Conhecendo as Fontes da HistóriaOS MUÇULMANOS E A GUERRA SANTA OU JIHAD:“Ó crentes! Ponde-vos em guarda! Lançai-vos contra os nossos inimigos em gruposou em blocos.(...)Combatei na tenda de Allah contra os que compram a vida mundana com a última!Àqueles que combatem na senda de Allah, quer estejam mortos, quer estejam vitoriosos,conceder-se-á uma enorme recompensa”.Corão. 4, 73-79. In: Apud Pedrero-Sanchéz, p. 60-1.O CORÃO E A INSTRUÇÃO DA CRIANÇA MUÇULMANA (1332-1404):“É sabido que o ensino do Corão às crianças é um símbolo do Islã.Os muçulmanos têm e praticam tal ensino em todas as cidades, porqueele imprime nos corações uma firme crença nos artigos da fé, os quais[derivam] dos versos do Corão e de certas tradições proféticas. O Corão tornousea base da educação, o fundamento de todos os hábitos que podem seradquiridos mais tarde. [...]”.Ibn-Khadûn [nasce em Tunis, envolve-se em política em diferentescortes do mundo muçulmano, grande intelectual].The Muqaddimah. In: ApudPedrero-Sanchéz, p. 62-3.O Islã na Península IbéricaComentamos agora sobre asignificativa presença de povos islâmicos naPenínsula Ibérica durante a Idade Média.Aqui pretendemos em breve exposiçãochamar a atenção para este importanteprocesso histórico que marcou a formaçãodos Estados português e espanhol.Em 711 árabes e berberes – povosislamizados do norte da África - invadiram aPenínsula Ibérica e, em 718, já controlavama península a exceção de regiõesmontanhosas do Norte, onde se formou o15
HistóriaMedievalReino das Astúrias, onde, séculos depois, iniciou-se o processo de retomadacristã do território, conhecida como Guerra da Reconquista.Segundo Oliveira Marques, o território da península teve diferentesformas de organização política durante o domínio islâmico, como veremosabaixo (Oliveira Marques, 1995, p. 25-31):· Primeiro, o território esteve sob domínio do Califado de Damasco: durante osprimeiros 40 anos dominados pelos representantes encaminhados pelo Califa de Damasco.· Depois alcançou autonomia política, mas não religiosa, e recebeu a denominaçãode Emirado de Córdova: em 756 tornou-se emirado, com capital em Toledo. Durante esteperíodo, a península caracterizou-se pela presença de uma sociedade multilingüística emultiracial, com grandes comunidades judaicas e de moçarabes cristãos. Observamos aliuma relativa tolerância religiosa.Durante este período os árabes buscaram organizar uma sociedade marcada por:- Eficiente forma de comunicação com a manutenção e ampliação da rede deestradas;- Forte comércio, navegação e produção artesanal nos centros urbanos.O território português sob domínio árabe chamava-se Al-Garb Al Andalus (ocidentede Al-Andalus).· Numa das últimas fases do domínio islâmico a península alcançou sua independênciado domínio do império árabe organizando-se o Califado de Córdova (Al-Andaluz): nasegunda metade do século IX, incursões nórdicas e agitações religiosas levam Abd el-Rahman III (912-61) a iniciar um processo de pacificação proclamando-se califa em 929(líder espiritual e temporal), transformando o emirado em califado e mantendo a sede emToledo. Isto tornou a região totalmente independente do poder central exercido pelosábassidas em Bagdá. Mas as lutas lideradas por Al-Mansur, a partir de 979, contra os cristãoslevam ao enfraquecimento do califado.· Na última fase do domínio islâmico, o poder destes fragmentou-se e organizaramsepequenos reinos conhecidos como taifas: desintegração do califado ocorreu em 1002.Conhecendo as Fontes da HistóriaMuitas histórias transmitidas através da tradição oral nos revelam informações sobreo cotidiano do império árabes, nas diferentes partes por ele atingidas. Elas mostram,também, as relações que os árabes mantinham com os povos submetidos, mas que não seconverteram – como foi o caso de judeus e alguns cristãos. Selecionei uma história quetrata da relação com os judeus. Boa leitura. E não esqueça que elas também são fontespara a história.Jeha, o judeu e o Cádieha associou-se com umjudeu para fazer comérciode ferro. Entenderam-separa comprar ferro, guardá-lo erevendê-lo quando os preçossubissem. Procuraram-se adquirirquantidade de metal que o judeuarmazenava no porão de umacasa em que morava. Mas o judeucomeçou a vender o ferro depouco a pouco, sem que o sóciosoubesse disso. Quando ospreços tornaram-se vantajosos,Jeha apresentou-se ao judeu edisse:– Vamos vender o nossoferro, alcançar bom preço nestemomento.– Os ratos comeram-no –respondeu seu sócio.– Impossível! – recrutou Jeha– os ratos não comem ferro, poisse assim foi, eu te levarei diantedo cádi.– Entendido, – disse o judeu– mas já é noite; amanhã iremosao magistrado.16