PHILIP

X
A paixão chegou à vida de Philip como um arco-íris depois
da tempestade. Os dias eram mais belos, a noite era feita
de agonia e ensaio para o momento de estar perto dela.
O corpo todo estremece e o medo aflora a sensibilidade,
medo de ferir, de decepcionar.
Philip reservava as mais lindas canções para cantar
sobre o milharal e podia jurar que sua espiga ouvia e
se deliciava.
Suas pétalas longas e verdes pareciam querer abrir e
desfolhar deixando transparecer a mais linda espiga
amarela, como o sol.
Um dia conseguiu chegar tão próximo que podia ouvir
sua voz. Então descobriu sua meiguice, seus encantos e
desamparo.
Tornou-se claro o perigo... Logo chegaria o tempo da colheita
e, o pior, os homens protegem as espigas dos pássaros
que ferem e destroem. A defesa não é pela integridade
deles, mas em benefício da colheita.
Os homens conservam coisas que não fazem diferença
para o seu destino, mas são impostas pelos princípios.
Muitas vezes se perguntou se os homens sabiam
amar, pois eles identificam a causa pelos
sintomas, e o amor traz as mais maravilhosas
surpresas que com certeza não se
entregam a nenhum princípio.
Só os pássaros sabem que
o amor tem a lógica de uma
flor que nasce de uma
pedra.
XI
Pensar no passado agora que completava um mês de sua
prisão era um remédio tolo, mas compreensível.
Assemelha-se à velhice que aprofunda as raízes na juventude
sugando as últimas gotas de impetuosidade até que
se entrega morbidamente ao passado, desistindo da vida.
Seu corpo estava cansado, fraco. Não faz diferença a
proximidade da morte quando não se tem a liberdade
para sentir a vida e escolher o melhor caminho.
Quantos caminham pela escolha de outros sem perguntar
o porquê, sem saber se acreditam realmente em seu
princípio. É como se a vida fosse um jogo de crianças
que sorteiam com dados a evolução de seus peões
e crescem à medida que sobrevivem
aos castigos ou se submetem
ao veredito: