silva, o primeiro Inquisidor Geral, bispo de Ceuta e

arcebispo de Braga. Retrato existente na Galeria dos Arcebispos de

Braga.

carácter irreversível a Inquisição portuguesa, com sede

em Évora, por ser aí que se encontrava a Corte. 8 Nessa

nova versão da bula instituidora, nomeava para

comissários e inquisidores em Portugal os bispos de

Ceuta, de Coimbra e de Lamego, um triunvirato difícil de

contentar e de convencer, que emperrava o bom

funcionamento do Santo Ofício.

A comunhão de interesses, entre o Rei e a Igreja, era

tão clara e evidente que D. João III, para empalmar o

poderoso tribunal, tomou a decisão política de

escambar, em 1540, o cobiçado lugar de Arcebispo de

Braga, pertencente ao próprio irmão, D. Henrique,

8 A Bula «Cum ad nil magis», de Paulo III, concedeu ao rei de Portugal

a fundação da Inquisição com a prerrogativa de nomear o Inquisidor.

ANTT, Bulas, Maço 9, nº15. Apud. Isaías da Rosa Pereira, Documentos

para a História da Inquisição em Portugal, século XVI, Porto, Arquivo

Histórico Dominicano Português, 1984, fasc. 18, pp. 23-27.

Cardeal D. Henrique, grande impulsionador da Inquisição portuguesa

e verdadeiro instituidor do Tribunal do Santo Ofício; retrato da sua

efémera passagem pelo trono português.

REVISTA DO ARQUIVO MUNICIPAL DE LOULÉ

n.º 20 2018

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