Cidadania Viva: Práticas Socioeducativas em São Miguel Paulista
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tituição. Muitas “não tinham o vírus no sangue, mas tinham na vida”,<br />
resumiu a assistente social da Associação. Essas crianças passaram a<br />
ser atendidas pelo Programa “Fala por Mim”, criado para evitar o esfacelamento<br />
familiar após a morte de pai, mãe ou ambos. O programa<br />
apoiava, <strong>em</strong> muitas dimensões, o m<strong>em</strong>bro da família que assumia a<br />
responsabilidade pelos cuidados com essas crianças e adolescentes.<br />
A partir de 1998, com os avanços alcançados no tratamento da<br />
população atingida pelo HIV e o aumento da expectativa de vida das<br />
pessoas vivendo com HIV/AIDS, a atuação da entidade se redirecionou<br />
para envolver mais fort<strong>em</strong>ente as questões relativas à qualidade<br />
de vida e à garantia dos direitos de cada cidadão. Entendeu-se que<br />
se faziam necessárias intervenções mais abrangentes.<br />
Em sua segunda década de trabalho, foram aperfeiçoadas e ampliadas<br />
as práticas dos primeiros anos. Do apoio ao soropositivo –<br />
convocado a assumir um compromisso diante da probl<strong>em</strong>ática de<br />
sua vida –, a instituição passa a se constituir como um espaço onde<br />
adultos e crianças, vivendo ou não com HIV/AIDS, resgat<strong>em</strong> suas<br />
histórias de vida, desenvolvam uma visão crítica da realidade e se<br />
posicion<strong>em</strong> como sujeitos ativos e transformadores da sociedade.<br />
Por isso, na entrada da sede, cartazes anunciam as vagas nos cursos<br />
de artesanato, crochê, pintura <strong>em</strong> tecido, corte e costura, confecção<br />
de sacolas ecológicas, trabalho <strong>em</strong> sucata e couro, capacitações para<br />
inserção no mercado de trabalho – todos eles realizados no Núcleo<br />
Guaianases, assim como os projetos de geração de renda. Os adultos<br />
interessados aproveitam para se informar sobre o programa de Distribuição<br />
Monitorada da Multimistura, que contribui para a alimentação<br />
saudável da população. E, caso desej<strong>em</strong> compartilhar suas histórias<br />
e sentimentos <strong>em</strong> um grupo de ajuda mútua, poderão participar do<br />
“Cura das Atitudes”, s<strong>em</strong>pre aberto a novos participantes.<br />
As crianças também encontram atividades que atend<strong>em</strong> as suas necessidades.<br />
Além de atendimentos <strong>em</strong> fonoaudiologia e fisioterapia, e de<br />
trabalhos realizados por estagiários de psicologia e serviço social da Unicsul,<br />
Unicastelo e UniG, a convivência lúdica salta aos olhos: da sala de<br />
espera à brinquedoteca, todos encontram seu lugar. O Projeto Esperança<br />
deixa, então, transparecer a alma de sua luta pela inclusão social.<br />
86 87<br />
Os resultados desses anos de trabalho são revelados, ainda,<br />
no intenso e duradouro vínculo dos participantes com a entidade:<br />
crianças, adolescentes e adultos mantêm-se apegados aos profissionais<br />
do PROJESP e frequentam a ONG por muitos anos.<br />
As ações relacionadas à prevenção do HIV e da Aids se mantêm<br />
vivas, b<strong>em</strong> como aquelas referentes à orientação para uma vivência<br />
sexual responsável e gratificante. O atendimento é realizado por<br />
meio de orientação individual ou de palestras <strong>em</strong> escolas e comunidades.<br />
O Projeto Esperança reconhece que, desde que a Aids deixou<br />
de ser associada a uma “sentença de morte”, a sociedade brasileira<br />
t<strong>em</strong> registrado aumento no número de contaminação de adolescentes,<br />
o que recoloca <strong>em</strong> cena os desafios ligados à prevenção.<br />
Nesse sentido, as conquistas da sociedade <strong>em</strong> relação à doença<br />
refletiram a diminuição dos atendimentos realizados pela<br />
entidade e abriram espaço a um período de reflexão e releitura<br />
da realidade. As mudanças da segunda década de trabalho e as<br />
responsabilidades incorporadas recent<strong>em</strong>ente d<strong>em</strong>onstram a habilidade<br />
da equipe para se transformar. Assim, o Projeto Esperança<br />
de <strong>São</strong> <strong>Miguel</strong> <strong>Paulista</strong>, ao longo de sua história, se alimenta<br />
daquilo que propõe a seus participantes: assumir a continuidade<br />
ante à probl<strong>em</strong>ática enfrentada e tomar nas mãos as rédeas da<br />
condução de seu destino. A história se renova, a entidade se refaz.<br />
Permanece a motivação para assumir o compromisso com a<br />
continuidade de sua própria existência.<br />
POnTOS fOrTES:<br />
•<br />
•<br />
ProJeto eSPerança De<br />
Intensidade e longevidade do vínculo<br />
afetivo com os usuários.<br />
Ética profissional frente às histórias de<br />
vida dos usuários e seus familiares.<br />
<strong>São</strong> <strong>Miguel</strong> PauliSta<br />
DESafiOS:<br />
•<br />
•<br />
Promover a prevenção ao HIV entre<br />
os jovens.<br />
Necessidade de ampliar parcerias que<br />
sustent<strong>em</strong> financeiramente o trabalho.