26.04.2013 Views

REVISTA NDHIR - Especial - Portal da Universidade Federal de ...

REVISTA NDHIR - Especial - Portal da Universidade Federal de ...

REVISTA NDHIR - Especial - Portal da Universidade Federal de ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>REVISTA</strong> ELETRÔNICA<br />

Edição <strong>Especial</strong><br />

Rios e História<br />

1 9 7 0 - 2 0 1 0<br />

1970 - 2010<br />

Educação e Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia<br />

UNIVERSIDADE FEDERAL<br />

DE MATO GROSSO<br />

NÚCLEO DE DOCUMENTAÇÃO<br />

E INFORMAÇÃO HISTÓRICA<br />

REGIONAL - NDIHR<br />

UFMT<br />

ANOS


Edição <strong>Especial</strong><br />

Rios e História<br />

UNIVERSIDADE<br />

FEDERAL DE<br />

MATO GROSSO<br />

NÚCLEO DE<br />

DOCUMENTAÇÃO<br />

E INFORMAÇÃO<br />

HISTÓRICA REGIONAL<br />

NDIHR<br />

ROTEIRO DA VIAGEM PARA AS MINAS DO CUIABÁ QUE FEZ<br />

FRANCISCO PALÁCIO NO ANO DE 1726.<br />

101<br />

RESUMO<br />

RESUMEN<br />

Francisco Palacio<br />

Publica-se o roteiro <strong>de</strong> viagem que Francisco Palacio escreveu na primeira meta<strong>de</strong> do século XVIII. Nele, o<br />

autor, com raro senso <strong>de</strong> humor, <strong>de</strong>screve com gracejos pessimistas os inumeráveis perigos que esperavam aqueles<br />

que se aventurassem a sair <strong>de</strong> São Paulo na busca <strong>de</strong> riquezas nas Minas do Cuiabá. Este documento está sob a<br />

guar<strong>da</strong> do Instituto <strong>de</strong> Estudos Brasileiros IEB-USP, sendo uma <strong>da</strong>s poucas <strong>de</strong>scrições <strong>de</strong>ste caminho fluvial<br />

setecentista que não foi publica<strong>da</strong> por Afonso <strong>de</strong> Taunay. Em ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, o manuscrito que aqui se publica configurase<br />

como uma versão muito mais ampla e rica em informações do relato que Taunay incluiu no seu clássico “Relatos<br />

Monçoeiros”, sob o título <strong>de</strong> “Notícia 8ª. Prática”.<br />

Palavras-Chaves: roteiro <strong>da</strong>s monções, caminhos fluviais, cartografia fala<strong>da</strong><br />

Se publica aquí la ruta <strong>de</strong> viaje que Francisco Palacio escribió en la primera mitad <strong>de</strong>l siglo XVIII. En ella, el<br />

autor <strong>de</strong>scribe, con singular sentido <strong>de</strong> humor y con juegos <strong>de</strong> lenguaje pesimistas, los innumerables peligros que<br />

aguar<strong>da</strong>ban a aquellos que se aventurasen a salir <strong>de</strong> São Paulo en búsque<strong>da</strong> <strong>de</strong> las riquezas en las Minas <strong>de</strong>l<br />

Cuiabá. Este documento pertenece a los fondos <strong>de</strong>l Instituto <strong>de</strong> Estudos Brasileiros, IEB-USP, y es una <strong>de</strong> las pocas<br />

<strong>de</strong>scripciones <strong>de</strong> este camino fluvial dieciochesco que no fue publica<strong>da</strong> por Afonso <strong>de</strong> Taunay. De hecho, este<br />

manuscrito representa una versión mucho más amplia y más rica en informaciones <strong>de</strong>l relato que Taunay incluyó en<br />

su clásico Relatos Monçoeiros, con el título <strong>de</strong> "Notícia 8ª. Prática".<br />

Palabras-llave: rutas <strong>de</strong> las monzones, caminos fluviales, cartografía en palabras


<strong>REVISTA</strong> ELETRÔNICA EDIÇÃO ESPECIAL DOCUMENTO MONUMENTO<br />

À GUISA DE INTRODUÇÃO<br />

Publicamos aqui o relato <strong>de</strong> Francisco Palacio, que faz parte<br />

do acervo do Instituto <strong>de</strong> Estudos Brasileiros – IEB-USP (Yan 31).<br />

Trata-se <strong>de</strong> um roteiro <strong>de</strong> viagem dirigido àqueles que no<br />

início do século XVIII quisessem se <strong>de</strong>slocar <strong>de</strong> São Paulo para as<br />

novas Minas do Cuiabá. Na<strong>da</strong> sabemos sobre o seu autor, além do<br />

que o mesmo permite antever no seu texto.<br />

O conteúdo <strong>de</strong>ixa ver que ao redigir seu relato, Palacio<br />

estava em Cuiabá, portanto, havia realizado a viagem que<br />

<strong>de</strong>screve. Isto fica patente também na riqueza <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhes,<br />

mostrando que, além <strong>da</strong> própria experiência, o autor <strong>de</strong>ve ter<br />

conversado com práticos e pilotos que conheciam mais<br />

intensamente os difíceis meandros <strong>da</strong>quele aci<strong>de</strong>ntado caminho<br />

fluvial. Embora o relato traga em seu título o ano <strong>de</strong> 1726, <strong>de</strong>ve ter<br />

sido escrito posteriormente, possivelmente no final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />

1730, pois Palacio faz várias referências às dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s vivi<strong>da</strong>s por<br />

outras caravanas fluviais <strong>de</strong>ste período. Quiçá a <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> 1726<br />

tenha sido a <strong>da</strong> sua própria viagem.<br />

Comparando-se o conteúdo <strong>de</strong>ste manuscrito com os<br />

roteiros que Afonso <strong>de</strong> E. Taunay publicou na sua clássica obra<br />

“Relatos Monçoeiros”, se fez possível perceber que o documento<br />

guar<strong>da</strong>do no IEB é uma versão mais <strong>de</strong>talha<strong>da</strong> <strong>da</strong> “Notícia 8ª.<br />

Prática exposta na cópia <strong>de</strong> uma carta escrita do Cuiabá aos<br />

novos preten<strong>de</strong>ntes <strong>da</strong>quelas Minas” (TAUNAY 1953, pp. 160-181),<br />

cujo original faz parte <strong>da</strong> Coleção do padre Diogo Juares,<br />

conservado na Biblioteca <strong>de</strong> Évora. Nesta publicação, entretanto,<br />

o documento aparece como anônimo. E embora o historiador<br />

paulista qualifique esta Notícia 8ª como “extensa”, ela é bem<br />

menor do que a versão que está sob a guar<strong>da</strong> <strong>da</strong> USP. Falta ao<br />

texto evorence partes significativas do relato, principalmente no diz<br />

respeito ao estilo pessoal do seu autor. Através do manuscrito<br />

paulista, Palacio mostra-se possuidor <strong>de</strong> um invejável bom humor,<br />

sendo capaz <strong>de</strong> fazer hilariantes jogos <strong>de</strong> linguagem para tratar<br />

dos inumeráveis perigos que atravessam aqueles que se<br />

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO / NÚCLEO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO HISTÓRICA REGIONAL - NDIHR<br />

102<br />

aventuravam, em suas palavras, àquela “tão fúnebre viagem”.<br />

Seu texto é <strong>de</strong>nso e não me<strong>de</strong> adjetivos para expressar o<br />

horror que os inumeráveis perigos prometiam ao <strong>de</strong>sventurado<br />

passageiro <strong>de</strong> uma monção, principalmente durante o curso do<br />

Tietê. Ali, entre outras tantas escaramuças, está o que qualificou <strong>de</strong><br />

“cal<strong>de</strong>ira infernal, don<strong>de</strong> me parece está uma Legião <strong>de</strong> Demônios<br />

esperando por almas; por que a canoa que chega a por a proa<br />

encima <strong>de</strong>sta foi ao fundo per omnia secula seculorum”.<br />

Mas que fazer? Afinal, o monçoeiro está ali por vonta<strong>de</strong>,<br />

então, como aconselha Palácio, “ten<strong>de</strong> paciência: ninguém vos<br />

obrigou a que cá viesses”.<br />

Tal como os outros tantos relatos monçoeiros, este também<br />

traz uma geografia viva, mapas falados (COSTA 1999, p. 183-190),<br />

nos quais até mesmo os topônimos usados <strong>de</strong>latam as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

do caminho; trata-se <strong>de</strong> uma rota <strong>de</strong> morte. Uma cachoeira<br />

chama-se Canguera, porque nela se achou uma caveira; outra,<br />

Ivan Garcia, “por nela morrer um homem <strong>de</strong>ste nome”, mais<br />

adiante está a Ana Pires, “por nela emborcar uma mulher <strong>de</strong>sse<br />

nome” e assim por diante.<br />

Estas explicações foram <strong>da</strong><strong>da</strong>s pelo autor à margem do seu<br />

texto. São notas que complementam e enriquecem o conteúdo e<br />

que não constam <strong>da</strong> versão que foi publica<strong>da</strong> por Taunay.<br />

Em alguns momentos, nosso autor estabelece um dialogo<br />

fictício com o seu leitor. Nestes trechos, fica claro ao escrever que<br />

era um homem culto, trazendo ao seu enredo personagens <strong>da</strong><br />

mitologia clássica, referindo-se a heróis e a lugares cantados por<br />

Homero e Virgílio. Estes servem <strong>de</strong> contraponto à geografia<br />

monçoeira. Palacio pretendia, <strong>de</strong> fato, criar um manual didático<br />

para aqueles viajantes. Escreve como se estivesse no lugar, sentido<br />

a correnteza, ouvido o ronco <strong>da</strong> cachoeira e amedrontando-se<br />

com a presença <strong>de</strong> indígenas, e assim indica qual o melhor<br />

caminho a seguir, que atitu<strong>de</strong> tomar, on<strong>de</strong> se escon<strong>de</strong>r ou achar<br />

alimentos, entre outras informações práticas.<br />

Esta <strong>de</strong>nsa escrita possibilita que hoje possamos nos<br />

aproximar <strong>da</strong>queles lugares aci<strong>de</strong>ntados e ao menos vislumbrar os<br />

tantos <strong>de</strong>safios aos quais os viajantes do setecentos enfrentaram


UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO / NÚCLEO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO HISTÓRICA REGIONAL - NDIHR<br />

<strong>REVISTA</strong> ELETRÔNICA EDIÇÃO ESPECIAL DOCUMENTO MONUMENTO<br />

na busca <strong>da</strong> fácil riqueza. E na<strong>da</strong> mais <strong>de</strong>safiador que os<br />

onipresentes mosquitos, tal como seu fino humor nos <strong>de</strong>screve:<br />

Criou Deus por estes pantanais tanta quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

mosquitos, que para lhe <strong>da</strong>r comparação, não sei que<br />

no mundo o haja, e com estes miúdos passarinhos vos<br />

vereis tão exasperados, que <strong>de</strong> nenhuma sorte achareis<br />

remédio a tal frenesi, e só o único que há [fl. 20] Há é<br />

dormir no rio <strong>de</strong>baixo d'água, por que estes tais pintassilgos<br />

são <strong>de</strong> três nações. Pernilongos Borrachudos, e<br />

outros tão miudinhos que mal se divisam, e uns brancos<br />

do feitio dos primeiros, junta to<strong>da</strong> esta máquina, vos<br />

acompanharão <strong>de</strong> dia e <strong>de</strong> noite, <strong>de</strong> dia na canoa, e<br />

<strong>de</strong> noite no pouso: os pernilongos dizendo-vos segredos<br />

aos ouvidos [,] a porfia a qual há <strong>de</strong> falar primeiro e<br />

mais alto os borrachudos <strong>de</strong> retaguar<strong>da</strong> espalhados<br />

por to<strong>da</strong> a parte do corpo como sanguessugas, e os<br />

pequenos como crianças vos procurarão as meninas<br />

dos Olhos [;] isto continuamente [,] ve<strong>de</strong> [,] que tal vos<br />

porá? E vós a sacudir neles cansareis e suareis camisas<br />

até que <strong>de</strong>sesperados vos ireis meter em uma redoma<br />

<strong>de</strong> linhagem, e ain<strong>da</strong> nela vos irão perseguir, e a ca<strong>da</strong><br />

bocado (se tiveres) levareis misturado nele, mais dos<br />

ditos mosquitos, que cabelos, que ten<strong>de</strong>s na cabeça;<br />

e tereis paciência por força, e assim ireis navegando [fl.1v] Rios <strong>da</strong> Viagem.<br />

em busca do chamado [...]<br />

1. Tietê _______,,_________,,_________,,__________,, 520 Léguas<br />

Trechos como estes não estão contemplados na versão evorense<br />

publica<strong>da</strong> por Taunay no seu “Relatos Monçoeiros”. Só isto<br />

justificaria a inclusão <strong>de</strong>ste documento nesta publicação <strong>de</strong>dica<strong>da</strong><br />

a “Rios e História”, além <strong>da</strong> gran<strong>de</strong> gama <strong>de</strong> informações complementares<br />

sobre os caminhos fluviais que em tempos coloniais<br />

era a principal via <strong>de</strong> comunicação entre o litoral e as Minas do<br />

Cuiabá.<br />

DADOS DA TRANSCRIÇÃO<br />

O manuscrito foi transcrito em sua ortografia original e <strong>de</strong>pois<br />

103<br />

se fez a atualização ortográfica, respeitando-se integralmente o<br />

conteúdo exposto pelo autor. Para facilitar a leitura, se fez o <strong>de</strong>sdobramento<br />

<strong>da</strong>s abreviaturas. No texto, entre colchetes, constam os<br />

números <strong>da</strong>s páginas correspon<strong>de</strong>ntes ao manuscrito e os sinais<br />

gráficos <strong>de</strong> pontuação que foram introduzidos, buscando tornar o<br />

texto mais inteligível. Por seu turno, as notas explicativas que o autor<br />

dispôs nas margens do seu escrito foram leva<strong>da</strong>s ao corpo do texto,<br />

sempre imediatamente após o termo referido, também entre colchetes.<br />

Maria <strong>de</strong> Fátima Costa – Pablo Diener<br />

REFERÊNCIAS<br />

TAUNAY, Afonso <strong>de</strong> E. relatos Monçoeiros. São Paulo, Publicação Comemorativa<br />

sob o alto patrocínio <strong>da</strong> Comissão do IV Centenário <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> São Paulo, 1953.<br />

COSTA, Maria <strong>de</strong> Fátima. História <strong>de</strong> um pais inexistente. Pantanal entre<br />

os século XVI e XVII. São Paulo, Estação Liber<strong>da</strong><strong>de</strong>, 1999.<br />

ROTEIRO DA VIAGEM PARA AS MINAS DO CUIABÁ QUE FEZ FRANCISCO PALÁCIO NO<br />

ANO DE 1726<br />

2. Rio gran<strong>de</strong> ___,,________,,_________,,__________,, 80<br />

3. Rio pardo ____,,_________,,_________,,________,, 150<br />

4. Varadouro <strong>de</strong> Camapuã __,,_______,,________,, 2<br />

5. Rio <strong>de</strong> Camapuã ________,,_________,,_______,, 25<br />

6. Coxim _____,,_________,,_________,,__________,, 280<br />

7. Taquari _______,,________,,_________,,__________,, 130<br />

8. Paraguai mirim,,________,,_________,,_________,, 50<br />

9. Paraguai gran<strong>de</strong> _________,,_________,,_______,, 90<br />

10. Bracinho dos Chanés____,,_________,,________,, 25<br />

11. Rio dos Porrudos ________,,_________,,_________,, 110<br />

12. Cuiabá _______,,________,,_________,,________,, 120<br />

Soma _________,,________,,_________,,_______,,______ 1582


<strong>REVISTA</strong> ELETRÔNICA EDIÇÃO ESPECIAL DOCUMENTO MONUMENTO<br />

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO / NÚCLEO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO HISTÓRICA REGIONAL - NDIHR<br />

[fl.2] A quem se não a vós, Irmãos meus perseguidos <strong>da</strong> fortu- Légua, e tão clara como a Santa <strong>de</strong>ste nome, porque é mui perigona<br />

e <strong>de</strong> sua perseguição <strong>de</strong>sesperados: A quem se não a vós fareis so encaminhar a canoa direita ao canal, e muito mais risco corre o<br />

aviso dos inumeráveis perigos <strong>de</strong>sta viagem, pois que <strong>de</strong>itando livrá-la do intricado <strong>de</strong> tanta pedraria, até que saia à água mais<br />

juízos temerários a que parte ireis ganhar, ao adquirir os bens tem- sossega<strong>da</strong> por esta razão é muito conveniente haver pessoas bem<br />

porais, chega a tal extremo a Vossa <strong>de</strong>sgraça, que passa <strong>de</strong>ste ao vistas em tais apertos.<br />

excesso <strong>de</strong> intentar tal jorna<strong>da</strong>: a quem se não a vós que novatos Salvos <strong>de</strong> um rochedo muito alto, do qual se dispunha todo o<br />

neste pélago <strong>de</strong> tribulações, e misérias vos parece navegáveis com rio [fl. 2v] O rio em que se vai navegando, com tal violência, que <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>scanso, sinto que os argonautas que levais tão pouco práticos, e sua caí<strong>da</strong> se levanta tão gran<strong>de</strong> fumaça cor <strong>de</strong> enxofre que realvós<br />

um tal Piloto com pouca ciência para os man<strong>da</strong>r. É coitadinhos! mente parece que embaixo presi<strong>de</strong>m os habitadores do inferno;<br />

Esta consi<strong>de</strong>ração me obriga a propor-vos uns longes, como apa- estes dão sinal <strong>de</strong> precipitação <strong>da</strong>s águas com um estrondo tão<br />

rente sombra, que para explicá-la é impossível. E para que melhor horrendo, que faz <strong>de</strong>sfalecer os ânimos, e inquietar os humores.<br />

me enten<strong>da</strong>is digo: que todos <strong>de</strong>vemos crer que as mais ar<strong>de</strong>ntes Itaipavas são muitas paragens que o rio tem secas, em as<br />

chamas, ou fogo mais ateado, que neste mundo se possa ver, é mais <strong>de</strong>las encalham as canoas, e o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> forças <strong>de</strong> braço as<br />

uma escura pintura <strong>da</strong>s mais samiças [?] do inferno: Tal é, amigos levam as mãos até se porem on<strong>de</strong> possam navegar; cujos lugares<br />

do coração, a notícia que vos dou <strong>de</strong>stes infernais rios: é uma apa- são <strong>de</strong> muita utili<strong>da</strong><strong>de</strong> às pessoas cáli<strong>da</strong>s, por que ali tomam<br />

rência simples, pois vai tanto do contado ao visto, como do vivo ao banhos a sua, ou contra sua vonta<strong>de</strong>; em cujas ocasiões ia aguarpintado.<br />

Mas para que venhais no escuro conhecimento vos <strong>de</strong>cla- <strong>de</strong>nte bebi<strong>da</strong> prejudicial; e se neste rio houvessem frutas [,] <strong>de</strong>las<br />

ro como posso, e aos que por sua miséria caírem nesta corriola, a haveria gran<strong>de</strong> fartura, porque nestas ocasiões ninguém fica com-<br />

prevenção que vos é precisa em Cachoeiras, Itaipavas, Saltos,<br />

pedras soltas em rio morto a flor d'água. E antes que me pergunteis,<br />

que vem a ser pedras soltas em rio morto, Itaipavas, saltos, e Cachoeiras,<br />

eu digo: suposto que sem ser por vós visto, é o mesmo que se o<br />

não dissera.<br />

Cachoeira é um penhasco que toma o rio <strong>de</strong> parte a parte<br />

por cuja vazão se impe<strong>de</strong> a boa passagem: esta tal pedraria se<br />

divi<strong>de</strong> em algumas quebra<strong>da</strong>s por on<strong>de</strong> <strong>de</strong>spe<strong>de</strong> parte <strong>da</strong> água<br />

do rio, a estas se chamam canais, a água, que por estes não po<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>spedir, sobe como represa<strong>da</strong> a esta pedraria, e <strong>de</strong>la se <strong>de</strong>spenha;<br />

cujo rumor ouvireis longe [;] remédio mui aprovado para a dor<br />

<strong>de</strong> pedra, pois o seu tem facilitamente a retenção <strong>de</strong> urinas. Pelos<br />

canais, que adiante vos apontar, encaminhareis a canoa a qual<br />

meti<strong>da</strong> nele corre mais veloz que o pensamento, e para esta<br />

empresa vos advirto, que se há <strong>de</strong> mister Piloto, e Proeiro, e um e<br />

outro com forças <strong>de</strong> um Briareu e com a mesma vista <strong>de</strong> um Argos,<br />

ou ao menos que nunca em sua vi<strong>da</strong> tenham tido achaque algum<br />

em os olhos, antes se a vista tão compri<strong>da</strong> como três quartos <strong>de</strong><br />

104<br />

bragas enxutas.<br />

Pedras soltas em rio morto: são uns seixos muito gran<strong>de</strong>s, que<br />

estão sós em muitas paragens, e como a água neles não faz reçolho,<br />

sinal que <strong>de</strong> longe se possa ver, por estarem com esta cobertos,<br />

não é fácil o <strong>de</strong>sviar-se <strong>de</strong>sta diabrura, e por esta razão se emborcam<br />

algumas canoas, cujos lugares são fundos e somente a boa<br />

vigilância dos Proeiros po<strong>de</strong> acudir, e evitar algum mau acontecimento<br />

<strong>de</strong> embarcação.<br />

Estas as notícias por maior, e as seguintes advertências, mais<br />

muitamente pon<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s, vos peço aos que quiseres vir ver do<br />

achaque que muitos morrem, façais apreensão <strong>de</strong>las.<br />

Porto <strong>de</strong> Araritaguaba [Quer dizer Morro on<strong>de</strong> as Araras<br />

criam]: Orago, Padroeiro, e assentista, Manoel <strong>da</strong> Costa varão<br />

insigne em virtu<strong>de</strong>s, suposto que com pouca fé, muita esperança e<br />

nenhuma cari<strong>da</strong><strong>de</strong>.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO / NÚCLEO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO HISTÓRICA REGIONAL - NDIHR<br />

<strong>REVISTA</strong> ELETRÔNICA EDIÇÃO ESPECIAL DOCUMENTO MONUMENTO<br />

Rio chamado Tietê [Rio que vem <strong>de</strong> muito longe] e levai a canoa às mãos, que pelo canal com canoas carrega<strong>da</strong>s<br />

ninguém po<strong>de</strong> passar, por razão <strong>de</strong> fazer muitas on<strong>da</strong>s, e sua<br />

Embarcados que sejais neste Porto, o que <strong>de</strong> vós espero é que<strong>da</strong> ao <strong>de</strong>spedir a canoa, que in<strong>da</strong> com estas várias alguns as<br />

que façais como Católicos, levando as contas <strong>da</strong> Alma justas, por- passam com muito risco, e se o fazem é estando o rio com algum<br />

que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que <strong>de</strong>res princípio a tão fúnebre viagem, até chegar a repiquete d'águas.<br />

estas minas do Cuiabá, adverti que corre a vossa vi<strong>da</strong> muitos riscos.<br />

A primeira Cachoeira que avistares, que não fica <strong>de</strong>sta<br />

Já ouço dizeres aos vossos negros, e Camara<strong>da</strong>s: rema para muito longe [,] é chama<strong>da</strong> Itanhem [Quer dizer pedra que fala],<br />

lá, e como vós, nem eles sabem o por don<strong>de</strong>; vos quero dizer a tem o canal pelo meio, e se o rio estiver com pouca água, passareis<br />

parte ou partes por on<strong>de</strong> haveis <strong>de</strong> seguir vossa jorna<strong>da</strong>: pon<strong>de</strong> a pelo canal <strong>da</strong> parte esquer<strong>da</strong> porque o do meio estará seco. Vereis<br />

proa <strong>da</strong> canoa direita a uma cachoeirinha chama<strong>da</strong> Canguera logo <strong>de</strong>fronte uma pedra alta com areia vermelha, cuja pedra<br />

[Achou-se nesta parte uma caveira], esta tem o canal aberto à respon<strong>de</strong> o mesmo que qualquer pessoa fala por ecos, tão distintaparte<br />

direita [Nesta parte mora João <strong>da</strong> Costa Aranha, e sai a ver a mente como quem falou: a esta até chamo eu pedra conversável,<br />

tropa ro<strong>da</strong>r]: remai com força, e à mão direita vos ficará uma e também ensina<strong>da</strong> que se lhe falam alto <strong>da</strong> mesma sorte responpequena<br />

Ilha a que vos [fl. 3] Vos lembre Sam Bento, que é advoga- <strong>de</strong>, e com tão boa criação, que se não mete aon<strong>de</strong> a não cha-<br />

do <strong>de</strong>sta Cachoeira pelas Aranhas, que <strong>da</strong> parte direita vos ficam, mam, e afirmo que é a mais rara perfeição que tenho visto por estes<br />

<strong>da</strong>s quais vos livrareis sacudindo-as com cortesia <strong>de</strong> chapéu. E logo reinos estranhos. Na volta vereis uma Ilha pequena, i<strong>de</strong> pela parte<br />

ireis buscando a mão esquer<strong>da</strong> para passares a outra chama<strong>da</strong> direita, por ser rio mais espaçoso, que nem <strong>de</strong> uma, nem <strong>de</strong> outra<br />

Cangueramirim [Caveira pequena], que sua avista uma <strong>da</strong> outra: parte tem perigo algum, e aqui se acabam as roças.<br />

vereis abaixo uma Itaipava, que passareis a mão direita. E logo fica<br />

Navegando vereis uma cachoeira não muito gran<strong>de</strong>; pas-<br />

outra [,] a mão direita a vista, a qual haveis <strong>de</strong> passar pela parte sai pelo meio a remos, e logo tem uma correnteza com suas pedras<br />

esquer<strong>da</strong>. Na volta que faz o rio está uma Cachoeira chama<strong>da</strong> Pau altas, e em meio disto esta um poço a direita que sempre ferve a<br />

Santo [Por to<strong>da</strong>s as canoas toparem nele], cujos milagres são endi- água nele, e está muito quieta [;] chamam a esta Iciririca [Quer<br />

abrados, é muito perigosa, ireis a remos pela mão direita <strong>de</strong>sviandizer on<strong>de</strong> ferve água], não vos admireis <strong>de</strong> ver um nome com<br />

do-vos <strong>da</strong> terra, e com muito cui<strong>da</strong>do, porque não tope a canoa tanto i, nem também as cachoeiras batiza<strong>da</strong>s [fl. 3v] Batiza<strong>da</strong>s com<br />

no Pau hipócrita, pois este toma o canal. Como também por vos nomes nunca ouvidos em todo o Mundo, persuadi-vos, que eu<br />

livrares <strong>da</strong>s pedras, pois puxam as águas muito para elas, e nesta também faço o mesmo aos [?] [;] estes lugares mencionados foram<br />

Cachoeira se tem perdido muitas canoas. Pegado <strong>de</strong>ste vereis batizados por algum cacique infernal, pois nestas vias se mergulogo<br />

umas pedras a que chamam o Juru Mirim [Quer dizer boca lham corpos, e poucos saem fora <strong>de</strong>las com vi<strong>da</strong> [,] principalmente<br />

pequena], leva o rio muita correnteza, navegai a mão direita; ou nesta.<br />

por parte don<strong>de</strong> vos <strong>de</strong>svieis <strong>da</strong>s ditas pedras, até saíres ao largo.<br />

Navegai até avistares uma cachoeira, a esta lhe chamam<br />

Navegai pela parte esquer<strong>da</strong> até avistares uma cachoeira chama- Itagassaba [Quer dizer pedra que atravessa todo o rio], tem o canal<br />

<strong>da</strong> Avaré Munduaçu [Quer dizer on<strong>de</strong> o venerável Padre Anchieta a parte direita <strong>de</strong>sviado <strong>de</strong> terra, distância <strong>de</strong> três, ou 4 braças, e<br />

se emborcou, e se achou com o breviário rezando no fundo], que com tal correnteza e on<strong>da</strong>s, que poucas canoas o passam, sem<br />

esta faz por cima, encostado a direita uma Ilha, e por baixo outras tomarem água: Lugar este tão perigoso, que em certa monção se<br />

<strong>da</strong> mesma ban<strong>da</strong>; Navegai com muito cui<strong>da</strong>do encostado à parte foram nele 5 canoas a pique, uma sobre as outras, esta cachoeira<br />

esquer<strong>da</strong>, até vos meteres na sirga <strong>da</strong> mesma ban<strong>da</strong>, saltai n'água tem sirga pela parte esquer<strong>da</strong> junto a terra; também tem sirga pela<br />

105


<strong>REVISTA</strong> ELETRÔNICA EDIÇÃO ESPECIAL DOCUMENTO MONUMENTO<br />

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO / NÚCLEO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO HISTÓRICA REGIONAL - NDIHR<br />

parte direita, cuja é muito arrisca<strong>da</strong>, e se estiver o rio cheio, ou com pedras cobertas, e são muito perigosas. Vereis logo um poço granbastante<br />

água, po<strong>de</strong>is [,] se quiseres [,] passar pelo canal a remos, <strong>de</strong> com água muito quieta: na volta que faz sobre a parte direita<br />

que então não tem perigo, nem faz on<strong>da</strong>s e vai tudo coberto. estão umas pedras com muita correnteza, e perigosas chamam-lhe<br />

Navegareis por rio limpo, e ten<strong>de</strong> cui<strong>da</strong>do, que em uma as pedras <strong>da</strong> Limona<strong>da</strong> [Por nela morrer uma mulher que a fazia no<br />

volta <strong>de</strong>ste faz, verei sobre a mão direita uma cachoeira, chama<strong>da</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro], e eu lhe chamo pedras <strong>de</strong> estancar vi<strong>da</strong>s, porque<br />

também Itagassaba [o mesmo], esta atravessa o rio <strong>da</strong> esquer<strong>da</strong> [em] to<strong>da</strong>s as monções, morre[m] nelas gente afoga<strong>da</strong> e para<br />

até a direita, on<strong>de</strong> vos fica o canal, pouco largo, e corre muito. Para seres bem sucedido, é preciso que tanto que vistares o dito poço,<br />

a passares seguro, tanto que saíres <strong>da</strong> antece<strong>de</strong>nte [,] vin<strong>de</strong> sem- navegueis perto <strong>da</strong> terra <strong>da</strong> parte direita, para que quando voltapre<br />

<strong>da</strong> parte direita e remai a solto que o canal é muito fundo; e res a tomar o canal vos acheis sempre junto a terra, ficando-vos<br />

adverti que se não vieres bem chegado a terra, que quando quise- uma pedra redon<strong>da</strong> a mão esquer<strong>da</strong> o canal é fundo, puxa a água<br />

res tomar o canal as águas vos não <strong>de</strong>ixarão, por que puxam para o direita e pelo meio tem outro canal, o qual tem umas pedras alagameio<br />

do rio, e tanto que embocares o canal voltai para o meio do <strong>da</strong>s pela parte <strong>de</strong> baixo, lugar certo, on<strong>de</strong> se per<strong>de</strong>m as canoas<br />

rio que é limpo e para a parte direita tem pedras, e uma Ilha peque- que tomam o dito canal, tem outro pela parte esquer<strong>da</strong> junto a<br />

na, esta fica por baixo <strong>da</strong> cachoeira. Depois <strong>de</strong>sta navega-se por terra, também é bom, e quem o quiser tomar virá <strong>de</strong> cima logo<br />

bom rio. direito a ele. Na volta faz uma Ilha com sua correnteza, tomareis<br />

Parece-me, que já vos consi<strong>de</strong>rais vencedor <strong>da</strong> maior pela parte esquer<strong>da</strong> que pela direita é seco.<br />

empresa que o Mundo po<strong>de</strong> ter, mas cá para baixo vos chama Navega-se até avistar uma cachoeira a que chamam Matquem<br />

vos dirá com voz horren<strong>da</strong>: Eu sou aclama<strong>da</strong> cachoeira hias Pires [Por nela morrer um homem <strong>de</strong>ste nome], esta tem o<br />

Pirapora [Quer dizer paragem on<strong>de</strong> salta o peixe]; essa buscareis canal <strong>da</strong> parte direita <strong>de</strong>sviado <strong>da</strong> terra coisa <strong>de</strong> três braças; para<br />

pela parte esquer<strong>da</strong> junto a terra, e <strong>de</strong>scarrega<strong>da</strong>s as canoas se o passar seguro é preciso vires a ela algum tanto amarrado, até<br />

levam a mão, e assim se vão sirgando com muito sentido por se ganhares a correnteza, e ireis buscando o dito canal encostado as<br />

seguir <strong>de</strong> qualquer <strong>de</strong>scuido gran<strong>de</strong> prejuízo: esta tem o canal pela pedras, que vires <strong>da</strong> parte esquer<strong>da</strong>, ou ao ressolho que fizerem se<br />

parte direita com gran<strong>de</strong>s on<strong>da</strong>s, e bastante que<strong>da</strong> ao <strong>de</strong>spedir estiverem cobertas: advertindo que na entra<strong>da</strong> <strong>de</strong>ste canal é todo<br />

<strong>da</strong> canoa; e fazem empare<strong>da</strong>do <strong>de</strong> uma e outra ban<strong>da</strong>, e fica o rio o perigo <strong>de</strong>sta cachoeira, porque puxam muito as águas para a<br />

todo em largura <strong>de</strong> três braças, mais ou menos, razão por que corre parte direita: Remar com força em to<strong>da</strong>s as cachoeiras é <strong>de</strong> muita<br />

com muita fúria; as cargas <strong>da</strong>s canoas se passam por terra, e <strong>de</strong>pois utili<strong>da</strong><strong>de</strong>, porque indo a canoa bem rema<strong>da</strong> qualquer aceno do<br />

que se acabam <strong>de</strong> sirgar as canoas, que o fim <strong>de</strong>sta sirga é <strong>da</strong> remo do Piloto, e Proeiro faz torcer a canoa para on<strong>de</strong> é conveniparte<br />

esquer<strong>da</strong> em um remanso, que a água faz por baixo <strong>da</strong> ente. Navega-se até avistar uma cachoeira chama<strong>da</strong> Ivan Garcia<br />

cachoeira com sua praia pequena, aqui se tornam a carregar as [Por nela morrer um homem <strong>de</strong>ste nome]: tem o canal <strong>da</strong> parte<br />

canoas. esquer<strong>da</strong> junto a terra; por este po<strong>de</strong>reis passar afoitamente, que<br />

Prosseguindo a viagem vereis uma Ilha <strong>da</strong> parte direita, por outro que fica no meio é mui perigoso.<br />

navegai com cui<strong>da</strong>do, que acaba<strong>da</strong> a dita Ilha logo tem uma Navegareis até avistar uma cachoeira que atravessa o rio [,]<br />

cachoeira chama<strong>da</strong> Iuecoara [Quer dizer on<strong>de</strong> se criam sapos], chama<strong>da</strong> Itapemirim [Quer dizer laje chata e pequena], tem o<br />

esta tem o canal pela parte direita <strong>de</strong>sviado <strong>da</strong> terra [fl. 4] Da terra canal junto a terra <strong>da</strong> parte direita, e tem outro pelo meio, o qual na<br />

coisa <strong>de</strong> 4 braças, é aberto faz algumas on<strong>da</strong>s; os Pilotos governem entra<strong>da</strong> é bom, mas bem em meio do dito canal antes que a<br />

direito, não se incline a canoa para alguma <strong>da</strong>s ilhargas que tem canoa se <strong>de</strong>speça <strong>de</strong>le tem uma pedra alaga<strong>da</strong>, que pelo<br />

106


UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO / NÚCLEO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO HISTÓRICA REGIONAL - NDIHR<br />

<strong>REVISTA</strong> ELETRÔNICA EDIÇÃO ESPECIAL DOCUMENTO MONUMENTO<br />

ressolho e on<strong>da</strong>s, que a água faz na dita é conheci<strong>da</strong>, e só terá passa a segun<strong>da</strong> é perigosa na entra<strong>da</strong>, porque puxa muita água<br />

perigo a canoa topando nela. Navegai com cui<strong>da</strong>do, que <strong>da</strong>í a para a terra, e tem pedras, e paus, que têm caído <strong>de</strong> cima.<br />

pouco em uma volta, que faz o rio sobre a parte direita, está uma Continuando viagem vereis um ribeirão, que vem pela<br />

cachoeira chama<strong>da</strong> Itapemussu [Quer dizer laje gran<strong>de</strong>], atraves- parte esquer<strong>da</strong>, e passado ele, chegareis a barra do rio chamado<br />

sa o rio <strong>da</strong> parte esquer<strong>da</strong> até a direita, e só fica sem pedra o Lugar Piracicaba [Quer dizer on<strong>de</strong> chegam os peixes e <strong>da</strong>li não passam],<br />

por on<strong>de</strong> é o canal, e para o tomares bem a vossa vonta<strong>de</strong> [fl. 4v] o qual se junta com este, que i<strong>de</strong>s navegando, e sai pela parte<br />

Vonta<strong>de</strong>, vindo junto a terra <strong>da</strong> mesma parte direita, on<strong>de</strong> fica o direita; e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> juntas as águas [,] alarga o rio bastantemente; e<br />

canal. Depois <strong>de</strong> passares esta ten<strong>de</strong>s rio limpo, e vereis um ribeirão faz por baixo uma Ilha: tomai pela parte esquer<strong>da</strong>, que é rio Largo e<br />

gran<strong>de</strong> <strong>da</strong> parte direita, o qual se mete neste rio, é chamado o dito Limpo: E mais abaixo vereis três Ilhas quase uni<strong>da</strong>s [:] em uma é o<br />

ribeirão Capivari [Quer dizer rio <strong>de</strong> Capivaras que é uma caça que Canal a parte esquer<strong>da</strong>, e não tem perigo. Logo abaixo vereis uma<br />

se come]; e mais abaixo <strong>da</strong> mesma ban<strong>da</strong> achareis outro mais Itaipava, esta tem o canal também <strong>da</strong> parte esquer<strong>da</strong>, e corre a<br />

pequeno; e logo chegareis a barra do rio chamado <strong>de</strong> Sorocaba, água com violência, faz muitas on<strong>da</strong>s, governem direito para Livrar<br />

que é um rio tão largo, como o que i<strong>de</strong>s navegando, e fica <strong>da</strong> parte <strong>da</strong>s pedras. Brevemente vereis outra Itaipava, também tem o canal<br />

esquer<strong>da</strong>. <strong>da</strong> parte esquer<strong>da</strong> [fl. 5] Esquer<strong>da</strong> quase roçando pela terra, e<br />

Navegando <strong>da</strong>qui por diante, a primeira coisa que vereis, é passando que isto seja saireis a bom rio, pelo qual navegareis com<br />

uma Itaipava chama<strong>da</strong> as pe<strong>de</strong>rneiras [Quer dizer on<strong>de</strong> há e se tira <strong>de</strong>scanso, até que vos apareça quem vos sobressalte: vereis uma<br />

pedras para espingar<strong>da</strong>s]: esta é compri<strong>da</strong>, e perigosa: i<strong>de</strong> pela Itaipava pequena [;] tem o canal <strong>da</strong> parte esquer<strong>da</strong>, e logo abaixo<br />

parte direita pouco <strong>de</strong>sviado <strong>da</strong> terra até saíres na volta, que fica vereis outra com uma Ilha para a parte direita.<br />

por baixo <strong>de</strong>sta correnteza que faz poço com água quieta. Daqui Ouvireis roncar e parecer-vos lá cachoeira, mas é um ribeipara<br />

baixo ireis vendo muitas Ilhas, que to<strong>da</strong>s fazem parcel <strong>de</strong> Sei- rão, que vem pela parte esquer<strong>da</strong>, correndo por cima <strong>de</strong> pedras, e<br />

xos miúdos, nas pontas <strong>de</strong> cima com suas correntezas, estas fazem quando o avistares vos parecerá roupa branca, que está a enxufundo<br />

por junto <strong>da</strong> terra, <strong>de</strong> uma e outra parte, buscai sempre a gar: É este ribeirão chamado Piraúna [Quer dizer peixe preto]. Vereparte<br />

mais larga porque as correntezas são violentas, e fazem suas is uma Itaipava, i<strong>de</strong> pela parte direita junto a terra, <strong>da</strong>reis em rio<br />

voltas; é necessário que os Pilotos governem com cui<strong>da</strong>do. E assim quieto, e avistareis uma Itaipava gran<strong>de</strong>, esta tem o canal pela<br />

ireis navegando com esta confusão <strong>de</strong> Ilhas, e advirto que quando parte esquer<strong>da</strong> quase roçando o mato, e é algum tanto torcido, e<br />

ouvires roncar é uma Ilha, a qual quando a vires estais sobre ela, por pela parte direita tem sirga, e suposto que compri<strong>da</strong>, antes a hei <strong>de</strong><br />

ficar em uma volta que faz o rio sobre a parte esquer<strong>da</strong>, e <strong>da</strong> ponta passar, que por me em comprimentos com o canal. Depois <strong>de</strong>sta<br />

<strong>da</strong> dita Ilha faz largo para a parte direita, com uma pedraria que vos achareis em rio que tudo o que alcançares com a vista é direito,<br />

cerca todo o rio, arrebenta a água com muita força sem canal e a este pe<strong>da</strong>ço <strong>de</strong> rio se chama Potunduba [Quer dizer estiram <strong>de</strong><br />

algum por esta ban<strong>da</strong>, mas tanto que ouvires roncar a dita Ilha, i<strong>de</strong> rio escuro] e em fim <strong>de</strong>ste achareis uma cachoeira, esta tem o<br />

bem junto a terra <strong>da</strong> parte esquer<strong>da</strong> até embocares por entre a canal pela parte esquer<strong>da</strong>, e não é a melhor parte <strong>de</strong> Florin<strong>da</strong>,<br />

terra, e a Ilha, que é estreito, e tem a entra<strong>da</strong> coisa <strong>de</strong> braço e porque tem gran<strong>de</strong>s on<strong>da</strong>s; mas ten<strong>de</strong> paciência: ninguém vos<br />

meia; governem os Pilotos com cui<strong>da</strong>do, que tem suas pedras obrigou a que cá viesses; man<strong>da</strong>i remar, e vin<strong>de</strong> ao canal; advertincobertas<br />

até sair por baixo <strong>da</strong> dita Ilha; esta se chama Ana Pires [Por do que na entra<strong>da</strong> <strong>de</strong>ste está uma pedra <strong>da</strong> parte <strong>da</strong> mão direita,<br />

nela se emborcar uma mulher <strong>de</strong>ste nome]. Vereis também duas e esta há <strong>de</strong> a canoa ir roçando por ela, Levando sempre as on<strong>da</strong>s,<br />

Ilhas uma sucessiva à outra, i<strong>de</strong> pela parte esquer<strong>da</strong>, e quando se que o canal faz pela parte esquer<strong>da</strong> <strong>da</strong> canoa: <strong>de</strong>fronte vereis<br />

107


<strong>REVISTA</strong> ELETRÔNICA EDIÇÃO ESPECIAL DOCUMENTO MONUMENTO<br />

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO / NÚCLEO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO HISTÓRICA REGIONAL - NDIHR<br />

uma Ilha pequena, Navegai pela parte direita, e <strong>da</strong> mesma on<strong>de</strong> <strong>de</strong>spen<strong>de</strong> a canoa. (Advertindo que to<strong>da</strong>s estas voltas, e<br />

parte achareis um morador com sua roça, e dista com essa uma revoltas em qualquer cachoeira, se fazem em um abrir, e fechar <strong>de</strong><br />

Itaipava mui compri<strong>da</strong>, e muito mais perigosa, tem o canal pelo olhos, que se não fazem com presteza, e acerto, a<strong>de</strong>us canoa, e<br />

meio, e faz volta pela parte esquer<strong>da</strong>, e logo faz outra volta para o quanto leva <strong>de</strong>ntro) é este canal muito furioso e pouco fundo, e a<br />

meio, e logo outra para a esquer<strong>da</strong>, e logo outra para o meio, que saí<strong>da</strong> perigosa, e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciência, e muita força no remo do<br />

esta <strong>de</strong>semboca, é muito custosa a tomar sem Piloto experiente. governo.<br />

Daqui para baixo é rio sujo <strong>de</strong> pedras, e passai por on<strong>de</strong> vos Passado que seja como tenho dito ireis por <strong>de</strong>trás <strong>da</strong> Ilha e<br />

parecer melhor. A primeira Ilha que avistares, se chama Bauru até vos apartares <strong>de</strong>la navegai com sentido. E <strong>de</strong>pois que saíres<br />

[Quer dizer umas frutas agrestes que se comem], tem sirga pela <strong>de</strong>sta, ireis pela parte esquer<strong>da</strong>, que não tar<strong>da</strong>rá muito quem vos<br />

parte esquer<strong>da</strong> junto a terra, e quando a canoa emparelhar com a faça entristecer, que é a cachoeira chama<strong>da</strong> Baririguaçu [Quer<br />

dita ilha, <strong>da</strong> qual se forma outra pequena, faz aqui um canal muito dizer uma fruta <strong>de</strong> coco mui cheiroso]. Forma-se esta em três Ilhas<br />

furioso, porque neste se junta um ribeirão, e faz gran<strong>de</strong>s on<strong>da</strong>s, e to<strong>da</strong>s juntas, e pequenas: i<strong>de</strong> a ela pela mesma parte esquer<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong>qui, até chegar por baixo <strong>da</strong> ponta <strong>da</strong> Ilha, tudo é pedraria; por bem junto a terra, e não trateis <strong>de</strong> outra coisa mais que <strong>de</strong> passar a<br />

cuja razão se passam com muito trabalho pela ponta <strong>da</strong> Ilha, que sirga e com cui<strong>da</strong>do, que é perigosa, e o canal não o busqueis, só<br />

este é o caminho: E quando avistares o dito Bauru, ireis pela parte sim o esconjurai com uma via sacra <strong>de</strong> cruzes. Navegai, e logo veredireita<br />

junto a terra, e não tem risco, a suposto que pelo meio tem is uma Itaipava, buscá-la-eis pela parte direita, algum tanto <strong>de</strong>sviacanal,<br />

contudo não se po<strong>de</strong> passar sem risco, se não quando o rio do <strong>de</strong> terra, o qual é estreito, mas passa-se a remos, e passa<strong>da</strong> que<br />

está bem cheio. seja, ireis para a parte esquer<strong>da</strong>, e vereis uma cachoeira que quase<br />

Ireis logo buscando a parte direita junto à terra que para o está à vista <strong>da</strong> que agora passastes, esta se chama as Congonhas<br />

largo tem muitas pedras. Chegareis a bom rio, mas navegai [fl. 5v] [Paragem on<strong>de</strong> se apanha uma erva assim chama<strong>da</strong>], é to<strong>da</strong><br />

Navegai sempre pela parte esquer<strong>da</strong>, e consentindo em uma seca, e só tem canal pela parte esquer<strong>da</strong>, mas pouco fundo, e logo<br />

cachoeira chama<strong>da</strong> Barerimirim [Quer dizer o mesmo e mirim por torce para o meio do rio.<br />

mais pequeno], esta tem o canal para parte esquer<strong>da</strong>, e muito À vista <strong>de</strong>sta ten<strong>de</strong>s outra, i<strong>de</strong> para ela pela parte direita,<br />

ruim, e a sirga muito pior, e como por força a haveis <strong>de</strong> passar, se esta tem o canal quase no meio, e é aberto, mas furioso, e saindo<br />

não quiseres tornar para casa, é preciso, que tanto que chegares <strong>de</strong>le i<strong>de</strong> <strong>da</strong> mesma parte a passar uma Itaipava, e passa<strong>da</strong> que<br />

por cima <strong>da</strong> dita cachoeira, embicar as canoas a terra <strong>da</strong> mesma seja, vos achareis em rio morto e quieto: Não muito abaixo vereis<br />

parte esquer<strong>da</strong> e <strong>de</strong>sembarcar a gente menos sábia, e esta man- uma Ilha, e <strong>da</strong> parte direita, é o rio Limpo. Vereis logo outra [fl. 6]<br />

dá-la por terra, que para esse ministério tem caminho feito, e que Outra, e outra mais pequena pega<strong>da</strong> a ela e pela parte direita<br />

esperem as canoas on<strong>de</strong> o caminho acaba, que muitas vezes suce- também é rio limpo, e por este navegareis, e ain<strong>da</strong> que vejais duas<br />

<strong>de</strong> não chegarem estas on<strong>de</strong> são espera<strong>da</strong>s, e escolhereis os Itaipavas não são <strong>de</strong> perigo. E vendo uma Ilha i<strong>de</strong> pela parte direita<br />

melhores Pilotos, Proeiros, e estes irão passar as Canoas pelo Canal, que tem bom rio. Vereis também um ribeirão gran<strong>de</strong>, que vem pela<br />

com olhos vivos, e se o rio tiver pouca água tirai a meta<strong>de</strong> <strong>da</strong>s car- parte direita, e logo achareis outro <strong>da</strong> mesma parte também grangas<br />

<strong>da</strong> canoa, advertindo que para a canoa tomar bem o canal é <strong>de</strong> e ain<strong>da</strong> se navega por bom rio. Vereis uma Itaipava pequena<br />

muito preciso que esta vá com a proa direita à ponta <strong>de</strong> uma Ilha com canal gran<strong>de</strong> <strong>da</strong> parte direita e tanto que a passares i<strong>de</strong> logo<br />

pequena que fica livre <strong>de</strong>stas, voltai logo sobre a parte esquer<strong>da</strong> pela parte esquer<strong>da</strong>, para veres com bom coração, o que está<br />

bem junto a terra, e faz logo outra volta para o meio, que é por aparelhado para vosso divertimento.<br />

108


UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO / NÚCLEO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO HISTÓRICA REGIONAL - NDIHR<br />

<strong>REVISTA</strong> ELETRÔNICA EDIÇÃO ESPECIAL DOCUMENTO MONUMENTO<br />

Aqui está, meus Amigos, a Senhora Cachoeira chama<strong>da</strong> encostado à Ilha que sai pela mesma ponta, e torcendo para a<br />

Vaimicanga [Quer dizer caveira <strong>de</strong> uma velha que nela morreu]: terra <strong>da</strong> parte esquer<strong>da</strong> faz outro canal junto a terra <strong>da</strong> mesma<br />

Ânimo, que Deus há <strong>de</strong> ser convosco; e posto que é gran<strong>de</strong> contu- ban<strong>da</strong>, e <strong>de</strong>pois que passares qualquer <strong>de</strong>stes [,] vereis um ribeirão<br />

do fazei <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>; avançai-a pela parte esquer<strong>da</strong>, e <strong>da</strong> mesma parte esquer<strong>da</strong> logo abaixo <strong>da</strong> cachoeira, e este é chapor<br />

esta mesma está uma Ilha gran<strong>de</strong>, e outra pequena pela parte mado Cambaiuboca [Quer dizer paragem <strong>de</strong> canos ocos mui<br />

<strong>de</strong> baixo: pela parte esquer<strong>da</strong> como digo está o Canal bem che- finas], e mais abaixo [a] não muita distância, vereis outra Ilha, e ireis<br />

gado a Ilha, e este sai por entre a gran<strong>de</strong> e a pequena; e quando a pela parte esquer<strong>da</strong> <strong>de</strong>la, que é rio limpo. Logo vereis outra que se<br />

quiseres a cometer seja <strong>de</strong> sorte que vos há <strong>de</strong> ficar a primeira Ilha a reparte em três, ireis pela parte esquer<strong>da</strong> junto a terra, e tanto que<br />

mão direita, e ireis sempre por junto <strong>de</strong>la até vos safares <strong>da</strong> outra emparelhares com a dita Ilha vereis um canal encostado a mesma,<br />

pequena, a qual levareis sempre <strong>da</strong> parte esquer<strong>da</strong>; e quem não e a saí<strong>da</strong> <strong>de</strong>ste é roçando a canoa pela ponta <strong>da</strong> dita Ilha, e corre<br />

quiser tomar o canal vá a sirga; e se quiseres esta, vin<strong>de</strong> <strong>de</strong> cima a água com muita violência, e faz muitas on<strong>da</strong>s, por cuja razão é<br />

pela parte esquer<strong>da</strong>, e tanto que emparelhares com a dita Ilha perigosa, esta gran<strong>de</strong> cachoeira é chama<strong>da</strong> Taputanguara [Quer<br />

levai a Canoa às mãos pela mesma parte esquer<strong>da</strong> até sair fora e dizer uma laje <strong>de</strong> cor par<strong>da</strong>] e quem se não quer por no risco <strong>de</strong> a<br />

ten<strong>de</strong> paciência, que forçosamente se não tomares o canal <strong>de</strong>sta passar pelo canal, virá sempre junto a terra <strong>da</strong> parte esquer<strong>da</strong>, e a<br />

cachoeira, haveis <strong>de</strong> sirgar os ossos <strong>de</strong>sta velha. Saindo <strong>de</strong>sta morri- sirgará, mas é muito impertinente a sirga. E passa<strong>da</strong> que seja esta<br />

nha, e rabugem não falta que <strong>da</strong>r a unha, porque tudo é trabalho- vos achareis em rio limpo, e a água sossega<strong>da</strong>, <strong>de</strong>scansai vosso<br />

so até certa altura, que gastareis dois outros dias até chegar. Os coração somente por um dia <strong>de</strong> viagem: e <strong>da</strong>i graças a Deus que<br />

Pilotos governem com muito sentido, e os Proeiros não menos que vos não faz poucas mercê. E passados que seja este bom dia mais<br />

tem o rio muito perigo. vara menos côvado [,] a primeira coisa que vos há <strong>de</strong> assustar é<br />

Passado que seja este divertimento logo avistareis uma Ilha uma correnteza por pedras, não é <strong>de</strong> muita consi<strong>de</strong>ração, mas<br />

e logo outra, esta tem passagem por uma e outra parte [,] mas pela olho alerta, e preparar para a batalha, porque vereis uma senhora<br />

parte esquer<strong>da</strong> junto a terra me parece melhor. Vereis outra Ilha e cachoeira chama<strong>da</strong> Avanhan<strong>da</strong>mirim [Quer dizer on<strong>de</strong> a gente<br />

direis pela parte direita <strong>de</strong>la, e na saí<strong>da</strong> <strong>da</strong> ponta, que esta faz pela corre carreira pequena], e quando a avistares vos não parecerá o<br />

parte <strong>de</strong> baixo: ireis para a parte esquer<strong>da</strong>, e vereis uma cachoeira que ela é e suposto que tem o canal direito faz este muitas e muitas<br />

que por péssima nunca mereceu ter nome [;] esta é gran<strong>de</strong> e toma on<strong>da</strong>s e corre muito risco as canoas, com cujo caso o que vos digo<br />

todo o rio, e é <strong>de</strong> muito perigo, tem esta o Canal quase pelo meio, é que se não quiseres ir a três tornos passeis a sirga que aten<strong>de</strong>s pela<br />

ireis a ela pela parte direita com muito cui<strong>da</strong>do, e saindo <strong>de</strong>sta parte esquer<strong>da</strong> junto a terra. (Advertindo que quando vos apontar<br />

vereis uma Ilha, e i<strong>de</strong> pela parte direita <strong>de</strong>la, e logo vereis uma Itai- sirga que vos não pareça, que é lugar por on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>is passar <strong>de</strong>spava,<br />

esta é compri<strong>da</strong> [;] ca<strong>da</strong> um se aja nela conforme a expe- cansado, porque em muitas suce<strong>de</strong> emborcarem-se as canoas, e<br />

riência o ensinar. alagarem-se) Passa<strong>da</strong> que seja a dita vereis rio manso, e também<br />

Ireis navegando e vereis uma Ilha pequena, i<strong>de</strong> para a parte vereis uma correnteza pequena, navegai pela parte direita com<br />

esquer<strong>da</strong>, e achareis uma Itaipava, e logo uma Ilha na ponta que cui<strong>da</strong>do, porque vos espera o Pai <strong>da</strong>s cachoeiras o horror do rio! O<br />

faz para a parte direita faz cachoeira gran<strong>de</strong> e sem canal e quan- gran<strong>de</strong> salto e primeiro <strong>de</strong>sta quali<strong>da</strong><strong>de</strong> chamado Avanhan<strong>da</strong>va<br />

do quiseres tomar a dita Ilha é preciso vir sempre encostado a parte [Quer dizer on<strong>de</strong> a gente corre].<br />

esquer<strong>da</strong> junto [fl. 6v] Junto a terra; e na outra ponta, que a dita Ilha Buscai a terra <strong>da</strong> parte direita, e man<strong>da</strong>i saltar a gente<br />

faz para parte <strong>de</strong> baixo, tem cachoeira com dois canais um <strong>de</strong>les n'água e levareis as canoas às mãos até as encostares on<strong>de</strong> as<br />

109


<strong>REVISTA</strong> ELETRÔNICA EDIÇÃO ESPECIAL DOCUMENTO MONUMENTO<br />

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO / NÚCLEO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO HISTÓRICA REGIONAL - NDIHR<br />

<strong>de</strong>scarregueis, e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> <strong>de</strong>scarrega<strong>da</strong>s, e as cargas terra firme, <strong>de</strong>ixando sempre a Ilha a mão direita até saíres pela<br />

passa<strong>da</strong>s por terra e postas abaixo do salto, levareis as canoas às última <strong>de</strong>ste nome, a qual faz um estreito em sua <strong>de</strong>spedi<strong>da</strong> seco<br />

mãos pelo pé <strong>de</strong> terra <strong>da</strong> mesma ban<strong>da</strong> até os meteres no vara- com gran<strong>de</strong> correnteza e perigo; e se quiseres passar por entre as<br />

douro <strong>de</strong> terra e as puxareis até certa paragem a qual conhecereis Ilhas [,] vos per<strong>de</strong>reis sem remissão e se quiseres a saí<strong>da</strong> do estreito<br />

pelo lugar on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>itam outra vez n'água e estando como [fl. 7] <strong>da</strong> Ilha mais segura, <strong>de</strong>scarregai a canoa a meia carga, ou to<strong>da</strong><br />

Como digo lhe passareis uma cor<strong>da</strong> na proa, e outra na popa e que isso <strong>de</strong>ixará à vossa eleição, mas sempre o <strong>de</strong>scarregar não é<br />

estas não sejam podres, e nas pontas <strong>de</strong>stas pegará quem não <strong>de</strong>sacerto. E advirto-vos que esta senhora tem sido sepultura <strong>de</strong><br />

saiba largar, e embarquem na canoa os melhores Pilotos e Proeiros, muita gente e <strong>de</strong> muita fazen<strong>da</strong> pelo pouco respeito com que a<br />

e a levem a remos por uma gran<strong>de</strong> correnteza, que vai acabar trataram.<br />

aon<strong>de</strong> estão as cargas, e as mesmas carreiras, que as canoas leva- Depois <strong>de</strong>sta navegareis, e logo avistareis uma Ilha e ireis a<br />

rem pelo rio, levarão também os pegadores <strong>da</strong>s cor<strong>da</strong>s por terra ela pela parte esquer<strong>da</strong>, e chegando a emparelhar com a dita<br />

sem largarem acompanhando a canoa. E <strong>de</strong>pois <strong>da</strong>s canoas car- adverti [fl. 7v] Adverti que embaixo faz cachoeira [;] na ponta tem o<br />

rega<strong>da</strong>s, navegareis por um canal estreito empare<strong>da</strong>do <strong>de</strong> pedra canal aberto mas é violento, e pela parte direita também tem<br />

<strong>de</strong> uma e outra parte e passado que seja este [,] achareis o rio com canal, o qual na saí<strong>da</strong> tem duas pedras, e por entre elas é o camia<br />

mesma largura que tinha antes do salto. nho, e quem o não leva bem fisgado corre muito risco; fazei eleição<br />

Tanto que vos vires [,] neste largo rio navegai pela parte <strong>de</strong> qual <strong>de</strong>stes doces quiseres. E passado que seja qualquer <strong>de</strong>les<br />

direita até veres uma Ilha pequena com uma gran<strong>de</strong> cachoeira [;] navegareis até avistares uma Ilha com uma cachoeira chama<strong>da</strong><br />

esta é chama<strong>da</strong> Escaramuça, tem o canal a entra<strong>da</strong> <strong>da</strong> parte do Mato Seco [;] se quiseres sirgar [,] vin<strong>de</strong> pela parte direita, e tanto<br />

direita todo com voltas com bastante comprimento, e o canal por que vos vires safo <strong>de</strong> umas pedras que aí estão, i<strong>de</strong> direito à dita<br />

on<strong>de</strong> <strong>de</strong>spe<strong>de</strong> fica junto a terra com a boca vira<strong>da</strong> para o rio, é Ilha, e chegando a ela vai o canal, e vem sair bem junto à terra pela<br />

estreito e perigoso por cuja razão carece que a cometam bons ponta <strong>da</strong> Ilha, a entra<strong>da</strong> é um tanto seca, mas não é ruim canal.<br />

Pilotos, pois são mui perigosos canais estreitos [,] ain<strong>da</strong> este que Saindo <strong>de</strong>sta [,] na volta ten<strong>de</strong>s uma Itaipava chama<strong>da</strong><br />

tudo é <strong>de</strong> voltas que um cavalo na escaramuça não faz mais ro<strong>de</strong>i- Itupesum [Quer dizer paragem torta] o canal vai pelo meio com<br />

os, e por isso com muita proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> lhe puseram o tal nome. E se suas voltas, e se o não quiseres passar, vin<strong>de</strong> pela parte direita até<br />

quiseres sirgar [,] o po<strong>de</strong>is fazer junto <strong>de</strong> terra, e passando com bom chegar a encalhar a canoa, e a levai a sirga como pu<strong>de</strong>res. A prisucesso<br />

ren<strong>de</strong>is as graças a Senhora <strong>de</strong>ste nome por vos haver meira cachoeira que avistares atravessa todo o rio e é chama<strong>da</strong><br />

livrado <strong>da</strong>s voltas em que an<strong>da</strong>stes sendo já <strong>de</strong>sse tamanho. On<strong>da</strong>s Gran<strong>de</strong>s [;] tem esta o canal pela parte direita pouco <strong>de</strong>svi-<br />

Navegareis em bom rio e assim como ouvires roncar com ado <strong>de</strong> terra [,] a entra<strong>da</strong> é boa, mas olhos abertos, que na saí<strong>da</strong><br />

soberba e arrogância a cachoeira chama<strong>da</strong> Itupanema [Quer tem uma pedra e é preciso <strong>de</strong>sviar <strong>de</strong>la e saber cortar as on<strong>da</strong>s que<br />

dizer salto seco] lhe pedirei com cortesia vos <strong>de</strong>ixe passar em paz: esta faz que sempre algumas entraram <strong>de</strong>ntro na canoa, mas não<br />

ireis pela parte esquer<strong>da</strong> até avistares, que pela parte direita faz importa, porque estas refrescam os mantimentos, e a fazen<strong>da</strong> tamsalto,<br />

e no meio tem uma Ilha e para a parte esquer<strong>da</strong> tem outra bém tem sirga <strong>da</strong> parte esquer<strong>da</strong> [;] se quiseres sirgar [,] seja feito a<br />

pequena, e a vista <strong>de</strong>stas pela parte <strong>de</strong> baixo tem outra, e para a vossa vonta<strong>de</strong>.<br />

passares bem, ain<strong>da</strong> que com excessivo trabalho, vin<strong>de</strong> <strong>de</strong> cima Navegareis pela parte direita e vereis uma cachoeira que<br />

bem junto a terra <strong>da</strong> parte esquer<strong>da</strong> até meteres as canoas na terá uma Ilha para a parte direita [:] esta é chama<strong>da</strong> as On<strong>da</strong>s<br />

sirga, e ireis com elas com muito cui<strong>da</strong>do sempre encostados a Pequenas [;] ireis como digo pela mesma ban<strong>da</strong> <strong>de</strong>sviando-vos <strong>da</strong><br />

110


UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO / NÚCLEO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO HISTÓRICA REGIONAL - NDIHR<br />

<strong>REVISTA</strong> ELETRÔNICA EDIÇÃO ESPECIAL DOCUMENTO MONUMENTO<br />

terra pela razão <strong>de</strong> ser baixio, pon<strong>de</strong> a proa direita a ponto risco, por que é custoso <strong>de</strong> tomar, e no fim <strong>de</strong> tudo isto [,] <strong>da</strong> parte<br />

<strong>da</strong> Ilha e quando chegares perto <strong>da</strong> dita, chegai-vos mais para a esquer<strong>da</strong> vereis uma praia pequena com água quieta.<br />

terra, e emborcai o canal, que este é por entre esta, e a Ilha, fican- Depois que saíres do que fica dito, distância <strong>de</strong> uma volta<br />

do-vos a dita Ilha a mão esquer<strong>da</strong>, e assim correreis direito até saíres <strong>de</strong> rio, vereis uma gran<strong>de</strong> cachoeira chama<strong>da</strong> Guacoritiba [Quer<br />

ou vos safares <strong>da</strong> ponta <strong>da</strong> dita, e pela parte esquer<strong>da</strong> <strong>de</strong>sta Ilha dizer lugar on<strong>de</strong> há cocos <strong>de</strong> Guacoriz, que se comem], esta tem<br />

fica um canal gran<strong>de</strong> mas muito ruim, e perigoso, corre risco quem <strong>da</strong> parte direita muitas Ilhas, e por entre estas e a terra é o canal,<br />

o tomar. mas muito violento, e não menos perigoso: não o tomeis, só sim, em<br />

Depois que passares o que fica dito, vos achareis em rio avistando esta cachoeira [,] navegai pela parte esquer<strong>da</strong>, e por<br />

limpo. Dai graças a Deus que será por pouco tempo esta limpeza. E esta mesma vin<strong>de</strong> a sirga junto a terra, até sair à última ilha, e por<br />

assim fazei boa apreensão no recado que vos quero <strong>da</strong>r, que é um esta mesma ban<strong>da</strong> também ten<strong>de</strong>s canal, e fica este <strong>de</strong>sviado <strong>da</strong><br />

tanto cumprido, e suposto que não será a medi<strong>da</strong> do vosso <strong>de</strong>sejo terra distância <strong>de</strong> 3 braças, mas é na entra<strong>da</strong> muito perigosa, por-<br />

[,] consolai-vos com a vonta<strong>de</strong> do Criador. Avistareis uma cachoei- que tem uma pedra que prejudica muito, como também as muitas<br />

ra chama<strong>da</strong> a Funil [Por ser muito estreito]: Navegai para a parte on<strong>da</strong>s que faz. E chegado que sejais na última Ilha na forma que<br />

esquer<strong>da</strong> junto a terra, e logo vereis que faz o rio volta sobre a acima digo, vereis que faz Itaipava <strong>da</strong> ponta <strong>de</strong>sta para a terra<br />

mesma parte esquer<strong>da</strong>, e indo, como tenho dito a terra, buscando to<strong>da</strong> seca; e saindo <strong>de</strong>sta [,] ireis buscando o meio do rio, em tal<br />

a volta [fl. 8] A volta, que o rio faz [,] logo vereis o canal que não fica forma que vos fique a dita Ilha a vossa mão esquer<strong>da</strong>, e vereis um<br />

muito <strong>de</strong>sviado <strong>da</strong> terra, e <strong>de</strong>fronte <strong>da</strong> entra<strong>da</strong> do canal coisa <strong>de</strong> canal aberto pelo qual navegareis, e assim sereis livre <strong>da</strong> Senhora<br />

três braças, vereis uma pedra, a qual faz muito <strong>da</strong>no a quem se não Guacoritiba.<br />

sabe <strong>de</strong>sviar <strong>de</strong>la, e para que vos não faça mal esta rapariga, é Navegareis por rio quieto, e pelo meio passareis uma correnmuito<br />

conveniente, que assim que emborcares o dito canal [,] puxe- teza, e logo outra, e logo outra pela parte direita, não muito chagais<br />

logo a canoa para a terra e em tal forma que vos fique a dita do a terra, e vereis outra dita, que tem uma pedra do feitio <strong>de</strong> Ilha e<br />

pedra à mão direita: vai este dito canal seguindo-se, e tem suas esta passareis a parte esquer<strong>da</strong> <strong>da</strong> dita pedra; e logo ireis buscanpedras<br />

alaga<strong>da</strong>s até chegar a parte esquer<strong>da</strong> que faz remanso [,] do a parte [fl. 8v] A parte direita, e vereis no meio do rio uma Ilha<br />

<strong>de</strong>fronte vereis uma Ilha; e se não quiseres tomar o canal que tenho gran<strong>de</strong> com uma reveren<strong>da</strong> cachoeira chama<strong>da</strong> Aracanguamidito<br />

[,] sirgai por junto <strong>de</strong> terra, que o funil ain<strong>da</strong> vai mais adiante. rim [Quer dizer cabeças <strong>de</strong> Araras pequenas], e vereis mais entre a<br />

Ireis navegando pela mesma parte esquer<strong>da</strong>, e avistareis outra Ilha, Ilha gran<strong>de</strong>, e a terra <strong>da</strong> parte direita 3 Ilhas mais pequenas, e para<br />

i<strong>de</strong> a remos junto <strong>de</strong> terra até meter a canoa na sirga, que esta passares com alguma segurança vos aplico os banhos <strong>da</strong> sirga,<br />

acaba <strong>de</strong> traz <strong>da</strong> dita Ilha, e faz um poço com água quieta, i<strong>de</strong> a com os quais quisera Deus sejais bem sucedidos; esta vos fica <strong>da</strong><br />

remos que na saí<strong>da</strong> <strong>de</strong>sta Ilha fica o bico, e fim do dito Funil e faz um parte direita; e se a con<strong>de</strong>nares <strong>de</strong> trabalhosa, e ruim <strong>de</strong> passar,<br />

cerco <strong>de</strong> pedras <strong>da</strong> Ilha para a terra, e <strong>de</strong>fronte <strong>da</strong> dita Ilha faz um pela razão <strong>de</strong> ser muito seca; eu vos aplico o remédio com mais<br />

recife <strong>de</strong> pedras, e acaba antes que chegue a terra, cujo meio fica água, e este é o seguinte: vin<strong>de</strong> <strong>de</strong> cima pela parte direita, <strong>de</strong>pois<br />

estreito; e <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> sirga que fica dita [,] ireis a remos a passar o que vos achares já perlongado com a Ilha, ireis para o meio do rio a<br />

canal que fica bem chegado a Ilha, roçando por terra, e tanto que a flechar duas pedras que aí estão, que por entre elas é o canal,<br />

passares este voltareis por entre o recife, e a dita cachoeira, e i<strong>de</strong> mas muito violento, e assim que embocares o dito canal torcei a<br />

com a proa direita à terra; e se quiseres acaba<strong>da</strong> que seja a dita canoa, e buscai a parte <strong>da</strong> Ilha, por causa <strong>de</strong> uma Ilha [,] digo [,] <strong>de</strong><br />

sirga, ir buscar um canal que fica no meio [,] será por vossa conta e uma pedra que fica no meio do canal, que tem muito risco a canoa<br />

111


<strong>REVISTA</strong> ELETRÔNICA EDIÇÃO ESPECIAL DOCUMENTO MONUMENTO<br />

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO / NÚCLEO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO HISTÓRICA REGIONAL - NDIHR<br />

que a topar, e livre já <strong>da</strong> pedra endireitai a canoa, e ireis parte esquer<strong>da</strong>, e ireis passar por junto <strong>da</strong> Ilha última, e mais adianbuscando<br />

as voltas <strong>da</strong>s Ilhas, que vos ficam a parte direita. Adver- te vereis uma Itaipava [,] navegai pela parte esquer<strong>da</strong>, e vereis<br />

tindo que nesta volta há <strong>de</strong> a canoa ir quase roçando a Ilha peque- também uma Ilha, e passareis pela mesma parte esquer<strong>da</strong>. E assim<br />

na, e por entre esta, e a gran<strong>de</strong>, que vos ficará <strong>da</strong> parte esquer<strong>da</strong>, ireis navegando até avistares uma cachoeira gran<strong>de</strong> com uma Ilha<br />

ireis buscando a terra <strong>da</strong> parte direita, e continuando o canal até para a parte esquer<strong>da</strong>, é chama<strong>da</strong> esta dita a Ilha do pau, não<br />

vos achares em rio quieto. Tenho <strong>da</strong>do o meu recado pertencente tem canal nem sirga, pela qual razão não fareis a diligência, por<br />

a esta sirga, e cachoeira; vós fareis o que for vossa vonta<strong>de</strong>. uma, nem outra coisa, só sim reparai que vindo <strong>de</strong> cima antes que<br />

Passado que seja o acima referido vos achareis em rio man- avisteis a cachoeira dita, vereis uma Itaipava à parte esquer<strong>da</strong>, e<br />

so, e a seu tempo vereis uma cachoeira, e este é o segundo vara- por força passareis pela parte direita junto a terra, e logo vos achadouro<br />

<strong>de</strong>ste rio, e é chama<strong>da</strong> Aracanguaba [Quer dizer cabeças reis com rio manso por pouco tempo, e vereis também a cachoeira,<br />

<strong>de</strong> Araras] vereis pela parte direita uma Ilha pequena, e do meio e Ilha que acima digo; navegai pela parte esquer<strong>da</strong> até chegares<br />

para a parte esquer<strong>da</strong> outra maior: aqui é o segundo salto, e para a uma correnteza pela qual entrareis algum tanto <strong>de</strong>sviado <strong>de</strong><br />

vires meter a canoa na sirga vireis bem junto a terra, e as sirgareis terra, e ireis navegando sempre por entre pedras, puxando para a<br />

mesmo carrega<strong>da</strong>s, e acaba<strong>da</strong> que seja a dita sirga, achareis rio parte esquer<strong>da</strong> junto a terra até chegares <strong>de</strong> fronte <strong>da</strong> ponta <strong>da</strong><br />

fundo, e por esta mesma ban<strong>da</strong> sai um ribeirão gran<strong>de</strong>; levareis as Ilha, a qual faz um cotovelo para a terra, e volta o canal por junto<br />

canoas por junto <strong>de</strong> terra <strong>da</strong> mesma parte <strong>da</strong> sirga, até chegares a <strong>da</strong> mesma terra, e por entre esta, e a dita Ilha é tudo limpo, e por<br />

<strong>de</strong>scarregar. E se fores <strong>de</strong>stro neste rio quando vieres <strong>de</strong> cima, e <strong>de</strong>trás <strong>da</strong> dita Ilha atravessam umas pedras com sua correnteza,<br />

avistares a cachoeira [,] vin<strong>de</strong> a elas pela parte esquer<strong>da</strong>, pouco passareis pelo meio, e achar-vos-eis em bom rio. Por este ireisnave<strong>de</strong>sviado<br />

<strong>da</strong> terra, e remando com sentido tomareis a carreira sem- gando um bom pe<strong>da</strong>ço <strong>de</strong> tempo e vereis um ribeirão que vem<br />

pre pela mesma parte até chagares à boca do ribeirão que já dis- pela parte esquer<strong>da</strong>, e logo vereis uma Ilha pequena quase pela<br />

se, e <strong>da</strong>í ireis costeando terra até chegares ao dito <strong>de</strong>scarregadou- parte direita e para a parte esquer<strong>da</strong> é largo o rio, e faz correnteza<br />

ro; e <strong>de</strong>pois <strong>da</strong>s canoas <strong>de</strong>scarrega<strong>da</strong>s, se as quiseres varar por com suas pedras: ten<strong>de</strong>s o canal pelo meio ficando-vos a Ilha á<br />

cima <strong>da</strong>s pedras o po<strong>de</strong>is fazer, mas é menos trabalho o varar pela parte direita, e a vista <strong>de</strong>sta para a parte <strong>de</strong> baixo vereis um posso<br />

água pois esta vos aju<strong>da</strong> muito a puxar a canoa, advertindo que se gran<strong>de</strong> chamado Pirataraca [Quer dizer on<strong>de</strong> o peixe faz bulha], e<br />

varares pela água há <strong>de</strong> ser por uma quebra<strong>da</strong>, que vereis <strong>de</strong>sta vereis <strong>da</strong> parte direita do dito um canto no barranco do rio com<br />

mesma ban<strong>da</strong>, e levai as canoas com muito sentido, porque estas muitas pedras negras, e estas acompanham o posso até a volta.<br />

correm risco; e carrega<strong>da</strong>s que sejam as canoas [,] ireis navegando Navegareis por bom rio até avistares uma cachoeira, e Ilhas, esta<br />

por entre a terra, e a Ilha gran<strong>de</strong> [fl. 9] Gran<strong>de</strong> até saíres fora. Nave- tal é muito trabalhosa, e é chama<strong>da</strong> Itupiru [Quer dizer água que<br />

gai, e logo na volta vereis uma Itaipava gran<strong>de</strong> chama<strong>da</strong> Ytupeba cai e espraia muito mas seco, on<strong>de</strong> não [ilegível] as canoas], pela<br />

[Quer dizer água por cima <strong>de</strong> pedras rasas], esta tem um canal <strong>da</strong> parte esquer<strong>da</strong> é salto, e quem vai por lá, <strong>de</strong>spedido vai <strong>da</strong> tropa<br />

parte direita, e <strong>da</strong> mesma parte algumas Ilhas pequenas, e para o para o dia do juízo.<br />

meio uma dita maior, não tomeis o canal, que é incapaz, vin<strong>de</strong> <strong>de</strong> Não vos assusteis, meus Amigos, que vos hei <strong>de</strong> ensinar um<br />

cima pela parte esquer<strong>da</strong>, chegado a terra, e sirgai, e saindo <strong>da</strong> caminho muito suave, divertido, e com muito <strong>de</strong>scanso que bem<br />

sirga ireis a remos, e logo vereis outra Itaipava, esta tem o canal sei é em vós bem empregado, pois ten<strong>de</strong>s passado muito trabalho<br />

pelo meio, e sirga pela parte esquer<strong>da</strong> até sair fora <strong>da</strong> dita Itaipava por vossa culpa, mas já agora não tem remédio, chorai na cama,<br />

e <strong>de</strong>pois que passares esta, ou a remos ou a sirga navegai pela que é parte quente que [fl. 9v] Que o <strong>de</strong>scanso, que vos estou<br />

112


UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO / NÚCLEO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO HISTÓRICA REGIONAL - NDIHR<br />

<strong>REVISTA</strong> ELETRÔNICA EDIÇÃO ESPECIAL DOCUMENTO MONUMENTO<br />

prometendo, é o seguinte, e os bens que <strong>de</strong>les me rogares, que melhor vos parecer, e o que vos peço é que quando chegares<br />

esses vos venham. a ocasião <strong>de</strong> alguma batalha [,] <strong>de</strong>stas não vos façais como quem<br />

Vereis <strong>da</strong> parte direita 3 Ilhas não muito gran<strong>de</strong>s e uma tem Tiricia [?], nem também acometais temeri<strong>da</strong><strong>de</strong>s, que vos achacachoeira,<br />

a qual toma todo o rio até quase a parte esquer<strong>da</strong>, e a reis enganado[s] com as vossas valentias, e a prevenção sempre é<br />

quem vem <strong>de</strong> cima lhe parece que por esta parte é o caminho, boa.<br />

que o mesmo rio vos estará convi<strong>da</strong>ndo para o precipício, e para Navegareis por bom rio até avistar uma Itaipava, remai<br />

passares esta suavi<strong>da</strong><strong>de</strong>, vos é preciso, que em avistando o que bem, e i<strong>de</strong> a ela pela parte esquer<strong>da</strong> [;] junto à terra esta faz [fl. 10]<br />

tenho dito [,] navegueis pela parte direita junto à terra, e por entre Faz antes <strong>da</strong> saí<strong>da</strong> uma volta para o meio do rio, e acaba. Acharesta<br />

e as ditas três Ilhas sirgareis a canoa até passares este primeiro vos-eis em rio quieto, mas logo vereis outra Itaipava gran<strong>de</strong>, entra<strong>de</strong>grau,<br />

e chegando à ponta <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> Ilha achareis o rio fundo reis pelo meio inclinando-vos um tanto para a parte direita, e assim<br />

com água mansa, embarcai-vos e i<strong>de</strong> a remos, saindo pela ponta como entrares voltai logo para a parte esquer<strong>da</strong>, e navegai com<br />

<strong>da</strong> terceira Ilha que para a terra é seco, e em passando esta, vereis muito cui<strong>da</strong>do até saíres pelo canal fora, que este vos fica à parte<br />

para o meio do rio uma Ilha gran<strong>de</strong>, e para a parte direita <strong>de</strong>la três esquer<strong>da</strong> e suposto que é aberto, tem muita correnteza, e muitas<br />

mais pequenas junto umas <strong>da</strong>s outras, e assim como saíres <strong>da</strong> ponta on<strong>da</strong>s e passado que este seja vos achareis em bom rio [,] mas pou<strong>da</strong><br />

terceira Ilha como já disse e <strong>de</strong>sviando-vos do seco <strong>da</strong> parte co; e passado que este seja, aparelhai-vos para ouvir, e fazer apredireita<br />

[,] logo metereis a canoa na sirga até passares o outro termo ensão em uma la<strong>da</strong>inha <strong>de</strong> Ilhas que vos quero escrever, e vendo<strong>de</strong><br />

Ilhas, é esta sirga muito perigosa, e muito mais trabalhosa: e pas- vos entre elas com impertinência, e trabalho, que costumam <strong>da</strong>r<br />

sado que seja este segundo <strong>de</strong>grau vos achareis por <strong>de</strong>trás <strong>da</strong> Ilha aquelas Ilhotas, dizei aos Santos [“]ora-te pro nobies[”]; e é a seguingran<strong>de</strong><br />

em rio fundo, e água mansa, ireis a remos correndo este te. Passado como já disse o pouco rio bom, vereis uma Itaipava<br />

canal, que é estreito, e <strong>de</strong> uma, e outra ban<strong>da</strong>, são pedras, mas é gran<strong>de</strong> a qual cerca todo o rio e para a parte direita é largo, mas é<br />

bom <strong>de</strong> navegar; saireis pela ponta <strong>da</strong> ilha gran<strong>de</strong> encostando-vos incapaz <strong>de</strong> se navegar, vereis também para a parte esquer<strong>da</strong> uma<br />

a ela, que para a parte direita tem pedras perigosas, e saindo como Ilha pequena, e afastado <strong>de</strong>la coisa <strong>de</strong> quatro braças; vereis outra<br />

digo achareis rio largo, e olhando para a parte <strong>de</strong> cima vereis o dita também pequena, divi<strong>de</strong>[-]se um largo com muitas pedras e<br />

salto. E advirto-vos que <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>sta saí<strong>da</strong> tem várias pedras cober- correntezas, e vereis outra Ilha gran<strong>de</strong>: para a tomares vireis a<br />

tas, que só se vêem pelo ressolho que fazem, e tem também muita remos com a proa <strong>da</strong> canoa direita aponta <strong>da</strong> primeira Ilha <strong>de</strong>svicorrenteza:<br />

sentido, e olho aberto: Vereis logo uma Itaipava gran- ando-vos do seco que ten<strong>de</strong>s <strong>da</strong> parte esquer<strong>da</strong>, em tal forma que<br />

<strong>de</strong>, a qual cerca todo o rio <strong>de</strong> uma ban<strong>da</strong> a outra, e pela parte a dita Ilha vos fique à mão esquer<strong>da</strong>, e embocareis o canal, que vai<br />

direita, e esquer<strong>da</strong> [,] tem sirga bastantemente compri<strong>da</strong>; com o encostado à dita Ilha e passareis por entre a outra Ilha pela parte<br />

que vos digo que façais é que <strong>de</strong>pois que <strong>de</strong>ixares a Ilha gran<strong>de</strong> esquer<strong>da</strong>, e se não quiseres seguir esta <strong>de</strong>rrota [,] vin<strong>de</strong> <strong>de</strong> cima<br />

que acima digo governai a canoa e i<strong>de</strong>-vos chegando pouco pela parte até vos meteres nas ditas Ilhas, e por esta ban<strong>da</strong> não tem<br />

para a parte direita em forma que fiqueis pouco afastado do meio perigo algum, e só na entra<strong>da</strong> é um tanto [;] seco se a canoa encado<br />

rio, para estas partes vereis um canal fundo [:] metei-vos nele, e lhar [,] levai às mãos: e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> vos veres nesta paragem [,] quer<br />

ireis <strong>de</strong>sviando a canoa <strong>de</strong> algumas pedras que achares, e assim por uma parte, quer por outra, navegareis por <strong>de</strong> traz <strong>da</strong>s ditas Ilhas<br />

ireis até vos meteres no mais furioso <strong>da</strong> correnteza, e on<strong>da</strong>s que este e vereis uma Itaipava, ireis a ela pelo meio, esta faz seu torcido, por<br />

faz, e em saindo fora <strong>de</strong>ste vereis rio manso. E se temeres o furioso cuja causa é muito preciso o cui<strong>da</strong>do: e ireis sair quase por junto <strong>da</strong><br />

do canal [,] passai a sirga que fica dita, e fazei neste particular o Ilha gran<strong>de</strong>, acima dita, e saindo <strong>de</strong>sta ireis para a parte esquer<strong>da</strong>,<br />

113


<strong>REVISTA</strong> ELETRÔNICA EDIÇÃO ESPECIAL DOCUMENTO MONUMENTO<br />

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO / NÚCLEO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO HISTÓRICA REGIONAL - NDIHR<br />

e achareis outra Itaipava, esta tem o canal aberto <strong>da</strong> inferno; venho perdido, em tal cachoeira se me emborcou uma<br />

mesma parte junto a terra, e vai este sair quase pelo meio do rio. canoa, <strong>de</strong>la na<strong>da</strong> aproveitei, e em tal Itaipava tive outra embarca-<br />

Achar-vos-eis em rio Limpo, e este navegareis não muito tempo, e ção [,] molhou-se o mantimento, e a fazen<strong>da</strong> queria falar para<br />

ireis pela parte direita não muito à terra, até ouvires roncar (Aqui é enxugar; a tropa, em que eu vinha [,] não se quis <strong>de</strong>ter; os negros<br />

ela [,] meus navegantes Amigos, preparai-vos que sois chegados a tanto remam para diante, como para traz, hei se lhes <strong>da</strong>va não os<br />

ver o tremendo e <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iro Salto chamado Itapura [Quer dizer tinha para bem ou para mal me puxarem a canoa, tive tantos dias<br />

salto muito alto]. Em avistando esta <strong>de</strong>lícia, ireis junto à terra <strong>da</strong> <strong>de</strong> chuva impertinência extremosa, as estalagens do caminho são<br />

parte direita com muito cui<strong>da</strong>do, e submissão, não façais pouco <strong>de</strong>sabri<strong>da</strong>s, vim a tombos por esse rio abaixo com a morte por ócucaso<br />

<strong>de</strong>le, que como é gran<strong>de</strong>; é muito soberbo, e levareis as cano- los diante dos olhos [,] não podia dormir <strong>de</strong> noite com o sentido no<br />

as à sirga por junto <strong>de</strong> terra, e chegareis com elas a <strong>de</strong>scarregar medo do dia seguinte; o trabalho dos varadouros me fazia maldizer<br />

on<strong>de</strong> melhor vos parecer, e man<strong>da</strong>reis as canoas por terra a espe- a mim mesmo, os pretos quando varavam as cargas metiam-se no<br />

rar abaixo do senhor salto; levareis as canoas vazias pela água, e mato, e lá construíam o mantimento: aí trago tantos doentes, por<br />

por cima <strong>de</strong> umas pedras plainas até as meteres no varadouro <strong>de</strong> causa do muito trabalho; e assim tenho entendido, que se a Divina<br />

terra, e por cima <strong>de</strong> estivas [fl. 10v] De estivas se arrastam até as Onipotência não acudira aos navegantes <strong>de</strong>ste rio [,] não era pos<strong>de</strong>itarem<br />

outra vez n'água pela parte <strong>de</strong> baixo do salto, e <strong>da</strong>qui lhe sível chegar aqui canoa alguma, mas graças ao Divino Senhor, que<br />

po<strong>de</strong>is tomar bem as feições, e fazer-lhe muitas cortesias, que aqui já estou Livre, e parasse que em negra hora intentei tal viagem <strong>de</strong>ra<br />

se acabam as cachoeiras <strong>de</strong>ste rio, o qual também brevemente se eu agora o que não tenho <strong>de</strong> meu, e vira-me eu no Porto <strong>de</strong> Araritavos<br />

acabará, e eu acabo <strong>de</strong> vos ensinar o resto, e Lá vos irei esperar guaba. Coitadinhos, é bem feito, que tudo isso vos [fl. 11] Vos sucena<br />

barra do rio gran<strong>de</strong>. Depois que tiveres as canoas carrega<strong>da</strong>s, <strong>da</strong> (respondo eu), pois voós quisestes enganar com o <strong>de</strong>sengano,<br />

navegareis pela parte esquer<strong>da</strong> que pela direita tem pedras peri- que <strong>de</strong>la vos <strong>da</strong>vam por carta vossos amigos: porém não vos <strong>de</strong>sagosas,<br />

e ireis an<strong>da</strong>ndo por bom rio, até veres uma Ilha chama<strong>da</strong> o nimeis, que o bom ten<strong>de</strong>s passado, e o melhor adiante passareis, se<br />

Pernambuco, <strong>da</strong> parte direita <strong>de</strong>sta vereis um braço <strong>de</strong> rio gran<strong>de</strong>, não quiseres <strong>da</strong>qui tornar para vossa casa; E se contudo quereis<br />

mas não muito largo e por <strong>de</strong>trás <strong>da</strong> dita Ilha tem cachoeira, mas prosseguir vossa viagem, <strong>de</strong>scansai aqui dois dias; e se quiseres <strong>da</strong>r<br />

ninguém por lá navega, e quando avistares a dita Ilha, ireis pela uma barriga<strong>da</strong> <strong>de</strong> peixe à gente do troço [,] <strong>de</strong>scarregai uma<br />

parte esquer<strong>da</strong>, e vereis que <strong>da</strong> Ilha para a terra faz uma gran<strong>de</strong> canoa, e navegai <strong>da</strong> barra <strong>de</strong>ste rio para cima pela parte direita,<br />

correnteza, remai bem e ireis a esta pelo meio, tanto ou quanto até entrares por entre o empare<strong>da</strong>do <strong>de</strong> pedra e [,] assim, ireis até<br />

mais chagado para a parte <strong>da</strong> Ilha, pela razão <strong>de</strong> ser mais fundo, e que avisteis um Salto, Pai dos dois rapazes do Tietê, e Avó <strong>da</strong> criannão<br />

tar<strong>da</strong>rá muito o avistares o Rio gran<strong>de</strong> e na dita barra vos espe- ça mais pequena, chama-se este Urubupungá [Quer dizer on<strong>de</strong><br />

ro. assistem corvos assim chamados urubus]: Fantasma <strong>de</strong> boa estatura,<br />

vereis <strong>de</strong>spenhar-se <strong>de</strong>ste abaixo a água por mais <strong>de</strong> vinte par-<br />

RIO GRANDE<br />

tes, cuja tempesta<strong>de</strong> se ouve do <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iro Salto do Tietê; esta<br />

<strong>de</strong>spenha<strong>da</strong> água se vem meter to<strong>da</strong> em canais com tal fúria, que<br />

Peregrinos Irmãos (vos digo eu) [,] sejais muito bem chega- parece incrível o que se está vendo; ireis até on<strong>de</strong> pu<strong>de</strong>res chegar<br />

dos a esta barra. É Vossa Senhoria que cara trazeis que ten<strong>de</strong>s vinsem risco, e Levareis para esta pescaria bons anzóis; e muitos e tam-<br />

<strong>de</strong>s assustados [;] contai-me o que vos suce<strong>de</strong>u no rio Tietê. Não sei bém linhas; e se assim o não fizeres, escusado será lá ir, e advertir-vos<br />

<strong>da</strong>r graças a Deus (me respon<strong>de</strong>is-vos) por já me ver fora <strong>de</strong> tal que este Lugar é milagroso por Linha transversal, porque muitos nele<br />

114


UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO / NÚCLEO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO HISTÓRICA REGIONAL - NDIHR<br />

<strong>REVISTA</strong> ELETRÔNICA EDIÇÃO ESPECIAL DOCUMENTO MONUMENTO<br />

pescam maleitas; também tem o risco <strong>de</strong> encontrar lá o <strong>da</strong> <strong>da</strong> canoa que esta apanhar, e para vos Livrares disto, tanto que<br />

gentio chamado Cayapô, os quais costumam fazer ali suas pescari- avistares a Ilhota que vos tenho dito, vós ireis amarando para o meio<br />

as, mas estes não vos farão mal porque são muito corteses, e as suas e fugindo do cotovelo, e passai encostado a parte direita, e passasau<strong>da</strong>ções<br />

são feitas com um porrete, com o qual vos farão tiro à do isto passareis logo para a parte esquer<strong>da</strong> bem junto à terra que<br />

cabeça, e se vos fizerem a pontaria à testa e vos <strong>de</strong>rem nos narizes para a parte direita são cachoeiras.<br />

<strong>da</strong>rão por mal emprega<strong>da</strong> a mão que tal tiro fez. Navegareis sempre pela parte esquer<strong>da</strong> até avistares uma<br />

Amigos meus, ou façais, ou não a vossa pescaria [,] <strong>de</strong>ixado que Ilha chama<strong>da</strong> a Ilha compri<strong>da</strong>; para a parte direita não é bom<br />

seja o rio Tietê, navegai por este Rio gran<strong>de</strong> abaixo pela parte navegar, e para a parte esquer<strong>da</strong>, ain<strong>da</strong> que faz gran<strong>de</strong> volta [,]<br />

esquer<strong>da</strong>, e só tereis cui<strong>da</strong>do <strong>de</strong> fugir quando vires com os olhos não há <strong>de</strong> que temer, que tudo é limpo, e quando o saíres <strong>de</strong>sta Ilha<br />

até avistares um rio que está <strong>da</strong> parte direita, chama-se este Goa- compri<strong>da</strong>, ireis navegando por rio quieto, avistareis <strong>da</strong> parte<br />

cores, o qual se vem meter em o que i<strong>de</strong>s navegando, e assim que esquer<strong>da</strong> um rio não muito gran<strong>de</strong> chamado Yputungôna [Quer<br />

avistares este, sentido, e mais sentido, e trinta vezes sentido, por que dizer salto on<strong>de</strong> há congonha], a diante <strong>de</strong>ste [a] pouca distância<br />

aqui logo abaixo está uma cal<strong>de</strong>ira infernal, don<strong>de</strong> me parece está vereis em to<strong>da</strong> a largura do rio muita pedraria com cachoeira granuma<br />

Legião <strong>de</strong> Demônios esperando por almas; por que a canoa <strong>de</strong>, e faz no meio um suco <strong>de</strong> pedras, e para a parte direita faz resque<br />

chega a por a proa encima <strong>de</strong>sta [,] foi ao fundo per omnia saca<strong>da</strong> gran<strong>de</strong>; as águas aqui puxam muito para a dita ressaca<strong>da</strong>,<br />

secula seculorum, e a ressurreição <strong>de</strong> gente que nela for será no dia por cuja razão quem vier encostado à parte direita lhe custará<br />

do Juízo: Por que em certa ocasião, uma tropa inteira se subverteu muito tomar a cachoeira, cujo canal é pelo meio, este é aberto,<br />

neste Lugar; e são tais os re<strong>de</strong>moinhos que esta água aqui faz que mas com muita correnteza; e para tomares esta bem, governai a<br />

ela só é que governa, e não remos nem forças humanas, por cuja canoa com a proa direita no seco do meio em tal forma, que quanrezam-vos<br />

digo sentido e mais sentido, para que não vá <strong>de</strong>scair do a emboçares pelo canal, vos fique o dito seco à parte esquer<strong>da</strong>,<br />

on<strong>de</strong> o Levantar há <strong>de</strong> ser tar<strong>de</strong>. E para escapares <strong>de</strong>sta tribulação e passado que este seja, vereis <strong>de</strong> fronte uma Ilha gran<strong>de</strong>, navegai<br />

[,] fareis o seguinte. Assim que avistares o rio que acima digo cha- para a parte esquer<strong>da</strong>, e antes que vos safeis <strong>de</strong>sta, vereis pela<br />

mado Goacores, navegai com sentido pela parte esquer<strong>da</strong>, e proa três ditas, e antes <strong>de</strong>las umas pedras com suas correntezas.<br />

vereis <strong>da</strong> parte direita umas pedras as quais fazem feitio <strong>de</strong> Ilha, e Ireis com diligências buscar a terra <strong>da</strong> parte esquer<strong>da</strong> por ser<br />

aqui vereis que [fl. 11v] Que estreita o rio, e assim é preciso, que melhor a passagem, e passareis por <strong>de</strong>trás <strong>da</strong>s ditas Ilhas encostavenhais<br />

remando sempre chagados ao empare<strong>da</strong>do e ireis quase do sempre à terra firme até saíres por um estreito, o qual é pouco<br />

roçando com a canoa pelas pedras <strong>da</strong> mesma ban<strong>da</strong>, e sempre fundo, mas sem perigo; esta paragem é chama<strong>da</strong> Itapeba [Quer<br />

carregando sobre a mesma ban<strong>da</strong> saireis livre <strong>de</strong> todo o perigo, dizer laje <strong>de</strong> pedra chata], <strong>da</strong>reis em rio largo, e vereis, que por <strong>de</strong><br />

que em se acabando o empare<strong>da</strong>do, que acima digo on<strong>de</strong> logo traz <strong>de</strong>stas Ilhas <strong>da</strong> parte direita sai um rio bastantemente gran<strong>de</strong> e<br />

alarga o rio, para a parte direita vos fica a tal cal<strong>de</strong>ira chama<strong>da</strong> o é chamado Rio ver<strong>de</strong> [.] E <strong>de</strong>pois [fl. 12] e <strong>de</strong>pois que vos achares<br />

Jupiá. Depois que saíres <strong>de</strong>sta fúria <strong>de</strong> Satanás, ireis sempre pela em rio Largo, que já disse, vereis outras Ilhas [,] uma para a parte<br />

parte esquer<strong>da</strong>, correndo à volta vereis uma Ilha pequena <strong>da</strong> direita, e outra para a parte esquer<strong>da</strong>, estas são to<strong>da</strong>s gran<strong>de</strong>s;<br />

mesma parte esquer<strong>da</strong> e por esta parte ou pela outra a po<strong>de</strong>is navegai pelo meio, e por entre estas ireis seguindo vossa viagem, e<br />

passar: aqui sai o rio inclinando-se para a parte direita, e vereis que não tomeis por entre as Ilhas, e a terra <strong>da</strong> esquer<strong>da</strong>, porque tem<br />

este faz um estrito com seu cotovelo na parte esquer<strong>da</strong>, e <strong>de</strong>ste tal cachoeiras mui perigosas, e só pelo meio ireis passando as Ilhas; e<br />

cotovelo reboja a água para cima com tanta força que <strong>de</strong>sgraça- passa<strong>da</strong>s elas alguma distância [,] avistareis <strong>da</strong> parte esquer<strong>da</strong><br />

115


<strong>REVISTA</strong> ELETRÔNICA EDIÇÃO ESPECIAL DOCUMENTO MONUMENTO<br />

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO / NÚCLEO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO HISTÓRICA REGIONAL - NDIHR<br />

uma roça que foi <strong>de</strong> Manoel Homem. Passado este sítio [,]<br />

ireis navegando por rio quieto, e vereis duas Ilhas gran<strong>de</strong>s, e <strong>de</strong>pois<br />

Rio Pardo<br />

<strong>de</strong> as passares vereis uma Ilha quase para a direita. Passa<strong>da</strong> ela, Aos meus Amigos, aqui vos estou esperando nesta Barra.<br />

vereis o rio empare<strong>da</strong>do <strong>de</strong> uma e outra parte canal largo, e limpo, Lembra-vos porventura as moléstias, que me contastes os muitos<br />

e fundo com altura <strong>de</strong> trinta braças. Na terra <strong>da</strong> parte esquer<strong>da</strong> perigos que tivestes no rio Tietê, e o muito trabalho que este vos<br />

estão roças velhas e varas: neste Lugar foi registro no qual morreu o causou. Pois vai tanta diferença do passado ao seguinte, como do<br />

Provedor <strong>de</strong>le Domingos <strong>da</strong> Silva Monteiro e muita gente com mal mel ao Limão mais azedo que haver po<strong>de</strong>. Coitadinhos [,] vin<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> peste, que nesta <strong>de</strong>u, que quem apanha este com cheia não investir a barra com os remos nas mãos; como vin<strong>de</strong>s enganados;<br />

livrará <strong>de</strong>ste mal, e quando bem escapasse acha com uma febre tirai para esses remos, e pegai, pegai nos varejões, pon<strong>de</strong>s-lhe fermaligna,<br />

ou maleitas. Aqui são os ares muito ruins, e as águas não rões nas pontas para subir por essa calça<strong>da</strong> <strong>de</strong> lajes acima; a qual<br />

são capazes <strong>de</strong> se beber. Advirto-vos, que não atravesseis este rio vos tirará a catinga, a vós e a vossos negros e camara<strong>da</strong>s, que vós,<br />

<strong>de</strong> uma parte para a outra, sem ser preciso, por respeito <strong>da</strong>s muitas e eles arrenegarão <strong>da</strong> hora em que nasceram, porque se o Tietê vos<br />

on<strong>da</strong>s, que faz com qualquer aragem <strong>de</strong> vento, que se houver, e diminuiu as carnes [,] este lobo vos esbrugará os ossos, pois é o mais<br />

vos apanhar em meio, não será fácil escapares; e se estiveres em feroz bicho, que ten<strong>de</strong>s neste sertão, <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> quotidiana fome.<br />

terra havendo vento rijo [,] tratai <strong>de</strong> <strong>de</strong>scarregar, que ain<strong>da</strong> estan- Este é aquele rápido rio, que só sabe examinar paciências, experido<br />

as canoas amarra<strong>da</strong>s correm muito risco; nem procureis estala- mentar prudências e reconhecer forças, sem que haja quem com a<br />

gem <strong>da</strong> parte direita; pois vos ariscais a topar com os meninos dos sua compita, e só com indústrias, e máximas em que os homens<br />

porretes, que an<strong>da</strong>m em trajes <strong>de</strong> amor Cupido, e sem ven<strong>da</strong> nos <strong>de</strong>ram consente [,] este sem indômita servir <strong>de</strong> vai, vem, a uns, e <strong>de</strong><br />

olhos dos quais no Salto fiz menção, e se o fizeres, eles terão cui<strong>da</strong>- tragar a outros: São tantas as voltas que tem, e faz, que não se satisdo<br />

sem sinra [?], nem reparo no tempo, <strong>de</strong> vos por em com o porre- fazendo com isto dá muitas vezes em poucas horas em inchar, e<br />

te o momento e como na testa. <strong>de</strong>sinchar rebentando-lhe o sangue por quantas veias tem; e em<br />

E saindo do empare<strong>da</strong>do, que acima digo, on<strong>de</strong> foi registro, outras ocasiões são suas águas singularmente cristalinas, <strong>de</strong>ixandopouco<br />

abaixo, <strong>da</strong> parte esquer<strong>da</strong> está uma roça <strong>de</strong> Luiz Rodrigues se divisar até o fundo, no maior pélago; no que perseveram em<br />

já <strong>de</strong>ixa<strong>da</strong>, ireis para baixo avistando várias Ilhas e areais <strong>de</strong> areia todo o tempo os mais córregos, e ribeirões que nele se metem, se<br />

branca como praias do mar salgado, até veres <strong>da</strong> parte esquer<strong>da</strong> sorte que nestes bebeis sem se<strong>de</strong>, quando com ela repugnai aqueuma<br />

barra, e <strong>de</strong>ixando esta, ireis pela parte direita, e avistareis la.<br />

umas barreiras, algo tanto monstruosas, e passado que seja o que De alguns rios escreveram os Antigos que quem os chegava<br />

fica dito, ireis pela parte direita vigiando a barra do Rio pardo, em a a passar chegava-se a olvi<strong>da</strong>r e esquecer; porém <strong>de</strong>ste po<strong>de</strong>m os<br />

qual vos espero para vos contar virtu<strong>de</strong>s do dito Senhor. Há <strong>de</strong> ser Mo<strong>de</strong>rnos com reali<strong>da</strong><strong>de</strong> escrever, que quem o vê e passa jamais<br />

esta o primeiro rio que <strong>da</strong> mesma parte direita vos sair. Fica <strong>de</strong>fronte lhe esquecerá o que nele experimentou, e se aqueles encantaneste<br />

nosso rio gran<strong>de</strong> uma Ilha pequena com seu areal na ponta vam, este ressuscita valor aos homens, quando com sua vista mais<br />

<strong>de</strong> cima e na terra <strong>da</strong> parte esquer<strong>da</strong> faz no monte feito <strong>de</strong> roças os atemoriza, sem terem aqueles mais conforto, que a doce espeantigas<br />

as quais só as [fl. 12v] As conhecerá quem <strong>de</strong> roças tiver rança do ouro, que todos os <strong>de</strong>graus adoça, e to<strong>da</strong>s as moléstias [,]<br />

muita experiência. penas, trabalhos e sentimentos saboreia. E não sei se animados<br />

com esta doçura quereis seguir vossa viagem, sem reparar na<br />

pouca soma <strong>de</strong> mantimentos: eu não sei que conta quereis fazer<br />

116


UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO / NÚCLEO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO HISTÓRICA REGIONAL - NDIHR<br />

<strong>REVISTA</strong> ELETRÔNICA EDIÇÃO ESPECIAL DOCUMENTO MONUMENTO<br />

com tanta tripa, a que estais obrigado a <strong>da</strong>r sustento; só sei, [?] <strong>da</strong> companhia uns dos outros, os Camara<strong>da</strong>s brancos <strong>de</strong>ixarem<br />

meus amigos [,] que aqui é [fl. 13] É muito precisa, e necessária a a vossa Companhia pela <strong>de</strong> outrem, os negros, uns se fazem Harpiconta<br />

<strong>de</strong> multiplicar a minas [,] porque se não [,] diminuirão as as, furtando o mantimento, outros fugindo-vos para as roças velhas,<br />

vi<strong>da</strong>s. que já ten<strong>de</strong>s passado outros para o mato, vós sem po<strong>de</strong>res ir bus-<br />

Ora [,] entrai por essa barra acima e fazei-lhe um par <strong>de</strong> car estes que vos ficam atrás por não prolongar a viagem, e aos<br />

cortesias, que lá para cima fareis muitas mais obrigado <strong>da</strong> violência outros por não saberes on<strong>de</strong> estão, e tanto uns como outros vos não<br />

<strong>de</strong>stas correntes, e pois as vistes buscar aí as ten<strong>de</strong>s, conversai com serve <strong>de</strong> utili<strong>da</strong><strong>de</strong> o ir buscá-los, porque em procurá-los tereis maior<br />

elas, que convosco tenho acabado por agora <strong>de</strong> fazer o mesmo, e <strong>da</strong>no. Aqui finalmente vereis [fl. 13v] Vereis que todos a uma voz<br />

só quem explicar-vos o que vos importa para seguimento <strong>de</strong> vossa estão rogando pragas a quem é causa <strong>de</strong> fazer tal viagem, e estas<br />

viagem, e maior cautela. Vereis este rio pouco largo, e fundo bas- com tais <strong>de</strong>sesperações, que escan<strong>da</strong>lizam os ouvidos, que pouco<br />

tante, e com notáveis correntezas as quais vos custaram muito a falta ali para arrenegarem <strong>da</strong> hora em que nasceram [,] tudo por<br />

subir, e mais sendo com varejadores mo<strong>de</strong>rnos, por cuja razão é causa <strong>da</strong> fome e do muito trabalho, que naquela paragem se expenecessário<br />

que o Piloto para aju<strong>da</strong>r a estes [,] saiba enfiar bem às rimenta.<br />

ditas correntezas com a canoa. É coitadinhos, quantas vezes vos há Não repareis em vos eu não dizer o por on<strong>de</strong> se passam<br />

<strong>de</strong> a canoa torcer o focinho, tornando pelo rio abaixo que quanto estas cachoeiras, e varadouros, porque estas as passareis por on<strong>de</strong><br />

vos custará a subir outra vez essa distância, que para baixo an<strong>da</strong>s- melhor vos parecer, e só vos advirto que as correntezas, que forem<br />

tes, mas paciência, que vos não sinto outro remédio, mas ve<strong>de</strong> que capazes <strong>de</strong> passar com as canoas às mãos, que os façais, porque<br />

nestas correntezas se têm perdido muitas canoas, fazen<strong>da</strong>s, e mui- assim as passareis com mais segurança, e brevi<strong>da</strong><strong>de</strong>, e tanto que<br />

tas vi<strong>da</strong>s, e estes perigos há em todo este rio. passares alguma Cachoeira ou Itaipava vendo-vos <strong>da</strong> parte <strong>de</strong><br />

Ireis até as primeiras roças, que houverem neste rio em cuja cima <strong>de</strong> qualquer <strong>de</strong>stas, segurai bem a canoa com as varas, que<br />

viagem gastareis sete, ou oito dias, e <strong>da</strong> primeira roça pouca dis- se esta torcer o nariz, e atravessar perdi<strong>da</strong> vai, porque neste rio se<br />

tância vereis a barra <strong>de</strong> um rio que vos sai <strong>da</strong> parte esquer<strong>da</strong> [;] este per<strong>de</strong>m muitas, e não é se não <strong>de</strong>ste achaque, ou <strong>de</strong> toparem em<br />

é chamado Inhandui [Quer dizer água on<strong>de</strong> se criam emas], nave- algum pau e atravessar em cima <strong>de</strong>le que <strong>de</strong>stes tem o rio quantigai<br />

pelo rio que fica à parte direita, o qual vos ficará em a meta<strong>de</strong> <strong>da</strong><strong>de</strong>, e a maior parte <strong>de</strong>le estão <strong>de</strong>baixo d'água, os quais se não<br />

do que até então navegavas, e por este navegareis, vendo as mes- vêm senão <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> canoa estar perdi<strong>da</strong>.<br />

mas correntezas <strong>de</strong> antes, e se disser mais violentas não mentirei, Também vos advirta que nas estalagens <strong>de</strong>ste rio estejas<br />

até chegares ao lugar <strong>da</strong>s segun<strong>da</strong>s roças, que também já estão sempre com o Sentido no Gentio Cayapô, que estes antigamente<br />

<strong>de</strong>ixa<strong>da</strong>s, em cuja viagem gastareis outros oito dias. É esta para- aqui se aquartelavam, e ain<strong>da</strong> não tem perdido o amor à Pátria, os<br />

gem chama<strong>da</strong> Caaiara [Quer dizer entra<strong>da</strong> <strong>de</strong> mato grosso], an<strong>da</strong>- quais se vos pu<strong>de</strong>rem <strong>de</strong>satar alguma canoa do pouso o hão <strong>de</strong><br />

reis um dia <strong>de</strong> viagem e chegareis a uma cachoeira a qual tam- fazer sem escrúpulo <strong>de</strong> consciência, e sem vos <strong>da</strong>rem parte <strong>de</strong> sua<br />

bém é chama<strong>da</strong> Caaiara. resolução, porque tem para si, pela nu<strong>de</strong>z em que vivem [,] que<br />

Alvíssaras, meus navegantes, que aqui ten<strong>de</strong>s com quem todos os bens são comuns. E assim segurai as canoas bem, não só<br />

brincar, que tudo <strong>da</strong>qui para cima são Cachoeiras, Itaipavas, cor- por esta razão senão ain<strong>da</strong> por muitas vezes ter sucedido o <strong>de</strong>satarentezas,<br />

e <strong>de</strong>sesperações. As vezes que <strong>de</strong>scarregareis as canoas rem-se por si mesmas com a força d'águas, e acharem-se pela<br />

são vinte, e as sirgas não têm número. Aqui nesta li<strong>da</strong> vereis os filhos manhã mais abaixo emborca<strong>da</strong>s em cachoeiras, e feitas em migaper<strong>de</strong>rem<br />

o respeito a seus pais, os Irmãos brigarem, e artarem-se lhas. Depois que passares o quinto varadouro, chegareis ao lugar<br />

117


<strong>REVISTA</strong> ELETRÔNICA EDIÇÃO ESPECIAL DOCUMENTO MONUMENTO<br />

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO / NÚCLEO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO HISTÓRICA REGIONAL - NDIHR<br />

<strong>da</strong> terceira roça também <strong>de</strong>ixa<strong>da</strong> <strong>de</strong>ste rio e aqui vereis pretos estes quinze dias. O trabalho aqui não é muito, o varadouro é<br />

que este se parte, e o que fica à esquer<strong>da</strong> é chamado Inhanduimi- pequeno, não tem mais que duas Léguas <strong>de</strong> comprido; e enquanrim<br />

[Quer dizer rio pequeno on<strong>de</strong> se criam emas], e alguns autores to <strong>de</strong>scansais [,] vamos visto. Postas que sejam as canoas em terra<br />

lhe chamam rio <strong>da</strong> vacaria, e para cima <strong>de</strong>ste achareis outros dois [,] as levareis sobre umas carretas baixinhas, que para puxar ca<strong>da</strong><br />

os quais ambos vêem <strong>da</strong> parte esquer<strong>da</strong>, e navegareis sempre uma vos serão necessários vinte e cinco, ou trinta negros [;] estes<br />

pelo <strong>da</strong> mão direita, até chegares a ver um rio, o qual é ético, e principiarão a puxar pela meia noite, e virão ao outro dia <strong>de</strong> tar<strong>de</strong> a<br />

tísico, cujo achaque logo conhecereis, por ver que esta está conti- bom trabalhar, e <strong>da</strong>s cargas vos <strong>da</strong>rão dois caminhos entre dia e<br />

nuamente <strong>de</strong>itando sangue pisado pela boca e tão estreito é, que noite, que se o fizerem não trabalham pouco, e sempre tereis cuinão<br />

cabe nele canoa, e é chamado o Rio vermelho, e aqui acaba <strong>da</strong>do em os acompanhar, que se os <strong>de</strong>ixares ir sós <strong>de</strong>itar <strong>da</strong>rão no<br />

o negrejado rio a que todos chamam Pardo. Para a parte esquer<strong>da</strong> caminho com muita razão a dormir o tempo que lhes parecer, e<br />

[,] vereis que está um rio que vem fazer socie<strong>da</strong><strong>de</strong> com o Pardo, assim o tem mostrado a experiência. E advirto-vos que <strong>de</strong>veis ir com<br />

este <strong>de</strong> estrito e é chamado sanguessuga [É paragem on<strong>de</strong> os é em armas na mão, por respeito do já nomeado gentio Cayapô, que<br />

muita quanti<strong>da</strong><strong>de</strong>], navegareis por ele acima até chegar ao vara- toma todo este caminho, e se vos há <strong>de</strong> atrever, como tem feito a<br />

douro gran<strong>de</strong> [fl. 14] Gran<strong>de</strong> em o qual eu vos espero: por este rio tantos que tem morto, e digam os <strong>da</strong> monção do ano <strong>de</strong> mil e setesanguessuga<br />

passareis com bastante <strong>de</strong>trimento pelas voltas centos e vinte e oito: Costumam estes estar escondidos em qualserem<br />

miú<strong>da</strong>s, e ter para o fim muito pau, e também tem seu salti- quer moitazinha <strong>de</strong> mato besuntados com terra, e estareis olhando<br />

nho, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>scarregam as canoas, que para tudo vos perseguir para eles, sem divisares que é gente, e <strong>de</strong>ixando-vos passar, vos<br />

até uma sanguessuga fará <strong>de</strong> vós zombaria. farão tiro por <strong>de</strong>trás com o já nomeado porrete pondo-vos os miolos<br />

à mostra, e basta um só gentio <strong>de</strong>sta nação para acabar uma [fl.<br />

Varadouro gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> Camapuã<br />

14v] Uma tropa <strong>de</strong> muitos milhares <strong>de</strong> homens, porque se põem um<br />

<strong>de</strong>stes no caminho, como já disse, por on<strong>de</strong> passais, sem que o<br />

Sejais muito bem chegado a este País (vos digo eu) [,] estimareis vejais, e no último <strong>da</strong> retaguar<strong>da</strong> seguram o tiro lançando o por<br />

muito que venhas bem sucedido: Jesus [,] que tristes semblantes. terra e parte a correr mais ligeiro que um Gamo, e quando olhares<br />

Amigos, vin<strong>de</strong>s tão gordos, que todos me pareceis umas formaturas para traz já está on<strong>de</strong> o não ve<strong>de</strong>s, se não quando tornar a por terra<br />

sem sustância, que acha que é o vosso, que vos pôs nesse estado. o último <strong>da</strong> tropa que for na retaguar<strong>da</strong>; e também usam <strong>de</strong> fle-<br />

Na barra do rio pardo vos vi eu com outra personagem e nem pare- chas. E esta é, meus amigos, a convalescença, que vos tenho apaceu<br />

fosse esta em aumento, que <strong>de</strong>sce para subir é uma gran<strong>de</strong> relhado, não só para vós se não também para vossos negrinhos [,]<br />

fortuna, mas segundo o que estou vendo, fez escarne <strong>de</strong> vós a natu- com cujo alento ireis passando o restante <strong>da</strong> viagem, a qual prosse-<br />

reza. Ao meu amigo (me respon<strong>de</strong>is-vos) quem antes fora cativo <strong>de</strong> guireis pelo rio <strong>de</strong> Camapuã abaixo, postas e carrega<strong>da</strong>s que<br />

Galegos do que vir passar tal vi<strong>da</strong>: neste rio pardo passei tantas sejam as canoas. É este rio muito estreito e baixo, as voltas <strong>de</strong>le<br />

calami<strong>da</strong><strong>de</strong>s, que as não sei numerar, e me parece que não have- muito miú<strong>da</strong>s, tem muito pau, e é trabalhoso, por irem a maior parte<br />

rá entendimento humano que <strong>de</strong>stas possa fazer resumo. A fazen<strong>da</strong> viagem <strong>de</strong>le as canoas à mão. Ireis com muito sentido nos bar-<br />

<strong>da</strong> aí vem que é parte <strong>da</strong> que trazia, e in<strong>da</strong> está com bastante avarancos <strong>de</strong> terra, e o mesmo tereis nos pousos, que o dito Cayapô<br />

ria, e assim consi<strong>de</strong>ro-me perdido se as minas me não <strong>de</strong>sempeaqui faz a sua faisqueira com o tal porrete: Neste rio gastareis quatro<br />

nhar. Não vos diz como hei (vos digo eu) que Deus a tudo há <strong>de</strong> ou cinco dias, conforme a marcha que fizeres, que como não posso<br />

acudir. Armai a vossa barraca, e aqui <strong>de</strong>scansareis-vos e os vossos saber o que caminhareis, ou a que horas fareis pouso, esta é a razão<br />

118


UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO / NÚCLEO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO HISTÓRICA REGIONAL - NDIHR<br />

<strong>REVISTA</strong> ELETRÔNICA EDIÇÃO ESPECIAL DOCUMENTO MONUMENTO<br />

porque não posso arbitrar o tempo que haveis <strong>de</strong> gastar em esquer<strong>da</strong>, e ireis a passar o canal por entre a dita Ilhota, e a terra; e<br />

qualquer dos rios. Deus vos dê boa viagem, que eu vos vou esperar saindo <strong>da</strong> dita cachoeira faz o rio volta sobre a parte direita; navena<br />

barra do Coxim que fica no fim <strong>de</strong>ste, e sentido nos paus não nos gai e ireis passando várias Itaipavas, as quais mesmas vos ensinarão<br />

esmaguem alguma barriga. por don<strong>de</strong> as haveis <strong>de</strong> passar, e assim ireis até achares uma<br />

pequena distância <strong>de</strong> Rio limpo, que faz volta sobre a parte direita,<br />

Rio Coxim [Quer dizer rio on<strong>de</strong> feria uma caça chama<strong>da</strong> cutia]<br />

e aqui ten<strong>de</strong>s a segun<strong>da</strong> cachoeira, a qual atravessa todo o rio <strong>de</strong><br />

uma parte a outra; e para passares esta, tanto que avistares ireis<br />

Fúnebre e horrorosa confusão é esta, que hoje tentes à vista, encostados à terra <strong>da</strong> parte esquer<strong>da</strong> e com muito sentido até<br />

navegantes amigos, aqui ten<strong>de</strong>s aquele medonho rio, tão celebra- entrares no canal que é furioso e faz muitas on<strong>da</strong>s, mas ten<strong>de</strong><br />

do, como temido dos sertanistas mais práticos nele, por cuja razão paciência, que não há outro Caminho.<br />

o tratam com mais respeito que aos outros rios, pois lhe chamam<br />

Ireis navegando e passando várias Itaipavas com gran<strong>de</strong>s<br />

Coxim eminente: Rio este, que se fora o primeiro <strong>de</strong>sta viagem, correntezas até veres uma volta que o rio faz sobre a parte esquerpiamente<br />

se po<strong>de</strong> crer que não sairia canoa alguma <strong>de</strong> suas entra- <strong>da</strong>, adiante <strong>da</strong> qual logo endireita o rio, aqui vereis uma gran<strong>de</strong><br />

nhas, tanto pelos inumeráveis precipícios, que em si encerra, como cachoeira e muito cumpri<strong>da</strong>, ireis encostados à terra <strong>da</strong> parte<br />

pelas inexplicáveis correntezas <strong>de</strong> suas violentas águas. Este é aque- esquer<strong>da</strong> até emborcar o canal, o qual fica <strong>da</strong> mesma parte [;]<br />

le rio no qual suce<strong>de</strong> qualquer <strong>de</strong>sastre a alguma canoa não há este tem muitas pedras cobertas, e faz gran<strong>de</strong>s on<strong>da</strong>s ao <strong>de</strong>spedir,<br />

mais remédio que perdê-la, porque é impossível o po<strong>de</strong>r-se-lhe e é algo tanto seco, roçam as canoas pelas ditas pedras, em cujo<br />

acudir pela muita dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> que há em voltar canoa rio acima; e lugar algumas que não vão bem governa<strong>da</strong>s para a parte mais<br />

finalmente este é o Rio em que ca<strong>da</strong> um <strong>de</strong>ve navegar com dois fun<strong>da</strong>, apanham tal panca<strong>da</strong>, que os Proeiros vão <strong>de</strong> salto ao rio: E<br />

sentidos, o primeiro em Deus, que em todo o tempo se <strong>de</strong>ve ter, e passando esta principiareis como d'antes com várias correntezas, e<br />

segundo na canoa em que se vai embarcado para [fl. 15] Para Itaipavas até avistar uma cachoeira gran<strong>de</strong>, esta tem o canal <strong>da</strong><br />

livrar a esta como melhor pu<strong>de</strong>r, e <strong>de</strong> quando em quando fazendo parte direita junto à terra, e passa<strong>da</strong> que esta seja ireis entrando em<br />

atos <strong>de</strong> contrição, lembrando-se <strong>da</strong> morte, pois vai muito propenso um soturno <strong>de</strong> empare<strong>da</strong>dos <strong>de</strong> pedras muito altos, <strong>de</strong> cujos empaa<br />

ela. Suposta esta ver<strong>da</strong><strong>de</strong> que não tem contradição.<br />

re<strong>da</strong>dos têm caído tal pedraria que parece an<strong>da</strong>ram ali com gran-<br />

Navegareis por este rio abaixo com o cui<strong>da</strong>do possível, para <strong>de</strong>s obras, a que eu chamo encantos <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>ia, pois não parece<br />

vos Livrares <strong>de</strong> muitos paus que ele tem, que como não é muito outra coisa. Aqui se [fl. 15v] Se faz o rio muito estreito, e fica um canal<br />

largo [,] há <strong>de</strong> mister muita <strong>de</strong>streza, porque as correntezas puxam muito fundo, cuja correnteza leva muito gran<strong>de</strong> fúria; sentido, que<br />

as canoas para os ditos; e passados que sejam estes, achareis Itai- em o rio principiando a alargar navegareis pela parte direita junto à<br />

pavas <strong>de</strong> muito risco pela gran<strong>de</strong> violência <strong>da</strong>s águas que os canaterra [,] até avistares uma cachoeira gran<strong>de</strong>, na qual <strong>de</strong>scarrega-<br />

is são largos. Avistareis um ribeirão que vem pela parte esquer<strong>da</strong>; reis as canoas <strong>da</strong> mesma parte direita, e passareis as ditas canoas à<br />

sentido, porque faz o rio uma Itaipava, e volta sobre a parte esquer- sirga com cor<strong>da</strong>s na popa, e proa, e muito cui<strong>da</strong>do com elas, que<br />

<strong>da</strong>, e neste voltar vereis outro ribeirão que vem pela parte esquercorrem aqui muito risco e pela parte <strong>de</strong> baixo <strong>da</strong> dita cachoeira as<br />

<strong>da</strong>, e aqui ten<strong>de</strong>s a primeira cachoeira <strong>de</strong>ste rio, a qual tem no tornareis a carregar.<br />

meio uma Ilhota pequena, e é esta tão violenta como as mais <strong>de</strong>ste<br />

Navegareis com muito sentido, que logo na volta que faz o<br />

rio, para a passares, tanto que avistares o ribeirão que a Ilhota nave- rio sobre a parte direita achareis uma gran<strong>de</strong> cachoeira, e perigo-<br />

gareis pela parte direita, <strong>de</strong> sorte que vos fique a Ilhota à parte sa, tem esta o canal pelo meio, o qual torce pala parte direita em o<br />

119


<strong>REVISTA</strong> ELETRÔNICA EDIÇÃO ESPECIAL DOCUMENTO MONUMENTO<br />

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO / NÚCLEO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO HISTÓRICA REGIONAL - NDIHR<br />

dito [;] puxa muito a água para as pedras que tem <strong>da</strong> parte estas vereis que acompanham to<strong>da</strong> a volta do rio, entrareis nela<br />

direita, e faz este canal gran<strong>de</strong>s on<strong>da</strong>s, e por ele só passam gran<strong>de</strong>s pela mesma parte esquer<strong>da</strong>, e cortareis logo para o meio a buscar<br />

Pilotos, e semelhantes Proeiros, e se não quiseres o canal [,] sirgai a parte direita junto à terra, e embocareis por um canal estreito,<br />

pela parte esquer<strong>da</strong>. Ireis logo por correntezas tão medonhas e navegará por este até sair fora: é chama<strong>da</strong> esta paragem o Jauruviolentas,<br />

que fazem pasmar não a canoa, mas os ânimos [,] e vere- mirim. Depois que <strong>da</strong>qui saíres [,] vos vereis em rio limpo, e ireis logo<br />

is uma cachoeira; tem esta o canal pela parte direita <strong>de</strong>sviando <strong>da</strong> para parte esquer<strong>da</strong> com muito sentido, que pela proa vos falará o<br />

terra, e torce este para o meio do rio, e <strong>da</strong> parte direita pegado ao Salto gran<strong>de</strong>; e por esta mesma parte ireis até <strong>de</strong>scarregar as canocanal<br />

tem umas pedras alaga<strong>da</strong>s muito perigosas, e por baixo as; se as quiseres varar por terra livrar-vos-eis do maior perigo, e se<br />

<strong>de</strong>sta vereis um ribeirão, o qual se <strong>de</strong>spenha <strong>de</strong> alto com gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sprezares o risco [,] sirgai um pouco por junto <strong>da</strong> mesma terra até<br />

fúria, e não menor bulha, e <strong>da</strong>qui ireis vendo, e passando várias as meteres em um canal gran<strong>de</strong> que é empare<strong>da</strong>do e postas as<br />

correntezas, e cachoeiras to<strong>da</strong>s com muito perigo, para as quais canoas no dito canal com cor<strong>da</strong>s em popa, e proa, e quem pegue<br />

vos aplico a medicina do sentido, que quando pa<strong>de</strong>ci este acha- nestas em terra <strong>de</strong> sorte que não largue, emborcareis os melhores<br />

que com este remédio me achei bem. Pilotos e Proeiros, e alargando as cor<strong>da</strong>s irá a Canoa a remos, e<br />

Depois que estas forem passa<strong>da</strong>s [,] vereis uma volta, que saíres pela parte esquer<strong>da</strong>.<br />

faz o rio sobre a parte direita on<strong>de</strong> achareis uma gran<strong>de</strong> cachoeira, Depois que carregares as canoas [,] ireis navegandocoisa<br />

esta tem o Canal pelo meio, e à saí<strong>da</strong> <strong>de</strong>ste <strong>de</strong>ixareis as pedras à <strong>de</strong> uma volta <strong>de</strong> rio, e vereis uma cachoeira [;] ireis a ela pela parte<br />

vossa mão esquer<strong>da</strong> e para fazer esta saí<strong>da</strong> acerta<strong>da</strong> embocareis direita até chegar ao <strong>de</strong>scarregadouro, e <strong>de</strong>scarrega<strong>da</strong>s que<br />

por entre duas pedras que estão em o dito canal; e se não quiseres sejam [,] sirgareis as ditas canoas pela mesma ban<strong>da</strong>, e se tiveres<br />

passar por entre a Cila, e Carib<strong>de</strong> [,] ten<strong>de</strong>s sirga <strong>da</strong> parte direita. gente <strong>de</strong>stra, por esta mesma parte as po<strong>de</strong>reis passar a remos.<br />

Esta cachoeira se chama a Caveira. Não repareis em que só vos Carrega<strong>da</strong>s que sejam as canoas [,] navegareis por rio limpo até<br />

diga o como esta se chama, e não as mais <strong>de</strong>ste rio, porque a razão avistares uma cachoeira gran<strong>de</strong>, ireis a ela pela parte esquer<strong>da</strong>, e<br />

que tenho para assim o fazer são [:] a primeira é porque não consta passareis a sirga, que o Canal não é capaz <strong>de</strong> se passar: faz esta<br />

do batistério <strong>de</strong>ste rio o nome <strong>de</strong>las, e não <strong>de</strong>sta por cuja razão as sirga na saí<strong>da</strong> um estreito que mal cabe a canoa, mas este é fundo,<br />

po<strong>de</strong>is consi<strong>de</strong>rar ain<strong>da</strong> pagãs; a segun<strong>da</strong> é porque to<strong>da</strong>s são por cuja razão assim que chegares a ele vos emborcai, e i<strong>de</strong> a<br />

mortes, que vem a parar nesta sepultura, on<strong>de</strong> comumente se remos sair a um Canal gran<strong>de</strong> o qual fica por baixo <strong>da</strong> dita cachoeacham<br />

caveiras, e como <strong>de</strong>stas não se segue se não por enten<strong>de</strong>i ira, e esta sirga acima se po<strong>de</strong> fazer com as canoas carrega<strong>da</strong>s,<br />

que as <strong>de</strong> baixo são poeiras <strong>de</strong> quantos perigos há, e a terceira é passa<strong>da</strong> que esta seja, vos vereis em bom rio, e não muito longe<br />

porque em meio <strong>de</strong>ste rio, e neste lugar, rezeis um responso pelas vereis pelo meio <strong>de</strong>ste umas pedras cobertas, passai pela parte<br />

almas; finalmente a quarta é para fazeres um ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro ato <strong>de</strong> direita <strong>de</strong>las e <strong>da</strong>qui ouvireis roncar um Salto, o qual vós [ilegível]<br />

amor <strong>de</strong> Deus, consi<strong>de</strong>rando, que mais aqui mais [fl. 16] Mais ali, se distância <strong>de</strong> um tiro <strong>de</strong> espingar<strong>da</strong>, ireis pela parte direita junto à<br />

vós não vires em pó ficareis em Lama. Conhecendo a vossa viagem terra até que chegueis a <strong>de</strong>scarregar as canoas, que para a parte<br />

[,] navegareis por várias correntezas <strong>de</strong> bons canais até avistares esquer<strong>da</strong> é salto, e do dito até a parte direita faz cotovelo, e até um<br />

um rio gran<strong>de</strong> que vem pela parte direita o qual é chamado Jaurú bracinho é rio estreito, e pouco fundo, e vai fazendo volta por<br />

[Rio on<strong>de</strong> se criam uns peixes gran<strong>de</strong>s chamados jaurus. Quer dizer <strong>de</strong>trás <strong>de</strong> uma Ilha, até que sai por baixo <strong>de</strong> todo [fl. 16v] De todo o<br />

boca pequena], e tanto que passares este ireis logo para a parte perigo e para passares as canoas <strong>de</strong>scarrega<strong>da</strong>s <strong>da</strong> parte direita<br />

esquer<strong>da</strong> e vereis umas pedras no rio com água algo tanto revolta, se embarcaram bons Pilotos, Proeiros e irão a remos sempre<br />

120


UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO / NÚCLEO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO HISTÓRICA REGIONAL - NDIHR<br />

<strong>REVISTA</strong> ELETRÔNICA EDIÇÃO ESPECIAL DOCUMENTO MONUMENTO<br />

encostados à mesma parte a puxar por entre duas pedras, e carrega<strong>da</strong>s [,] assim que chegares ao sítio que tenho dito <strong>de</strong>scarrequando<br />

embocares pelas ditas ten<strong>de</strong> muito cui<strong>da</strong>do no governo, gai as canoas <strong>da</strong> mesma parte esquer<strong>da</strong> do sítio e por esta ban<strong>da</strong><br />

não atrevesse a canoa que tem aqui bastante que<strong>da</strong>, e tomam as as man<strong>da</strong>i transportar as cargas até abaixo <strong>da</strong> cachoeira [fl. 17] <strong>da</strong><br />

canoas alguma água, e se atravessarem [,] se farão em pe<strong>da</strong>ços; e cachoeira, e passareis as canoas vazias por on<strong>de</strong> vos tenho dito<br />

assim que a canoa passar este <strong>de</strong>grau, remarão com muita força <strong>da</strong>ndo graças a Deus pela mão que vos fez.<br />

para a parte direita a meter a canoa pelo bracinho <strong>da</strong> Ilha, que já<br />

disse, e esta passagem com cor<strong>da</strong>s na popa, e proa é mais seguro;<br />

esta é a que importa neste lugar, e tanto que apanhares as ditas<br />

canoas [,] <strong>de</strong>ntro no tal bracinho as carregareis, por avistar o traba- Navegareis por este rio abaixo que é largo bastantemente,<br />

lho <strong>de</strong> levar as cargas até abaixo <strong>da</strong> dita Ilha. Depois que <strong>da</strong>qui e tem mais <strong>de</strong> quatrocentas Ilhas sem nenhuma <strong>de</strong>stas ser a <strong>de</strong><br />

saíres [,] vos achareis em bom rio, e não muita distância, vereis pela Colcos [?]; e por isso ain<strong>da</strong> que fica em caminho <strong>de</strong> Minas, não<br />

parte esquer<strong>da</strong> um rio que dá neste, que é chamado Taquarimirim, achareis nelas Velocino <strong>de</strong> ouro, só sim muito que temer, por cuja<br />

e logo vereis um lugar que foi sítio <strong>de</strong> João <strong>de</strong> Araujo Cabral, e do razão não consi<strong>de</strong>reis este rio sem perigo, porque vos sairá a conta<br />

dito sítio não muita distância vereis um gran<strong>de</strong> rio chamado Taqua- erra<strong>da</strong>; que pela muita facili<strong>da</strong><strong>de</strong> com que muitos o navegaram [,]<br />

ri, que este vem pela parte direita. Advirto-vos que até aqui <strong>de</strong>vere- per<strong>de</strong>ram as canoas e as vi<strong>da</strong>s: parecendo a estes que com estais<br />

trazer gran<strong>de</strong> cui<strong>da</strong>do no gentio Cayapô, porque campeiam rem livres <strong>de</strong> cachoeiras, não corriam mais algum risco; e assim estai<br />

todo este sertão e ain<strong>da</strong> passam adiante <strong>de</strong>sta paragem, mas não no conhecimento <strong>de</strong> que este rio corre bastantemente e tem muichegam<br />

ao caminho, que <strong>da</strong>qui para diante levais, porque segui- tos paus pelo meio, e basta qualquer <strong>de</strong>les para virar uma canoa,<br />

reis outro rumo. assim que não haja <strong>de</strong>scuido tanto neste como nos seguintes rios<br />

Depois que chegares ao dito sítio, vereis que na <strong>de</strong>spedi<strong>da</strong> <strong>da</strong>qui para diante há muito mel e caça, e pescado, e muito palmique<br />

faz o rio Coxim e entrando já no Taquari tem um varadouro que to, e havendo curiosos, e tempo terão que comer, mas segurando<br />

é o <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iro <strong>de</strong>sta viagem, o qual passareis <strong>da</strong> maneira seguinte: sempre o que vier nas canoas, por que esse é o com que vos haveis<br />

Saindo do dito sítio navegareis pela parte direita, (sentido) bem <strong>de</strong> achar. Ireis navegando avistando muitas Ilhas, umas juntas <strong>da</strong>s<br />

junto à terra, e saindo ao dito Taquari nunca vos tireis <strong>da</strong> direitura outras até chegar a uma paragem chama<strong>da</strong> a Prensa, em cujo<br />

em que i<strong>de</strong>s, e nesta mesma atravessai o rio e remai com força a lugar se divi<strong>de</strong> este rio, em que i<strong>de</strong>s, em duas partes, parecendo o<br />

ganhar a terra, que na proa vos fica, que é a <strong>da</strong> parte direita do que fica <strong>da</strong> parte esquer<strong>da</strong> mais largo, mas quem for por ele experimesmo<br />

Taquari, que se <strong>de</strong>caíres para a parte esquer<strong>da</strong> ir-vos-eis mentará as agonias em que se vê quem <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> no sertão e assim<br />

per<strong>de</strong>r sem remissão e vencido que seja o que <strong>de</strong> cima digo, e pos- navegais pelo rio <strong>da</strong> parte direita, e <strong>da</strong>qui para baixo já não há<br />

tas as canoas ao pé <strong>de</strong> terra os <strong>de</strong>scarregareis, e man<strong>da</strong>reis as paus que vos façam mal, e só sim muitas onças que pesam muitas<br />

cargas por terra até on<strong>de</strong> se hão <strong>de</strong> carregar as canoas e nestas arrobas, e varie<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> bichos do mato. Advirto-vos que para<br />

embarcai a melhor gente, e tomarão às carreiras por canais muito trazeres mais segura a barra <strong>de</strong>ste rio que vos mando seguir [,] prinfuriosos<br />

e <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s on<strong>da</strong>s [,] costeando sempre a parte direita cipiareis a ro<strong>da</strong>r o Taquari pela parte direita. Também vos não<br />

até sair fora, que com irem as canoas várias jorram bastante água esqueça o não fazer pouco caso <strong>da</strong>s onças, por que estas vendo a<br />

geme fatal cachoeira pelo meio bastantes Ilhas, e olhai que é uma qualquer pessoa <strong>de</strong>scui<strong>da</strong><strong>da</strong> [,] elas tem cui<strong>da</strong>do <strong>de</strong> lhe <strong>de</strong>itarem<br />

<strong>da</strong>s mais medonhas por ser a última. as garras, e arrastarem para fora <strong>da</strong> estalagem e a<strong>de</strong>us vi<strong>da</strong>, que<br />

E se não quiseres atravessar o rio Taquari com as canoas <strong>de</strong>stes milagres se tem visto muitos por este caminho, e se <strong>de</strong> dia vos<br />

121<br />

Rio Taquari [Quer dizer água <strong>de</strong> taquaras que são umas canas ocas]


<strong>REVISTA</strong> ELETRÔNICA EDIÇÃO ESPECIAL DOCUMENTO MONUMENTO<br />

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO / NÚCLEO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO HISTÓRICA REGIONAL - NDIHR<br />

meteres ao mato a caçar [,] abri bem os olhos [,] e se tiveres tinha-se já o Gentio retirado, vieram navegando com o risco <strong>de</strong><br />

a vista curta meti<strong>da</strong>s e escondi<strong>da</strong>s com gatos para ratos <strong>de</strong> traz <strong>de</strong> serem esperados em uma paragem que adiante direi.<br />

paus medindo to<strong>da</strong>s as ações, que o caçador faz até achar oca- Navegai com o mesmo cui<strong>da</strong>do e vereis que se parte outra<br />

sião <strong>de</strong> o assaltar, e assaltado que sejais requiescal in pace. vez o rio, e fica o <strong>da</strong> parte esquer<strong>da</strong> mais largo, e o que haveis <strong>de</strong><br />

Desta parte que já disse chama<strong>da</strong> a Prensa [,] navegareis tomar, que é o <strong>da</strong> parte direita, muito estreito, e <strong>de</strong> fronte <strong>de</strong>stes<br />

pela [fl. 17v] Pela parte direita e <strong>da</strong>qui para baixo principiam os vereis uma touça <strong>de</strong> coqueiros gran<strong>de</strong>s chamados Gorchizes [?]<br />

Pantanais, que são campos alagados com várias Lagoas, e Sangra- com folha ver<strong>de</strong> escura e o rio <strong>da</strong> parte esquer<strong>da</strong> é perdição. Este<br />

dores: aqui há muita caça e peixe, e já <strong>de</strong>vemos recear o Gentio rio que haveis <strong>de</strong> tomar <strong>da</strong> parte direita é chamado o Bracinho [,]<br />

<strong>de</strong> Cavalo <strong>de</strong> nação Guaycuru [,] cujos an<strong>da</strong>m cursando estes pelo qual navegando vereis os chamados morrinhos por entre os<br />

campos: E chegados que sejais <strong>de</strong>sta paragem [,] aparelhai-vos quais passareis, e aqui é o maior risco dos Cavaleiros, porque esta é<br />

para morrer ou vencer, no caso que topeis também o Gentio <strong>de</strong> a sua passagem e é neste lugar o rio estreito com pouca [fl. 18]<br />

canoas chamado Payaguá [,] que uns e outros vos <strong>da</strong>rão que fazer, Pouca água, tomam os Cavalos pé, por cuja razão coitadinhos dos<br />

e assim cui<strong>da</strong>reis muito em trazer as armas carrega<strong>da</strong>s; prontas e que aqui os encontrarem, porque não pu<strong>de</strong>ram valer uns aos<br />

muito Limpas, e não como algumas que lá chegam, que mais peso outros, e assim os lançados acabarão nas mãos <strong>da</strong> tirania; e pastem<br />

<strong>de</strong> ferrugem que <strong>de</strong> ferro, e para as carregar com presteza sando os ditos morrinhos [,] navegai com muito cui<strong>da</strong>do, porque<br />

trareis cartuchos feitos como usa a Infantaria nas campanhas, por- ten<strong>de</strong>s o mesmo risco até sair a outro rio chamado Paraguai mirim<br />

que as balroa<strong>da</strong>s <strong>de</strong>ste Gentio são muito súbitas e atraiçoa<strong>da</strong>s, advertindo, que antes que chegueis aos morrinhos navegando já<br />

cuja milícia e <strong>de</strong>streza parece que apren<strong>de</strong>ram estes Bárbaros <strong>da</strong>s pelo bracinho [,] <strong>de</strong>ntro vereis que este se parte em dois [,] mas<br />

onças. E aqui neste lugar [,] suce<strong>de</strong>u no ano <strong>de</strong> mil setecentos e ambos se tornam a ajuntar outra vez perto dos ditos morrinhos. E<br />

vinte e seis virem sete canoas as quais se tinham adiantado <strong>da</strong> <strong>de</strong>pois que saíres ao dito Paraguai mirim [,] ato <strong>de</strong> contrição e conmaior<br />

tropa, e avistaram quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Gentio Cavaleiro e <strong>de</strong> pé fissão geral no caso, porque aqui é todo o risco por ser passagem<br />

com as suas medonhas lanças traçados e querendo Deus usar <strong>de</strong> em que sempre an<strong>da</strong>m os gentios <strong>de</strong> canoas chamado Payaguás<br />

seus prodígios suce<strong>de</strong>u que as canoas acharam um pe<strong>da</strong>ço <strong>de</strong> rio os quais por sua boa feição parecem carrancas <strong>de</strong> popas <strong>de</strong> navio,<br />

fundo, e em terra <strong>de</strong>ste outro tanto mato grosso, e para que em estes são muito <strong>de</strong>stros, e gran<strong>de</strong>s piratas, e acometem sem receio,<br />

tudo parecesse milagre [,] ao pé do dito mato <strong>da</strong> parte do campo estão escondidos pelos sangradouros, e baías dos rios, e tanto que<br />

estava um gran<strong>de</strong> pantanal com água, e tudo, e como este Gentio vem as tropas, e canoas espalha<strong>da</strong>s, dão <strong>de</strong> repente <strong>de</strong> uma e<br />

não passe com os cavalos se não por rio baixo, não pô<strong>de</strong> investir as outra parte a investi<strong>da</strong>, matam a gente e levam as canoas, que<br />

canoas neste em que estavam; saiu a gente <strong>da</strong>s canoas para a po<strong>de</strong>m apanhar [,] e todos os anos fazem suas empresas; trazem<br />

terra, e passou o gentio a esta mesma ban<strong>da</strong> mais acima <strong>da</strong>s cano- canoas muito leves, e estas navegam como pensamento, e o que<br />

as, por rio baixo, e vieram-lhe fazer frente e vendo que não podiam mais é, que se os apertam [,] <strong>de</strong>itam-se no rio, e por baixo <strong>da</strong><br />

chegar ao mato on<strong>de</strong> os nossos estavam, por que a lagoa os impe- canoa, a vão levando por on<strong>de</strong> querem, sem serem vistos, estes tais<br />

dia [,] faziam uma gran<strong>de</strong> alari<strong>da</strong> mostrando as Lanças, e tocando para pescar não usam <strong>de</strong> linhas nem anzóis [,] que com a mão vão<br />

os seus instrumentos bélicos, e os nossos atirando-lhe, e assim estive- ao fundo do rio e escolhem o peixe que melhor lhe parece. E no ano<br />

ram sete dias sem dormirem que como eram poucas as pessoas <strong>de</strong> 1727 [,] indo navegando sessenta canoas nossas [,] até saíram<br />

brancas [,] tinham gran<strong>de</strong> risco; chegando no fim do dito tempo trinta carrega<strong>da</strong>s <strong>de</strong>stas crianças, e estas investiram a sessenta, e<br />

sessenta canoas em que vinham duas peças <strong>de</strong> artilharia, mas mataram aos dois capitães guias <strong>da</strong> Tropa sertanistas, e mui<br />

122


UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO / NÚCLEO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO HISTÓRICA REGIONAL - NDIHR<br />

<strong>REVISTA</strong> ELETRÔNICA EDIÇÃO ESPECIAL DOCUMENTO MONUMENTO<br />

alentados e levaram três canoas carrega<strong>da</strong>s <strong>de</strong> fazen<strong>da</strong>, e<br />

nos mataram mais doze pessoas, e as mais canoas nossas se encos-<br />

Rio Paraguai<br />

taram a uma que trazia um prego que sua Majesta<strong>de</strong> que Deus Depois que saíres a este rio, o qual vem <strong>da</strong> parte direita [,] o<br />

guar<strong>de</strong> man<strong>da</strong>va ao General <strong>de</strong>stas minas, e São Paulo, e com ireis subindo, e achareis ser bastantemente largo, e alegre, não tem<br />

temor se não <strong>de</strong>sapegaram <strong>da</strong> galeota <strong>de</strong>ste prego, e nos levaram cachoeira nem paus que façam mal, nem coisa que faça bem:<br />

também um menino branco que teria oito anos filho <strong>de</strong> um dos este [,] se fizer vento [,] é ruim <strong>de</strong> navegar pela tormenta que nele<br />

Cabos mortos. haverá <strong>de</strong> vento e maretas que alagam. Navegareis buscando<br />

Este rio Paraguai mirim, não é possível explicar-vos em forma sempre o mais direito do rio [,] fugindo <strong>da</strong>s ressaca<strong>da</strong>s, que são<br />

que enten<strong>da</strong>is a <strong>de</strong>rrota que nele haveis <strong>de</strong> seguir nem se po<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s, e as voltas compri<strong>da</strong>s, e todo cheio <strong>de</strong> sangradouros, e<br />

navegar sem trazer prático que o tenha navegado algumas vezes, baías muito gran<strong>de</strong>s, em cujas paragens é certo o gentio, que em<br />

e se vos quiseres arriscar (o que vos não dou <strong>de</strong> conselho) é neces- todo este rio se escon<strong>de</strong> por entre baías e sangradouros, e se apasário<br />

que [,] quando principiares a subir, tomeis bem sentido nas nham algumas canoas <strong>de</strong>sgarra<strong>da</strong>s <strong>da</strong> tropa, e ain<strong>da</strong> à mesma<br />

águas e na cor <strong>de</strong>las [,] indo sempre contra a correnteza <strong>de</strong>stas; tropa lhe dão as boas vin<strong>da</strong>s com flechas e lanças. Entrando[,] na<br />

vereis em várias partes muitas barras que to<strong>da</strong>s parecem o mesmo barra <strong>de</strong>ste rio não muita distância vereis uma Ilha <strong>da</strong> parte esquerrio,<br />

e fazem muita confusão, por cuja razão é fatível tomar alguma <strong>da</strong>, passareis por entre ela, e a terra por ser mais direito; e passando<br />

<strong>de</strong>stas barras, e <strong>de</strong>ixar o caminho direito como tem sucedido a esta vereis uns morros <strong>da</strong> parte esquer<strong>da</strong> e <strong>da</strong> mesma parte uma<br />

muitos e para que não haja este <strong>de</strong>scuido, é que encomendo o baía, a qual faz barra do tamanho do mesmo rio em que i<strong>de</strong>s, passentido<br />

<strong>da</strong> cor <strong>da</strong>s águas, que achar<strong>de</strong>s quando principiares a subir sareis pela parte direita, e vereis logo uma Ilha, navegai pela parte<br />

este rio, e querendo fazer este reparo achareis ser a cor <strong>de</strong>stas esquer<strong>da</strong> <strong>de</strong>la, e an<strong>da</strong>reis uma volta <strong>de</strong> rio até ver outra Ilha, naveesbranquiça<strong>da</strong>s,<br />

e turvas, e se tomares outra qualquer barra <strong>de</strong>sco- gai pela parte direita <strong>de</strong>la, e assim ireis navegando a avistar uma<br />

nhecereis as águas, pois serão estas muito limpas, e claras, e esta- Ilha, passai pela parte esquer<strong>da</strong>, e passa<strong>da</strong> que seja esta avistareis<br />

rem para<strong>da</strong>s sem correrem coisa [fl. 18v] Coisa alguma, e to<strong>da</strong>s outra, e para a parte direita uma baía gran<strong>de</strong>, ireis a passar a Ilha<br />

estas barras são <strong>de</strong> sangradouros e baías, que entram pelos panta- pela parte direita, que pela esquer<strong>da</strong> faz tão gran<strong>de</strong> volta, que vos<br />

nais <strong>de</strong>ntro, e o sinal <strong>da</strong>s águas turvas e correntes tereis sempre por custará a passar em um dia.<br />

guia até sair <strong>de</strong>ste rio, e no caso que este esteja cheio por causa Passa<strong>da</strong> que seja esta gran<strong>de</strong> Ilha vereis que faz o rio uma<br />

dos pantanais não terem vazado, vos parecerá um mar <strong>de</strong> Espa- cruz e o que vos ficar à mão direita há uma baía, e o <strong>da</strong> esquer<strong>da</strong><br />

nha, e será impossível conhecer as águas turvas, nem claras: vereis vai na volta <strong>da</strong> Ilha que fica dita, e só seguireis o do meio, e entrano<br />

rio todo parado, e nestas ocasiões chega até em meio <strong>da</strong>s árvo- do por ele vereis <strong>da</strong> parte esquer<strong>da</strong> uma terra alta com mato grosres,<br />

e em partes não aparecem, porque tudo é mar, e todos os rios so, e pedra a beira do rio, em cujo lugar suce<strong>de</strong>u a tragédia que já<br />

se tapam com umas folhas chama<strong>da</strong>s Balceiras, e por esta razão só disse <strong>da</strong>s trinta canoas [fl. 19v] Canoas do gentio contra as 60 ditas,<br />

se po<strong>de</strong> navegar com muita experiência; que como aqui não cujos vestígios achou uma tropa, que atrás vinha e viram sepulturas,<br />

governam rumos <strong>de</strong> agulha, nem <strong>de</strong> alfinete, se não trouxeres práti- e algumas caveiras ain<strong>da</strong> com carne, cascos <strong>de</strong> barris, e coronhas<br />

co, ficareis nesta linha em calmaria até que Deus queira, e passado <strong>de</strong> armas quebra<strong>da</strong>s, estrago que fez o dito gentio na tropa.<br />

que seja este Espanhol, ou Português mar [?] chegareis ao chama- Ireis mais acima, e na volta redon<strong>da</strong> que faz o rio <strong>da</strong> parte<br />

do.[fl. 19] esquer<strong>da</strong> tem um sangradouro on<strong>de</strong> estava emboscado o dito<br />

gentio. E <strong>de</strong>pois que passamos o que fica dito, navegai até<br />

123


<strong>REVISTA</strong> ELETRÔNICA EDIÇÃO ESPECIAL DOCUMENTO MONUMENTO<br />

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO / NÚCLEO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO HISTÓRICA REGIONAL - NDIHR<br />

avistares uma Ilha a qual passareis pela parte direita, que tão miudinhos que mal se divisam, e uns brancos do feitio dos primepela<br />

esquer<strong>da</strong> faz maior volta, e por <strong>de</strong> traz <strong>da</strong> dita Ilha <strong>da</strong> mesma iros, junta to<strong>da</strong> esta máquina, vos acompanharão <strong>de</strong> dia e <strong>de</strong> noiparte,<br />

está uma baía gran<strong>de</strong>, que parece não terá fim, e ireis pela te, <strong>de</strong> dia na canoa, e <strong>de</strong> noite no pouso: os pernilongos dizendoparte<br />

direita como digo navegando bastante rio, e avistareis uma vos segredos aos ouvidos [,] a porfia a qual há <strong>de</strong> falar primeiro e<br />

baía, que é tão gran<strong>de</strong> como que os olhos po<strong>de</strong>m ver, e esta é mais alto os borrachudos <strong>de</strong> retaguar<strong>da</strong> espalhados por to<strong>da</strong> a<br />

chama<strong>da</strong> Maritrém [;] esta passareis pela parte esquer<strong>da</strong> e assim parte do corpo como sanguessugas, e os pequenos como crianças<br />

como passares a bocaina <strong>de</strong>sta, navegai logo para a parte direita, vos procurarão as meninas dos Olhos [;] isto continuamente [,] ve<strong>de</strong><br />

e assim ireis, e a primeira barra que achares <strong>de</strong>sta mesma parte é [,] que tal vos porá? E vós a sacudir neles cansareis e suareis camisas<br />

um sangradouro chamado do Chanés, navegareis por este, que se até que <strong>de</strong>sesperados vos ireis meter em uma redoma <strong>de</strong> linhaatalha<br />

alguma coisa do caminho, e é melhor <strong>de</strong> navegar, e por gem, e ain<strong>da</strong> nela vos irão perseguir, e a ca<strong>da</strong> bocado (se tiveres)<br />

esta barra <strong>de</strong>ixareis o Paraguai, se quiseres. levareis misturado nele, mais dos ditos mosquitos, que cabelos, que<br />

ten<strong>de</strong>s na cabeça; e tereis paciência por força, e assim ireis nave-<br />

Sangradouro do Chanés<br />

gando em busca do chamado<br />

Depois que entrares neste sangradouro [,] ireis encostado à<br />

parte direita e logo vereis <strong>da</strong> parte esquer<strong>da</strong> outra barra, mas não<br />

façais caso <strong>de</strong>la, e só sim <strong>da</strong> direita, e subindo por esta ban<strong>da</strong>, vere- Navegareis por este rio acima, e nele até a era <strong>de</strong> 1731 não<br />

is outra barra também <strong>da</strong> parte esquer<strong>da</strong> e a <strong>de</strong>ixareis, e sempre havia risco <strong>de</strong> gentio, e por isso iam várias pessoas <strong>de</strong>stas minas a<br />

navegando pela direita até avistar outra barra em o qual o rio faz fazer pescaria para negócio, mas do dito ano para cá está infestaforquilha,<br />

aqui navegareis pela parte direita, e não vereis mais coi- do do gentio Payaguá, até o Guaxu, <strong>de</strong> que <strong>da</strong>rei notícia mais<br />

sa, que vos faça dúvi<strong>da</strong> até sair ao rio dos Porrudos. E se não quise- abaixo, e assim vin<strong>de</strong> sempre com prevenção, e não menos com<br />

res entrar neste Chanés [,] subireis todo o Paraguai. To<strong>da</strong> esta nave- medo, por que este é o que guar<strong>da</strong> a vinha. Não tenhais risco <strong>de</strong><br />

gação, que tenho dito <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a prensa, até aqui, é por entre panta- errar o caminho, porque não tem embaraço, e só avistando uma<br />

nais os quais [,] como já disse, são campos muito rasos, e dilatados e Ilha compri<strong>da</strong> navegareis pela parte esquer<strong>da</strong> <strong>de</strong>la, e passa<strong>da</strong> ela,<br />

com as cheias ficam todos cobertos, e nestes cresce uma erva a chegareis a outra Ilha pequena, e <strong>de</strong>ixa<strong>da</strong> pela popa vereis se<br />

qual dá arroz, não tão perfeito como o <strong>de</strong> Veneza, mas é sustento parte o rio em dois, e o que fica à parte esquer<strong>da</strong> é o <strong>de</strong>sejado<br />

para quem o colhe, e também há muita caça, e peixe. E também Cuiabá, e por este entrareis <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> seguir o que vos fica à<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a prensa até o Cuiabá achareis um divertimento muito gran- parte direita.<br />

<strong>de</strong>, que era bem que já que ten<strong>de</strong>s passado tanto trabalho, e<br />

moléstia [,] tivesses algum alívio e <strong>de</strong>scanso.<br />

Criou Deus por estes pantanais tanta quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> mos-<br />

quitos, que para lhe <strong>da</strong>r comparação, não sei que no mundo o Entrando por esta barra [a] distância <strong>de</strong> duas voltas [,] vereis<br />

haja, e com estes miúdos passarinhos vos vereis tão exasperados, dois sangradouros, um perto do outro, e <strong>de</strong>stes não fareis caso e<br />

que <strong>de</strong> nenhuma sorte achareis remédio a tal frenesi, e só o único mais acima vereis a primeira barra que faz o rio todo para a parte<br />

que há [fl. 20] Há é dormir no rio <strong>de</strong>baixo d'água, por que estes tais esquer<strong>da</strong>, e primeira à parte direita vereis uma baía pequena, e<br />

pintassilgos são <strong>de</strong> três nações. Pernilongos Borrachudos, e outros pelo meio <strong>de</strong>ste rio, e baía [,] vereis um sangradouro, o qual é bem,<br />

124<br />

Rio dos Porrudos<br />

Rio do Cuiabá


UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO / NÚCLEO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO HISTÓRICA REGIONAL - NDIHR<br />

<strong>REVISTA</strong> ELETRÔNICA EDIÇÃO ESPECIAL DOCUMENTO MONUMENTO<br />

que por ele navegueis por ser doméstico, e a talhar a via- rentezas. E <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>ste chamado reduto, vos achareis na madre<br />

gem, e indo por este acima vereis que faz forquilha, ficando em dois do rio, e <strong>da</strong>li a distância <strong>de</strong> duas voltas chegareis aos Morrinhos,<br />

sangradouros, o <strong>da</strong> parte direita [fl. 20v] Direita com seu mato, e o don<strong>de</strong> principiam as roças até chegar ao Porto geral <strong>de</strong>stas minas<br />

<strong>da</strong> esquer<strong>da</strong> seguireis até sair na Madre do rio, e por este acima do Cuiabá.<br />

navegareis e avistareis uma Ilha [;] pela parte esquer<strong>da</strong> <strong>de</strong>la é Parece-me, meus Amigos, que estou vendo a gran<strong>de</strong> e<br />

melhor navegar, e passa<strong>da</strong> que esta seja seguireis até o Arraial excessiva alegria com que chegais a este Porto, não sendo esta<br />

velho on<strong>de</strong> vereis umas casas <strong>de</strong> telha [,] lugar on<strong>de</strong> costumam ir o causa do tanto do alívio que experimentais <strong>da</strong> trabalhosa viagem,<br />

Provedor e Escrivão do registro a registrar a gente e cargas que como <strong>de</strong> vos parecer que <strong>de</strong>stas minas saireis brevemente, com<br />

vinham para estas minas, e passado este lugar a primeira barra que cabe<strong>da</strong>l capaz <strong>de</strong> pagar [fl. 21] De pagar os empenhos que fizestes<br />

avistares <strong>da</strong> parte direita entrareis por ela, que é bom navegar, e e satisfazer, ou recuperar o perdido e <strong>de</strong>mais a mais que ficareis<br />

saindo fora ao rio Largo distância <strong>de</strong> uma volta, vereis um sítio <strong>da</strong> remediado para e muito que viveres. Deus tudo po<strong>de</strong> fazer, mas<br />

parte esquer<strong>da</strong> chama<strong>da</strong> esta passagem o Guaxú [,] on<strong>de</strong> che- falando no estado <strong>da</strong>s minas, não vos vejo jeito, e assim entendo<br />

gou neste ano <strong>de</strong> 1734 o gentio Payaguá a <strong>de</strong>struiu [sic] uma tropa. que vin<strong>de</strong>s enganados com essa consi<strong>de</strong>ração, e me parece, que<br />

E <strong>da</strong>qui ireis sempre pela madre do rio, não trazendo ela água <strong>de</strong> os empenhos que fizestes feitos estão, e estarão, e o que per<strong>de</strong>stes,<br />

enchente que é terrível para subir, e seguireis pelo pantanal. Che- não o achareis mais, e o que trazeis perdido está, que vós vereis o<br />

gareis a uma paragem chama<strong>da</strong> o Carandá [É uma casta <strong>de</strong> caminho que leva, e só não suce<strong>de</strong>rá assim se se abrir outro camicoqueiros],<br />

vereis um sangradouro pela parte direita [,] pelo qual nho a estas minas, ou se vós quiseres fazer singular no comum, cujo<br />

<strong>de</strong>ntro assistem moradores em suas roças, e passando esta barra milagre ain<strong>da</strong> cá se não festejou, porque está todo o comum no<br />

coisa <strong>de</strong> um dia <strong>de</strong> viagem vereis um sangradouro <strong>da</strong> parte esquer- singular. E se se vos não casar esta razão com o entendimento [,]<br />

<strong>da</strong> chamado o reduto, e não estando este seco, é bom entrar por mostrai-me um homem que <strong>da</strong>qui tenha ido para povoado, que<br />

ele sem embargo <strong>de</strong> que é mais seguro o subir pela madre do rio tenha feito outro tanto quanto vós dizeis no sentido. É coitadinhos,<br />

pela razão do sangradouro ser muito embaraçado. E se quiseres [,] quando cui<strong>da</strong>stes que vos benzerias [,] quebraste os narizes. Mas é<br />

por vossa alta recreação [,] navegar pelo tal sangradouro chama- bem feito que assim vos suce<strong>da</strong>, porque estando-vos talvez <strong>de</strong>sdo<br />

reduto: <strong>de</strong>pois que entrares por ele, ireis navegando até avista- cansado, e po<strong>de</strong>ndo lá passar conforme a estimação <strong>de</strong>vi<strong>da</strong> à<br />

res uma baía, i<strong>de</strong> costeando a dita pela parte direita até que esta vossa pessoa, quisestes ser rico <strong>de</strong> misérias, <strong>de</strong>sassossegos, e tribulase<br />

acabe ficando rio estreito, e vos parecerá que torna para traz ções experimenta<strong>da</strong>s em uma terra <strong>de</strong> que Deus nos Livre.<br />

pelo muito que puxa, que para a mesma parte direita ireis nave- Esta é a <strong>de</strong>rrota <strong>da</strong> viagem para as minas do Cuiabá, tão<br />

gando por este rio estreito, sentido, sempre para a parte esquer<strong>da</strong> <strong>de</strong>canta<strong>da</strong>s, como apeteci<strong>da</strong>s, que não há dúvi<strong>da</strong> se tem nelas<br />

que quando chegares a avistar outra baía para a parte direita, achado gran<strong>de</strong>za, ou <strong>de</strong>sproposições [?] <strong>de</strong> ouro pelos gran<strong>de</strong>s<br />

antes que chegueis a esta vos fica o caminho, e este é <strong>da</strong> parte pe<strong>da</strong>ços, e dispari<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> formações, on<strong>de</strong> se tem achado sem<br />

esquer<strong>da</strong>, é estreito, e suce<strong>de</strong> estar tapado com balseiras, e só se legítimas disposições, como nas mais minas; hoje estão tão alcanconhece<br />

pelo correr <strong>da</strong>s águas, e <strong>de</strong>pois que passares este pe<strong>da</strong>- ça<strong>da</strong>s, que poucos são os que para elas fazem empenhos que se<br />

ço <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconhecido rio estreito vos achareis no Largo, e por ele ireis não <strong>de</strong>struam, e o mesmo suce<strong>de</strong>u aos que os seguirem, se elas<br />

até ver um sangradouro, que vem pela parte esquer<strong>da</strong>, e tomareis não mu<strong>da</strong>rem <strong>de</strong> procedimento, o que po<strong>de</strong>rá muito bem suceo<br />

<strong>da</strong> parte direita até sair fora, faz este rio <strong>de</strong> uma e outra parte <strong>de</strong>r, pelo que se tem visto em minas. E gran<strong>de</strong> lastima é que venha<br />

pantanal, e ao <strong>de</strong>pois mato, e tem seus paus com bastantes cor- lá homem a utilizar-se sujeitando a misérias, e insuportáveis<br />

125


<strong>REVISTA</strong> ELETRÔNICA EDIÇÃO ESPECIAL DOCUMENTO MONUMENTO<br />

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO / NÚCLEO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO HISTÓRICA REGIONAL - NDIHR<br />

trabalhos, e perigos do caminho, sempre <strong>de</strong>scalço e metido feliz, e contudo saindo do povoado a <strong>de</strong>zesseis <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1726<br />

n'água, com um espeque na mão, varejam, e remo, <strong>de</strong> que não chegou a estas minas a quinze <strong>de</strong> Novembro, vindo com marcha<br />

po<strong>de</strong>rá escapar qualquer quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> pessoa, que a elas vier por violenta, e quando ele [,] tendo o po<strong>de</strong>r que tinha, e man<strong>da</strong>ndo<br />

remir a vi<strong>da</strong>, e que este miserável, não só se não aumente, mas só prevenir mantimentos em caminho [,] lhe suce<strong>de</strong>u isto que fará um<br />

sim se perca. Os altos juízos <strong>da</strong> Onipotência Divina! Ele permita reme- pobre homem, e mais quando todos pela primeira vez vem ignodiar<br />

a todos, escolhendo-nos o melhor para seu Santo Serviço. rando o que lhe é necessário para semelhante <strong>de</strong>gredo. Assim que<br />

Experimentou-se no ano <strong>de</strong> 1726, e 727 uma tal esterili<strong>da</strong><strong>de</strong> conselho a todos os que se valerem do roteiro acima se não fiem só<br />

que chegou a valer o alqueire <strong>de</strong> milho (comum sustento <strong>de</strong>stas nele, tragam Práticos do caminho, e bons caçadores para as monminas)<br />

o <strong>de</strong>zesseis, e vinte oitavas <strong>de</strong> ouro, e o festejam a vinte, e tarias <strong>de</strong>ste sertão, e pescadores, e por nenhum modo negros boçavinte<br />

cinco oitavas, e a mais, sendo os alqueires três quartas <strong>de</strong> is, nem que não saibam na<strong>da</strong>r, boas armas, e quem as saiba maneagora,<br />

e o mais a este respeito, e ouro sem aparecer. A viagem ar, bons cães, e poucos Camara<strong>da</strong>s brancos, só o que for <strong>de</strong><br />

para estas minas, narra<strong>da</strong> neste itinerário [fl. 21v] itinerário suposto conhecido procedimento, e amigo para companhia <strong>de</strong> um<br />

que <strong>de</strong> algum modo vai nele parte <strong>de</strong>clara<strong>da</strong> [,] não é possível homem, que não há dúvi<strong>da</strong> se necessita <strong>de</strong> companhia fiel, e força<br />

explicar-se, e ain<strong>da</strong> o lugar <strong>da</strong>s Cachoeiras, e Itaipavas varia, por para resistir a qualquer aci<strong>de</strong>nte.<br />

que às vezes se acham outra on<strong>de</strong> se não esperam [,] conforme as Também quem pu<strong>de</strong>r não venha sem quem lhe administre<br />

enchentes dos rios, e outras ocasiões os canais mais secos ou cober- os sacramentos; e especule o mais que lhe é preciso e necessário se<br />

tos. O trabalho do caminho é insuportável, os riscos tão amiu<strong>da</strong>dos, quiser empreen<strong>de</strong>r esta trabalhosa batalha, na qual [fl. 22] Qual<br />

como <strong>de</strong> vezes bate o pulso, as fomes e doenças contínuas, e os todos os elementos, e indivíduos que Deus criou, se conspiram con-<br />

Gentios sem número. tra a natureza humana, sendo [,] porém, os principais <strong>de</strong>clarados,<br />

No tempo que se gasta nesta viagem não po<strong>de</strong> haver cer- ou os racionais.<br />

teza, porque uns a fazem em quatro meses e meio, outros em Não se tem também assentado na altura em que se acham<br />

cinco, outros em seis, outros em oito, e mais <strong>de</strong> ano conforme as estas minas, mas alguns pilotos têm observado o sol, sendo entre<br />

comitivas, tropas, marchas, guias, e estado dos rios, e do que eles o capitão Manoel Gomes do Amaral, e as fazem estar em <strong>de</strong>z<br />

acham para sustento, por que muitos levando-o consigo, ou já por graus e 1. 3º <strong>de</strong> latitu<strong>de</strong> <strong>da</strong> parte do sol do Sul, com a ponta <strong>da</strong> ensenaufrágios<br />

tão contínuos, ou por avaria do mesmo tempo, e trovoa- a<strong>da</strong> <strong>de</strong> vaza barris <strong>da</strong> ponta <strong>da</strong> parte do norte, mais chegado para<br />

<strong>da</strong>s, o per<strong>de</strong>m, e se lhe faz preciso ir vivendo <strong>de</strong> montaria, em que o rio <strong>de</strong> São Francisco e <strong>de</strong> longitu<strong>de</strong> mais <strong>de</strong> oitocentas léguas.<br />

gastam muito tempo, e parecem; outros per<strong>de</strong>m o rumo <strong>da</strong> via- Estes e outras pessoas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> experiência dão a ca<strong>da</strong> rio as<br />

gem, como se navegassem pelo golfo <strong>de</strong> Cafareu, dos quais nunca léguas que neles se navegam pouco mais ou menos e as avaliam<br />

mais é noticia cujo perigo é muito maior [,] achando os pantanais em mil e quinhentas e oitenta e duas na forma <strong>da</strong> lista que serve <strong>de</strong><br />

cheios [,] <strong>de</strong>sgarrando-se para os do Taquari ou Paraguai. rosto a esta relação, que sendo tanto o que se diz nela e tudo ver-<br />

Com os melhores guias, e sertanistas [,] veio o Excelentíssimo <strong>da</strong><strong>de</strong>iro a experiência dos que a fazem [,] mostra há muito mais que<br />

Senhor General Rodrigo Cezar e Menezes, e <strong>de</strong> tudo também pre- dizer se se pu<strong>de</strong>ra explicar.<br />

parado como o seu estado pedia, e mais pa<strong>de</strong>ceu, e to<strong>da</strong> a sua<br />

comitiva muita falta <strong>de</strong> sustento, e perca <strong>de</strong> canoa carrega<strong>da</strong>, e<br />

outros transes mais; e vindo em sua companhia o Padre Andre dos Transcrição: Flávia Kurunczi Domingues.<br />

Santos Queiroz [,] que posta viagem por valentia, que sem dúvi<strong>da</strong> é Atualização: Maria <strong>de</strong> Fátima Costa.<br />

126

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!