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A Casa da Vovó - Marcelo Godoy

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extensas baixas aos quadros daquela organização, bem como

desarticulou importantes e sensíveis setores da mesma. 46

Médici: haverá repressão

Nos oito primeiros meses daquele ano, os agentes do DOI haviam

acompanhado 366 roubos ocorridos no Estado, a maioria na Grande São Paulo.

Poucos deles eram ações da esquerda. Esse controle era mais um dos métodos

adotados pelo DOI, que permitiam ao órgão comemorar as baixas inimigas.

Além da tortura, elas eram resultado da ação dos informantes, das paqueras e do

trabalho da análise. A primeira ainda tinha, é claro, muita utilidade no

interrogatório de presos e como instrumento de terror e controle, mas deixara de

ser a fonte exclusiva das informações. “Primeiro prendíamos para interrogar.

Agora investigamos para prender”, repetia o Doutor Edgar, o chefe da Seção do

Interrogatório e Análise. De fato. Primeiro foi preciso desfazer a cadeia. A prisão

servia para “romper a ligação entre os terroristas” e a tortura, para “arrancar

informações rapidamente”. Era a necessidade de desarticular a guerrilha que

impedia os militares de matar. “Só os nossos estão morrendo”, reclamou o

presidente Emílio Garrastazu Médici para o seu ministro do Exército, general

Orlando Geisel, ao saber da morte de um oficial do Exército num tiroteio no Rio.

— Nós não podemos matar, precisamos desfazer a cadeia, respondeu o

ministro.

— Mas só os nossos morrem? Quando invadirem um aparelho, terão de

invadir metralhando. Estamos numa guerra e não podemos sacrificar os

nossos. 47

Médici cobrava do ministro o cumprimento da promessa que fizera: a de

que em seu governo haveria “sim repressão, dura e implacável”, ainda que “só

contra o crime e os criminosos” personificados aqui naqueles que buscavam

subverter a ordem e derrubar o governo. A vontade presidencial transformou-se

em ordem. Aperfeiçoou-se de tal forma o trabalho de combate à guerrilha que

em pouco tempo foi possível, como no caso de Iuri, tornar seu desejo realidade

sem que fosse preciso abdicar do trabalho de se desfazer a cadeia. Antes, a

polícia prendia cem para neutralizar um único integrante da guerrilha. Essa

repressão massiva tinha o inconveniente da publicidade. Como então cumprir o

desejo presidencial? Unir a estratégia militar de aniquilar o inimigo às táticas

policiais, como investigação, infiltração, vigilância e mapeamento do crime.

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