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Juventude, alegria

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que em realidade não era”, uma tarefa de militância política,

uma luta a braço partido. Eram trotskistas, mesmo

muitas vezes sem ter lido Trótski, “estúpidos e generosos,

como são os jovens, que tudo entregam e nada pedem em

troca”. E lembra que toda a América Latina carrega a sombra

de muitos jovens esquecidos, na miséria e por negligência

ou mortos na Bolívia, Argentina, Peru, Chile, Nicarágua,

El Salvador, Colômbia, México etc. A escolha, diz Bolaño,

sempre díspar, tal como fez Cervantes, que era soldado,

foi pela juventude entre os que nada tinham e já estavam

derrotados, a militância [esta alegria de jovens] contra o

descrédito da poesia.

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Exatos 30 anos antes, em agosto de 1969, Pasolini

escreve, em sua coluna O Caos, no semanário Tempo,

a respeito de “uma falha dos velhos”, quando,

a partir de certa idade, como se costuma dizer em discussões

respeitáveis, nos tornamos humoristas, fatalmente.

É uma falha grave dos velhos. Os jovens — aqueles que

importam ou importarão — jamais fazem humor. Eles

levam tudo de peito aberto e a sério. O humorismo

implica uma desconfiança um tanto ascética sobre as

ações humanas: ou pelo menos um descolamento dela,

devido a uma série de decepções. O humor permite

viver, apesar de tudo: seguir adiante apenas para findar

a vida. Não é incomum que tal humor adquirido à força,

à medida que envelhecemos, tenha um outro rosto, a

utopia: que é, portanto, a fossilização da esperança e

da seriedade juvenil.

A juventude se mobiliza, portanto, entre estupidez

e generosidade, entre alegria e seriedade, e tais polos,

mesmo contraditórios, não se autoexcluem, quando a vida

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