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A CIDADE E AS SERRAS

Untitled - Luso Livros

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O meu Príncipe recuou, com olhares chamejantes, de apóstolo: — Como quenão converse? Mas é justamente um conversador sublime! Está claro, não temditos, nem parola teorias, ore rotundo. Mas nunca eu passo junto dele que nãome sugira um pensamento ou me não desvende uma verdade... Ainda hojequando eu voltava de pescar as trutas... Parei: e logo ele me fez sentir comotoda a sua vida de vegetal é isenta de trabalho, da ansiedade, do esforço que avida humana impõe; não tem de se preocupar com o sustento, nem com ovestido, nem com o abrigo; filho querido de Deus, Deus o nutre, sem que elese mova ou se inquiete... E é esta segurança que lhe dá tanta graça e tantamajestade. Pois não achas?Eu sorria, concordava. Tudo isto era decerto rebuscado e especioso. Mas queimportavam as requintadas metáforas, e essa metafísica mal madura, colhida àpressa nos ramos de um castanheiro? Sob toda aquela ideologia transpareciauma excelente realidade — a reconciliação do meu Príncipe com a Vida.Segura estava a sua Ressurreição depois de tantos anos de cova, da cova moleem que jazera, enfaixado como uma múmia nas faixas do Pessimismo!E o que esse Príncipe, nesta tarde, me esfalfou! Farejava, com umacuriosidade insaciável, todos os recantos da `serra!, Galgava os cabeçoscorrendo, como na esperança de descobrir lá do alto os esplendores nuncacontemplados de um mundo inédito. E o seu tormento era não conhecer osnomes das árvores, da mais rasteira planta brotando das fendas de umsocalco... Constantemente me folheava como a um Dicionário Botânico.

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