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Conflitos ambientais no Parque Natural Municipal de Grumari

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<strong>Conflitos</strong> <strong>ambientais</strong> <strong>no</strong> <strong>Parque</strong> <strong>Natural</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> <strong>Grumari</strong><br />

para a ocupação da área e soluções diferenciadas<br />

para a população que tradicionalmente<br />

resi<strong>de</strong> <strong>no</strong> local. Alguns setores da administração<br />

pública <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m projetos voltados para a<br />

exploração do turismo “ecológico” (ou “ecoturismo”),<br />

pautados na lógica eco<strong>no</strong>micista e<br />

na iniciativa privada, sob a estratégia argumentativa<br />

da auto-sustentabilida<strong>de</strong> do <strong>Parque</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Grumari</strong>, o que <strong>de</strong> certa forma reforça a idéia<br />

<strong>de</strong> que o Estado é incapaz <strong>de</strong> gerir a área, face<br />

a sua suposta carência <strong>de</strong> recursos huma<strong>no</strong>s e<br />

financeiros.<br />

A questão fundiária po<strong>de</strong> ser apontada<br />

como o principal fator gerador <strong>de</strong> conflitos<br />

<strong>ambientais</strong> <strong>no</strong> <strong>Parque</strong> <strong>Natural</strong> <strong>de</strong> <strong>Grumari</strong>, envolvendo:<br />

po<strong>de</strong>r público - proprietário; po<strong>de</strong>r<br />

público - comunida<strong>de</strong>; proprietário - proprietário;<br />

e proprietário - comunida<strong>de</strong>. Ou seja, as<br />

disputas ambientalizam-se por serem associadas<br />

a argumentos <strong>ambientais</strong> relativos aos modos<br />

<strong>de</strong> uso dos ecossistemas e dos impactos<br />

recíprocos presumidos entre estes modos.<br />

O Estado alega a importância biológica e ecológica<br />

da paisagem natural <strong>de</strong> <strong>Grumari</strong>, para promover<br />

instrumentos jurídicos <strong>de</strong> proteção ambiental,<br />

atuando na fiscalização da área, principalmente<br />

através do controle da expansão da<br />

comunida<strong>de</strong> e em operações <strong>de</strong> trânsito. Os<br />

proprietários alegam reconhecer a importância<br />

biológica, paisagística e turística da região,<br />

mas recorrem por uma <strong>de</strong>sapropriação equivalente<br />

ao valor <strong>de</strong> mercado. Alguns manifestam<br />

interesse econômico nas formas <strong>de</strong> ocupação<br />

e uso <strong>de</strong> seus imóveis, alegando que tiveram<br />

seus bens esbulhados pelo po<strong>de</strong>r público e<br />

reivindicando o seu direito <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>.<br />

A visão eco<strong>no</strong>micista dos proprietários busca<br />

respaldo “científico” para dar legitimida<strong>de</strong> aos<br />

empreendimentos pretendidos. Sob o crivo do<br />

“<strong>de</strong>senvolvimento sustentável” da região, proprietários<br />

chegam a afirmar que a exploração<br />

econômica (por parte dos mesmos), controlada<br />

pelo Estado, é a única forma <strong>de</strong> garantir a<br />

proteção ambiental da área, com a construção<br />

<strong>de</strong> condomínios resi<strong>de</strong>nciais ou hotéis <strong>de</strong> luxo,<br />

omitindo os impactos <strong>ambientais</strong> negativos gerados<br />

por tais empreendimentos.<br />

A comunida<strong>de</strong>, por sua vez, estabeleceu<br />

“acordos” (verbais ou formais) <strong>de</strong> trabalho<br />

com os proprietários da área, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a época<br />

da Fazenda Crumarim, <strong>no</strong> século XIX. Ela apresenta<br />

modos <strong>de</strong> produção rural e luta por melhores<br />

condições <strong>de</strong> vida, apresentando reivindicações<br />

comuns às comunida<strong>de</strong>s em geral,<br />

como saú<strong>de</strong>, educação, transporte e habitação<br />

condigna. Alguns <strong>de</strong>monstram preocupação<br />

com a manutenção da cobertura florestal e,<br />

provavelmente, este aspecto tem relação direta<br />

com o fato <strong>de</strong> moradores trabalharem <strong>no</strong> reflorestamento<br />

<strong>de</strong>senvolvido pela prefeitura.<br />

De maneira geral, moradores e pescadores expressam<br />

uma visão <strong>de</strong> natureza integrada às<br />

suas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> subsistência, como se a natureza<br />

fosse uma extensão da própria casa. O<br />

discurso <strong>de</strong> pescadores expressa cuidados com<br />

a área que ocupam, alegando que recolhem os<br />

resíduos sólidos <strong>de</strong>ixados pelos banhistas que freqüentam<br />

a praia <strong>no</strong>s finais <strong>de</strong> semana e cobrando<br />

Revista Rio <strong>de</strong> Janeiro, n. 16-17, maio-<strong>de</strong>z. 2005 129

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