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MEDIEVAL

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HISTÓRIA<strong>MEDIEVAL</strong>1


HistóriaMedievalSOMESBSociedade Mantenedora de Educação Superior da Bahia S/C Ltda.Presidente ♦Vice-Presidente ♦Superintendente Administrativo eFinanceiro ♦Superintendente de Ensino, Pesquisa e Extensão ♦Superintendente de Desenvolvimento e>>Planejamento Acadêmico ♦FTC - EaDFaculdade de Tecnologia e Ciências - Ensino a DistânciaDiretor Geral ♦Diretor Acadêmico ♦Diretor de Tecnologia ♦Diretor Administrativo e Finaceiro ♦Gerente Acadêmico ♦Gerente de Ensino ♦Gerente de Suporte Tecnológico ♦Coord. de Softwares e Sistemas ♦Coord. de Telecomunicações e Hardware ♦Coord. de Produção de Material Didático ♦Gervásio Meneses de OliveiraWilliam OliveiraSamuel SoaresGermano TabacofPedro Daltro Gusmão da SilvaWaldeck OrnelasRoberto Frederico MerhyReinaldo de Oliveira BorbaAndré PortnoiRonaldo CostaJane FreireJean Carlo NeroneRomulo Augusto MerhyOsmane ChavesJoão JacomelEQUIPE DE ELABORAÇÃO/ PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO:♦PRODUÇÃO ACADÊMICA♦Gerente de Ensino ♦ Jane FreireCoordenação de Curso ♦ Jorge BispoAutor (a) ♦ Tânia de SantanaSupervisão ♦ Ana Paula Amorim♦PRODUÇÃO TÉCNICA ♦Revisão Final ♦ Carlos Magno e Idalina NetaCoordenação ♦ João JacomelEquipe ♦ Ana Carolina Alves, Cefas Gomes, Delmara Brito,Ederson Paixão, Fabio Gonçalves, Francisco França Júnior,Israel Dantas, Lucas do Vale e Marcus BacelarEditoração ♦ Francisco França JuniorImagens ♦ Corbis/Image100/ImagemsourceIlustrações ♦ Francisco França Juniorcopyright © FTC EaDTodos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/98.É proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios, sem autorização prévia, por escrito,da FTC EaD - Faculdade de Tecnologia e Ciências - Ensino a Distância.www.ftc.br/ead2


SUMÁRIOFUNDAMENTOS E CONSOLIDAÇÃO DASOCIEDADE <strong>MEDIEVAL</strong> OCIDENTAL○ ○ ○ ○ ○ ○ ○07O INÍCIO DA IDADE MÉDIA E O SURGIMENTO DOISLAMISMO (SÉCULOS IV -VIII)○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○○07Discutindo a Idade Média○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○07Os Elementos da Transição da Idade Antigapara a Idade MédiaO Islamismo: Maomé, Organização da Religião e aImportância para o Expansionismo, Legado CulturalO Islã na Península Ibérica○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○○ ○ ○ ○ ○ ○○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○091315A ALTA IDADE MÉDIA (SÉCULOS VIII-X)○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○○ ○ ○ ○ ○ ○ ○A Aliança entre a Igreja e o Poder Político Germânico:O Império CarolíngioAs Transformações Políticas, Econômicas e Sociais daAlta Idade MédiaOs Elementos Formadores do FeudalismoA Questão da Terra na Idade Média○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○1818202122APOGEU E TRANSFORMAÇÃO NAEUROPA OCIDENTAL○○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○29A IDADE MÉDIA CENTRAL○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○293


HistóriaMedievalA Sociedade Feudal○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○A Expansão Populacional e Territorial:As Cruzadas○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○O Renascimento Comercial e Urbano○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○293134A Cultura Medieval e a Influência da Igreja Católica○ ○ ○ ○ ○ ○36A BAIXA IDADE M ÉDIA (SÉCULOS XIV - XVI)○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○40A Guerra dos Cem Anos e a Importância para o Processo de○ ○○Formação dos Estados Nacionais (França e Inglaterra)42As Transformações da Europa Medieval e oInício da ModernidadeAtividade OrientadaGlossárioReferências Bibliográficas○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○465657584


Apresentação da DisciplinaPrezado (a) aluno(a);Saudações!É com prazer que inicio com você esta viagem ao mundo do OcidenteMedieval.Buscaremos aqui conhecer e, em certa medida, compreender este longoperíodo da História que desperta em nós tantas questões. Como pensavam oshomens da Idade Média? Qual o papel atribuído à Igreja na construção deste modelode sociedade? Como se deu o processo de consolidação da mesma do ponto devista econômico, social, cultural e político? Que grupos étnicos, culturais participaramdesta construção? Teria sido a Idade Média um “período de trevas” comoconclamaram os iluministas do século XVIII?Será muito bom percorrer estes caminhos juntos. Espero que nos diferentesmomentos deste estudo você reflita sobre os processos históricos que estudaremose os homens da Idade Média, tão distantes e, ao mesmo tempo, tão próximos denós devido às práticas culturais, lingüísticas, religiosas e sociais que nos legaram.Encare esta viagem como um desafio e que o conhecimento seja a sua metamais preciosa.Um abraço,Prof.(a) Tânia de Santana5


HistóriaMedieval6


FUNDAMENTOS E CONSOLIDAÇÃO DASOCIEDADE <strong>MEDIEVAL</strong> OCIDENTALO INÍCIO DA IDADE MÉDA E O SURGIMENTO DOISLAMISMO (SÉCULOS IV - VIII)Discutindo a Idade MédiaO Conceito de Idade Média:Durante muito tempo a Idade Média ficou conhecida comoIdade das Trevas. Isto significa dizer que ela não teria trazidonenhuma contribuição para a história do mundo, em especial doOcidente. Teria sido um período dominado pela barbárie e pelacegueira do conhecimento. Os homens que construíram esteconceito sobre a Idade Média buscaram condena-la em todosos aspectos que caracterizaram a vida social da mesma: a artesob influência de povos ditos bárbaros, a vida social e políticaorganizada segundo os parâmetros da fé católica, dentreoutros fatores.No século XVI, os renascentistas estavamdesenvolvendo um novo conceito de arte baseada no quehavia sido produzido no mundo greco-romano. Para estes,a Idade Média, ao admitir outras influências sobre a suaarte, além da clássica, acabou por barbarizá-la, daídesignarem a arte deste período como gótica. Foram algunsdestes homens que primeiro utilizaram os termos “Idade Média” e “Idadedas Trevas”.Nos séculos posteriores, o XVII e o XVIII, osintelectuais racionalistas, os protestantes, osburgueses e os iluministas acrescentaram novascríticas ao período e ampliaram ainda mais a visãonegativa da Idade Média.Os historiadores do século XX, movidospelo desejo de compreender o homem do passadoem seu próprio tempo, desenvolveram métodos enovas teorias que, ao serem aplicadas ao estudoda Idade Média, levaram-nos a compreender ariqueza da produção cultural deste período e a formacomo o mesmo influenciou na construção da EuropaOcidental. Seus estudos têm revelado a importantecontribuição étnica, lingüística, política, cultural que estassociedades legaram para o mundo europeu moderno.7


HistóriaMedievalPara refletir...É possível condenar de forma tão dura um períodohistórico? E nós, professores, estudantes e pesquisadores dehistória podemos continuar a reproduzir este conceito? Ohistoriador pode fazer julgamentos sobre o passado que estuda?Para que serve a história? Para julgar o passado ou para buscarcompreendê-lo?Hilário Franco Júnior nos lembra que “a função dohistoriador é compreender, não a de julgar o passado. Logo, oúnico referencial possível para se ver a Idade Média é a própriaIdade Média” (Franco Júnior, 2001, p. 13).A Cronologia da Idade MédiaNeste trabalho adotamos uma cronologia que consideramos mais completa, conformenos alerta o autor do texto em que a extraímos, Hilário Franco Júnior, por trabalhar com aconcepção de história como resultado de um processo e não de fatos isolados (FrancoJúnior, 2001, p. 14-17). Este autor divide o período que compreende os séculos IV a meadosdo XVI em quatro momentos distintos que trazem uma relativa coesão interna:PRIMEIRA IDADE MÉDIA (séculos IV-VIII): é o período de encontro entre os elementosque vão fundamentar as sociedade medievais – a herança romana, a herança germânica eo Cristianismo.ALTA IDADE MÉDIA (séculos VIII-X): período de alianças entre o poder germânico ea Igreja, que culminou no Império Carolíngio, marcado pela recuperação econômica e pelaexpansão territorial e cristã.IDADE MÉDIA CENTRAL (séculos XI-XIII): período de apogeu da Idade Média, ondevigoram em sua máxima expressão o feudalismo, o renascimento urbano e comercial, asartes, o poder da Igreja, dentro outros fatores.BAIXA IDADE MÉDIA (Séculos XIV-XVI): período de crise, marcado por guerras,pestes e fome, pela recessão demográfica e monetária. Mas também gestam-se os valorese as transformações do mundo moderno como a reforma protestante, os descobrimentos, orenascimento artístico e cultural, numa resposta a crise do início do período.8


Os Elementos da Transição da Idade Antiga para a Idade MédiaObservando o mapa abaixo, verificamos como os romanos conquistarampraticamente toda a região ao redor do Mar Mediterrâneo, consolidando um Império emque este foi seu eixo principal.Uma das mais significativas mudanças operadas na Europa Ocidental com adecadência do Império e o início da Idade Média foi o deslocamento do centro da sua vidasocial para o norte, sobrevivendo durante alguns séculos num ritmo de vida em que o mar, avida urbana e as relações comerciais deixaram de ter na região a referência que tinhamdurante o mundo antigo.A decadência do mundo romano é atribuída a diferentes fatores, e aqui destacaremosalguns dos que consideramos mais significativos:· Pax Romana: o fim das guerras de conquistas e de ampliação do Império põe fimaos recursos representados pelos saques e a fácil obtenção da mão-de-obra escrava, quedesenvolvia o trabalho produtivo.· Elevação do sistema tributário, para a manutenção do Estado, afetando os pequenosproprietários de terras e levando a concentração da riqueza e de poder aos grandeslatifundiários.· Declínio do comércio e da vida urbana, movimento de ruralização.Como podemos ver, o Império Romano estava vivendo um grave momento de declíniointerno quando se soma a estes fatores a invasão dos povos germânicos na sua parteocidental. Os povos germânicos invadiram a Europa Ocidental em dois momentos distintos:a) Uma primeira geração - visigodos, suevos, burgúndios, ostrogodos e vândalos –ocupa diferentes territórios da Europa ocidental a partir de 406. Os visigodos e suevos9


HistóriaMedievalfixaram-se na Península Ibérica organizando reinos na região. O que maissobreviveu foi o dos visigodos, que foi destruído pelos árabes em 711. Osostrogodos fixaram-se na península itálica sofrendo no século VI as ameaçasdo Império Bizantino e depois com as invasões de lombardos. Os vândalosfixaram-se e organizaram um reino no norte da África e os burgúndios no centroda Europa.b) Segunda geração de invasores – anglos-saxões, francos, alamanos,bávaros – ocupam a área da Grã-Bretanha, Gália e outros territórios do centro europeu apartir da segunda metade do século V. Composta de povos pagãos e conservando o contatocom a pátria-mãe germânica tiveram mais oportunidade de estabilidade, graças à conversãoao catolicismo, o que facilitou o contato com os romanos, além de se caracterizarem pelasuperioridade militarO resultado da presença germânica na Europa Ocidental foi a substituição da unidadepolítica do Império romano pela pluralidade dos reinos germânicos, como vemos no mapaabaixo:10


O Cristianismo, por outro lado, veio se desenvolvendo de forma significativa ao longodeste período. Em 313, o Imperador Constantino, através do Édito de Milão, tornou oCristianismo uma religião livre de perseguições e em 380 o Imperador Teodósio transformouo Cristianismo em religião oficial do império através do Édito de Tessalônica. A partir deentão, a religião cresceu em número de adeptos, vindos de diferentes grupos sociais, eteve a oportunidade, com a ajuda do Estado, de organizar-se internamente.Durante este período, a Igreja organizou seu clero regular, seu clero secular o seupatrimônio e a sua liturgia. Prestou, também, importante assistência a população duranteas invasões germânicas, estabelecendo alianças com os invasores à medida em que estesconquistavam o poder. Como herdeira do legado cultural e do patrimônio do Império Romano,a Igreja tornou-se a mais homogênea e duradoura instituição do Ocidente.Podemos concluir, então, que a união dos três elementos descritos acima caracterizouo desenvolvimento das sociedades medievais no Ocidente: a herança do mundo romano, aherança do mundo germânico e o Cristianismo.Vejamos qual foi, segundo Fernand Braudel, a contribuição de cada um deles(Braudel, 1989, p. 3-5):HERANÇA ROMANA:HERANÇA GERMÂNICA:CRISTIANISMO:· O latim;· A sacralidade do poderreal;· A literatura, filosofia, arte,direito;· O pensamento político.· A pluralidade política quesubstituiu a unidade romana;· O espírito guerreiro;· Os fortes laços pessoais efamiliares.· Valores culturais impostos aoconjunto da vida social: direito,política, economia, culturaintelectual, arte, vida privada,filosofia;· Manutenção do legadocultural da AntiguidadeClássica que estava emconsonância com ocristianismo.Ao final deste período, os reis francos iniciaram um processo de expansão territoriale política, e da união de seus interesses com os da Igreja Católica nasceu o ImpérioCarolíngio, que iremos estudar no próximo bloco.Conhecendo as Fontes da HistóriaÉDITO DE MILÃO (313)Eu, Constantino Augusto, e eu também, Licíno Augusto, reunidos felizmente em Milãopara tratar de todos os problemas que se relacionam com a segurança e o bem público,cremos ser o nosso dever tratar junto com outros assuntos, que merecem a nossa atençãopara o bem da maioria, tratar também daqueles assuntos nos quais se funda o respeito àdivindade, a fim de conceder tantos aos cristãos quanto a todos os demais a faculdade deseguirem livremente a religião que cada um desejar, de maneira que toda a classe dedivindade que habita a morada celeste seja propícia a nós e a todos os que estão sob anossa autoridade. Assim, temos tomado esta saudável e retíssima determinação de que aninguém seja negada a faculdade de seguir livremente a religião que tenha escolhido parao seu espírito, seja a cristã ou qualquer outra que achar mais conveniente; a fim de que asuprema divindade a cuja religião prestamos esta livre homenagem possa nos conceder oseu favor e benevolência. Por isso, é conveniente que vossa excelência saiba que temosresolvido anular completamente as disposições que lhe foram enviadas anteriormente comrelação ao nome dos cristãos, por encontrá-las hostis e pouco apropriadas à nossa11


HistóriaMedievalClemência, e temos resolvido permitir a todos os que queiram observar areligião cristã, de agora em diante, que o façam livremente sem ter que sofrernenhuma inquietação ou moléstia. Assim, pois, acreditamos ser o nosso deverdar a conhecer com clareza estas decisões à vossa solicitude, para que saibaque temos concedido aos cristãos a plena e livre facilidade de praticar a suareligião ... Levou-nos a agir assim o desejo de não aparecer comoresponsáveis por diminuir em nada qualquer religião ou culto ... E além, disso,no que diz respeito aos cristãos, decidimos que lhes sejam devolvidos os locais ondeanteriormente se reuniam, sejam eles propriedade do nosso fisco, ou tenham sido compradospor particulares, e que os cristãos não tenham de pagar por eles nenhuma classe deindenização ... e como consta que os cristãos possuíam não só locais de reuniões habitual,mas também outros pertencentes à sua comunidade ... ordenamos que lhe sejam devolvidossem nenhum tipo de equívoco nem de oposição ... Em todo o dito anteriormente (vossaexcelência) deverá prestar o apoio mais eficiente à comunidade dos cristãos, para que asnossas ordens sejam cumpridas o mais depressa possível e para que também neste assuntoa nossa Clemência vale pela tranqüilidade pública. Desta maneira, como já temos ditoanteriormente, o favor divino que em tantas e tão importantes ocasiões nos tem sido propício,continuará ao nosso lado constantemente, para o êxito das nossas empresas e para aprosperidade do bem público...Lactancio. (De mortibus persecutorum) Sobre la muerte de los perseguidores.introd.., trab. Española e notas de R. Teja. Madrid: Gredos, 1982. XLVIII, p.2-3. In: ApudPedrero Sanchéz, p. 27-8.ÉDITO DE TESSALÔNICA (380)Os imperadores Graciano, Valentiniano e Teodósio Augusto: édito ao povo da Cidadede Constantinopla.É a nossa vontade que todos os povos regidos pela administração de nossaClemência pratiquem a religião que o divino apóstolo Pedro transmitiu aos romanos, namedida em que a religião por ele introduzida tem prosperado até os nossos dias. É evidenteque esta é a religião que professa também o pontífice Damaso, e Pedro, bispo de Alexandria,homem de apostólica santidade; isto é, que de acordo com a disciplina apostólica e adoutrina evangélica, devemos acreditar na divindade do Pai, do Filho e do Espírito Santocom igualdade de majestade e sob (a noção) da Santa Trindade.Ordenamos que todas aquelas pessoas que seguem esta norma tomem o nome decristãos católicos. Porém, o resto, aos quais consideramos dementes e insensatos,assumirão a infâmia dos dogmas heréticos, os lugares de suas reuniões não receberão onome de igreja e serão castigados em primeiro lugar pela divina vingança, e, depois, também,(por justo castigo) pela nossa própria iniciativa, que providenciaremos de acordo comojuízo divino.Dado no terceiro dia das calendas de março, no ano de quinto consulado de Gracianoe do primeiro consulado de Teodósio Augusto . (28 de fevereiro de 380).Código Teodosiano. XVI, 1-2. In: Tuñón de Lara, M. Textos y documentos de HistoriaAntigua, Media y Moderna. Barcelona: Labor, 1984. p.127 (Historiade EspañaXI). In: ApudPedrero Sanchéz, p. 28-9.SOBRE A ORIGEM DOS FRANCOS(...) Muitos autores contam que estes povos saíram da Panômia e que seestabeleceram primeiro na margem do Reno; tendo em seguida atravessado este rio,passaram à Turíngia e aí, nas aldeias ou nas cidades, escolheram reis cabeludos, que forambuscar na primeira, e, se assim posso dizer, à mais nobre das suas famílias.12


(...)Mas este povo mostrou-se sempre entregue a cultos fanáticos sem ter qualquerconhecimento do verdadeiro Deus. Fez imagens das florestas e das águas, dos pássaros,dos animais selvagens e dos outros elementos aos quais tinha por hábito prestar um cultodivino e oferecer sacrifícios (...)”São Gregório de Tours [Bispo de Tours – 538-595 – 1º historiador da França].Historiae Ecclesiasticae Francorum. Lib. II, IX-X. Trad. De Guadet e Taranne. Paris, 1836.In: Apud Pedrero Sanchéz, p. 33.O Islamismo: Maomé, Organização da Religião e Importânciapara o Expansionismo, Legado Cultural.Agora, vamos sair um pouco da Europa Ocidental e deter o nosso olhar sobre outroespaço geográfico do mundo medieval, observando a Península Arábica, do outro lado domar, lugar onde nascia uma nova sociedade que viria marcar de forma permanente, nosséculos futuros, a história da humanidade. Vamos seguir o nosso caminho em direção aomundo islâmico!Maomé e as Origens do IslamismoO Islamismo nasceu e expandiu-se, para além das fronteiras da Península Arábica,no período medieval marcando a história universal desde então.A Península Arábica teve um papel decisivo nas relações econômicas entre Ocidentee Oriente devido às caravanas que atravessaram os desertos transportando mercadorias ea navegação de cabotagem através de seu extenso litoral. Os árabes eram povos politeístase nômades cuja língua era semita, a aramaica.O Islã nasceu no século VII com Maomé. Este nasceu em Meca em 570 d. C. Mecaera um importante centro comercial da Arábia Ocidental e de peregrinação, devido aosantuário de Caaba, onde inúmeros deuses eram cultuados.Maomé era filho de mercadores da tribo coraixitas que mantinham acordo com tribospastoris de Meca. Após sua experiência de revelação, - onde diz receber as profecias deAlá, que ele passa a reconhecer como o único deus - Maomé sofreu a perseguição daaristocracia mercantil de Meca, que não aceitava o monoteísmo de sua pregação. Ele fugiupara Medina em 16 de julho de 622 e esta data ficou conhecida como hégira marcando oinício do calendário islâmico.Em Medina ocorreu a organização definitiva do Alcorão e a instituição daperegrinação, prece regular, esmola e jejum. Maomé foi o sintetizador de doutrinas epreceitos existentes em outras formas religiosas, como o judaísmo, com as quais mantevecontato através de viagens à Palestina. O conteúdo que resultou desta experiência revestiusede um aspecto nacional (língua, origens, primeiros adeptos árabes) e um aspectointernacional (acolhendo todos os povos sem distinção de raça tal qual o Cristianismo).Após a morte de Maomé, em 632, os califas iniciaram o processo de expansão doIslã e do poder árabe sobre outros territórios.A Expansão do IslãO sucesso da expansão dos árabes, e por conseqüência do Islamismo, pelo Orienteexplica-se pela:- Fraqueza dos adversários (Bizâncio e Pérsia estavam exauridos pelas contínuaslutas);13


HistóriaMedieval- O entusiasmo dos adeptos movidos por motivos religiosos e pelapossibilidade de riqueza;- O bom acolhimento dos povos dominados por Bizâncio (para sírios,judeus e egípcios os árabes foram considerados libertadores).Os primeiros califas foram:- Abu Bakr (632-34) – sogro de Maomé, conquista a Arábia e o sul daPalestina.- Umar Ibn Abd al-Khattab (634-44) – avança até Damasco, parte do ImpérioSassânida (Pérsia), províncias sírias e egípcias do Império Bizantino;- Uthman ibn Affan (644-56) – desloca o poder de Medina para as cidades do norte,da Síria e do Iraque, gerando conflitos com os conversos antigos e recentes do islamismo;- Ali ibn Abi Talib (656-61) – primo de Maomé, tem um governo marcado pelos conflitoscom Medina, que pretendia retomar o controle do império.Os conflitos levaram ao poder a família dos Omíadas, que não possuíam laçosfamiliares com Maomé e tornaram a transmissão do califado hereditária. Estes levaram acapital do império para Damasco e avançaram até o norte da África e Península Ibérica ederam os primeiros passos em direção a Índia. A subida ao poder desta família dividiu osárabes em sunitas e xiitas. Os xiitas não concordavam com o califado nas mãos de nãofamiliares de Maomé e pretendiam uma interpretação rigorosa dos preceitos do Alcorão.Após séculos os Omíadas foram substituídos pelos Abássidas, que transferiram acapital do império para Bagdá, no Iraque. No século X as contradições do sistema de governocentralizado e burocrático levaram a fragmentação do mesmo.A partir do séc. XI, iniciou-se a intolerância religiosa e a guerra santa. Este períodofoi marcado pelo declínio desta sociedade após aliança entre o califa de Bagdá e os turcosseldjúcidas.14


Conhecendo as Fontes da HistóriaOS MUÇULMANOS E A GUERRA SANTA OU JIHAD:“Ó crentes! Ponde-vos em guarda! Lançai-vos contra os nossos inimigos em gruposou em blocos.(...)Combatei na tenda de Allah contra os que compram a vida mundana com a última!Àqueles que combatem na senda de Allah, quer estejam mortos, quer estejam vitoriosos,conceder-se-á uma enorme recompensa”.Corão. 4, 73-79. In: Apud Pedrero-Sanchéz, p. 60-1.O CORÃO E A INSTRUÇÃO DA CRIANÇA MUÇULMANA (1332-1404):“É sabido que o ensino do Corão às crianças é um símbolo do Islã.Os muçulmanos têm e praticam tal ensino em todas as cidades, porqueele imprime nos corações uma firme crença nos artigos da fé, os quais[derivam] dos versos do Corão e de certas tradições proféticas. O Corão tornousea base da educação, o fundamento de todos os hábitos que podem seradquiridos mais tarde. [...]”.Ibn-Khadûn [nasce em Tunis, envolve-se em política em diferentescortes do mundo muçulmano, grande intelectual].The Muqaddimah. In: ApudPedrero-Sanchéz, p. 62-3.O Islã na Península IbéricaComentamos agora sobre asignificativa presença de povos islâmicos naPenínsula Ibérica durante a Idade Média.Aqui pretendemos em breve exposiçãochamar a atenção para este importanteprocesso histórico que marcou a formaçãodos Estados português e espanhol.Em 711 árabes e berberes – povosislamizados do norte da África - invadiram aPenínsula Ibérica e, em 718, já controlavama península a exceção de regiõesmontanhosas do Norte, onde se formou o15


HistóriaMedievalReino das Astúrias, onde, séculos depois, iniciou-se o processo de retomadacristã do território, conhecida como Guerra da Reconquista.Segundo Oliveira Marques, o território da península teve diferentesformas de organização política durante o domínio islâmico, como veremosabaixo (Oliveira Marques, 1995, p. 25-31):· Primeiro, o território esteve sob domínio do Califado de Damasco: durante osprimeiros 40 anos dominados pelos representantes encaminhados pelo Califa de Damasco.· Depois alcançou autonomia política, mas não religiosa, e recebeu a denominaçãode Emirado de Córdova: em 756 tornou-se emirado, com capital em Toledo. Durante esteperíodo, a península caracterizou-se pela presença de uma sociedade multilingüística emultiracial, com grandes comunidades judaicas e de moçarabes cristãos. Observamos aliuma relativa tolerância religiosa.Durante este período os árabes buscaram organizar uma sociedade marcada por:- Eficiente forma de comunicação com a manutenção e ampliação da rede deestradas;- Forte comércio, navegação e produção artesanal nos centros urbanos.O território português sob domínio árabe chamava-se Al-Garb Al Andalus (ocidentede Al-Andalus).· Numa das últimas fases do domínio islâmico a península alcançou sua independênciado domínio do império árabe organizando-se o Califado de Córdova (Al-Andaluz): nasegunda metade do século IX, incursões nórdicas e agitações religiosas levam Abd el-Rahman III (912-61) a iniciar um processo de pacificação proclamando-se califa em 929(líder espiritual e temporal), transformando o emirado em califado e mantendo a sede emToledo. Isto tornou a região totalmente independente do poder central exercido pelosábassidas em Bagdá. Mas as lutas lideradas por Al-Mansur, a partir de 979, contra os cristãoslevam ao enfraquecimento do califado.· Na última fase do domínio islâmico, o poder destes fragmentou-se e organizaramsepequenos reinos conhecidos como taifas: desintegração do califado ocorreu em 1002.Conhecendo as Fontes da HistóriaMuitas histórias transmitidas através da tradição oral nos revelam informações sobreo cotidiano do império árabes, nas diferentes partes por ele atingidas. Elas mostram,também, as relações que os árabes mantinham com os povos submetidos, mas que não seconverteram – como foi o caso de judeus e alguns cristãos. Selecionei uma história quetrata da relação com os judeus. Boa leitura. E não esqueça que elas também são fontespara a história.Jeha, o judeu e o Cádieha associou-se com umjudeu para fazer comérciode ferro. Entenderam-separa comprar ferro, guardá-lo erevendê-lo quando os preçossubissem. Procuraram-se adquirirquantidade de metal que o judeuarmazenava no porão de umacasa em que morava. Mas o judeucomeçou a vender o ferro depouco a pouco, sem que o sóciosoubesse disso. Quando ospreços tornaram-se vantajosos,Jeha apresentou-se ao judeu edisse:– Vamos vender o nossoferro, alcançar bom preço nestemomento.– Os ratos comeram-no –respondeu seu sócio.– Impossível! – recrutou Jeha– os ratos não comem ferro, poisse assim foi, eu te levarei diantedo cádi.– Entendido, – disse o judeu– mas já é noite; amanhã iremosao magistrado.16


Então o judeu foi à casa docádi, no seu domicilio pessoal, econtou-lhe a história. “Pois bem,– disse o juiz, ficando com odinheiro com que o judeu osubornava – venha amanhã coma parte contrária.”No dia seguinte, Jeha e ojudeu apresentaram-se diante docádi e o primeiro expôs o caso.O cádi, tomando a palavra nolugar do judeu, respondeu: “Sim,meus caros filhos, os ratoscomem ferro. Lembro-me que,sendo muito jovem, minha mãecolocou sebo num pilão de cobre.Os ratos atravessaram o pilão ecomeram o sebo. Não tens nadaa reclamar do teu sócio.”Jeha partiu e foi rápido à casado Sultão a quem pediu que onomeasse caid da tribo dos ratos.O Sultão fez redigir um dahir (*)em que pôs o seu selo, investindoJeha do título e das prerrogativasde caid da tribo dos ratos.Garantido por esse título,nosso homem dirigiu-se ao lugarem que ficam os trabalhadores àprocura de trabalho. Aí viu unsvinte robustos saarianos munidosde suas enxadas (sabe-se que aspessoas dos oásis do Saara sãofamosas na abertura de poço,trabalhos de irrigação esondagens). “Venham trabalharcomigo, – disse-lhes – eu lhedarei dois riais por dia.”Depois pôs-se a caminho,seguindo de seus trabalhadorese chegou à casa do judeu. Lá,ordenou aos homens quedemolissem suas fundações. Ojudeu, tranqüilo em casa,percebeu que ela vacilava.Desceu correndo e viu Jeha eseus homens ocupados emdemolir as fundações.Que significa isto? – disse.Leia isto aqui – respondeuJeha, mostrando-lhe a dahir doSultão.Diz aí, senhor, que é o caidda tribo dos ratos!É em virtude deste titulo –disse Jeha – que eu procuro osratos que comeram o meu ferropara condená-los – (os ratos vivemnas fundações das casasmarroquinas).Pare, senhor! – gritou o judeu.– Eu lhe dou o preço do seu ferroe outro dia ainda, mas pare comsuas buscas.Jeha embolsou a soma elevou os saarianos à casa de cádi.–Demoli estas fundações! –disse-lhes.O cádi acreditando que seescavava a terra, saiu de suacasa e disse:O que é isso?Jeha mostrou -lhe o dahirdo Sultão e acrescentou: “Eu soucaid da tribo dos ratos e procuroos que furaram o pilão de cobrepara comer o sebo.”O caid, maravilhado com aastúcia de Jeha, deu-lhe umasoma de dinheiro superior ao valordo ferro.In: HADDAD, Jamil A. (seleção, introdução e notas). Contos Árabes. Rio de Janeiro: Ed. Tecnoprint S.A. / Ediouro, s/d, p. 135-6.[ ]Agora é hora deTRABALHARResponda as questões abaixo. Leia atentamente o enunciado antes de respondêlas.Você deve redigir um texto para cada uma das questões propostas (mínimo de 15 emáximo de 30 linhas).Critérios para a avaliação:- Clareza na exposição do tema proposto;- Domínio dos conceitos;- Articulação entre as diferentes partes do texto;- Argumentação.17


HistóriaMedieval1. Comentar sobre a importância da crise do Império Romano, dasinvasões germânicas e do cristianismo para a formação das sociedadesmedievais ocidentais.2. A partir da análise dos mapas e do texto sobre a origem do Islã e sobre a sua expansãoe presença na Península Ibérica, comente sobre a sua importância na Idade Média.A ALTA IDADE M ÉDIA (SÉCULOS VIII-X)A Aliança entre a Igreja e o Poder Político Germânico: OImpério CarolíngioConforme vemos no texto de Jacques Le Goff,que usaremos como base para a redação deste,os francos iniciaram sua presença na região daEuropa Ocidental, especificamente na Gália, sobo poder da dinastia merovíngia (Le Goff, p. 65-85). Desde o início desenvolveram um projetoexpansionista, ocupando os reinos dos burgúndiose dos alamanos. A liderança da dinastia carolíngiasó fez acelerar este processo. Abaixo faremos umbreve resumo da história da dinastia carolíngia, quereinou entre os francos entre os anos de 751 a987, e teve em Carlos Magno sua figura principal.Pepino, o breve, sucedeu Carlos Martel em741, inaugurando a dinastia carolíngia e ampliandoa aliança com a Igreja que já havia sido estabelecidano reinado da dinastia merovíngia. Um passoimportante para a solidificação desta aliança foi a ocupação da península italiana, tomadados lombardos, entre 756 e 760, a pedido do papa Estevão II. Parte deste território foidoado à Igreja, onde foi fundado o Estado Pontífice.Reinando entre 751 e 754, Pepino, o breve, foi sagrado rei pelo papa e em 800Carlos Magno, novo rei dos francos (768-814), foi sagrado Imperador do Ocidente pelopapa Leão III, que via neste projeto a oportunidade de recuperar o território do antigo império18


e renovar a supremacia papal, inclusive sobre Bizâncio, e também afirmar a supremacia dopoder espiritual sobre o temporal (todo o poder vem de Deus, por intermédio do papa).A Igreja fortaleceu seu poder aproximando-se no poder estatal franco (funcionáriosrégios, leis canônicas tornadas leis civis, bispos conselheiros régios) e da sociedadeexercendo nela diferentes funções (assistencial, cultural, social, educacional).Do ponto de vista administrativo, Carlos Magno organizou o Estado franco a partirde um modelo centralizado com funcionários régios em todo o território (delegados nobrese missi dominici, parlamento aristocrático), estimulando o uso do latim na administração eno campo jurídico (capitulares e ordenações). Criou os “benefícios”, onde ampliou as aliançascom a aristocracia em troca de fidelidade, estabelecendo as formas de um contrato jurídicoque viria a dar origem às relações desusserania e vassalagem quemarcaram o modelo de sociedadefeudal.O projeto expansionistados francos foi um sucesso.Quase ao fim do reinado deCarlos Magno, apenaspermaneciam fora do impériodos francos na Europaocidental o território da Grã-Bretanha, a Espanha islâmica eo novo Estado Pontífice.Mas embora detivesse otítulo de Imperador Romano do Ocidente, Carlos Magno e seus sucessoresreinavam como verdadeiros reis germânicos. Baseavam os seus poderes não num sistemajurídico centralizado e territorial, mas num sistema de relações pessoais que tinham comoobjetivo a manutenção da fidelidade de seus subordinados. A crise que levou ao fim do títuloimperial em 924 deveu-se à inexistência de um sentido de Estado (poder público) por partedos reis germânicos, que alienavam progressivamente tanto o território como o poder imperialque exerceram, tornando impossívela recuperação de uma concepçãoromana de governo almejadapelos reis carolíngios.Com o Tratado de Verdun,843, o reino franco foi divididoentre os filhos de Luís, o piedoso,rei sucessor de Carlos Magno, quepromoveu a reforma religiosa noImpério. A divisão deu-se daseguinte forma: Carlos, o calvo(França Ocidental), Luís, ogermânico (França oriental) eLotário (França central). Tal divisãoesboça a área das futuras naçõesda França, Alemanha e Itália.19


HistóriaMedievalAs Transformações Políticas, Econômicas e Sociaisda Alta Idade MédiaNo século IX várias transformações modificaram o cenário europeuocidental. Abaixo, comentaremos algumas destas mudanças:Novas invasões desestabilizam o espaço europeu (islâmicos,normandos, húngaros):. Ao norte e por mar - escandinavos ou normandos (vikings): seus objetivos eram apilhagem; fizeram isto devastando o litoral, abadias e cidades européias. Suecos atacarama Rússia, noruegueses atacaram a Irlanda e dinamarqueses invadiram pelo mar do norte eCanal da Mancha.. Em 980, os normandos tornaram-se senhores da Inglaterra, conquistando-adefinitivamente em 1066; em 911 criaram o reino da Normandia no norte da Gália de ondeenxameiaram o ocidente e deixaram sua marca; e em 1029 ocuparam a Itália meridional ea Sicília. Os normandos controlavam o comércio através do mar do Norte.. Ao sul e por mar - os islâmicos invadiram a costa italiana ao longo do século IX,controlando boa parte do mediterrâneo e o comércio nele realizado.. Ao leste e por terra: húngaros ou magiares. Instalaram-se no território russo noséculo VII, de onde foram expulsos por povos turcos iniciando, a partir de 899, invasõessistemáticas nas fronteiras do leste da França Oriental e da Germânia, além de excursõesna França e Itália também.. A vitória sobre os húngarosem 955, pelo rei Otão I, ajudou nosurgimento do poder da dinastiaotoniana que restaurou o poderimperial carolíngio, fundando oSacro Império Germânico, que duroude 936 a 1806, sob o território daItália e Germânia. Otão I foi sagradopelo papa João XII, em 961. Oshúngaros sedentarizam-se ecristianizaram-se fundando o reinoda Hungria.Recuperação econômica:Segundo Jacques Le Goff,verificamos a partir do século IX umarecuperação da economia medieval no Ocidente, desestabilizada desde o século V peladecadência romana e invasões germânicas. Este século foi decisivo no campo dastransformações econômicas para a Cristandade Ocidental (Le Goff, 1995, p. 80-5). Foi oinício do renascimento econômico, resultado de uma renovação do comércio nos séculosVIII e IX, decorrentes do:. apogeu do comércio da Frísia e do porto de Duurstede;. reforma monetária de Carlos Magno;. melhoria da produção agrícola: novos sistemas de atrelamento de animais, divisõesde terrenos cultivados, avanços das técnicas de cultivo.O século X foi um período de novidades decisivas, especialmente no domínio docultivo e da alimentação.20


Le Goff atribui este despertar do Ocidente ao:1) Estímulo externo: formação do mundo islâmico – administrando metrópolesurbanas e consumidoras - que suscitaram no Ocidente germânico o aumento da produçãode matérias primas para exportação para Córdoba, Fustat, Cairo, Damasco, Bagdá. Sãomadeiras, ferro, estanho, mel e escravos.2) Estímulo interno: progresso técnico verificado no próprio solo ocidental – agrícola,com aumento das áreas cultivadas e seu rendimento; militar, no uso do estribo que permitiumelhor domínio do cavalo e gerou uma nova classe de guerreiros, os cavaleiros.- Os grandes proprietários promoveram exploração intensa do solo e gerarampequenos excedentes de produção entregues aos mercadores (Le Goff, 1995, p. 84-5).Os Elementos Formadores do FeudalismoO Feudalismo não possuiu as mesmas características e nem teve uma evoluçãosimultânea em toda a Europa. Embora concretamente só podemos falar de uma sociedadefeudal na Idade Média Central, iniciamos a discussão sobre este tema neste espaçodedicado à Alta Idade Média para mostrar como sua consolidação dependeu de processoshistóricos deste período.Segundo Loyn, no Dicionário da Idade Média, “...as origens da sociedade feudalsituam-se melhor na França setentrional dos séculos IX e X, com o declínio da monarquiacarolíngia (na Inglaterra, de maneira mais dramática em 1066, com a conquista normanda),e seu desaparecimento no século XVI (Loyn, 1997, p.146).Considerando a visão deste autor, listamos alguns dos elementos que caracterizamo feudalismo e a sua origem, seguindo uma ordem de importância:- A supremacia de uma classe de guerreiros especializados, chamados cavaleiros,que formavam a classe dominante, surgindo o feudalismo deste processo de ascensão dacavalaria;- Relações de suserania e vassalagem, marcadas por vínculos de obediência eproteção que ligam homem a homem e, dentro da classe guerreira, assumem a formaespecífica denominada vassalagem (Bloch, Marc APUD Loyn, 1997, p. 146). Esta relaçãofoi originada de uma “forma de encomendação germância antiga, pela qual um homem livrese submetia a um outro por um ato de homenagem (as mãos juntas colocadas entre as dosenhor), confirmado por um juramento sagrado de fidelidade e vassalagem e usualmenteacompanhada pela outorga de um feudo” (Loyn, 1997, p.146).- A existência do feudo, “ que é a essência dominial do feudalismo e vincula o senhorioe as relações feudais à terra” (Loyn, 1997, p.146). O feudo era outorgado por investidura.Segundo Loyn, feudo era a terra de um senhor, confiada a seu vassalo em troca de serviçosmeritórios, os quais incluíam serviços militares, ajuda e conselhos. (Loyn, 1997, p.146).- A existência da propriedade senhorial, representada no castelo que “ era o símboloe a essência do senhorio feudal, que se impunha à terra por meio dos homens montadosque tinham sua base dentro de suas sólidas muralhas” (Loyn, 1997, p.146).- A existência de um campesinato mantido em sujeição dentro de um senhorio.É bom lembrar que, além de cavaleiros, nobres possuíam relações feudalizadas commonarquia medieval e a Igreja. Esta última recebia a concessão de feudos “em troca doserviço de rezar” (Loyn, 1997, p. 146). Mas sobre isto falaremos no próximo bloco, aotratarmos sobre a sociedade feudal.21


Texto ComplementarHistóriaMedievalCharles Parain(...)O FLORESCIMENTO DO REGIME FEUDALlenta gênese doregime feudal tem,naturalmente, sua“periodização”. Entre as forçasmateriais em vias dedesenvolvimento (demografia,técnicas agrícolas) por um lado,e por outro as superestruturasjurídicas, políticas e morais quese dissolvem (o poder dosimperadores e reis) ou que seconstituem (os vínculos feudais)existe, de fato, uma interaçãodialética contínua quedesemboca, segundo as datasnas quais são levadas a cabo, emdeterminadas combinaçõescaracterísticas.Entre o século IX, depoisdo fracasso da renovação imperialcarolíngia, e o século XIII, no qualo ocidente europeu feudal alcançaseu apogeu, podemos assinalarduas fases distintas. As quevamos indicar servem, sobretudo,para a região da Borgonha, umadas que foi melhor observada.Indubitavelmente, podem serutilizadas para uma visão geral,ainda que sempre com asnecessárias reservas.a) No século X ofeudalismo acha-se ainda emformação. Os vínculos feudaisforjam-se entre os grandesproprietários agrários e antigosaltos funcionários carolíngios(“duques”, “condes”) queconservam os vestígios de umaautoridade de Estado. Em níveldos camponeses, continuahavendo uma distinção claraentre livres e não livres. Os livres,bastante numerosos, dispõem de“alódios”, ou seja, depropriedades completamenteindependentes. Participam dajustiça. Se têm um “senhor”,podem trocá-lo quando odesejarem. O mesmo não sucedecom os vassalos. Numa palavraos vínculos feudais são fracos. Assolidariedades familiares oumorais também o são. Os traçosdo feudalismo estão apenasesboçados.b) A partir do ano 1000 até1150 podemos falar de feudalismoem ascensão. O sistemacomeça a se caracterizar. Adissociação que já havia chegadoao poder real, alcança agora opoder dos duques e dos condes.No alto há risco de anarquia, masna base, a vitalidade daexploração camponesa livretrouxe consigo uma renovaçãodemográfica – há muitos espaçosvazios, mas as terras facilmentecultiváveis estão superpovoadas– e uma renovação técnica;adota-se cada vez mais a bridarígida para o cavalo, o arado comrodas, a debulhação; cultiva-semais a cevada e a aveia, cereaisde introdução relativamenterecente.(...)c) De meados do séculoXII ao fim do século XIII, o regimefeudal europeu conhece seuflorescimento e seu apogeu; nãoobstante, o aumento das forçasprodutivas, sob os aspectos nosquais a sociedade feudal as haviacaptado, alcança então seuslimites; as contradições internasdo sistema fazem-se sentir e istoobriga as instituições e o direitoa cristalizarem-se, fixarem-se. Aevolução em profundidade atacaa lógica do mecanismo.(...)PARAIN, Charles. “Evolução do Sistema Feudal Europeu”. IN: SANTIAGO, Théo (org.) DoFeudalismo ao Capitalismo: uma discussão histórica. São Paulo: Contexto, 2000, p.20-36.A Questão da Terra na Idade MédiaOs senhoresA posse dos domínios territoriais era de três grupos distintos: a Igreja, a Coroa e anobreza. Os domínios da Igreja eram indivisos, ao contrário dos outros que sofriam divisõessucessivas devido a doações e partilhas sucessórias. Isto explica o fato de a Igreja possuira maior parte das terras do Ocidente cristão ao final da Alta Idade Média.22


Os trabalhadoresEncontramos, nas propriedades feudais, os camponeses. Temoscamponeses livre, não-livres e escravos. A tendência é que a partir do século XIIos encontremos em sua maioria na condição de servos. Estestrabalhadores colocavam-se sob o domínio dos seussenhores em troca de proteção e de um pedaço da terrapara usufruto pessoal. Para isto, sujeitavam-se aocumprimento de obrigações pessoais e encargos comodescreveremos no item abaixo, sobre as propriedadessenhoriais.Os domínios e os senhorios: a divisão internaVejamos como estavam divididas as propriedades do clero e da nobreza ao longoda Idade Média:a Alta Idade Média predominou a economia agráriadominial, baseada no modelo da villa romana. Nesteperíodo a grande propriedade era designada de domínio.O domínio era dividido em: terra indominicata (reservasenhorial) e terra mansionaria (mansus). Os mansus erampartes do território destinadas ao usufruto doscamponeses, desde quando estes cumprissem sua parteno contrato estabelecido com os seus senhores.As prestações pagas por servos ao senhor eramem forma de encargos em espécie e em dinheiro por anoe encargos em prestações de serviços na reserva(corvéia). O fundamento da economia dominial: prestaçãode serviços na reserva senhorial pelos camponeses livres,mas dependentes.No século IX este regime já encontrava-sedescaracterizado, sendo as corvéias substituídas pordinheiro.a Idade Média Central observamos a passagem da agricultura dominial para asenhorial. Segundo Hilário Franco Júnior o “senhorio era um território que dava a seudetentor poderes econômicos (fundiários) ou jurídicos-fiscais (banal)” e o feudo “era umacessão de direitos, geralmente, mas não necessariamente sobre um senhorio” (FrancoJúnior, 2001, p. 37). Portanto, não se deve confundir senhorio com feudo. O senhorio eraassim caracterizado: “era um território que dava a seu detentor poderes econômicos (senhoriofundiário) ou jurídico-fiscais (senhorio banal), muitas vezes ambos ao mesmo tempo (FrancoJúnior, 2001, p. 37)”.Durante este período observamos a diminuição das terras destinadas aoscamponeses, e os mansus foram transformados em tenências, lotes menores e com maioresencargos. Os encargos destinados aos camponeses eram de duas espécies:- Senhorio fundiário: censive (pequena renda fixa – censo) paga em dinheiro ouespécie. Mão-morta - transferência hereditária. Champart - proporcional ao rendimento dacolheita. Corvéia.23


HistóriaMedieval- Senhorio banal: taxas pelo uso de moinhos, lagar, forno, bosquesalbergagem, alojamento, multas e taxas judiciárias, talha.Com o seu poder ampliado devido ao poder banal sobre o senhorio,que agora o senhor passava a possuir, este acabava aumentando a exploraçãosobre os camponeses através da criação das taxas listadas acima.Verificamos também uma diminuição da reserva senhorial devido acriação de novas tenências, ao progresso das técnicas agrícolas que nãoexigiam necessariamente terras tão extensas para manter o mesmo nível de produção e acessão de feudos para os vassalos.Este foi um período marcado por um intenso crescimento da produção conseqüênciada ampliação da mão de obra e de terras e da difusão de diferentes técnicas (sistematrienal, charrua, força motriz animal, adubo mineral, moinho de água e de vento).Conhecendo as Fontes da HistóriaSobre a Organização Feudal:DIREITOS E DEVERES FEUDAIS (S. XI)A - De Fulbet de Chartres ao Duque de Aquitânia Guilherme V (1020)[...] Aquele que jura fidelidade ao seu senhor deve ter sempre presente na memóriaestas palavras: incólume, seguro, honesto, útil, fácil e possível. Incólume, na medida em quenão deve causar prejuízos corpóreos ao seu senhor; seguro, para que não traia os segredosou armas pelas quais ele possa manter em segurança; honesto, para que não enfraqueçaos seus direitos de justiça ou de outras matérias que pertençam à sua honra; útil, para quenão cause prejuízo às suas possessões; fácil ou possível, visto que não deverá tornar difícilao seu senhor o bem que ele facilmente poderia fazer, nem tornar impossível o que para eleseria possível.Todavia se é justo que o (vassalo) fiel evite estas injúrias, não será só por isto quemerece benefício; porque não é suficiente abster-se do mal, a menos que faça também oque é bom. Portanto, em adição conceder fielmente conselho e ajuda ao seu senhor nasseis coisas acima mencionadas, se deseja ser considerado merecedor do seu benefício edigno de confiança na fidelidade que jurou.O senhor deve, também, retribuir da mesma maneira todas estas coisas ao seu fiel.Se o não fizer, será como razão acusado de má fé, exatamente como seria (considerado)pérfido e perjuro (o vassalo) apanhado a fazer ou consentir tais prevaricações.Delisle, L. Recueil dês historiens dês Gaulês et de la France. Paris: s.n., 1874. v.X.p.463. Apud Espinosa, op. Cit., p.173.B - Na Inglaterra do século XIÉ permitido a qualquer um, sem punição, auxiliar o seu senhor, se alguém o ataca, eobedecer-lhe em todos os casos legítimos, exceto no roubo, no assassinato e naquelascoisas que não são consentidas a ninguém, sendo reconhecidas como infames pelas leis.O senhor deve proceder da mesma maneira com o conselho e ajuda; e deve ir emauxílio do seu homem em todas as vicissitudes, sem malícia.24


É permitido a todo senhor convocar o seu homem, que deve estar à sua direita notribunal; e mesmo que (o vassalo) seja residente no mais distante mansus e honor de quemo protege, deverá ir ao pleito se o seu senhor o convocar. Se o senhor possuir diferentesfeudos, o homem de uma honra não é obrigado por lei a ir a outro pleito, salvo se a causapertencer àquele para o qual o senhor o convocar.Se um homem está ligado a vários senhores e honras, não obstante o muito quedepende dos outros, deve mais e estará sujeito à justiça daquele de quem é o homem lígio[...] 1 Henrique I. In: Cheyney, E. P. Readings in English History drawn from the originalsources, IXXXXII, 3, 4. Boston, 1922 p.132. Apud Espinosa, op. cit., p.174-5. In: Apud PedreroSanchéz, p. 94-5.VASSALAGEM E INVESTIDURA (S. XII E XIII)A - [...] Na sexta-feira (7 de abril) foram de novo prestadas homenagens ao conde,as quais eram feitas por esta ordem, em expressão de fidelidade e garantia. Primeiroprestaram homenagem desta maneira: o conde perguntou (ao vassalo) se ele deseja tornarseo seu homem, sem reservas, ele respondeu: “Quero”; então, tendo juntas as mãos, colocaasentre as mãos do conde e aliaram-se por beijo. Em segundo lugar, aquele que haviaprestado homenagem jurou fidelidade ao porta-voz do conde, com estas palavras:“Comprometo-me por minha fé a ser fiel daqui por diante ao conde Guilherme e a cumpririntegralmente minha homenagem, de boa fé e sem dolo, contra todos”; e em terceiro lugar,jurou o mesmo sobre as relíquias dos santos. Finalmente, com uma varinha que seguravana mão, o conde deu a investidura a todos aqueles que por este fato tinham prestadolealdade, homenagem e juramento.Galberto Brugense. Vita Karoli Comitis Flandriae. In: M. G. H. Scriptores, t. XII. Hannover,1856. p.591. Apud Espinosa, op. cit., p. 172.B - Como um homem se pode fazer vassalo de outroUm homem se pode fazer vassalo de outro segundo o antigo costume da Espanha,desta maneira, outorgou-se por vassalo daquele que o recebe e, beijando-lhe a mão porreconhecimento de senhorio e ainda há outra maneira de fazer homenagem que é maisgrave porque por ela se torna um homem não somente vassalo de outro, mas fica obrigadoa cumprir aquilo que promete por postura. Homenagem tanto quer dizer como tornar-sehomem de outrem e se fazer como seu para dar-lhe segurança sobre a coisa que prometedar ou fazer, que a cumpra, e sta homenagem não somente tem lugar em pleito de vassalagemmas em todos os outros pleitos e posturas que os homens ponham entre si com intenção decumpri-las.De que maneira se deve dar e receber o feudo:Podem os senhores outorgar e dar o feudo aos vassalos desta maneira: ficando ovassalo de joelhos ante o senhor, deve colocar suas mãos entre as do senhor e prometerlhe,juramento e fazendo pleito e homenagem que será sempre leal e verdadeiro e que darábom conselho a cada um que o zelo ordenar e que não contará seus segredos e que ajudarácontra todos os homens do mundo a seu poder e que evitará seu dano e guardará e cumprirá¹ Vassalagem Total25


HistóriaMedievaltodas as posturas que com ele tratou por conta daquele feudo. E depois queo vassalo houver jurado e prometido todas estas coisas, o senhor deve investilocom um anel, ou com luva, ou com vara, ou com outra coisa daquele que dáem feudo ou colocar-lhe a possessão dele por si ou por homem certo a quemo mandasse fazer.Afonso X, o Sábio. Las Siete Partidas. Madrid: Boletín Oficial del Estado,1985. 3v. Ed. Fac-símile: Salamanca, 1555. p. 62 (VI, t. XXV, l.III) p.66 (IV, t. XXVI, l.III). In:Apud Pedrero Sanchéz, p. 96-7.O FEUDO (séc. XIII)Feudo é o benefício dado pelo senhor a algum homem porque se tornou seuvassalo e lhe fez homenagem de ser-lhe leal, tomou este nome da fé que deve o vassaloguardar ao senhor. São duas as formas de feudo: uma é a outorga, uma vila, ou castelo, ououtra coisa que se constitua um bem de raiz e este feudo não pode ser tomado do vassaloa não ser se falecer o senhor com o qual tratou ou se fizer algum erro pelo qual o devaperder, assim como é mostrado adiante. Outra maneira é o chamado feudo de câmara;este se faz quando o rei doa maravedís [moeda castelhana] a algum vassalo seu, todo anoem sua câmara, e este feudo tal pode o rei cancelar quando quiser.Afonso X, o Sábio. Las Siete Partidas (IV, t. XXVI, l. 1, op. Cit, p. 65). In: Apud PedreroSanchéz, p. 97-8.AS OBRIGAÇÕES DOS COLONOS (S. IX)Walafredus, um colonus e mordomo, e a sua mulher, uma colona [...] homens de St.Germain, têm 2 filhos [...] ele detém 2 mansos livres com 7 bunuaria 2 de terra arável, 6 acresde vinha e 4 de prados. Deve por cada manso uma vaca por ano, um porco no seguinte, 4denários pelo direito de usar a madeira, 2 modios 3 de vinho pelo direito de usar as pastagense uma ovelha e um cordeiro. Ele lavra 4 varas 4 para um cereal de Inverno e 2 varas para umcereal de Primavera. Deve corvéias, carretos, trabalho manual, cortes de arvores quandopara isso receber ordens, 3 galinhas e 15 ovos [...]Polyptyque de l‘abbé Irminon. Guénard, B. v.II,1844. p.6. Apud Espinosa, op. Cit.,p185. In: Apud Pedrero Sanchéz, p. 105-6.RENDAS E SERVIÇOS (S. XIII)[...] Os camponeses devem entregar ao vigário no tempo da colheita duas gavelaspor cada quatro de terra. E as darão segundo a lei tal como é costume, segundo o saláriodos ceifadores, a mesma coisa com relação ao feno. Devem entregar por cada quarto deterra o peso que um homem pode levar normalmente desde a casa do lavrador à do vigáriosem utilizar-se de artimanhas. Esta renda pagar-se-á desde São Martinho até o jejum. Quantoà mistura de trigo e centeio que devem abonar os camponeses, segundo o censo, é aseguinte: dois sectários por quarto, três medidas de aveia e um quarto de cevada ou misturade trigo e centeio. E se não quiserem entregar a mistura de uma só vez, ao entregá-laacrescentarão à quantidade indicada uma medida cheia e não rasa de cevada, acrescentarão2Bunuarium, medida de superfície correspondendo aproximadamente a um quarto de acre.3Modio, medida de capacidade variável segundo os locais da época. Em Portugal, equiparavam-se ao alqueire,oscilando entre 18 e 26 litros.4Cerca de 1,60 acre. A vara francesa era uma medida de superfície.26


uma medida colmada e de mistura de trigo e centeio em medida rasa. Sobre o feudo dojuiz, o vigário não tem jurisdição nem poder de embargo: nem tampouco o vigário temjurisdição nem o juiz poder de embargo sobre o feudo do despenseiro, nem do cozinheiro,guarda-bosques, pescador, coletor de censos, nem sobre os bosques senhoriais.Os homens do território de São Paulo não se casarão com mulheres de fora, enquantopossam encontrar do domínio mulheres com as quais possam casar legalmente. As mulheresficarão igualmente sujeitas a esta norma. E se o juiz ou o vigário tivessem infringido esta leipor qualquer razão, paguem ou abade ou ao preboste a multa determinada pela lei que é de60 soldos. E se o camponês tivesse agido sem consentimento deles pagará segundo a lei,e o homem ou mulher voltarão para a sua terra, sem recorrer a enganos.Charte de l´abbaye de Beaulieu em Limousin... Deloche, M. (Ed.). Paris, 1859. ApudImbert. J. Histoire des institutions et des faits sociaux. (X-XIX sèles) Paris: PUF, 1956. p.50.In: Apud Pedrero Sanchéz, p. 106-7.DIREITOS SENHORIAIS SOBRE OS SERVOS (1462)(Capítulo do Projeto de Concórdia entre payeses de remessa 5 e seus senhores).VI – Que seja suprimido o direito de maltratar o camponês:Item, em muitas partes do dito principado de Catalunha, alguns senhores pretendeme observam que os ditos camponeses podem justa ou injustamente ser maltratados à suainteira vontade, mantidos em ferros e cadeias e freqüentemente recebem golpes. Desejame suplicam os ditos camponeses que isto seja suprimido e não possam ser mais maltratadospor seus senhores, a não ser por meio de justiça.Respondem os ditos senhores que estão de acordo no que troca aos senhoresalodiais que não tem outra jurisdição a não ser aquela que afirma que o dito senhor podemaltratar o vassalo.VII – Que a mulher do camponês não seja obrigada a deixar seu filho sem leite paraalimentar o filho do senhor:Item, acontece às vezes que, quando a mulher do senhor pare, o senhor, à força,toma alguma mulher de um camponês como ama-de-leite sem pagamento nenhum, deixandoo filho do camponês morrer por não haver forma alguma de dar ao dito filho de outra parte,do qual se segue grande dano e indignidade e, assim, suplicam e desejam que isto sejasuprimido.Respondem os ditos senhores que estão de acordo e outorgam o que lhe é pedidopelos ditos vassalos no dito do capitulo.VIII – Que o senhor não possa dormir a primeira noite com a mulher do camponês:Item, pretendem alguns senhores que quando o camponês toma mulher, o senhor háde dormir a primeira noite com ela, e em sinal de senhorio, a noite em que o camponêsdeva contrair núpcias, a mulher, estando deitada, vem o senhor e sobe à cama, passandosobre a dita mulher e como isso é infrutuoso para o senhor e uma grande humilhação parao camponês, um mau exemplo e ocasião para o mal, pedem e suplicam que isto sejatotalmente abolido.Responderam os ditos senhores que não sabem nem acreditam que tal servidãoocorra no presente no principado, nem tenha sido jamais exigida por senhor algum. Se issoé verdade, como foi afirmado no dito capitulo, renunciam, rompem e anulam os ditos senhorestal servidão como coisa muito injusta e desonesta.IX – Do abuso de que o filho ou filha do camponês tenha que servir ao senhor, sempagar e sem remuneração.5Payeses de remessa: Trata-se dos camponeses da Catalunha os quais revoltaram-se contra os senhoresdurante o final dos séculos XIV e XV. Foram críticos os levantamentos 1413, 1448 e 1462, data deste documento.O desfecho final do conflito viria com a Sentença Arbitral de Guadalupe (1486) sob o reinado de Fernando, oCatólico.27


HistóriaMedievalItem, usam e praticam alguns senhores que quando o camponês temum filho ou filha já em idade de casar, forçam o camponês a deixar-lhe seufilho ou filho, para que lhe sirva algum tempo sem nenhum pagamento eremuneração do qual se seguem coisas desonestas e grande humilhação docamponês.Respondem os ditos senhores que já responderam acerca do presenteno capitulo VIII.In: Hinijosa, E. El Régimen Señorial y la cuestión agraria en Cataluña durante laEdad Media. Madrid, 1905. p.366-8. Apud Artola, op. Cit., p.78-9. In: Apud Pedrero Sanchéz,p. 108-9.[ ]Agora é hora deTRABALHARResponda as questões abaixo. Leia atentamente o enunciado antes de respondêlas.Você deve redigir um texto para cada uma das questões propostas (mínimo de 15 emáximo de 30 linhas).Critérios para a avaliação:- Clareza na exposição do tema proposto;- Domínio dos conceitos;- Articulação entre as diferentes partes do texto;1.- Argumentação.Analise o que foi e quais as principais conseqüências do progresso agrícola doOcidente, verificado entre os séculos IX e X, para:- O desenvolvimento de novas relações sociais entre a Igreja Católica, o campesinatoe a nobreza.- O desenvolvimento de novas formas de exploração da terra e organização dofeudalismo.- A expansão territorial e comercial do Ocidente.2. “O que se deve chamar de feudalismo ou termo correlato... é o conjunto da formaçãosocial dominante no Ocidente da Idade Média Central, com suas facetas política, econômica,ideológica, institucional, social, cultural, religiosa.” (Franco Júnior, A Idade Média: onascimento do Ocidente, SP: Brasiliense, 2001, p. 88). Discutir o conceito de Feudalismo,a partir da definição dada por Hilário Franco Júnior, apresentando os elementos quecaracterizam este modelo de sociedades na Europa Ocidental a partir do século X.28


APOGEU E TRANSFORMAÇÃONA EUROPA OCIDENTALA IDADE MÉDIA CENTRAL (SÉCULOS XI-XIII)A Sociedade FeudalÉ preciso destacar a importância da Igreja na consolidação do modelo de sociedadefeudal, pois é através do seu intermédio que se dá, segundo Franco Júnior, a conexão entreos vários elementos que compunham esta formação social. O autor lembra que a Igreja eraa maior detentora de terras e detinha o controle da vida dos indivíduos, além de ser alegitimadora das relações de suserania e vassalagem e da dependência dos servos emrelação aos seus senhores (Franco Júnior, 2001, p. 89).Que elementos caracterizam esta sociedade?- Podemos lembrar, em primeiro lugar, da ideologia da ordem, que leva a mesma aser pensada dentro de uma lógica de imutabilidade e dificulta a mobilidade social, além depromover a tradição e a obediência nas relações sociais.- Esta ideologia por outro lado, baseada na idéia de uma ordem celeste e imutávelque inspiraria o modelo de vida dos homens, deu origem a uma forma de divisão social emque uns oram, outros combatem e outros trabalham.Vamos definir cada um destes grupos:Mas, principalmente a partir da Idade Média Central, outros grupos começam a crescerdentro deste: eram trabalhadores assalariados, artesãos, burgueses, resultado dorenascimento comercial e urbano do período. Estas transformações viriam, séculos maistarde, alterar profundamente este modelo de sociedade.29


HistóriaMedievalConhecendo as Fontes na HistóriaSobre a Sociedade Estamental:AS TRÊS ORDENS (S. XI)“A sociedade dos fiéis forma um só corpo, mas o Estado compreendetrês. Porque a outra lei, a lei humana, distingue duas outras classes: com efeito, nobres eservos não são regidos pelo mesmo estatuto.(...)A casa de Deus, que acreditam uma, está, pois, dividida em três: uns oram, outroscombatem, outros, enfim, trabalham. Estas três partes que coexistem não suportam serseparadas; os serviços prestados por uma são a condição das obras das outras duas;cada um por sua vez encarrega-se de aliviar o conjunto. Por conseguinte, este triplo conjuntonão deixa de ser um; e é assim que a lei pode triunfar, e o mundo gozar a paz.(...)O povo celeste forma, portanto, vários corpos, e é a sua imagem que se encontraorganizado o povo da terra”.Adalbéron de Laon [bispo no império carolíngio – 977-1030]. Poema dirigido ao reiRoberto, o piedoso. In: Apud Pedrero-Sanchéz, p. 91-2.Sobre a Ordem da cavalaria:DOS CAVALEIROSOs defensores são um dos três estados, porque Deus quis que se mantivesse omundo: e assim como aqueles que rogam a Deus pelo povo são chamados oradores e osque lavram a terra e fazem aquelas coisas que permitem aos homens viver e manter-se,são chamados lavradores, outrossim, os que têm de defender a todos são chamadosdefensores. Portanto, os antigos houveram por bem que os homens que fazem tal obrafossem muito escolhidos porque para defender são necessárias três coisas: esforço, honrae poderio.Afonso X, o Sábio. Las Siete Partidas (II, t.XXI), op. Cit., p.70. In: Apud Pedrero Sanchéz,p. 99-100.A FUNÇÃO DO CAVALEIRO (S.XIII)Ofício de cavaleiro é manter e defender o seu senhor terrenal, pois nem o rei, nempríncipe, nem alto barão poderão, sem ajuda, manter a justiça entre seus vassalos. Por isto,se o povo ou algum homem se opõe ao mandamento do rei ou príncipe, devem os cavaleirosajudar o seu senhor, que, por se só, é um homem como os demais. E, assim, é mau cavaleiroaquele que jamais ajuda o povo do que o seu senhor, ou que quer fazer-se dono e tirara osestados do seu senhor, não cumprindo como ofício pelo qual é chamado cavaleiro [...]Ofício de Cavalaria é guardar a terra, pois por temor dos cavaleiros não se atrevemas gentes a destruí-las nem os reis e príncipes a invadir uns aos outros. Mas o cavaleiromalvado que não ajuda o seu senhor natural e terrenal contra outro príncipe é cavaleiro semofício [...]Raimundo Lúlio. Libro de la Ordem de Caballaría..., op. Cit., p.114-5. In: Apud PedreroSanchéz, p. 101.30


A PREPARAÇÃO DO CAVALEIRO (S. XIII)A ciência e a escola da Ordem da Cavalaria é que o cavaleiro mande ensinar o filhoa montar a cavalo, na sua mocidade, porque, se não aprender então, não o poderá aprenderna maioridade. Convém também que o filho do cavaleiro, quando escudeiro, saiba cuidardo cavalo; não convém menos que seja súdito antes de ser senhor e saiba servir a umsenhor, pois sem isto não conheceria, quando cavaleiro, a nobreza do seu senhorio. Poresta razão o cavaleiro deve submeter o seu filho a outro cavaleiro, para que aprenda aadereçar e guarnecer as demais coisas que pertencem à honra de cavaleiro.Raimundo Lúlio. Libro de la Ordem de Caballaría..., op. Cit., p.111. In: Apud PedreroSanchéz, p. 101-2.A Expansão Populacional e Territorial: As CruzadasA Igreja e as CruzadasUm dos elementos que caracterizam as Cruzadas na história do Ocidente cristão é asua relação com o projeto de ampliação do poder da Igreja, que a mesma põe em ação naIdade Média Central. Remete à tentativa da Igreja de estabelecer uma teocracia papal. Elabusca a autonomia perdida desde a intervenção do Império carolíngio em seus assuntosinternos. Além disto, pretende ampliar o seu poder sobre a sociedade em geral, através dofortalecimento do poder papal.O crescimento econômico que marcou a Europa neste período levou muitos cavaleirosa iniciarem movimentos de saques contra os camponeses e muitas vezes contrapropriedades da Igreja. Esta então organizou dois movimentos visando a pacificação e ocontrole sobre estes cavaleiros e a sociedade em geral. O primeiro foi a Paz de Deus, cujoobjetivo era impedir abusos por parte dos cavaleiros contra as pessoas não armadas(clérigos e camponeses) e seus bens. Os cavaleiros eram pressionados a jurar sob relíquiasque respeitariam as igrejas, os membros do clero e os bens dos humildes, sob pena deexcomunhão. Este movimento durou até 1040, mas não foi capaz de pacificar a Europa.A Igreja, então, investiu em um novo movimento que ficou conhecido como a Tréguade Deus que determinou a proibição do uso de armas alguns dias da semana e de lutas emcertos momentos do calendário litúrgico – Advento, quaresma, Páscoa, Pentecostes.Sem conseguir pacificar a sociedade, mas tendo adquirido bastante respeito e poderatravés destes movimentos a Igreja passa a pregar a Guerra Santa que buscavaprincipalmente preservar a ordem religiosa, social e política. Em fins do século XI derivapara a idéia de Guerra Santa, que procurava impor a ordem dentro (Cruzada contra hereges)e fora (Cruzada contra muçulmanos) da Cristandade (Franco Júnior, 2001, p. 74-5). Assim:- Por aproximar a ordem terrestre da celeste, através da manutenção da paz oclero considerava-se autorizado a exercer o domínio sob os homens.- As Cruzadas funcionariam como elemento de pacificação interna da Europalevando para fora dela a nobreza feudal.- Seus participantes seriam agraciados com a remissão dos pecados, a proteçãoeclesiástica sobre famílias e bens, a suspensão do pagamento de juros (franco Júnior, 2001,p. 75). A pregação conclamando os europeus a participarem da primeira cruzada foi feitana cidade de Clermont, em 1096, pelo papa Urbano II.31


As CruzadasHistóriaMedievalAs Cruzadas também estão relacionadas ao:- Movimento de peregrinação dos cristãos a Terra Santa;- Ao avanço turco, islamizados, em direção ao Império Bizantino que faz com queseus imperadores solicitem auxílio do Ocidente;- Ao propósito dos papas de recuperar o controle de Jerusalém e unificar as Igrejascristãs do Ocidente e Oriente sob o domínio da Igreja de Roma;- Ao interesse comerciais das cidades italianas no Oriente.Delas resultaram:- A fundação de reinos com características feudais nos territórios bizantinos, masque tiveram vida breve;- A fundação de Ordens Militares como a dos Templários e a dos Hospitalários.Vamos a um breve resumo das cruzadas e de suas conseqüências:1ª Cruzada (1096-1099): “Cruzada dos Nobres” – em 1099 ocorre a tomada deJerusalém e funda-se o reino latino de Jerusalém (Síria e Palestina) sob o governo deGodofredo de Bulhão. A defesa do reino é feita por ordens militares e religiosas – osTemplários, os Hospitalários e os CavaleirosTeutônicos.“Cruzada Popular” – em 1096 pobresjuntamente com Pedro, o Eremita, alcançampenosamente a Ásia Menor, onde forammassacrados pelos turcos.2ª Cruzada (1147-1149): empreendecombate aos turcos seljúcidas que ameaçam oreino latino de Jerusalém. Os líderes destacruzada foram o rei Luís VIII, da França, e32


Conrado III, Imperador Germânico. Os cruzados foram derrotados e retornaram para aEuropa.3ª Cruzada (1189-1192) – reação dos reis cristãos – Filipe Augusto, da França,Ricardo Coração de Leão, da Inglaterra e Frederico Barba Roxa, do Sacro ImpérioGermânico – contra a tomada da Síria, do Califado do Egito e de Jerusalém pelo SultãoSaladino. Os reis cristãos tiveram algumas vitórias, mas não conseguiram reconquistarJerusalém. Ali foi feito um acordo, a cidade permaneceria sob domínio islâmico, mas oscristãos teriam livre acesso a mesma.4ª Cruzada (1202-1204) – esta foi a principal cruzada do ponto de vista dasconquistas comerciais do ocidente. Foi transformada numa verdadeira empresa comercialpelos mercadores de Veneza. Seu objetivo inicial de ajuda aos bizantinos na retomada dopoder em Constantinopla não foi realizado. Ali os cruzados empreenderam saques contraos bens cristãos da cidade e fundaram o Império Latino do Oriente, em 1204. Em 1261 osgregos expulsaram os cruzados que abandonaram Antioquia e Trípoli, permanecendo noPeloponeso, Rodes e Chipre.5ª Cruzada (1217-1221) e 6ª Cruzada (1228-1229).7ª e 8ª Cruzadas – foram organizadas pelo rei da França, Luís IX (São Luís). Nasétima cruzada o rei foi preso no Egito, morrendo de peste durante a oitava juntamente como seu exército nas proximidades de Tunis, no norte da África.Conhecendo as Fontes da HistóriaA PREGAÇÃO DA QUARTA CRUZADA (1198)Sabei que mil cento e noventa e sete anos depois da encarnação de Nosso SenhorJesus Cristo, no tempo de Inocêncio (1198-1216), Apóstolo de Roma, e Felipe (1180-1223),Rei de França, e Ricardo (1189-1199), Rei da Inglaterra, havia em França um santo homemchamado Foulques de Neuilly. Ele era padre e pároco dessa vila. Este dito Foulques começoua falar de Deus através da França e das outras religiões à sua volta; e sabei que por eleNosso Senhor fez muitos milagres.Sabei que a fama deste santo homem cresceu tanto, que chegou até o Apóstolo deRoma, Inocêncio, e o apóstolo deu ordem para França e mandou ao bom homem quepregasse a cruz por sua autoridade. E depois disto [o papa] enviou um seu cardeal, denome Mestre Pedro de Cápua, já cruzado, mandando por ele o perdão, tal como vos voudizer: todos aqueles que tomassem a cruz e fizessem o serviço de Deus na hoste por umano ficariam quites de todos os pecados que tivessem feito e de que estivessemconfessados. Como este perdão era tão grande, os corações dos homens ficaramgrandemente tocados e muitos tomaram a cruz. 6Geoffroy de Villehardouin. La conquête de Constantinople. In: Pauphilet, A. (org.)Historiens et chroniqueurs du Moyen Âge. Paris: Bibliothèque de la Pléiade, 1952. p.97. In:Apud Pedrero Sanchéz, p. 86-7.A TOMADA DE JERUSALÉM PELO CRONISTA IBN AL-ATHIR (1187)Após a queda de Jerusalém – narra ibn al-Athir – os franj (cruzados) vestiram denegro, e partiram alem dosa mares a fim de pedir ajuda e socorro em todos os países,particularmente em Roma, a Grande. Para incitar as pessoas à vingança levavam um desenho33


HistóriaMedievalrepresentando o Messias, que a paz esteja com ele, todo ensangüentado,como um árabe que o moia de pancadas. Eles diziam: Olhai! Eis o Messias,e eis Maomé, profeta dos muçulmanos, que o espanca mortalmente!Comovidos os franj se uniram, inclusive as mulheres, e aqueles que não podiamvir, pagaram as despesas daqueles que iriam bater-se em seu lugar. Um dosprisioneiros inimigos me contou que era filho único e que sua mãe tinha vendidoa própria casa para lhe fornecer o equipamento. As motivações religiosas epsicológicas dos franj eram tais que eles estavam prontos a vencer quaisquer dificuldadespara chegar aos fins.Ibn-al-Athir. In: Maalouf, op. cit., p.193. In: Apud Pedrero Sanchéz, p. 88-9.O Renascimento Comercial e UrbanoRenascimento ComercialAs transformações na agricultura da EuropaOcidental a partir do século X levaram à produção deum excedente agrícola que gerou o revigoramento docomércio na região. Isto levou a um amplo crescimentodemográfico e urbano na região: havia mais mão-deobrae melhor qualidade na alimentação o que ampliavacada vez mais a produção.O crescimento demográfico e urbano gerou aampliação das atividades artesanais em cidadespróximas a rios e estradas, produzindo um progressoeconômico. E o que resultou disto? Vejamos:- Desenvolvimento do comércio marítimo e fluvial.- Surgimento e o renascimento de muitas cidadeseuropéias. Este processo era resultado do povoamentodos pontos de encontros das atividades comerciais -feiras, estimuladas por reis e nobres, através daemissão de salvo-condutos para os mercadoresgarantindo a sua segurança na região.- Desenvolvimento da indústria da construção (igrejas,mosteiros, castelos, palácios, prédios públicos e militares).- Desenvolvimento da indústria têxtil: panos de lã em Flandres, Itália e Inglaterra.- Organização da produção nas cidades através das corporações de ofício.- Monetarização da economia, promovendo o retorno da circulação da moeda.- Nascimento das atividades bancárias: nasce na Itália - câmbio, depósitos,empréstimos, transferências, crédito.34


Renascimento UrbanoSegundo Jacques Le Goff as cidades medievais nasceram como sucessoras dasantigas cidades, devido ao despertar da vida comercial e do desenvolvimento agrícola doOcidente, desenvolvendo-se a partir desta função econômica: renovação das trocas demercadorias. Nasceram ao longo dos rios ou estradas freqüentadas por comerciantes,também por iniciativa senhorial, para poder taxá-las, ou de um entreposto comercial ou deum mercado rural (Le Goff, 1995, p. 102-13).Estas cidades foram também importantes espaços de trocas das grandes rotascomerciais. Aqui identificamos algumas destas cidades:. Veneza e Gênova – cidades italianas, com parcas possibilidades agrícolas queempurram-nas para as atividades mercantis. As Cruzadas promoveram o seu crescimentopelo Extremo Oriente (especiarias, seda, perfumes), mar Egeu e mar Negro (matéria primapara indústria têxtil).. Hansa Teutônica – associação formada por cidades alemãs do norte, ligada aexpansão germânica sobre a Europa oriental. Em 1161, mercadores alemães criaramassociações, que em meados do séc. XIV transformaram-se em associações de cidades.O eixo que caracterizou as atividades comerciais por elas desenvolvidas foi:- Novgorod-Reval-Lubeck-Hamburgo-Bruges-Londres.- Eram comercializados: mel e cera da Rússia, trigo e madeira da Polônia e da Prússia,minerais da Hungria, peixe da Noruega e da Islândia, cobre e ferro da Suécia, vinho daAlemanha do sul, sal da França e de Portugal, lã da Inglaterra e tecidos de Flandres.Os pontos de encontros entre o eixo mediterrânico, controlado pelas cidades italianas,e o eixo nórdico, controlado pelas cidades alemãs eram as feiras e os burgos, como o deChampanhe, que deu origem a uma cidade.As cidades são também áreas de produção “industrial”, ampliadas pelodesenvolvimento do artesanato urbano, devido as crescentes necessidades de umapopulação (rural e urbana) em expansão e mais exigente. Temos o desenvolvimento daindústria têxtil -Flandres, Itália e Inglaterra -, e da construção.Devido às atividades artesanais e comerciais que ocorriam com cada vez maiorintensidade nas cidades, vamos encontrar nestas a formação de corporações de ofícios,que derivaram de confrarias religiosas, destinadas a devoção e caridade. Estas corporaçõesgeneralizaram-se após 1120. As mais antigas eram de mercadores e as mais recentes deartesãos. Elas funcionavam como um conjunto de oficinas com monopólio da atividadecomércio ou artesanal para impedir concorrência.A leitura de dois textos, Le Goff (1995, p. 87-140) e Franco Júnior (2001, p. 36-46)em especial permitiram a seleção das informações acima sobre o comércio e as cidades.Vale a pena você ampliar seus conhecimentos recorrendo a eles.Conhecendo as Fontes da HIstóriaAPARECIMENTO DE UM BURGO: BRUGES (SÉC. XIII)[...] Com a continuação, para satisfazer as faltas e necessidades dos da fortaleza,começaram a afluir diante da porta, junto da saída do castelo, negociantes, ou sejam,35


HistóriaMedievalmercadores de artigos custosos, em seguida taberneiros, depois hospedeirospara a alimentação e albergue dos que mantinham negócios com o senhor,muitas vezes presente, e dos que construíam casas e preparavam albergariaspara as pessoas que não eram admitidas no interior da praça. O seu dito era:“vamos à ponte”. Os habitantes de tal maneira se agarravam ao local que embreve aí nasceu uma cidade importante que ainda hoje conserva o seu nomevulgar de ponte, porque brugghe significa ponte em linguagem vulgar.Jean Lerlong, cronista de Saint-Bertin. In: Gothier, L., Etroux, A. (ED.) Recueils detextes d histoire pour l enseigement secondaire. T. II, p. 105. Apud Spinosa, op. cit, p. 199.In: Apud Pedrero Sanchéz, p. 149-50.A Cultura Medieval e a Influência da Igreja CatólicaA cultura e a arte na Idade Média desenvolvem-se principalmente no ambientemonástico. Segundo Hilário Franco Júnior, na Idade Média Central o primado culturaltransferiu-se dos mosteiros para as cidades, principalmente no ensino e na arquitetura(Franco Júnior, 2001, p. 102-122).EDUCAÇÃODevido ao crescimento das cidades e dos grupos sociais nela existentes, vemos apartir do século XI as escolas urbanas ganharem mais destaque que as monásticas,transformando-se em universidades no século XIII, que funcionavam como corporaçõeseclesiásticas.O método de estudo destas escolas urbana era a escolástica. A escolástica consistianum “conjunto de leis sobre como pensar determinado assunto” (Franco Júnior, 2001, p.118).Quais eram estas leis? Vejamos o que nos diz este autor:A - Leis de linguagem para buscar o sentido exato da palavra;B - Leis de demonstração usando a dialética, uma forma de provar certa posiçãorecorrendo a argumentos contrários;C - Lei da autoridade, recurso a fonte cristã e do pensamento clássico para fundamentaras idéias defendidas;D - Leis da razão: utilizável para uma compreensão maisprofunda. .As etapas de estudo eram:. Lectio, leitura, comentário e análise do texto.. Disputatio ou debate sobre o assunto.Também verificamos neste período a revalorização doestudo do direito antigo, devido à necessidade das monarquiasnascentes e da população urbana, e da medicina, num lentoprocesso de dessacralização da natureza, que permitiu aampliação dos estudos.36


- Anterior a Idade Média Central: Arte românica. Esta arte marca o período posterioras invasões dos normandos, islâmicos e húngaros – séculos XI e XII, terminando por voltade 1140-60. Inúmeras igrejas foram construídas. O que caracteriza este estilo artístico?Vejamos:Não havia arte pela arte, feita pelo seu valor estético e sim eram elaboradas comfinalidade exclusivamente didática, marcada pelo simbolismo. Arte arquitetônica expressana construção de templos a idéia de construir “fortalezas de Deus” (largas paredes, grossospilares e poucas janelas), transmitindo a idéia de que somente dentro da igreja (edifícioreligioso) e da Igreja (instituição) era possível a salvação (Franco Júnior, 2001, p. 111).- Idade Média Central: Arte gótica. O estilo gótico resultou do renascimento urbanoe comercial verificado na Europa. Este estilo nasce por volta de 1140, no sul da França, e aprimeira experiência verificou-se na construção da basílica de Saint-Denis (1132-44). Ocorreuum desenvolvimento importante da arquitetura que levou as igrejas góticas a elevarem-se“a grandes alturas”, verificando-se também a introdução de vitrais, arcos ogivais e rosáceas.A escultura também adquire função decorativa e pedagógica (Batista Neto, 1988, p. 215).Neste período a arte não deixa de ser religiosa, inclusive estará sempre ligada aosagrado, mas há influência da cultura popular na sua elaboração, da burguesia local e damonarquia. Quais as suas características? Vejamos:. Novas necessidades espirituais e práticas,ligadas a valorização da relação entre fé e razão, e acultura que está se desenvolvendo nas escolas urbanas.. Deus como luz (vitrais) e valorização do seu ladohumano (culto à Virgem); valorização da natureza comoparte essencial da criação (realismo). Arquitetura buscaequilíbrio entre a vida ativa e a contemplativa (FrancoJúnior, 2001, p. 111).Conhecendo as Fontes da HistóriaA ARTE DAS CATEDRAIS:ENTUSIASMO NA CONSTRUÇÃO DACATEDRAL DE CHARTRES (1145)Neste mesmo ano, os homens começaram a levar até Chartres os carros cheios depedra e madeira, víveres e outras coisas, para a obra da igreja cujas torres estavam entãosendo construídas. Quem não viu estas coisas, jamais verá lago semelhante! Não só lá,mas também através de toda a França, Normandia e muitos lugares: aqui a humildade e aaflição, ali a penitência e a remissão dos pecados, lá a dor e a contrição. Vós teríeis vistoas mulheres e os homens – com os joelhos nos charcos profundos, açoitando-se, os milagresa se reproduzirem – entoando cânticos e clamando alegremente a Deus. A respeito desteacontecimento singular, existe uma carta de Hugo, arcebispo de Ruão, a Teodorico, bispode Amiens, informando-o do ocorrido. Dir-se-á que se cumpriu a profecia: Spiritus vitaeerat in rotis.Robert de Torigny. Chronique...IN: delisle, E. (Ed.), 1872. p.238. Apud Calmette, op.cit., p.311. In: Apud Pedrero Sanchéz, p. 114-5.37


HistóriaMedievalA IGREJA E A UNIVERSIDADE:A IGREJA E A “LICENTIA DOCENDI”(III CONCÍLIO DE LATRÃO –1179)A Igreja de Deus, como uma mãe piedosa, é obrigada a velar pelafelicidade do corpo e da alma. Por esta razão, para evitar que os pobrescujos pais não podem contribuir para o seu sustento percam a oportunidade de estudar eprogredir, cada igreja catedral deverá estabelecer um benefício suficientemente largo parapromover as necessidades de um mestre, o qual ensinará o clero da respectiva igreja e,sem pagamento, os escolares pobres, como convém [...] Ninguém deverá levar dinheiropela concessão da licentia docenti, 7 nem exigir nada dos professores (como era habitualanteriormente); também não poderá ser negada a licença para ensinar a nenhum solicitantequalificado.Todo aquele se opuser a esta lei perderá o seu beneficio eclesiástico. Por isso parecejusto que quem quer que por cobiça tente impedir os interesses da igreja vendendo a licentiadocendi seja privado do fruto do seu trabalho na Igreja de Deus.Chartularium Universitais Parisiensis, I, n.12. In: Thorndike, L. University Recordsand Life in Middle Ages. New York: Columbia University Press, 1944. p.10. Apud Espinosa,op. Cit., p.234. In: Apud Pedrero Sanchéz, p. 181-2.CONDIÇÕES PARA SER MESTRE EM ARTESNA UNIVERSIDADE DE PARIS (1215)Ninguém poderá ser leitor em Artes, em Paris, antes de ter 20 anos de idade; deveráter ouvido leituras pelo menos durante seis anos antes de começar a lecionar e prometeráler pelo menos durante dois anos, salvo por impedimento com causa razoável, a qual deverárevelar publicamente ou perante examinadores. Não deverá estar manchado por nenhumainfâmia e quando estiver pronto a ler deverá ser examinado de acordo com a forma exaradana carta do senhor bispo de Paris, onde está contida a paz confirmada entre o chanceler eos escolares, pelos juizes delegados pelo papa [...] E lerão nos livros de Aristóteles, naantiga e nova Dialética, ordinariamente nas escolas e não ad cursum. 8 Lerão, também, emambos os Priscianos, 9 ordinariamente, ou pelo menos em um deles. Não lerão nos diassantos, exceto nos filósofos e em Retórica e no Quadrivium e nos Barbarismus, 10 e nasÉticas se lhe agradar, e no quarto livro dos Tópicos. Não lerão nos livros de Aristóteles deMetafísica e Filosofia Natural 11 ou nos seus sumários ou no que respeita à doutrina de mestrede Dinant ou do herético Amaury ou Mauritius de Espanha. 12Chartularium Universitatis Parisiensis, l, 78. In: Lynn Torndike. University Recordsand Life in the Middle Ages. New York: Columbia University Press, 1944. p.27-8. ApudEspinosa, op. Cit., p.239. In: Apud Pedrero Sanchéz, p. 182-3.7Esta licença para ensinar costumada ser conferida, no século XII e nas escolas catedralícias, pelo arcediago oupelo scholasticus, seus dirigentes.8As leituras ad cursum eram feitas à tarde, enquanto de manhã realizavam-se as leituras pelos mestres de maiorcategoria.9Priscianos, gramático do s. IV. Sua obra estava dividida em duas partes: Priscianus Maior (livro 1-16) e PriscianosMinor (17 e 18).38


[ ]Agora é hora deTRABALHARResponda as questões abaixo. Leia atentamente o enunciado antes de respondêlas.Você deve redigir um texto para cada uma das questões propostas (mínimo de 15 emáximo de 30 linhas).Critérios para a avaliação:- Clareza na exposição do tema proposto;- Domínio dos conceitos;- Articulação entre as diferentes partes do texto;1.- Argumentação.Segundo Hilário Franco Júnior:“(...) Como a idéia básica da Paz e da Trégua de Deus era a preservação da ordemreligiosa, social e política desejada por Deus, entende-se que a partir de fins do século XIela tenha derivado para a idéia de Guerra Santa, que procurava impor aquela ordem dentro(...) e fora (...) da Cristandade. Assim estaria garantida a ordem terrena, cujo ideal é refletiro melhor possível a ordem celeste. Por ter aproximado os dois mundos, o clero consideravaseautorizado a exercer seu domínio sobre este, enquanto se aguarda a chegada do outro”.(Franco Júnior. Idade Média: o nascimento do Ocidente, SP: Brasiliense, 2001, p. 75).Para Le Goff:“... a Igreja e o papado calculavam que, graças à cruzada cuja direção espiritualassumiam, iriam dar-se meios para dominar no próprio Ocidente aquela Respublicachristiana, conquistadora mais turbulenta, dividida contra si própria ...” (Le, Goff. A Civilizaçãodo Ocidente medieval, vol 1, Lisboa: Estampa, 1995, p. 101).® Com base nas afirmações acima comente a importância da Reconquista Ibérica edas2.Cruzadas para o fortalecimento do poder papal e da idéia da Cristandade no Ocidente.Comente as principais características do renascimento urbano e comercial ocorridoentre os séculos XI-XIII na Europa cristã Ocidental.39


HistóriaMedievalA BAIXA IDADE MÉDIA (SÉCULOS XIV-XVI)A Guerra dos Cem anos e a Importância para o Processo deFormação dos Estados Nacionais (França e Inglaterra)A Guerra de Cem Anos foi um longoconflito entre a Inglaterra e a França quedurou de 1337 a 1453 e sua primeira fasecoincidiu com uma crise provocada por máscolheitas gerando fome e epidemias naFrança. Vários conflitos nas relações entretais territórios poderiam levar a guerra:1ª Posse de regiões feudais pertencentesa dinastia normanda – dos plantagenetas –da Inglaterra em território francês. NoTratado de Paris, assinado em 1259,eles haviam abandonado aspretensões sobre a Normandia,Maine, Anjou, Touraine e Poitou,conservando, porém a Gasconha. Osenhor da Gasconha era, portanto, orei da Inglaterra.2ª A pirataria, com queixaslevadas aos soberanos dosdois lados;3ª A região de Flandres:que economicamente estavasubordinada à Inglaterra epoliticamente a França, poisseu conde era vassalo do reifrancês.4ª O conflito mais importante e quedeterminou o início da guerra: a sucessão aotrono francês. Morreu o último soberanofrancês, Carlos IV, em 1328, sem deixarherdeiros. A coroa passou a um primo do reifalecido, Filipe VI, mas Eduardo III, daInglaterra também tinham pretensões aotrono por ser sobrinho do rei.A guerra entre os dois reinos iniciouse1337 com a confiscação da Gasconha.Em 1360 foi assinado o Tratado de Brétignyque põe fim a primeira fase da guerra. O reiinglês desistiria as suas pretensões à coroafrancesa, recebendo em troca a suseraniasobre o ducado da Aquitânia, o Condado dePonthieu e o território que circulavaCalais.A segunda fase da guerrainiciou-se com a ação de Carlos Vd aFrança que recuperou boaparte do território meridionalperdido para os ingleses. Soba liderança de Henrique V aInglaterra iniciou a ocupação. CarlosVII iniciou a resistência aos invasorese dela participou Joana D’Arc. Aguerra terminou em 1453 com aexpulsão dos ingleses daNormandia.A guerra ajudou a Françae a Inglaterra a organizarem seusexércitos nacionais, a fortalecero poder real e diminuir a forçadas relações feudais. NaFrança o sofrimento produzidopela guerra da origem aosentimento nacionalista e a mesmaconsolidou as fronteiras do território francês(Batista Neto, 1988, 178-203). A idéia deEstado-nação se consolida no plano práticopelo desenvolvimento dos exércitosnacionais e do desenvolvimento doprotecionismo econômico e no planosimbólico pelo surgimento de bandeiras,conceito de fronteiras, língua nacional. Isto éo que verificamos na França durante a guerra(Franco Júnior, 2001, p. 51).40


Conhecendo as Fontes da HistóriaO PODER REAL E A NOBREZA (S. XIII)Para isto vos falamos, em vários lugares deste livro, do soberano e do que pode edeve fazer; alguém poderia não compreender o que nós denominamos conde ou duque,que foram feitos pelo rei; mas em todos os lugares, onde o rei não foi nomeado, nósescutamos daqueles que se apagam os baronatos que cada barão é soberano em seubaronato. Visto que o rei é soberano acima de todos e tem o direito à guarda geral do seureino, por isso ele pode fazer todas as normas (leis), como lhe aprouver, para o proveitocomum, e o que ele estabelece deve ser observado. E assim não há ninguém tão grandeabaixo dele, que não possa estabelecer-se na sua corte por falta de direito ou falso julgamentoem tudo o que diz respeito ao rei. E, porque ele é soberano acima de todos, nós oreconhecemos quando falamos de alguma soberania que lhe pertence.Ninguém pode fazer novas leis, nem deve estabelecer por direito, nem novosmercados, nem nova imposições, fora do rei no reina da França, com ou sem necessidade,pois cada barão, tendo necessidade, pode colocar as mercadorias de seus súditos comonós dissemos acima; mas ele não pode fazer novos mercados, nem novas imposições semo consentimento do rei. Mas o rei pode bem fazê-los quando ele o quiser e quando ele virque é para o bem comum [...]Deve-se saber que o rei faz alguma norma nova (lei) para o bem comum, ele nãoprejudica as coisas que foram feitas no passado nem as coisas do momento presente,enquanto a norma estabelecida seja obrigada a se manter. Mas, uma vez estabelecida,deve-se manter firmemente da maneira que foi estabelecida, durante todos os dias até serderrogada. E, se alguém for contra a norma receberá uma multa, segundo o estabelecidopelo rei ou por seu conselho; pois quando ele faz as leis, também determina a multa paraaqueles que possam ir contra o estabelecido e taxado pelo rei. E cada um dos barões ououtro qualquer que tem jurisdição em suas terras e cobram as multas de seus súditos, queinfringem as leis, segundo a taxação que o rei fez; devem entender que mantêm em suasterras o estabelecido pelo rei, e se são rebeldes ou negligentes, o rei, por causa das suasfaltas, podem interferir e cobrar as multas que correspondem.Beaumanoir. Costumes de Beauvaisis... Salmon, A. (Ed.). Paris, 1900, t.II. p.23-4.Apud Imbert, op. cit., p.81-2. In: Apud Pedrero Sanchéz, p. 221-2.A UNÇÃO REAL[Cap. LXXX]... O que quer que seja dito dos outros reis, parece que ninguém deveduvidar que o rei da França possui graças especial do Santo Espírito pela santa unção;pois uma vez que é especialmente ungido de forma mais maravilhosa que qualquer outrorei, da mesma maneira, antes de qualquer outro, ele recebe a graça do santo Espírito porunção especial, pois ele é ungido da Santa Ampola, a qual foi enviada pelo anjo do céu. Épor isso que os reis da França não são somente ungidos pela ordem humana: mas sãoungidos, consagrados e coroados pela ordem do Pai, do Filho e do Espírito Santo.Le songe du Verger. In: Brunet, J.L., Dupuy, P. (Ed.) Traitez des droits et libertés del‘Église galicane, t.ll. p.78-80. Apud Imbert, op. cit., p.74. In: Apud Pedrero Sanchéz, p. 228.41


HistóriaMedievalA Formação do Estado PortuguêsFaremos abaixo um breve resumo sobre a história política daorganização do Estado português, a partir das informações fornecidas porOliveira Marques, importante historiador português, em Breve História dePortugal (Oliveira Marques, 1995, p. 33-77). Precisamos lembrar a você trêselementos importantes desta história:1º - A importância da guerra da Reconquista Ibérica, que permite a organização doterritório que não existia até então e a origem e consolidação do poder dos reis portuguesesque controlam todo o processo de tomada do território das mãos dos islâmicos.2º - Portugal resultou da junção entre duas áreas distintas – o norte, que manteve-secristão e feudal durante todos os séculos de penetração dos árabes na península, e o sul,ocupado durante séculos pelos árabes, que ali depositaram sua cultura e modelo desociedade. Isto foi muito importante para o seu sucesso como Estado centralizado e suaparticipação nas navegações marítimas, pois se associou às riquezas e o saber guardadosno sul do território ao modelo de sociedade monárquica e cristã do norte.3º A participação da dinastia de Borgonha, a primeira realeza portuguesa, queconsolidou o poder real e organizou as instituições que caracterizaram o Estado portuguêsmoderno – fronteiras, língua, leis, cultura e educação, cristianismo, divisãosocial.A Formação do Estado Português e a Reconquista Ibérica:42


Veremos aqui as etapas que caracterizam a formação do território português:A - Doação do antigo condado Portucale ao nobre francês Henrique de Borgonha,como uma concessão feudal por sua participação na guerra da Reconquista.· Portugal teve sua origem na parte meridional da Galícia, uma região dependente doreino das Astúrias. Esta região tinha, no início do século X, o status de condado. Foi outorgadaa Henrique de Borgonha, entre 1096-97, por casamento com Teresa, filha ilegítima de AfonsoVI de Leão e Castela.B - Passagem do condado de Portucale a reino de Portugal - feudal:· Afonso Henrique, filho do casal, passa a utilizar o título de rei em 1139, após derrotarsua mãe, os galegos e os almorávidas, embora ainda submetido em alguns aspectos aAfonso VII, imperador de Leão. Seu reino foi reconhecido em 1143 através do tratado deZamora. Inicia-se a dinastia de Borgonha que vai de D. Afonso Henriques a Fernando I quereinou até 1383.· Afonso VII declara-se imperador em 1143, D. Afonso Henrique encaminhadeclaração ao papa Inocêncio II constituindo-se consual da Igreja de Roma (só reconheceuautoridade papal e paga a Roma tributo anual). Em 1179 o papa reconheceu o rei de Portugal.Depois de garantido o seu poder real, Afonso Henrique concentrou seus esforços nareconquista, conquistando Lisboa em 1147, com a ajuda de cruzados alemães e ingleses.E a reconquista do território, como se deu? Esta era agora a preocupação principalde Afonso Henrique, tendo como fiel ajudante a Igreja Católica através de suas ordensreligiosas.· Reconquista do território:- Povoamento das terras ao sul do Tejo com a ajuda dos Templários; Ao norte do rioé confiada aos monges de Cister, cujo centro ali era a grande Abadia de Alcobaça. AfonsoHenrique permanece expandindo-se em direção a Badajoz, ocupando-a em 1170. Em 1185,por ocasião da morte deste rei, seu reino abrangia dois terços de Portugal moderno.- Reconquista recomeça em 1220, estando completa em 1249, quando a última partede Algarve se rendeu a Afonso III.C - A última fase de organização das fronteiras do território de Portugal coincidecom o período de busca da independência das relações feudais mantidas como os reinosde Leão e Castela. Este é também um período marcado pela atuação dos demais reisdesta dinastia visando a consolidação do Estado português.Vejamos algumas das principais realizações do período de reinado da dinastia deBorgonha:· Século XIII: período de consolidação do Estado português, resolução do conflitoentre poder temporal e espiritual, e afirmação da monarquia nacional frente aos grupossociais que formavam Portugal.43


HistóriaMedieval· Com Sancho I (1195-1211) o repovoamento, com Afonso II (1211-1223)o enfrentamento da nobreza feudal com apoio eclesiástico. Afonso III (1248-1279) abole definitivamente os direitos feudais de Castela sobre o reinoportuguês e forma as cortes que reúnem em assembléias a burguesia, o cleroe a nobreza.· D. Dinis (1279-1325): promoveu reforma cultural com a fundação daprimeira universidade (1288), e presidindo o grande florescimento da lírica palaciana galaicaportuguesa,promovendo também o desenvolvimento do comércio externo e fazendoconcessões a nobreza.· Afonso IV (1325-1457) promove a afirmação do Estado português centralizadotornando o judiciário uma função do Estado. Período da Peste Negra que afeta a demografiaportuguesa verificando-se no reinado de Fernando I (1367-1383) o êxodo de semi-servosdevido a intensa exploração feudal da terra e a peste.· Desenvolve-se o papel cosmopolita dos portos atlânticos portugueses, favorecidospelo rei Afonso IV com a isenção de impostos.As Crises do Século XIV: Fome, Pestes e Guerras.Segundo Hilário Franco Júniorobservamos a partir de 1316 umacrise generalizada que afetou toda aEuropa Ocidental. Esta crise teria sidodecorrente de estagnaçãotecnológica, excesso demográfico,fome metálica, depressão moralprovocada pela peste, alteraçãoclimática e efeitos de guerrasprolongadas. A crise prolongou-se atéo século XV no sul e XVI na região donorte/centro do continente. Segundoeste mesmo autor a abundância derecursos naturais e força de trabalhoem oposição a pequeno capital teria produzido a estagnação do sistema (Franco Júnior,2001, p. 46-8).A Europa foi assolada por terríveis calamidades como a fome, a peste e guerra. Afome teve o seu momento mais forte entre 1315 e 1317. No que diz respeito a peste temoso exemplo da peste Negra, que ocorreu entre 1347 e 1350, e dizimou 1/3 da população damaior parte do Ocidente. E a guerras mais significativa e que teve conseqüências maisduradouras foi a de Cem anos, que comentamos mais acima.Do ponto de vista da economia Franco Júnior nos revela que a baixa produtividadetécnica leva a busca de mais terras que tornam-se menos férteis com reflexos no equilíbrionatural. Isto produziu uma crise de subsistência com conseqüências como o aumento damortalidade e das tensões sociais, visto que os senhores intensificaram a exploração sobreos camponeses e estes reagiam através de revoltas populares. Um exemplo disto foi aJacquerie, que ocorreu na França, entre maio e junho de 1358.A redução da mão de obra provocada pela peste também levou a queda do consumoe conseqüente aumento de preços e salários. E para piorar a situação as monarquias44


nacionais, visando financiar suas guerras e saldar os empréstimos contraídos com asmesmas, promoveram constante aumento de impostos e desvalorização da moeda. A Europaviu-se mergulhada numa crise econômica que somente foi saneada a partir do abandonodas terras menos produtivas, diminuição populacional e início da expansão ultramarina(Franco Júnior, 2001, p. 48). A recuperação ocorreu a partir de 1470. Os reflexos sociais,políticos e culturais da crise nós veremos no próximo conteúdo estudado quando trataremosdo início da modernidade.Conhecendo as Fontes da HistóriaA GRANDE PESTE (1348)No ano do Senhor, 1348, aconteceu sobre quase toda a superfície do globo uma talmortandade que raramente se tinha conhecido semelhante. Os vivos, de fato, quase nãoconseguiam enterrar os mortos, ou os evitavam com horror. Um terror tão grande tinha-seapoderado de quase todo o mundo, de tal maneira que no momento que aparecia em alguémuma úlcera ou inchaço, geralmente embaixo da virilha ou da axila, a vítima ficava privada detoda assistência, e mesmo abandonada por seus parentes. O pai deixava o filho em seuleito, e o filho fazia o mesmo com o pai. Não é surpreendente, pois, que quando numa casaalguém tinha sido tocado por este mal e tinha morrido, acontecesse muito freqüentemente,todos os outros moradores terem sido contaminados e mortos da mesma maneira súbita; eainda mais, coisa horrorosa de ouvir, os cachorros, os gatos, os galos, as galinhas e todosoutros animais domésticos tiveram o mesmo destino. Aqueles que estavam sãos fugiramapavorados de medo. E, assim, muitos morreram por descuido, os quais talvez teriamescapado de outro modo. Muitos ainda, que pegaram esta doença e dos quais se acreditavaque morreriam com certeza imediatamente sobre o chão, foram transportados, sem a mínimadescriminação até a fossa de inumação. E assim, um grande número foi enterrado vivo. E aeste mal acrescentou-se outro: corria o boato de que certos criminosos, particularmente osjudeus, jogavam venenos nos rios e nas fontes, o que fazia aumentar tanto a peste acimamencionada. É a razão pela qual tanto cristãos como judeus inocentes e pessoasirrepreensíveis foram queimadas e assassinadas e outras vezes maltratadas em suaspessoas, mesmo que tudo isso procedesse da constelação ou da vingança divina. E estapeste se prolongou além do ano anteriormente dito, durante dois anos seguidos, espalhandosepelas regiões onde, primeiramente, não tinha acontecido.Vitae Paparum Avenionensium Clementis VI. Primvita. Mollat. (Ed.). Paris, 1915-1922, p.252. Apud Calmette, op. Cit., p.236-7. In: Apud Pedrero Sanchéz, p. 194-5.PESTILÊNCIAS E FOMES (1437)Item, neste ano de 1437, tornaram-se os trigos e os cereais tão caros por todas aspartes do reino de França e outros diversos lugares e países da Cristandade que aquiloque alguma vez se tinha dado por quatro soldos, moeda de França, vendia-se por 40, oumais. Por ocasião da qual carestia houve uma tão grande fome universal que grande multidãode pobres morreu por indigências. E era coisa muito dolorosa e triste vê-los morrer de fomenas boas cidades e jazer sobre as estrumeiras em grande bandos. Havia algumas cidadesque os expulsavam da sua senhoria; e houve também outras que os receberam eadministraram por bastante tempo, de acordo com as suas possibilidades, cumprindo asobras de misericórdia. Entre aquelas que os receberam e administraram estava a cidadede Cambrai. E durou esta pestilência até o ano de 39. E foram feitos por esta cousa várioseditos pelos senhores, tanto príncipes como outros, e também pelos das boas cidades,45


HistóriaMedievalproibindo sob pesadas penas que nenhum trigo ou outro cereal fosse levadopara fora. Da mesma maneira foi determinado na cidade de Gand que seabstivessem de fabricar cervejas ou outras bebidas semelhantes, que todasas gentes pobres matassem os seus cães e que ninguém mantivesse nemalimentasse cadela, se ela não tivesse castrada. Tais e semelhantesordenanças foram feitas em muitos países, a fim de prover à comum pobrezado povo miúdo e dos mendigos.La chronique d´Enguerran de Monstrelet, Liv.II, cap. CCXXIII, Douët D´Arcq. L. (Ed.).Paris: Société de l´Histoire de France, 1861. t.V. p.319-20. Apud Espinosa, op. Cit., p.336.In: Apud Pedrero Sanchéz, p. 195-6.SOBRE AS REVOLTAS POPULARES:A JACQUERIE (1358)Neste tempo revoltaram-se os Jacques em Beauvoisin, e começaram a ir em direçãode Saint-Leu d´Esserent e de Clermont no Beauvoisin. Entre eles estava um homem muitosabedor e bem-falente, de bela figura e forma. Este tinha por nome Guilherme Carlos. OsJacques fizeram-no seu chefe. Mas ele viu bem que eram gente miúda, pelo que recusou agoverná-los. Mas de fato os Jacques tomaram-no e fizeram dele seu chefe, com um homemque era hospitalário, que tinha visto guerras. Também as tinha visto Guilherme Carlos, quelhes dizia que se mantivessem unidos. E quando os Jacques se viram em grande número,perseguiram os homens nobres, mataram vários e ainda fizeram pior, como gentetresloucada, fora de si e de baixa condição. Na realidade, mataram muitas mulheres ecrianças nobres, pelo que Guilherme Carlos lhes disse muitas vezes que se excediamdemasiadamente; mas nem por isso o deixaram de fazer.Então Guilherme Carlos viu bem que as coisas não podiam ficar assim; porque, seeles se separassem, os gentis-homens cair-lhe-iam em cima. Portanto, enviou os maisprudentes e os mais notáveis perante o preboste dos mercadores de Paris e escreveu-lheque estava pronto a ajudá-lo e que ele também o ajudasse e socorresse, se necessáriofosse. Por isso ficaram contentes os generais dos três Estados e escreveram a GuilhermeCarlos que estavam prontos a presta-lhes socorro. Estes Jacques vieram até a Gaille-fontaine,a condessa de Valois, que aí estava, desconfiou deles, fez-lhe boa cara e mandou dar-lhesviveres. Porque eles estavam acostumados a que, pelas cidades e lugares por ondepassavam, as pessoas, mulheres ou homens, pusessem as mesas nas ruas; aí comiam osJacques e depois passavam adiante, incendiando as casas dos gentis-homens [...].Chronique dês quatre premiers Valois (1327-1393). Simeon Luce, M. (Ed.). Paris:Société de l´Histoire de France 1862. p.71 Apud Espinosa, op. Cit., p.332-3. In: Apud PedreroSanchéz, p. 203.As Transformações da Europa Medieval e o Início daModernidadeA Baixa Idade Média é marcada por várias transformações que deram origem asociedade moderna. Abaixo apresentamos algumas delas extraídas do texto de MárioGiordani (Giordani,1992, p. 27-30):- Transformações políticas: centralização monárquica com apoio da burguesia,buscando diminuir o poder da nobreza feudal, e revitalização das noções de soberania e deEstado.46


- “O sentimento nacional ia substituir o sentido universal da comunidade cristã”.(Giordani,1992, p. 28).- Novas instituições ligadas ao ideal de centralização: assembléias, exércitospermanentes, impostos e tribunais com juízes permanentes.- Transformações econômicas: ao lado da riqueza territorial surge uma fortunamobiliária nas cidades. Com o surto comercial tem-se o capitalismo e a expansão da redebancária, intensificando a cunhagem de moedas de ouro.Séc.XIV: comércio de caráter internacional desenvolvido, com destaque para a Itália(intermediária entre Oriente e Ocidente) conservando a hegemonia sobre a economia.- Comoções sociais: violência no campo e nas grandes cidades (população pobreoprimida revolta-se).- Nobreza: passa de líder da comunidade a simples proprietária, perde a funçãopolítica.- Nova nobreza: civil (em oposição a militar/feudal) e real (criada pelo rei) substitui aantiga.- Transformações culturais: a Europa perde o sentido de unidade, reflete o caráternacional, restrito de cada povo.- Sociedades diferenciadas.- Autonomia dos diferentes ramos da arte e das ciências.- Formação de um espírito crítico e individualista: análise em oposição à síntese;liberdade em oposição à disciplina.- Transformações religiosas: crise na Igreja que ameaça a sua estrutura hierárquicae doutrinária (heresias, nacionalismo religioso, o Cisma do Ocidente).- Entre a elite intelectual verifica-se um fosso entre a religião e a vida. Religião deixade ser a mestra dos atos do indivíduo que pretende ter dela um modo de ver pessoal.- Entre a massa popular a piedade é mantida, mas alimenta-se mais da devoção doque do sacramento e da oração coletiva. A hierarquia eclesiástica e suas prescriçõesperdem a força.Verificamos como estas transformações estão na origem de movimentos quecaracterizam o início do mundo moderno como:- Renascimento artístico e cultural;- Reforma Protestante;- Navegações marítimas.“Terminava, assim, a unidade da sociedade ocidental que tinha a Igreja como basesólida” (Giordani, 1992, p. 30).47


HistóriaMedieval[ ]Agora é hora deTRABALHARResponda as questões abaixo. Leia atentamente o enunciado antes de respondêlas.Você deve redigir um texto para cada uma das questões propostas (mínimo de 15 emáximo de 30 linhas).Critérios para a avaliação:- Clareza na exposição do tema proposto;- Domínio dos conceitos;- Articulação entre as diferentes partes do texto;1.- Argumentação.Estabeleça a relação entre a Guerra de Cem Anos e a formação dos EstadosNacionais da França e Inglaterra.2. Caracterize as causas da crise econômica que marcou a Europa Ocidental na BaixaIdade Média (séculos XIV ao XVI) e a sua superação.Texto ComplementarRepensando a Idade Média no Ensino da HitóriaA historiadora Régine Pernoud conta-nos umaanedota exemplar a respeito da banalização daimagem da Idade Média no século XX. Em certaocasião, acompanhava um sobrinho seu a “um dessescursos em que os pais são admitidos para poderemdepois obrigar os filhos a trabalhar”, quando ouviu aprofessora conduzir a aula de História da seguintemaneira:A professora: Como se chamavam oscamponeses na Idade Média?A classe (em coro): Chamavam-se servos.A professora: E que é que eles faziam? Queé que eles tinham?A classe: Tinham doenças.A professora: Que doença, Jêrome?José Rivair MacedoJêrome (grave): A peste.A professora: E mais, Emmanuel?Emmanuel (entusiata): A cólera.A professora: Vocês sabem muito bem alição de História, concluiu placidamente. Passemosà Geografia... 13No livro O mito da Idade Média, a historiadorafrancesa Régine Pernoud procura desfazer uma sériede mal entendidos, preconceitos, juízos apressadose lugares-comuns relativos aos mil anos de históriaeuropéia situados entre os séculos V e XV. Entretanto,em que pesem os reiterados esclarecimentos dehistoriadores especializados na pesquisa sobre aIdade Média a respeito dos estereótipos que envolvemaquele período, muitos preconceitos ainda persistem.13Regime Pernoud. O mito da Idade Média. Mem Martins: Publicações Europa-America, s.d., p.48


Mil anos de Trevas?Sabe-se hoje que a visão retrospectiva da Europa medieval como uma “idade dastrevas” foi elaborada por eruditos renascentistas e, sobretudo, por eruditos iluministas. Sabeseque essa visão esteve condicionada por uma perspectiva racionalista, liberal e anticlerical,num momento em que ser humanista significa colocar em questão os pressupostosteocêntricos defendidos pelos representantes da Igreja, defender o avanço das “luzes” darazão e progresso.Ocorre que, desde pelo menos o princípio do século XX, as pesquisas acadêmicassobre História Política, Social, Econômica e Cultural, as pesquisas no campo da Filologia eda Literatura, da Filosofia e das Artes, têm demonstrado inúmeros traços originais da Europadurante a Idade Média, e tais pesquisas contribuíram decisivamente para reabilitar aqueleperíodo aos olhos dos estudiosos. Hoje nenhum credito defenderia com seriedade aquelesvelhos chavões.Isso não quer dizer que os estereótipos relacionados com a Idade Média tenhamdesaparecido. Estes explicam, inclusive, um certo fascínio da arte e da cultura de massapor essa obscura Idade Média – na qual pulalam magos e fadas, duendes e elfos, dragões,cavaleiros errantes e aventuras fabulosas. Explica o sucesso de obras romanescasenvolvendo os mistérios e segredos da poderosa Igreja, o outro lado da cavalaria – comseu código de ética e com os nobres sentimentos dos cavaleiros andantes. Explica o sucessode jogos de videogame e de computador relativos às conquistas de territórios por príncipesguerreiros, com a ação de forças sobrenaturais de caráter mágico. Em todos esses casos,a Idade Média constitui apenas um pretexto para a criação ficcional, a imaginação e odivertimento.Uma certa idéia de “Idade Média” subsiste entre nós por esse viés. Mas qual o papelda escola, e da História que aí é ensinada, na difusão de conhecimentos relativos ao período?Antes, caberia perguntar qual Idade Média vem a ser divulgada nos bancos escolares equal a pertinência de seu ensino num país como o Brasil, que não participou diretamente deuma experiência histórica propriamente medieval.Na perspectiva aberta pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) para a áreade História, pouco espaço está reservado ao tratamento cronológico dos eventos situadosentre os séculos V e XV da História européia. Nada a estranhar, uma vez que se sabe que,de acordo com os PCNs, os eventos e os sujeitos históricos encontram-se incluídos emcontextos variados, subordinados a pressupostos pedagógicos e conceitos muitoabrangentes, destinados a promover a apreensão da realidade social com base nas múltiplasdimensões temporais, na diversidade étnica e cultural.Entretanto, embora ausente na listagem de conteúdos do terceiro e quarto ciclos deensino a ênfase deixou de recair na noção de período histórico –, certas questões relativasà Idade Média podem perfeitamente vir a ser exploradas em sala de aula, como apontaremospáginas diante.Não obstante, os PCNs, quando se observam os programas e planos contidos noslivros didáticos destinados ao estudo da História no ensino fundamental e médio, tem-seque as linhas de rumo que norteiam a reprodução do conhecimento relativo à Idade Médiaeuropéia estão ligadas a evolução de formas de governo, isto é, o governo temporal dosreinos e do império, e o governo espiritual/temporal da igreja. Prendem-se, também, àconfiguração dos grupos sociais, com particular ênfase nas relações de denominação entresenhores feudais e camponeses, ou então na formação e decadência do feudalismo e agerminação do capitalismo moderno.No que respeitas às formas de governo, os livros apresentam a caracterização detratados, conflitos diplomáticos e batalhas, ou seja, os marcos temporais tradicionais da49


HistóriaMedievalhistória política. Quanto aos aspectos mais gerais, quer dizer, aquelesempregados na identificação de estruturas sociais e econômicas, preponderaum certo mecanismo e um certo maniqueísmo. Diferentemente da posiçãovigente entre os especialistas em Historia Medieval, para quem o “feudalismo”,a “sociedade feudal” ou o “sistema feudal” não passam de conceitosoperatórios de análise, nos livros didáticos esses conceitos acabam conferindouma lógica ao desenvolvimento histórico de toda a Europa, como se houvesseum mesmo “feudalismo” ou uma mesma “sociedade feudal” nos quatros cantos do continente,ficando a sugestão de que o ingresso na Era Moderna dependeu da superação do “atrasofeudal”.Nesse tipo de abordagem do feudalismo, o “rei” aparece sempre fraco e os “senhoresfeudais”, fortes, as regras do jogo vindo a se alterar apenas no momento a partir do qual o“rei” alia-se como burguesia. Nas relações de dominação entre senhores e camponeses,por outro lado, ambos os grupos parecem compactos e claramente definidos, os senhorescomo arrogantes e opressores, os camponeses (às vezes confundidos pura e simplesmentecom servos) como oprimidos e passivos, inermes e inertes.Não se reivindica aqui necessariamente a renovação conceitual e temática resultantedo avanço dos estudos medievais. É evidente que nos últimos trinta anos muito se pesquisoua respeito das especificidades nacionais e regionais da Europa Medieval, dos grupossociais, etários e gênero na Idade Média; muito se debateu a respeito dos sistemas devalores, das formas culturais, das representações e dos traços do imaginário medieval. AIdade Média ensinada na escola, todavia, não é Idade Média dos pesquisadores. Nessecaso, a função social da História tem estatuto diferente do conhecimento erudito eacadêmico, continuando a estar ligado à constituição da memória da nação, do Estadomoderno e da supremacia ocidental no mundo 14 . Seu objetivo último é demonstrar as razões(explícitas ou implícitas) pelas quais os sucessores dos “bárbaros” que saquearam o ImpérioRomano no século V (ou seja, a maior política constituída até aquele momento) viessem ase tornar, mil anos depois, os “descobridores” e “conquistadores” da África, do ExtremoOriente e da América.UMA HISTÓRIA VISTA DE CIMA, E DO CENTRO.Em meados do século XVI, a representação plana da terra elaborada pelo humanistaGerhard Mercantor (1512-1594), que inspirou o atual planisfério, situava geograficamente aEuropa no centro do mundo, não obstante a forma esférica da Terra. Algum tempo depois,oerudito alemão Cristophe Keller publicou um livro denominado História da Idade Médiadesde os tempos de Constantino, o Grande, até a tomada de Constantinopla pelos turcos,inventando desse modo o rótulo e a delimitação cronológica do período, e situando a Europano centro da linha de tempo da humanidade, que daí em diante passaria a se confundir comos desígnios europeus, naquilo que alguns ensaístas denominaram “ocidentalização domundo” 15 .Com efeito, para os europeus a Idade Média corresponde às origens, ao momentoem que aquilo que um dia viria a ser chamado de Europa ganhou seus contornos políticos eculturais. Numa visão em restrospecto, ali estão os traços originais das naçõescontemporâneas, sua diversidade étnico-cultural, seus problemas de delimitação defronteiras, suas instituições representativas (cortes, assembléia, parlamentos). Emboraherdeiros das noções greco-romanas de política e de cidadania, os Estados europeus nãose confundiram com as cidades-estado nem com os impérios da Antigüidade, masorganizaram-se com base no modelo do reino cristão.14Jean Chesneaux. Devemos fazer tabula rosa do passado? Sobre a história e os historiadores. São Paulo: Ed.Ática, 1995. Ver especialmente o capítulo “As armadilhas do quadripartismo histórico”.15Serge Latouche. A ocidentalização do mundo. Petrópolis: Ed. Vozes, 1994.50


Para o medievalista Jacques Heers, nunca existiu uma “Idade Média” francesa. Aquiloque se convencionou chamar por esse nome teria sido a elaboração de eruditos dos séculosXVI-XVIII, dos criadores de programas escolares e autores de manuais didáticos dos séculosXIX e XX. A linha de rumo básica a orientar a imagem da Idade Média teria se desenvolvidoem função da existência de pobres centrais unitários e fortes. Ao estudar aquele períodorecuado no tempo o que interessava em última instância era valorizar o modelo de governocontemporâneo ao estudo, quer dizer, a república e sua capacidade de oferecer paz esegurança social aos cidadãos. Os méritos desse Estado rigidamente estruturado acabavamsendo ressaltados quando seu modelo de organização vinha a ser comprado com aquiloque parecia o seu contrário, a anarquia feudal. Nas próprias palavra do historiador: “a imagemdo feudalismo sempre foi manchada pelo vício abominável da completa dissolução do poder,e todo o sistema tem sido acusado e condenado à sua própria natureza, fonte de anarquiae desgraças” 16 .Trata-se, pois, de julgamento a posteriori, cuja função é, mirando-se no passado,enaltecer o presente.Além disso, para os europeus, a Idade Média equivale ao período de formação deuma identidade supranacional de fundo cristão, momento em que se alicerçam costumes epráticas coletivas orientadas por uma fé que se quer única e uma. Em nome dessa fé osocidentais fizeram as cruzadas e cortaram os oceanos. Foi essa mesma fé que, associadaà razão (entende-se, à razão aristotélica), promoveu desde pelo menos o século XIII onascimento do pensamento cientifico moderno, articulando o saber e a técnica – responsávelpor sua supremacia diante de diversas culturas por ocasião das grandes navegações. Essasupremacia diante de outros povos e a pretensão de estar no centro do mundo teveconseqüência inclusive para a Europa. Conforme um dos grandes medievalistas daatualidade, Jacques Le Goff:É notório, parece-me, através destas propostas onde o historiador se alia ao cidadão,que o debate pela Europa não está entre a tradição e a modernidade. Está no bom uso dastradições, no recurso às heranças como força de inspiração, como ponto de apoio paramanter e renovar uma outra tradição européia, a da criatividade. Um dos maus demôniosda Europa tentou-a, com demasiada freqüência, a confundir a civilização européia com acivilização universal, a querer um mundo à sua imagem. Se a Europa quer ser um modelopara o mundo moderno, deve respeitar o próximo, abrir-se aos outros. Foi abrindo-se aosoutros que, desde os gregos antigos, ela fez grandes coisas 17 .PARA UMA “DESCOLONIZAÇÃO” DO ENSINO DA IDADE MÉDIAMarc Ferro nos relata os vínculos profundos existentes entre a História transmitidanas escolas e a formação ou deformação da consciência social e política em áreas coloniais.Entre outros exemplos, cabe destacar o caso da África negra sob domínio francês, em que,até pelo menos meados do século XX, aos brancos e aos primeiros negros admitidos àsescolas a História ensinada dizia respeito aos “antepassados gauleses, romanos e francos”.No ensino de tipo metropolitano, “salvo pela cor da pele, o negro de cultura francesa éfrancês em tudo”. Nesse ponto, a Idade Média cumpria bem o seu papel de formadora deuma consciência “européia”, e a França colonizadora aparecia como promotora do progressoe da civilização.Uma anedota curiosa indica-nos as dimensões da relação passado-presente noensino, que nunca é neutro. Quando o professor francês Franz Fanon iniciava o ano letivo16Jacques Heers. La invencion de la Edad Media. Barcelona: Editorial Crítica, 1885, p.112.17Jacques Lê Goff. A velha europa e a nossa. Lisboa: Ed. Gradiva, 1995, p. 64.51


HistóriaMedievalde 1948 com seus alunos da cidade de Oran, na Argélia, apresentou-lhes oprograma que iria desenvolver em História. No momento em que afirmou aosquarenta pied-noirs 18 que, depois da queda do Império Romano e dos reinosbárbaros houve o florescimento da civilização árabe, os ouvintes, quepertenciam a uma cultura mulçumana, começaram a rir: “civilização” e “árabe”eram duas palavras que pareciam não poder andar juntas 19 !O episódio nos indica algumas pistas sobre os efeitos de uma Históriacentrada na Europa quando ensinada em territórios não-europeus. Ele nos ajuda a repensaralguns pontos sobre o que ensinar de História Medieval no Brasil. Antes de tudo, é precisoque fique bem claro de que Europa se fala e de Europa convém falar. Porque, na realidade,embora ao ser ensinado Idade Média se pretenda tratar da realidade européia, em verdade,a experiência incorporada aos fatos e processos tradicionalmente evocados diz respeito aapenas uma parte daquele continente, justamente a parte na qual situavam-se os povosque, na atualidade, ocupam posição hegêmonica no continente.Entre outras palavras, ao falarmos de Europa Medieval tratamos quase sempre deFrança, Inglaterra, Alemanha e Itália. Outra seria a Europa do Leste Europeu, a EuropaNórdica e, segundo nos interessaria mais saber, a Europa Ibérica. Descolonizar o ensinode História significa, portanto, reconhecer identidades em geral deixadas por nós emsegundo plano.Desse modo, repensar o ensino da Idade Média implica, em primeiro lugar, na reflexãosobre a propriedade de continuarmos a transferir conhecimentos relativos a uma Europaque, na verdade, se restringe à parte ocidental (França, Inglaterra, Alemanha, Itália) daquelecontinente, mantendo em segundo plano os dados relativos ao Norte (países escandinavos),o Leste (países eslavos) e a Península Ibérica (Portugal e Espanha). Para nós, faz muitosentido compreender a formação dos povos ibéricos, por isso nos permite compreendermelhor nossas características herdadas, parte do nosso modo de pensar. Tendo isso emmente, aliás, o ensino de História Medieval ganha outra dimensão.A ênfase no ensino de aspectos históricos da Península Ibérica teria muito maispropriedade educativa do que o ensino da História modelada na França ou na Inglaterra,pelo simples fato de permanecemos a um conjunto cultural específico, no caso, o iberoamericano.Ao tomar a Península Ibérica como núcleo gerador da consciência histórica arespeito da Idade Média, o ensino de História cumpriria melhor seu papel de revelar aosestudantes aspectos de nosso passado que continuam a interagir com o presente. Comefeito, é na especificidade da formação dos reinos cristãos ibéricos que se encontram oselementos explicativos do por que a Portugal e Espanha esteve reservado o papel dealargamento marítimo do mundo europeu, o que nos diz respeito diretamente.No mesmo sentido, compreender o papel desempenhado por grupos de diferentesetnias no processo de formação medieval da Península Ibérica poderia nos ajudar acompreender traços da colonização ibérica posterior e da constituição de identidade coletivana América latina, inclusive no Brasil. Isso estaria em conformidade com a proposta dosPCNs de subtemas do eixo temático “ História das relações sócias, da cultura e do trabalho”,proposto para o terceiro ciclo do ensino fundamental, relacionados com a questão daconstrução das identidades e alteridades em outras temporalidades.Referimo-nos aqui ao problema da coexistência étnico-religiosa entre mulçumanos,judeus e cristãos na Espanha e em Portugal, tanto no período de domínio islâmico, nosséculos VIII-XI, quanto no período de Reconquista cristã, nos séculos XI-XIII. A questão daconvivência entre os adeptos das três grandes religiões monoteístas revela-nos, inclusive,uma particularidade ibérica que nada deveu a outros povos, nem mesmo à Igreja. Sem18“Pés-Negros”: designação dos franceses nascidos na Argélia.19Marc Ferro. A manipulação da história no ensino e nos meios de comunicação de massa, São Paulo:IBRASA,1983, p.41.52


essa convivência não teriam havido trocas culturais tão profícuas, cujo melhor exemplo nocampo intelectual é a conhecida Escola de Tradutores de Toledo, em boa parte responsávelpela difusão do conhecimento grego no Ocidente por meio de obras árabes convertidas aolatim por tradutores judeus!Para o professor de História e seus alunos, o panorama histórico da Europa pode vira ser um excelente laboratório de estudo das razões e circunstâncias do desenvolvimentotécnico e cultural. Com efeito, não deixa de ser interessante propor reflexões a respeitodaquele período recuado de nós pó pelo menos meio milênio, quando a parte européia quehoje constitui um centro econômico mundial via-se às voltas com problemas perfeitamenteatuais vividos pelos países pobres, como fome e crises de abastecimento periódicos, baixonível tecnológico e surtos recorrentes de doenças infecto-contagiosas. Para nós será sempreimportante refletir sobre as alternativas encontradas para problemas como desigualdadesocial entre ricos e pobres e o problema do abandono infantil – cujas raízes históricasultrapassam os limites cronológicos da própria Idade Média. Dessa perspectiva, aqueletempo poderá vir a constituir um importante referencial de estudo para compreendermos,por aproximação ou por distanciamento, como nós próprios lidamos com nossos dilemassociais 20 .Macedo, José Rivair. “História Medieval: repensando a Idade Média no ensino deHistória” In: KARNAL, Leandro (org.). História na sala de aula: conceitos, práticas epropostas. São Paulo: Contexto, 2003, p. 109-126.Sugestões de FilmesPara você que gosta de ir além dos estudos eu preparei uma lista de sugestões defilmes e obras literárias sobre a Idade Média. É uma forma de entretenimento, mas tambémde ampliação da sua formação cultural. Portanto siga em frente...!O NOME DA ROSA. Itália/Alemanha/França, 1986. 136 min. Direção: Jean-JacquesAnnaud. Distribuição: Flashstar Home Vídeo.EXCALIBUR. Inglaterra/Estados Unidos, 1981. 140 min. Direção John Boorman.Distribuição: Warner Home Vídeo.MERLIN. Estados Unidos, 1998. 120 min. Direção: StevenBarron. Distribuição: AlphaVídeo.NAVIGATOR: odisséia no tempo. Nova Zelândia, 1988. 92 min. Direção: VincentWard. Distribuição: Hipervídeo.O INCRÍVEL EXÉRCITO DE BRANCALEONE. Itália, 1965. 90 min. Direção: MárioMonicelli. Distribuição: Hipervídeo.EM NOME DE DEUS. França, 1988. 105 min. Direção: Oliver Donner. Distribuição:Flashstar Bell Trru.CRUZADA. Estados Unidos, 144 min. Direção: Ridley Scott.20 Eis alguns bons exemplos de trabalho que vão nessa direção: Georges Duby. Ano 1000, ano 2000 – na pista denossos medos. São Paulo: Ed. Da Unesp, 1998. Maria Luiza Marcílio. História social da criança abandonada. SãoPaulo: Ed. Hucitec, 1998 Michel Mollat. Os pobres na Idade Média. Rio de Janeiro: Ed. Campus, 1989.53


HistóriaMedievalGeoffrey Chaucer . Os Contos de Cantuária. São Paulo: T. A. QueirozEditor, 1991.Chrétien Troyes. Romances da Távola Redonda. Trad. Rosemary A. Abílio. São Paulo:Martins Fontes, 1991.Pequenas Fábulas medievais: fabliaux dos séculos XIII e XIV. Trad Rosemary C.Abílio. São Paulo: Martins Fontes, 1995.Correspondência de Aberlardo e Heloisa. São Paulo: Martins Fontes, 1989.LIVROS PARADIDÁTICOS:Obras LiteráriasMACEDO, Rivair. Movimentos populares na Idade Média. 13ª reimp. São Paulo:Contexto, 1999.______________. A Mulher na Idade Média. São Paulo: Contexto, 2002.______________. Religiosidade e Messianismo na Idade Média. São Paulo:Moderna, 1996.[ ]Para saber mais acesse:Cenas medievais:http://www.geocities.com/Athens/Academy/6240/Dicionário da Idade Média:http://www.clio.net/clionet/fichas/mede_fortalezas.htmLinks sobre Idade Média:http://www.geocities.com/Athens/Forum/4185/medieval.htmRevistas eletrônicas:. Ordem de Cavalaria do Sagrado Portugalhttp://www.ocsp.pt. Associação Brasileira de Estudos Medievaishttp://www.abrem.he.com.br54


Brathair: Revista Eletrônica de Estudos Celtas e Germânicoshttp://www.brathair.cjb.netRevista Mirabiliahttp://www.revistamirabilia.com(Footnotes)55


HistóriaMedieval1Etapa AtividadeOrientadaA partir deste momento, iniciaremos uma atividade de avaliaçãodividida em três etapas. O objetivo é a sondagem dos seus conhecimentos,mas também levá-lo a vivenciar outros tipos de experiência neste processode aprendizagem. Siga as orientações estabelecidas para cada etapa.Compartilhe dos resultados com colegas e seu professor. Espero que estaexperiência lhe traga novos e valiosos conhecimentos.Agora que você já fez sua leitura e estudo do nosso texto, acreditamos que poderá construir suaprópria cronologia do período medieval. Ela será muito útil em seus futuros estudos sobre o período.Seguem as instruções:a) Construir cronologia comentada da Idade Média a partir dos períodos históricos aqui propostos –primeira Idade Média, Alta Idade Média, Idade Média Central e Baixa Idade Média.b) Você deve destacar cinco elementos importantes para cada período.c) Cada elemento destacado deve vir acompanhado de um breve comentário de cinco linhas, onde vocêdeve expor sobre a importância do mesmo para aquele período.2Etapa Elaborar um comentário do texto complementar – “Repensando a Idade Média no Ensino deHistória”- de Rivair Macedo, analisando a sua proposta em relação a um ensino de história medieval queprivilegie outros conteúdos para além do estudo do Ocidente cristão europeu. Estabeleça no seu textouma relação com os conteúdos sobre o islamismo – sua origem e presença na península ibérica –tratados nos conteúdos 3 e 4, do bloco 1.Você deve seguir as regras abaixo:. O comentário deve possuir o mínimo de 20 e o máximo de 30 linhas;. Seu texto deve ser escrito conforme regras da ABNT;. Você pode e deve enriquecê-lo fazendo referência as imagens, mapas e documentos que aparecemneste tema.3Etapa Agora você vai fazer uma análise de gravuras medievais encontradas em um livro didático quetrate sobre o conteúdo de medieval.Orientações:- Selecione cinco imagens, uma para cada tema medieval listado abaixo. Os conteúdos foramtratados no tema 1 do bloco 2:- A Sociedade feudal;- As Cruzadas;- O Renascimento comercial e urbano;- A cultura cristã medieval.- Deverá ser produzido um cartaz com as imagens e uma breve legenda com as informaçõesbásicas sobre a mesma (data, autoria quando houver, fonte). A apresentação deverá ser oral e feita emsala de aula.- Você deverá fazer a análise de cada imagem considerando os seguintes aspectos:. O contexto histórico no qual ela foi produzida, para isto a imagem deve ser do período e nãoatual – uma reconstituição;. Fazer uma análise clara e concisa.56


GlossárioBAN: “no começo da Idade Média, este termo designava o poder de comando do chefe militar.Depois, o conjunto de poderes regalianos (do rei) que a partir do século X foi confiscado e explorado porgrandes latifundiários: julgar, punir, tributar. (Franco Júnior, 2001, p. 181)BENEFÍCIO: “terra cedida a uma pessoa a título de posse, a princípio como forma de remuneraçãopor serviços prestados e, posteriormente, como forma de aumentar o número de vassalos. Esta concessãocriava obrigações recíprocas entre as partes, sendo peça importante na estruturação da vassalagem” (Monteiro,1991, p. 83-4).CLERO REGULAR: parte do clero católico que vive em comunidade submetido a uma regra específicade vida.CLERO SECULAR: clero voltado para atividades em sociedade – ministrar sacramentos, orientarespiritualmente, ajudar os necessitados (Franco Júnior, 2001, p. 70).CORVÉIA: “prestação de trabalho e serviços gratuitamente ao senhorio. Estava entre as obrigaçõesque o camponês tinha a que se submeter pelo fato de ser posseiro” (Monteiro, 1991, p. 84).ESTADO: Em princípio ligado a idéia de “corpo místico secular”, rei cabeça de um corpo, reino. Apartir do século XIII ganha sentido de corpo político submetido a um governo e a leis comuns.FEUDALISMO: “o conjunto da formação social dominante no Ocidente da Idade média Central, comsuas facetas política, econômica, ideológica, institucional, social, cultural, religiosa” (Franco Júnior, 2001, p.88).FEUDO: “bem concedido a um vassalo para o seu sustento. Variava muito, podendo ser um pequenolote de terra, um vasto domínio ou mesmo uma quantia em dinheiro”. (Batista Neto, 1989, p. 237).GÓTICO: sinônimo de bárbara. Esta designação foi atribuída a arte medieval pelo pintor RafaelSanzio (1483-1520) devido a mesma fugir aos padrões clássicos (Franco Júnior, 2001, p. 11)LITURGIA: ritual que orienta a organização do culto.MISSI DOMINICI: significa enviados do senhor, eram nomeados pelos imperadores carolíngios para“fiscalizar os poderes concedidos aos condes nas terras reais e iam aos pares (um leigo e um clérigo) visitaros condados e elaborar relatórios a respeito” (Franco Júnior, 2001, p. 54).SENHORIO: “unidade territorial e econômica na qual vivem e trabalham os camponeses os quaistêm diversas obrigações para com o senhor. Há dois senhorios: o fundiário e o banal” (Batista Neto, 1989, p.237).p. 237)SUSERANO: “o senhor do senhor. Usado também como sinônimo de senhor”. (Batista Neto, 1989,VASSALAGEM: laço contratual que unia dois homens livres, o senhor e o vassalo.57


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