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Warming

Uma Newsletter do PELD – CRSC

Boletim 010 Dezembro 2022

https://doi.org/10.6084/m9.figshare.22584073

Ilha de vegetação no campo rupestre

Foto: Paulo R. Siqueria


Warming

Uma Newsletter do PELD – CRSC

Boletim 010 Dezembro 2022

Índice

1. Editorial

2. Um Centro de Conhecimento em Biodiversidade para monitorar uma cadeia de montanhas

3. A fantástica diversidade nas águas das “ilhas do céu” no campo rupestre

4. O que faz seus olhos brilharem?

5. As diferentes formas de vida das plantas que habitam as montanhas da Serra do Cipó

6. Treze anos de monitoramento climático na Serra do Cipó:

furto de equipamentos atrasa pesquisa

7. A ciência que eu faço: Gabriela Muller

8. Trabalhos de conclusão da pós-graduação em 2022 relacionados ao Peld-CRSC

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Uma Newsletter do PELD – CRSC

Boletim 010 Dezembro 2022

1. Editorial

A

décima edição do boletim Warming traz informações de relevância para o público

geral ao apresentar de forma clara e concisa o que os cientistas estão produzindo

nas paragens da Serra do Cipó e arredores. Neste número, apresentamos o recémcriado

Centro de Conhecimento em Biodiversidade, um Instituto Nacional de Ciência e

Tecnologia do CNPq que traz contribuições importantes para o projeto Peld e para toda a

região da Serra do Espinhaço. O segundo assunto aborda a diversidade de espécies contida

nas águas cristalinas da Serra do Cipó, a importância delas e os perigos que correm com

o avanço da conversão dos solos. O terceiro tópico traz um relato da pesquisadora Grazi

Monteiro, que investigou uma planta parasita na Serra do Cipó. A edição apresenta ainda

as adaptações das plantas no território montanhoso da Serra e o balanço dos treze anos de

monitoramento climático desenvolvido pelo PELD CRSC. O quadro “A Ciência que eu faço”

traz uma entrevista com a climatologista argentina Gabriela Muller, sobre seu percurso como

cientista e parcerias com o Brasil. Por fim, a apresentação de todos os trabalhos acadêmicos

concluídos em 2022 sobre a Serra do Cipó.


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Uma Newsletter do PELD – CRSC

2. Um Centro de Conhecimento em Biodiversidade para monitorar uma cadeia de montanhas

O

Centro de Conhecimento da

Biodiversidade é o novo instituto

de referência para pesquisas

sobre a biodiversidade brasileira. Iniciado

em 2023, o Centro desenvolverá nos

próximos cinco anos a maior rede de

monitoramento dos biomas brasileiros,

abrangendo todos os seis biomas do

país, incluindo o Espinhaço. A cadeia do

Espinhaço tem uma história de milhões

de anos, é complexa geologicamente e

é onde prosperou uma das floras mais

espetaculares do mundo.

Com mais de 1.200 quilômetros de

extensão, a Serra do Espinhaço é Reserva

da Biosfera da Unesco e abriga

mais de 50 unidades de conservação,

comunidades tradicionais e centenas de

espécies e formas de vida endêmicas.

Muitas dessas espécies raras e ameaçadas

pela expansão imobiliária, mineração,

incêndios e pecuária. A Cadeia

do Espinhaço protege importantes nascentes,

que mantêm cinco dos principais

rios brasileiros e abastecem mais de 50

milhões de pessoas no populoso sudeste

e semiárido do nordeste do país.

A Serra do Espinhaço está localizada

entre dois dos hotspots mundiais de biodiversidade,

o Cerrado e a Mata Atlântica,

e a Caatinga. Esta serra funciona

como um imenso Corredor Ecológico e

mantém um complexo de ecossistemas

que abriga uma das maiores diversidades

vegetais do mundo: o Campo Rupestre.

Apesar de sua enorme importância

para a manutenção da biodiversidade e

dos serviços ecossistêmicos, uma extensa

área da Cadeia do Espinhaço ainda

é pouco estudada. Infelizmente, toda a

cadeia está sob crescente ameaça e as

estimativas atuais preveem uma perda

de até 70% de sua área até 2050.

Com mais de 38 instituições

participantes, o Centro de Conhecimento

da Biodiversidade pretende atuar

fortemente na região ajudando a

desenvolver pesquisas inovadoras

sobre o monitoramento dos efeitos das

mudanças climáticas na biodiversidade

e nos serviços ecossistêmicos, e os

impactos na sociedade. O Centro tem

forte apoio do Programa Brasileiro de

Biodiversidade (PPBio) do Ministério

da Ciência e Tecnologia do Brasil e

de outras instituições como Instituto

Chico Mendes (ICMBio), Universidades

Estaduais e Federais, além de parcerias

Figura 1. Serra do Cipó. Foto: Siqueira, W.K.

Referências

Fernandes, G. W. et al. 2018. The deadly

route to collapse and the uncertain fate of

Brazilian rupestrian grasslands. Biodiversity &

Conservation 27: 2587–603.

Fernandes, G. W. 2016. Ecology and

Conservation of Mountaintop Grasslands

in Brazil. Springer International Publishing,

Switzerland.

Conheça mais sobre o Centro de Conhecimento

da Biodiversidade acessando aqui.

internacionais como o Humboldt da

Colombia, Centro de Invesgaciones

sobre Desertificación da Espanha, entre

outros.

Monitorar e avaliar a biodiversidade

brasileira de forma integrada e inovadora,

para fornecer dados científicos

sólidos, é um passo importante para a

construção de um futuro em que a natureza

seja protagonista.

Por:

Geraldo W Fernandes

Coordenador do Projeto

PELD Serra do Cipó,

Prof. Titular de Ecologia

pela UFMG e Membro

Titular da Academia

Como citar:

Brasileira de Ciências.

Fernandes, G. W. 2023. Um Centro de Conhecimento em Biodiversidade

para monitorar uma cadeia de montanhas. In: Fernandes, G. W.,

Ramos L., Saloméa, R., Siqueira, W. K. Warming 10:3-4. https://doi.

org/10.6084/m9.figshare.22584073

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3. A fantástica diversidade nas águas das “ilhas do céu” no campo rupestre

O

campo rupestre abriga diversas

nascentes e riachos de cabeceira,

que serpenteiam sobre montes e

vales, integrando mosaicos de paisagens, relevos,

solos e vegetação, abrigando espécies

aquáticas que evoluíram ao longo de milhões

de anos. Os riachos de cabeceira no campo

rupestre são canais fluviais estreitos e rasos,

que podem ser temporários ou perenes e, em

geral, pobres em nutrientes. São formados

por águas transparentes, amareladas ou cor

de chá forte, coloração causada por substâncias

orgânicas (húmus).

Esses riachos são laboratórios naturais

para estudos ecológicos, onde buscamos

conhecer as características de suas águas,

as espécies aquáticas e suas relações com

a vegetação do entorno. Os estudos estão

concentrados nas cabeceiras das bacias hidrográficas

dos rios Doce, São Francisco e do

Jequitinhonha, ao longo da Serra do Espinhaço,

em Minas Gerais.

Um desafio urgente na Ecologia é entender

como as mudanças globais no clima

e nos usos da terra devido a atividades humanas

influenciam os ecossistemas aquáticos

e sua rica biodiversidade. A substituição de

cobertura vegetal nativa por atividades agropastoris,

aumento de urbanização, mineração

e turismo não planejado, desmatamento

de matas ciliares e aumento de nutrientes em

riachos de cabeceira têm degradado a qualidade

e quantidade de água no campo rupestre,

colocando em risco a sua biodiversidade.

Vistas de cima das nuvens, as montanhas

formam ilhas na paisagem, as chamadas

ilhas do céu (sky islands). Nesses pontos altos,

a degradação de nascentes dos riachos

afeta o funcionamento de vários ecossistemas,

influenciando profundamente as regiões

mais baixas e o abastecimento urbano, bens

e serviços ecossistêmicos.

As atividades humanas e as mudanças climáticas

ameaçam a diversidade de espécies

aquáticas, com altos níveis de endemismo e

ainda pouco conhecidas. Dentre os grupos

menos estudados, destacam-se os macroinvertebrados

bentônicos, organismos que

vivem no fundo de ecossistemas aquáticos,

como minhocas (anelídeos), caramujos (mo-

Figura 1. Riachos de cabeceira no campo rupestre, localizados no alto das montanhas (sky islands) do Parque Nacional da Serra do Cipó,

MG. Fotos (VANT): Ricardo R. C. Solar.

luscos) e, principalmente, estágios jovens de insetos.

Eles participam de processos ecológicos maior nos locais onde há acúmulo de folhas

aumento da altitude e que a abundância é

fragmentando folhas que caem da vegetação e detritos.

do entorno dos riachos e são alimento para invertebrados,

peixes, anfíbios e aves.

riachos formam verdadeiras ilhas de biodi-

Esses acúmulos de folhas no fundo de

Os estudos produzidos pelo PELD na Serra

do Cipó avaliaram os fatores determinantes invertebrados aquáticos se comparados a

versidade, concentrando maior riqueza de

para a diversidade de espécies desses organismos

nos riachos de diferentes altitudes do local. seixos, cascalho, areias. Além disso, o estudo

outros tipos de habitats, como por exemplo

A cada 100 m de elevação um riacho da Serra mostrou grandes diferenças na composição

foi selecionado, a partir dos 800m de altitude de espécies nos riachos do ponto mais elevado

da montanha.

até 1400 metros. Os pesquisadores verificaram

que a riqueza e abundância de organismos Outro estudo do PELD mostrou que a

aquáticos macroinvertebrados diminui com o grande diversidade de invertebrados se dá

Figura 2. Padrões de diversidade alfa e beta de macroinvertebrados bentônicos observados ao longo do gradiente altitudinal da Serra do

Cipó, MG.

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Uma Newsletter do PELD – CRSC

devido à substituição de espécies ao longo da

montanha, ou seja, cada faixa de altitude tem

suas próprias espécies. Essa mudança nas comunidades

de macroinvertebrados é explicada

pela presença de muitas espécies raras, que

são substituídas ao longo e entre os diferentes

riachos. Outro fator determinante para essa

diversidade é a qualidade da água.

Recentemente foi observado que características

da água como turbidez e pH, vazão

e disponibilidade de alimento (folhas, partículas

finas e algas perifíticas, que crescem

sobre pedras no fundo dos riachos) têm forte

influência na riqueza de espécies e densidade

de organismos, que são levados

pela correnteza à deriva. Essas características

são diretamente afetadas quando

há agricultura, mineração ou turismo não

planejado. Portanto, conservar os riachos

em regiões montanhosas tropicais e todos

os seus ecossistemas é garantir a integridade

de toda a fantástica biodiversidade

no campo rupestre e o suprimento de

água de ótima qualidade para milhões de

brasileiros.

Veja

Callisto, M., Solar, R., Silveira, F.A.O., Saito, V., Hughes, R.M.,

Fernandes, G.W., Gonçalves, J.F.Jr., Leitão, R., Massara, R.,

Macedo, D.R., Neves, F., Alves, C.B.M. 2019. A Humboldtian

approach to mountain conservation and freshwater ecosystem

services. Frontiers in Environmental Science.

Callisto, M., Linares, M.S., Kiffer Jr, W.P., Hughes, R.M., Moretti,

M.S., Macedo, D.R., Solar, R. 2021. Beta diversity of aquatic

macroinvertebrate assemblages associated with leaf patches in

neotropical montane streams. Ecology and Evolution.

Callisto, M., Castro, D.M.P., Linares, M.S., Carvalho, L.K.,

Barbosa, J.E.L., Hughes, R.M. 2022. Which metrics drive

macroinvertebrate drift in neotropical sky islands streams? Water

Biology and Security.

Castro, D.M.P., Callisto, M., Solar, R., Macedo, D.R., Fernandes,

G.W. 2019. Beta diversity of aquatic invertebrates increases

along an altitudinal gradient in a Neotropical mountain.

Biotropica.

Ligeiro, R., Hughes, R.M., Kaufmann, P.R., Heino, J., Melo, A.S.,

Callisto, M. 2020. Choice of field and laboratory methods

affects the detection of anthropogenic disturbances using stream

macroinvertebrate assemblages. Ecological Indicators.

Por:

Diego Castro

Pesquisador Associado

ao PPG Ecologia,

Conservação e Manejo

da Vida Silvestre,

UFMG.

Marcos Callisto

Prof. Titular do Instituto

de Ciências Biológicas

pela UFMG.

Figura 3. Rede de drift utilizada para avaliar o transporte de macroinvertebrados pela correnteza nos riachos de altitude. Em evidência,

pesquisador realizando a coleta de macroinvertebrados com um amostrador do tipo Surber. Fotos: Ricardo R. C. Solar.

Como citar:

Castro, D. M. P., Callisto, M. 2022. A fantástica diversidade

nas águas das sky islands nos campo rupestre. In: Fernandes,

G. W., Ramos L., Saloméa, R., Siqueira, W. K. Warming

10:5-6. https://doi.org/10.6084/m9.figshare.22584073

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4. O que faz seus olhos brilharem?

na acabou de se formar

Aem ciências biológicas na

Universidade Federal de Minas

Gerais (UFMG) e quer entrar no

mestrado. Ela fez iniciação científica,

mas não gostou, foi um perrengue

só. Ela não tinha motivação para ler e

escrever e, por isso, está procurando

um novo tema para pesquisar.

Durante suas pesquisas, Ana

encontrou um artigo sobre plantas

parasitas com o título “A parasita

Struthanthus flexicaulis reduz a

dominância e aumenta a diversidade

de plantas no campo rupestre”. Ela

ficou curiosa com o tema e lembrou

que conhecia uma das autoras,

a Grazi, que fazia doutorado

na UFMG. Em uma segundafeira,

andando pelo campus, ela

encontrou a Grazi e decidiu puxar

conversa.

Figura 1. Broto e crescimento vegetativo da planta hemiparasita erva-de-passarinho (Struthanthus flexicaulis). Fotos: António Cruz.

– Oi Grazi, tudo bem?

– Oi Ana, tudo bem e você?

– Tudo bem sim. Gostaria de conversar

com você sobre o seu trabalho com

plantas parasitas, fiquei muito interessada

no tema. – disse Ana, um pouco tímida.

– Claro, podemos conversar

sim. O que você quer saber?

Ana e Grazi continuam conversando.

Caminharam até uma mesa

na área de convivência da UFMG.

Ao se sentarem, Ana começou a

perguntar.

– Eu comecei a ler sobre o tema agora,

então sei bem pouco. Você poderia

me dizer o que é uma planta parasita?

– Então, chamamos de parasita uma

planta que obtém de outras plantas parte

ou a totalidade do que ela precisa para

sobreviver, como água e nutrientes. Nós

chamamos a planta que foi parasitada

de hospedeira – respondeu Grazi.

– Humm, então ela precisa tirar algo

da hospedeira! A que você estudou

não tira tudo né? O que ela não tira?

– A planta que eu estudei foi a Struthanthus

flexicaulis, conhecida popularmente

como erva de passarinho, ela é

hemiparasita. Isso significa que ela retira

água e nutrientes da hospedeira, mas

realiza fotossíntese. Já outras plantas

que são as holoparasitas, além de retirar

água e nutrientes, não realizam fotossíntese,

utilizando tudo da hospedeira.

– Aaah, entendi! Então uma das

diferenças está na fotossíntese. Mas, então

isso causa problemas para a hospedeira?

– Sim, exatamente. Aos poucos ela vai

causando problemas para a hospedeira.

Nesse artigo nós queríamos saber o efeito

do parasitismo na comunidade de plantas.

Ana respondeu empolgada:

– Eu vi que as plantas parasitadas

morreram bastante, né?

– Sim. Neste trabalho nós observamos

que houve uma taxa de mortalidade

alta nas plantas parasitadas, maior que

nas plantas não parasitadas. Então, a

espécie parasita está afetando de alguma

forma a sobrevivência das plantas.

[Veja a Figura 2.]

Grazi continuou explicando:

– Algumas características da hospedeira

favorecem o aumento do parasitismo,

como a frequência da planta hospedeira

no ambiente, a altura, o tamanho da

copa e a quantidade de ramificações.

Figura 2. Porcentagem de mortalidade em plantas parasitadas

e não parasitadas. Adapatado da figura 1 de Monteiro et al.

(2020).

Mortalidade de plantas

Sem

hemiparasitas

~50%

Com

hemiparasitas

~90%

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Uma Newsletter do PELD – CRSC

Abundância de parasitas

Frequência das plantas

Altura da copa das plantas

[Veja a Figura 3.]

– Ah, a planta parasita também

afetou o crescimento da hospedeira,

acrescentou Grazi. As plantas

parasitadas cresceram menos.

[Veja a Figura 4.]

Ana, um pouco confusa, perguntou:

– Mas, eu não entendi uma coisa. Foi

ruim para as plantas individualmente, mas

segundo seu artigo não foi tão ruim para a

comunidade. Como isso pode acontecer?

Altura das plantas

Ramificações das plantas

Figura 3. Relação parasitária de acordo com as características da planta hospedeira. Adapatado da figura 2 de Monteiro et al. (2020).

Ana ficou empolgada com as informações

que estava recebendo e

quanto mais ela escutava, mais seus

olhos brilhavam. Ela queria saber

cada vez mais e estava empolgada

para estudar.

– Só mais uma pergunta, Grazi.

Como a planta parasita mata a planta

hospedeira?

– Precisamos entender bem esses mecanismos

ainda, algumas coisas a gente

já sabe, mas seria uma boa pergunta

para você investigar no seu mestrado.

Crescimento da copa da planta

Ana ficou ainda mais empolgada

com a possibilidade. Grazi combinou

de enviar alguns artigos para que Ana

pudesse estudar mais o assunto.

Monteiro, G. F., Novais, S., Barbosa, M.,

Antonini, Y., de Oliveira Passos, M. F., &

Fernandes, G. W. (2020). The mistletoe

Struthanthus flexicaulis reduces dominance

and increases diversity of plants in campo

rupestre. Flora, 271, 151690. https://doi.

Por:

– Muito obrigada pelas informações,

Grazi. Vai me ajudar muito a

pensar no meu projeto. Sobre o mestrado,

você teria alguma dica?

– Estude algo que deixe esse brilho nos

seus olhos. Isso vai ajudar muito nos momentos

difíceis e nos desafios da pós-graduação.

Ana se despediu da Grazi e ficou

muito feliz de se sentir empolgada novamente

com a pesquisa científica. Às

vezes, no desafiador espaço acadêmico,

basta uma conversa atenta para

mostrar a alguém aquilo que faz os

seus olhos brilharem. Então, pergunto

a você: qual tema de pesquisa faz seus

olhos brilharem?

org/10.1016/j.flora. 2020.151690

Grazi Monteiro

Veja

– As plantas hospedeiras parasitadas

que morreram em grande quantidade

foram as plantas mais abundantes. Isso

fez com que a diversidade aumentasse.

Com a morte dessas plantas que

tinham muitos indivíduos, passou-se a

ter um maior equilíbrio de abundância

entre as diferentes espécies e não mais

apenas uma espécie dominando.

Sem

hemiparasitas

Com

hemiparasitas

0.5 cm 0.1 cm

Figura 4. crescimento da copa em plantas parasitadas e não

parasitadas. Adapatado da figura 3 de Monteiro et al. (2020).

Bióloga, Mestre e

Doutora em Ecologia,

Conservação

e Manejo da Vida

Silvestre.

Como citar:

Monteiro, G. F. 2023. O que faz seus olhos brilharem?

In: Fernandes, G. W., Ramos L., Saloméa, R., Siqueira, W.

K. Warming 10:7-8. https://doi.org/10.6084/m9.figshare.22584073

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Uma Newsletter do PELD – CRSC

5. As diferentes formas de vida das plantas que habitam as montanhas da Serra do Cipó

Na Serra do Cipó a variação de altitude

das montanhas leva à formação

de ambientes com clima e solo bem

diferentes. Em cada uma dessas condições

ambientais, algumas inóspitas, encontramos

plantas que se adaptam para sobreviver. Seja

em locais com muita insolação, alta temperatura

ou muito secos, as espécies desenvolvem

variações conforme subimos a montanha.

Folhas mais grossas (escleróflilas) e duradouras,

presença de pelos (tricomas) e suculência

são exemplos de adaptações que ajudam

a tolerar ambientes desfavoráveis. No

nosso estudo, verificamos as espécies a cada

100m, desde a base da Serra do Cipó até

a altitude de 1400 m. Neste estudo fizemos

uma pergunta simples: quais formas de vida

de plantas ocorrem neste ambiente?

As espécies do tipo fanerófita, plantas

que apresentam brotos localizados acima de

25 cm ou 50 cm de altura do solo, e as do

tipo caméfitas, com brotos abaixo de 25cm

do solo, foram as mais encontradas. Essas

são formas de vida que têm mais chances de

tolerar o fogo constante no campo rupestre.

As fanerofitas estão geralmente presentes nos

afloramentos de rochas, geralmente possuem

folhas grossas e persistentes e podem extrair

água do solo seco. Já as espécies caméfitas

são bem adaptadas a estes ambientes, porque

seus brotos, também chamados de gemas,

encontram-se protegidos ao nível do

solo e/ou pelas escamas e folhas.

Além dessas formas de vida, ainda há

as terófitas, plantas que vivem apenas uma

estação de crescimento; as geófitas, plantas

com brotos subterrâneos; as hemicriptófitas,

plantas com brotos no nível do solo, frequentemente

protegidas por escamas, bainhas ou

folhas. Esse sistema de classificação de formas

de vida dos vegetais, criado pelo cientista

dinamarquês Christen Raunkiaer, é baseado

no ciclo de vida das plantas e estão

relacionadas à altura da planta e a sua adaptação

ao ambiente em que vive.

As diferentes formas de vida que ocorrem

ao longo das montanhas do Cipó represen-

Figura 1. Formas de vida das plantas de acordo o crescimento dos brotos (destacados em verde escuro) no solo (fundo

alaranjado). Adaptado de Raunkiær et al. (1934). Arte: Siqueira, W.K.

Por:

Yule Roberta Ferreira Nunes

Graciene da Silva Mota

Professora titular do

Bióloga e Mestre pela

Departamento de Biologia

UNIMONTES, Doutora

Geral da UNIMONTES.

em Botânica Aplicada

pela UFL.

Geovana Rodrigues da Luz

Geraldo Wilson Fernandes

Bióloga e Mestre pela

Coordenador do Projeto

UNIMONTES, Doutora em

PELD Serra do Cipó, Prof.

Ecologia pela UFMG.

Titular de Ecologia pela

UFMG e Membro Titular

da Academia Brasileira de

Ciências.

tam o repertório de respostas das plantas às

grandes variações do solo e clima da região.

Mesmo vivendo em um ambiente adverso

em termos de falta de nutrientes, água, ventos

fortes, altas temperaturas e radiação UV,

as plantas deste ambiente têm sido eliminadas

a cada ano devido à invasão de espécies

exóticas ao ambiente nativo do campo

rupestre, devido ao fogo excessivo, como

também pelo desmatamento e outras formas

de impacto ambiental.

Veja

Raunkiær, C., Gilbert-Carter, H.,

Fausbøll, A., Tansley, A. G. (1934). The

Life Forms of Plants and Statistical Plant

Geography. Oxford: Clarendon Press

Como citar:

Nunes, Y. R. F., Mota, G. S, Fernandes, G. W. 2023. As diferentes formas de

vida das plantas que habitam as montanhas da Serra do Cipó. In: Fernandes,

G. W., Ramos L., Saloméa, R., Siqueira, W. K. Warming 10:9. https://doi.

org/10.6084/m9.figshare.22584073

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Uma Newsletter do PELD – CRSC

6. Treze anos de monitoramento climático na Serra do Cipó: furto de equipamentos atrasa pesquisa

O

Projeto de Longa Duração (Peld) no sítio Serra do

Cipó tem reunido dados desde 2010 sobre os efeitos

das mudanças climáticas na biodiversidade da

Serra. Nesse projeto, os pesquisadores vêm monitorando

áreas de altitudes entre 800 e 1400 metros para entender

como o clima se apresenta ao longo da cadeia de montanha

e como ele influencia a distribuição de plantas e animais e

impacta o ecossistema.

Foram instaladas sete estações climáticas ao longo da

Serra. Essas estações estão instaladas em propriedades

particulares cedidas por nossos parceiros e outras duas no

Parque Nacional da Serra do Cipó. Essas estações são equipadas

com sensores altamente sensíveis que medem a radiação

solar, temperatura do ar, temperatura e umidade do solo,

pluviosidade (regime de chuvas), pressão do ar, entre outros

dados. As estações funcionam com baterias específicas alimentadas

por painel solar. Grande parte desses sensores são

importados e têm alto custo.

Em dezembro de 2021 uma das sete torres parou de funcionar.

Foi necessário retirar todo o equipamento instalado

na estação climática e enviá-lo para a assistência técnica,

onde foi constatada a causa do dano: vandalismo. Os cabos

dos sensores foram cortados e os sensores levados, o que desencadeou

um curto circuito e a perda total do equipamento.

Após um longo período sem coleta de dados, impactando

negativamente a sequência de dados históricos do

projeto, finalmente, em janeiro de 2023, o projeto conseguiu

recurso para instalar um novo equipamento.. O custo

elevado do processo, além de atrasar a retomada da coleta

de dados, prejudicou financeiramente todo o andamento do

projeto. Apesar disso, as coletas foram retomadas e o projeto

segue sendo realizado.

Em 13 anos de pesquisa na Serra, os estudos indicam

uma previsão catastrófica: a perda de 82% do ecossistema

de campos rupestres no futuro, impactando o fornecimento

de água e alimentos, a agricultura e todos os serviços ecossistêmicos

que a Serra fornece para mais de 50 milhões de

pessoas em escala regional.

Os dados do monitoramento climático já mostram uma

tendência para extremos de temperatura em todas as estações

do ano, o que significa que as temperaturas máximas

do verão e as mínimas do inverno vão aumentar consideravelmente

até o final do século.

É fundamental continuarmos com o monitoramento climático

da Serra para traçarmos estratégias de manutenção

da biodiversidade e da subsistência humana. Para isso, contamos

com a colaboração de toda a população para nos

ajudar a manter os equipamentos em bom estado de funcionamento.

O mundo mais sustentável que todos desejamos

depende dos ecossistemas naturais, como o da Serra

do Cipó.

Figura 1. Umas das torres de montiromento climático das montanhas das Serra do Cipó em 800 m de altitude

(nível do mar); em destaque, cientista amostrando informações da torre. Fotos: Siqueira, W.K.

Por:

Letícia Fernanda Ramos

Bióloga e Mestre em

Geraldo W Fernandes

Coordenador do Projeto

Ciências Biológicas

PELD Serra do Cipó,

pela Unimontes, Doutora

em Ecologia pela

Prof. Titular de Ecologia

pela UFMG e Membro

UFMG, Bolsista do programa

Titular da Academia

PELD-CRSC.

Brasileira de Ciências.

Como citar:

Ramos L., Fernandes, G. W. 2023. 13 anos de monitoramento climático na Serra do Cipó: furto de equipamentos

atrasa pesquisa. In: Fernandes, G. W., Ramos L., Saloméa, R., Siqueira, W. K. Warming 10:10. https://

doi.org/10.6084/m9.figshare.22584073

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Uma Newsletter do PELD – CRSC

7. A ciência que eu faço: Gabriela Muller

Uma argentina com o coração

bem brasileiro. É assim

que Gabriela se define.

Doutora em Meteorologia pela

USP e Universidad de Buenos Aires,

ela esteve por alguns anos

no Brasil desenvolvendo projetos

no doutorado e pós-doutorado e

lembra desse tempo como os melhores

anos de sua vida. Gabriela

gosta muito do Brasil e se sente

acolhida e muito bem com o calor,

alegria e espontaneidade do

povo brasileiro.

Curiosa desde muito cedo,

queria entender os processos que

formam as tempestades e o que

as tornam únicas. Na universidade,

descobriu que queria desvendar

a física da atmosfera.

Confira a entrevista com a

cientista apaixonada pelas tempestades.

Dra. Gabriela Muller. Contato: gvmuller2002@gmail.com

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Warming

Uma Newsletter do PELD – CRSC

Editorial Warming (EW): Conte

um pouco sobre você.

Venho de uma pequena cidade

do interior do estado de Entre Rios

(Argentina). Quando pequena eu

sonhava em estudar o espaço. Adorava

ver as tempestades chegando

com o meu pai, às vezes até viajava

para observar a formação das tempestades.

Ainda pequena, não sabia

diferenciar os astros, a via láctea e

o clima, achava que era um grande

composto de tudo. Mas ainda no ensino

fundamental, comecei a querer

estudar o clima, sem mesmo saber

o que era ao certo. Gostava muito

de ler sobre o paleoclima (o clima

na era dos dinossauros) e tudo que

falava sobre o clima.

Eu também gostava muito de

astronomia, e fui crescendo na

dúvida se eu estudaria metereologia

ou astronomia. Por fim, acabei me

decidindo pela meteorologia. Aos

17 anos saí do interior e me mudei

para Buenos Aires, pois era onde

tinha a única universidade do país

para eu estudar. Este foi um dos

períodos mais difíceis da minha vida,

pois eu era do interior e estava na

cidade grande. Naqueles tempos a

comunicação era muito difícil e foi

um sacrifício me adaptar. O início da

faculdade também foi muito difícil,

pois tinha muita física e muita matemática,

eu só estudava. Mas eu tinha

o objetivo de me formar e seguir

minha carreira de cientista.

EW: Porque você decidiu ser

cientista?

Eu sempre quis ser cientista,

desde criança eu sentia que seria

cientista. Eu queria entender as

tempestades, elas sempre me fasci-

naram, e queria conhecer o espaço.

Depois fui entendendo que o espaço

tinha divisões e, assim, eu escolhi a

linha da atmosfera.

EW: Porque escolheu estudar meteorologia?

Eu estudei ciência da atmosfera

porque eu sempre senti isso muito

próximo a mim, então falo que a

ciência me escolheu, pois eu sempre

tive essa certeza que estudaria algo

nessa linha. Eu era muito curiosa e

queria entender os porquês das tempestades,

pois nenhuma tempestade

é igual a outra, tudo é muito diferente

desde os processos de formação e

nunca se repete, isso me fascinava e

ainda me fascina.

EW: O que você faz hoje em dia?

Explica um pouco sobre sua linha

de pesquisa.

Sou cientista vinculada ao CO-

NICET (Consejo Nacional de Investigaciones

Científicas y Técnicas) na

Argentina, com uma carreira bem

longa. Eu faço pesquisa, dou aulas

nos cursos de pós-graduação, oriento

alunos. A pouco mais de 5 anos

eu coordeno um grupo de estudos

climáticos, é um grupo sólido com

poucos pesquisadores e trabalhamos

principalmente com mudanças climáticas

e em outras linhas de pesquisas.

Também desenvolvo pesquisa sobre

clima e saúde, com parcerias brasileiras

envolvendo as pesquisas com

dengue. Sou eternamente grata ao

Brasil por tudo que conquistei na

carreira e pelos muitos amigos que

fiz. Eu sempre busco uma maneira

de manter os laços criados no Brasil,

com projetos em parcerias e com

temas de interesses comuns.

EW: Como você enxerga o futuro

dessa área que você trabalha?

Estamos vivendo o maior momento

de entender e barrar os efeitos das

mudanças climáticas. É uma área que

demanda mais informações, pois as

mudanças climáticas afetam todas as

áreas da ciência. É um grande desafio

para todo o mundo se adaptar às

mudanças já existentes e as que ainda

estão por vir, que modificarão as nossas

formas de sobreviver. Um desafio

incluir a adaptação da humanidade e

das demais espécies aos novos rumos

que as mudanças climáticas podem

trazer.

Nesse momento ainda temos oportunidade

de barrar essas mudanças,

modificando nossos comportamentos,

como nos relacionamos, como consumimos.

Temos que tornar profunda e

ampla consciência, se isso não acontece,

a humanidade está em risco. Espero

que a humanidade acorde, mas

precisamos de um esforço amplo para

realmente mudar essa tendência que

estamos, pois temos pouco tempo para

chegar ao ponto de não retorno, onde

não conseguiremos fazer mais nada

para conter as mudanças climáticas.

O futuro da área é dependente do

que fazemos como seres humanos, um

futuro com esperança ou um futuro de

desesperança.

Por:

Como citar:

Letícia Fernanda Ramos

Bióloga e Mestre em

Ciências

Biológicas

pela Unimontes, Doutora

em Ecologia pela

UFMG, Bolsista do programa

PELD-CRSC.

Ramos, L. 2023. A ciência que eu faço: Gabriela Muller. In: Fernandes, G.

W., Ramos L., Saloméa, R., Siqueira, W. K. Warming 10:11-12. https://doi.

org/10.6084/m9.figshare.22584073

Dezembro 2022 Página 12


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Uma Newsletter do PELD – CRSC

8. Trabalhos de conclusão da pós-graduação em 2022 relacionados ao Peld-CRSC

Mudanças Climáticas Globais e o Futuro das Plantas

Carnívoras

A

perda de biodiversidade no planeta vem aumentando

consideravelmente nas últimas décadas e as

plantas carnívoras estão entre os organismos mais

ameaçados. Drosera representa o gênero de planta carnívora

mais ameaçado da América do Sul. Entre as principais

causas do declínio de populações de Drosera no

mundo estão as mudanças climáticas globais, que vem alterando

drasticamente os regimes de chuva e os períodos

de seca. Aliado a isto, atividades agropecuárias representam

a principal causa da destruição dos habitats naturais

ocupados por Drosera.

O avanço das fronteiras agrícolas sobre os ecossistemas

naturais, com a aplicação direta de insumos agrícolas,

como fertilizantes, pesticidas e herbicidas, levam ao

declínio de plantas adaptadas a ambientes pouco férteis,

como Drosera e demais plantas carnívoras. Habitando

ambientes sazonalmente alagados e pobre em nutrientes,

a maioria das espécies de Drosera nativas da América do

Sul são endêmicas e espacialmente restritas, o que significa

que elas só sobrevivem nesses espaços. Por isso, há

grande necessidade de avaliar o grau de vulnerabilidade

de seus habitats e a urgência em desenvolver estratégias

de conservação frente às mudanças globais.

A maior riqueza, diversidade e endemismo de Drosera

se encontra especialmente no campo rupestre, um ecossistema

montanhoso extremamente ameaçado por atividades

antrópicas como agricultura e mineração. Desenvolvendo

modelos de distribuição de espécies (SDMs), encontramos

um cenário futuro catastrófico com a perda de aproximadamente

90% da área adequada para sobrevivência de

Drosera na América do Sul em 2050 e 2070. Os impactos

de uma possível extinção desse gênero de plantas afetaria

inúmeros processos ecológicos e serviços ecossistêmicos

aos quais elas estão associadas.

Na pesquisa desenvolvida, estabelecemos os principais

riscos aos habitats ocupados por essas espécies e identificamos

áreas prioritárias à conservação do gênero na

América do Sul. A criação e manutenção de áreas protegidas

e unidades de conservação pode ser uma estratégia

eficaz a curto prazo, entretanto é necessário traçar novas

estratégias de conservação de Drosera na América do Sul

que garantam sua sobrevivência a longo prazo frente às

mudanças climáticas globais.

Mestre: Julio Santiago

Orientador: Geraldo W. Fernandes / Co-orientador.: Ulises Olivares

PPG de Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre

Foto: Santiago, J.

Dezembro 2022

Página 13


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Pragas, Doenças e Condições Ambientais que

Influenciam a Sobrevivência e Distribuição de

Abelhas

Poucos insetos são tão reconhecidos para a estabilidade

dos ecossistemas como as abelhas. Talvez por isso,

o desaparecimento delas tem preocupado milhares de

pessoas ao redor do mundo, desde escolas infantis a instituições

ambientais, que tentam defender um dos principais

polinizadores do planeta.

No campo científico, o desaparecimento das abelhas

já é documentado desde a década de 50, com estudos

vindos de diversas partes do mundo. Agora, um estudo desenvolvido

no Programa de Pós-Graduação em Ecologia,

Conservação e Manejo da Vida Silvestre da Universidade

Federal de Minas Gerais buscou identificar o impacto de

pragas e patógenos (organismos que causam doenças) no

desaparecimento das abelhas cultivadas no Brasil.

A pesquisa do doutorado de Catarina de Freitas também

investigou quais fatores ambientais e sociais podem

favorecer a perda da saúde das colmeias. Aplicando questionários

participativos entre apicultores, o estudo identificou

que a maioria das colmeias encontradas apresentavam

algum tipo de praga ou sintoma de doenças que levavam a

perdas das colmeias.

Outra descoberta do estudo é que, embora abelhas

africanizadas e abelhas sem ferrão compartilhassem pragas

e sintomas semelhantes, os percentuais de perdas eram

diferentes para cada grupo estudado. Além disso, o mau

uso das técnicas do manejo podem influenciar negativamente

na saúde das abelhas. Os dados foram publicados

na Journal of Apicultural Research no artigo “Impacts of

pests and diseases on the decline of managed bees in Brazil:

a beekeeper perspective”.

A pesquisa também avaliou que as variações ambientais

(clima e vegetação) impactam as abelhas das orquídeas,

encontradas em montanhas entre habitats úmidos,

como matas ciliares, e secos, como os campos rupestres

e no Cerrado. Durante a estação seca, as abelhas se concentram

nos ambientes úmidos, o que indica a importância

das matas ciliares de montanhas para conservação dessa

espécie de abelhas. Por outro lado, as áreas secas, com a

redução da presença de abelhas, podem perder biodiversidade

com menor polinização.

Doutora: Catarina Dias de Freitas

Orientador: Geraldo W. Fernandes

PPG de Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre

Foto: Freitas, C. D.

Dezembro 2022 Página 14


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8. Trabalhos de conclusão da pós-graduação em 2022 relacionados ao Peld-CRSC

Germinação de Sementes de Espécies Endêmicas do

Campo Rupestre: Uma revisão

O

campo rupestre (rupestrian grassland em inglês) é

um ecossistema montanhoso brasileiro rico em espécies

vegetais endêmicas . São mais de 2 mil espécies

que só são encontradas ali e que estão ameaçadas

de desaparecer. Até o momento apenas 4% de todas essas

espécies tiveram o processo de germinação estudado. A

pesquisa buscou realizar uma síntese de todo o conhecimento

sobre germinação de sementes desse ecossistema,

uma vez que a germinação é uma das etapas fundamentais

para manutenção de um ecossistema.

A germinação das sementes é uma das etapas críticas

das primeiras fases da vida das plantas. O sucesso dessa

etapa é essencial para que as espécies se renovem e permaneçam

numa região. Por isso, compreender esse processo

pode contribuir muito com ações de restauração dos

campos rupestres. Apesar de sua importância, não encontramos

na Ciência uma síntese atualizada de conhecimento

sobre a germinação de sementes das espécies únicas do

campo rupestre.

Buscamos reunir o conhecimento existente em uma revisão

considerando dois aspectos: i) o volume de estudos

publicados sobre germinação de sementes de espécies

nativas endêmicas de campos rupestres e ii) dentre estes,

quais fatores que afetam a germinação foram investigados?

O estudo mostrou o elevado número de espécies endêmicas

no campo rupestre (2.091 espécies), e o quão

pouco se sabe sobre a germinação de suas sementes (só

existe informação disponível para menos de 4% das espécies

endêmicas).

A maioria dos estudos já realizados tende a investigar

apenas os efeitos da temperatura e da presença e ausência

de luz para as sementes. Os efeitos das ações humanas,

como aumento de dióxido de carbono na atmosfera, modificação

de propriedades do solo ou efeitos de químicos na

germinação de sementes das espécies endêmicas, ainda

não estão sendo investigados para o ecossistema. Isso significa

que o impacto da expansão urbana, da mineração e

da agropecuária, principais ameaças ao campo rupestre,

ainda são desconhecidos para a germinação das espécies.

Doutor: Walisson Kenedy Siqueira

Orientador: Geraldo W. Fernandes

PPG de Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre

Foto: Fernandes, G. W.

Dezembro 2022

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Insetos Herbívoros e Ilhas Florestais na Serra do

Espinhaço

De todos os insetos que existem, aproximadamente

50% são representados pelos herbívoros. Além disso,

quando falamos dos insetos herbívoros e suas

plantas hospedeiras, essa porcentagem sobe para quase

80% de toda a biodiversidade que existe no mundo. Eles

são um componente crucial de toda a biodiversidade. Na

tese de doutorado defendida pela aluna Juliana Kuchenbecker,

o objetivo principal foi compreender como as comunidades

de insetos herbívoros associados às ilhas de floresta

natural da Serra do Espinhaço estão organizadas no tempo

e no espaço. E por que isso é importante?

Os padrões ecológicos apresentados por esta rede

planta-herbívoro podem auxiliar a definir parâmetros essenciais

para a conservação efetiva dos ecossistemas e serviços

ambientais das montanhas tropicais. Também podem

contribuir significativamente para priorizar tomadas de decisões

voltadas ao uso sustentável dos ambientes.

As pesquisas realizadas para a execução da tese mostraram

que tanto o passar dos anos quanto características

da paisagem têm contribuições mistas para a diversidade

e distribuição de insetos herbívoros. Contudo, a maior

mudança observada nas espécies que compõem as ilhas

florestais foram causadas pelas variações sazonais nas características

climáticas. A incidência de fogo também foi

identificada como uma grande ameaça, tanto aos ambientes

estudados, quanto à estabilidade das comunidades de

insetos herbívoros associados. A variação da cobertura da

copa das árvores também influencia diretamente as comunidades

de insetos, pelos processos de ganhos e perdas de

espécies nas ilhas florestais.

Tudo isso evidencia a necessidade de um manejo adequado

dos distúrbios causados pelo homem para a perpetuação

do sistema como um todo. Compreender como

essas comunidades de insetos herbívoros estão conectadas,

organizadas e estruturadas pode nos ajudar a prever

como a organização da biodiversidade e a funcionalidade

do ecossistema mudarão em resposta a outras mudanças

ambientais e climáticas, que são mais pronunciadas em

áreas de alta altitude.

Doutora: Juliana Kuchenbecker

Orientador: Frederico S. Neves

PPG de Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre

Foto: Kuchenbecker, J.

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