Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
equilíbrio de não dizer as coisas
super óbvias, tipo de caras, e
também não dizer algo de uma
forma tão poética que não se
perceba o que o artista está a
dizer. Poucas pessoas o conseguem
fazer bem. Portanto, esse é
para mim o maior desafio: passar
a mensagem, mas não de uma
forma super literal.
A tua música tem uma identidade
muito própria. São
canções com humor onde
abordas com leveza e descontração
temas com os quais nos
conseguimos relacionar. Como
é que desenvolveste esta tua
identidade sonora?
Isso para mim é o mais difícil.
Recolher músicas e perguntar
às pessoas se querem entrar no
álbum é a parte mais fácil. A parte
mais difícil é quando se quer
comunicar alguma coisa que
seja super autêntica, mas que,
de facto, ainda não foi inventada.
Temos que ser nós a criar.
A minha maior carta, para jogar
este jogo da música, é de facto
as ideias. A nível prático, não
tenho assim tantas capacidades
como isso porque música nunca
foi a minha base académica. Portanto,
tive mesmo que recorrer a
muitas pessoas para perceber o
que queria. Foi um bocado tentativa-erro.
E aí o Tiago Bettencourt
teve um trabalho muito árduo
e com muita paciência para
estar muitos dias seguidos em
estúdio comigo para perceber
exatamente a sonoridade que eu
queria. Agora, na verdade, estou
a passar pelo mesmo processo
porque quero mudar a minha
sonoridade mais um pouco, atualizar
o que eu sou agora, com
o David [Fonseca], que também
está a ser bem difícil e demorado.
A juntar à música, também a
tua imagem é única. Sentes que
a imagem é importante na tua
forma de te expressar como
artista?
Acho que sim. Acho que também
é uma parte gritante do que eu
sou. Porque, de facto, tenho a
dizer que a minha imagem é um
bocadinho peculiar, se calhar.
Por causa das cores… E a minha
imagem tem um bocado de estar
equivalente com o que eu estou
a fazer, com o que eu estou a
dizer. Eu acho que ser artista é
quase um pack completo da maneira
como se escreve, comunica
e como se partilham as coisas.
Até nas redes sociais, a forma
como se anuncia um novo single
é essencial para as pessoas
perceberem quem é [o artista] e
a sua personalidade. O artista já
não é só quem marca concertos
e vai para palco, agora tem que
pensar numa série de coisas que
antes não existiam.
Mais recentemente, lançaste o
single “Fado Chiclete”, onde
voltas a marcar a tua irreverência
como artista. O que é que
nos podes dizer acerca deste
fado?
Este fado é um não fado. Esta
música partiu da ideia de um videoclip
que eu tinha. Gostava muito
de escrever um fado, mas eu
acho que sou a pessoa menos
fadista que existe em Portugal.
Toda eu corporalmente e visualmente
parece que não cola com
o fado. Portanto, eu tentei criar
um não fado à minha maneira,
onde os acordes e as frases
melódicas estivessem a bater
certo com os fadinhos ou os corridinhos
recorrentes de Portugal,
mas depois a nível sonoro e de
produção nada tem a ver e tem
um ambiente mais contemporâneo,
vamos dizer assim.
Para além disso, também tiveste
a oportunidade de realizar
e produzir o videoclip
deste novo single. Já tinhas
explorado essa vertente na colaboração
que tiveste com o
Miguel Araújo (Estou por tudo)
e também no vídeo da tua música
Quase Dança. Esta é outra
das tuas paixões?
Sim. A minha área de estudo
académico foi cinema, que pus
sempre muito de parte. Fui para
cinema porque era outra forma
de comunicar com as pessoas,
mas é uma forma muito demorada
e, em Portugal, é muito difícil
ter acesso a financiamentos e
a meios para concretizar ideias.
Depois, devido à COVID-19,
como as coisas musicais estavam
muito paradas e não havia muito
mais espaço para financiar ou
para promover novas canções,
decidi fazer o videoclip para as
músicas do primeiro álbum. A
Quase Dança correu muito bem
e, a partir daí, felizmente, eu e
o meu amigo Ricardo Leite, que
estudou comigo, temos sido
muito solicitados para fazer videoclips
para outros artistas. Tem
sido divertido.
Quando lançaste o álbum, o
mundo estava a viver um confinamento
global pela primeira
vez. A tua primeira tour teve de
ser reagendada por causa da
pandemia, tendo começado depois
do previsto e sofrido uma
paragem abrupta devido a um
novo confinamento. Como foi
lidar com estes contratempos?
Foi muito complicado. Como
todas as outras profissões que
exigem um grande financiamento
da parte do artista e que dependem
da compra e do acesso
do público, é um bocado difícil
quando esse acesso é completamente
interrompido. Ainda
para mais quando era a minha
grande estreia em nome próprio.
A minha tour foi toda cancelada.
Mas, honestamente, ainda bem
que o fiz. Foi das melhores decisões
da minha vida ter lançado
o álbum e não o ter guardado
como muitos artistas fizeram e
só lançaram agora. Isso é uma
dor, parece que a vida está estagnada
e não continua. Ainda
bem que lancei. As pessoas conseguiram
ouvir-me em casa, não
ouviram em concerto, mas ouviram
em casa. E acho que, apesar
de tudo, o álbum teve assim um
cantinho muito fofinho na nossa
comunidade e abriu portas para
este segundo álbum.
Quais são os teus planos para o
futuro?
Continuar a gerir a minha carreira
na realização e na produção,
que são duas áreas que eu fiquei
a adorar e a fazer muito a sério
e, claro, a conclusão do segundo
álbum e o lançamento do mesmo.
Podes desvendar mais sobre
esse projeto?
Não. Está a ser feito. Tudo o
resto, vou vendo com a maré do
tempo. Quando tiver coisas fixes,
eu anuncio.
cultura
Texto por Leonor Costa
Após 26 anos com as portas
abertas, a loja de música independente
continua a ser um
lugar de referência para os
apreciadores do estilo “underground”.
Passavam poucos minutos da
hora de abertura da pequena
loja de música no Centro Comercial
Parque Itália, quando o
primeiro cliente do dia entrou
para recolher a sua encomenda.
Miguel Teixeira, dono da Piranha,
cumprimenta o cliente - que
parece ser habitual-, de forma
amigável e não hesita em partilhar
recomendações e novidades
da loja, enquanto procura
a encomenda no meio de tantas
outras. A verdade é que, após
26 anos com as portas abertas,
Miguel já está familiarizado com
os gostos e as preferências de
quase todos os seus clientes.
Miguel Teixeira decidiu abrir a Piranha
a 1 de dezembro de 1995,
um projeto que resultou da paixão
pela música que sempre fez
parte da sua vida. Antes da Piranha,
Miguel já tinha uma forte
Montra da Loja Piranha (Foto: piranhacd.coml)
Piranha: “Somos a prova que a decadência
dos CD’s não existe”
Numa era digital, onde é cada
vez mais prático aceder de forligação
à música e à sua vertente
mais underground: durante mais
de 10 anos teve um programa
na Rádio Nova Era, o “Arco do
Cego”, e criou ainda a fanzine
“Peresgótika”, que esteve em
distribuição “seguramente década
e meia”.
Miguel T. reconhece que a Piranha
se dedica a “um target específico”.
É um pequeno paraíso
para todos aqueles que apreciam
a música underground e, especialmente,
metal, o estilo que
Miguel considera ser rei na sua
loja. Entre CDs, vinis, cassetes,
DVDs e revistas, quem entra na
Piranha não sai de mãos a abanar.
A oferta é variada e vai desde
edições mais raras e limitadas
até às mais clássicas e conhecidas.
Um fator que contribui para esta
variedade nos produtos da Piranha,
é o facto de a loja também
vender material em segunda
mão, o que para Miguel é uma
vantagem: “Os usados, para
nós, são muito importantes,
porque temos pessoas que vêm
de propósito aqui, uma ou duas
vezes por semana, só para ver
o que entrou de novo nos usados,
para ver se encontram algo
raro ou que está descontinuado,
que saiu fora do catálogo ou que
está à venda em sites a 30 ou 40
euros, e aqui arranjam de uma
forma mais barata”, partilha ao
jornal Pontos de Vista.
No entanto, a extensa oferta
da loja de música não é motivo
para deixar o cliente indeciso na
sua compra. Apesar de a maior
parte dos clientes da Piranha
terem já em mente aquilo que
pretendem comprar, Miguel T.
explica que os colaboradores
estão sempre preocupados em
orientar o cliente de acordo
com os seus gostos: “Os nossos
clientes, normalmente, são clientes
que sabem o que querem,
bem informados, e nós estamos
aqui como uma espécie de musical
personal trainers. A nossa
obrigação é aconselhá-los e
mostrar-lhes coisas novas”.
Sobreviver à ameaça do formato físico
6 7