Memórias de uma infância de subúrbio
Na obra, o autor consegue, a partir de sua história particular, contar a história da geração que viveu nos anos 1960 no subúrbio do Rio de Janeiro. Seus relatos, com uma memória invejável, reverberam em quem vivenciou o mesmo período — sua história é também a de muitos outros que viveram na mesma época. Sua narrativa nos remete aos contadores de história oral, rica em detalhes e com novas histórias surgindo uma dentro da outra, com um quê de suspense que nos impede de parar a leitura para ver até onde vai chegar. Fala das brincadeiras, das escolas, das férias, da família, das paqueras e namoros, de carnaval, de futebol, das festas. Ao mesmo tempo que fala de si, fala do bairro de Bangu, dos bairros vizinhos, da cidade e das suas desigualdades — por exemplo quando relata como chega nas areias de Copacabana carregando as trouxas de roupa com sua mãe para a casa da patroa. O livro trata das contradições de ser uma criança e adolescente, das alegrias e angústias, dos medos e dos sonhos, de brigas e reconciliações, de felicidades e dificuldades de toda uma geração. Esta obra é um retrato do subúrbio carioca e traz uma espécie de baú de recordações da infância do autor.
Na obra, o autor consegue, a partir de sua história particular, contar a história da geração que viveu nos anos 1960 no subúrbio do Rio de Janeiro. Seus relatos, com uma memória invejável, reverberam em quem vivenciou o mesmo período — sua história é também a de muitos outros que viveram na mesma época.
Sua narrativa nos remete aos contadores de história oral, rica em detalhes e com novas histórias surgindo uma dentro da outra, com um quê de suspense que nos impede de parar a leitura para ver até onde vai chegar. Fala das brincadeiras, das escolas, das férias, da família, das paqueras e namoros, de carnaval, de futebol, das festas. Ao mesmo tempo que fala de si, fala do bairro de Bangu, dos bairros vizinhos, da cidade e das suas desigualdades — por exemplo quando relata como chega nas areias de Copacabana carregando as trouxas de roupa com sua mãe para a casa da patroa.
O livro trata das contradições de ser uma criança e adolescente, das alegrias e angústias, dos medos e dos sonhos, de brigas e reconciliações, de felicidades e dificuldades de toda uma geração. Esta obra é um retrato do subúrbio carioca e traz uma espécie de baú de recordações da infância do autor.
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Na casa da
Dona Conceição
nos dias de rituais
umbandistas
naquela manhã de sexta-feira, em dezembro de 1961,
o sol estava escaldante e o calor era infernal em Bangu, o
que não era uma raridade. Minha mãe lavava as últimas
peças de roupa que iria colocar para secar e depois ainda
passar, para completar a trouxa que levaria até Copacabana
na manhã de sábado, como acontecia toda semana.
— Mãe, deixa eu ir à casa da tia Conceição, deixa? — dizia
choramingando e puxando a saia dela para atrair sua atenção.
Ela estava irritada, empurrava bruscamente a minha
mão, gritava comigo dizendo para eu parar de fazer manha;
para eu ir para dentro de casa, pegar um papel e lápis e
desenhar; que iria me bater se eu continuasse atrapalhando
seu serviço. Mas eu insistia, porque adorava ir à casa da tia
Conceição, que não era tia de fato, mas a matriarca de uma
família amiga da nossa havia muitos anos.
De vez em quando ela parava de esfregar a roupa, empurrava-me
pelo peito com força suficiente para eu andar para
trás cambaleante, mas insuficiente para eu cair no chão,
seguia até a cozinha e mexia nas panelas onde cozinhava
o feijão, o arroz, o angu, a carne ou outra comida qualquer.
Experimentava cada alimento com a ponta da colher e em
alguns colocava um pouco mais de sal, de água ou de tempero;
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