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Florestan Fernandes

Florestan Fernandes, 20 anos depois

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22 Vera Alves cepêda • Thiago Mazucato (Orgs.)<br />

Conformou-se à sua “gaiola de ouro” ou à “sua bela prisão”, como ele dizia,<br />

que lhe será imposta pela ditadura até 1977.<br />

Mesmo prisioneiro e isolado, foi ali, no seu escritório que, voltando a<br />

habitar a sua língua e os ideais da sua gente, <strong>Florestan</strong> colocou-se a escrever<br />

a sua obra mais engajada, como a terceira parte do A revolução burguesa no<br />

Brasil (1975), Circuito fechado (1976), Da guerrilha ao socialismo: a Revolução<br />

Cubana (1979), Poder e contrapoder na América Latina (1981), O que<br />

é revolução (1981) etc. Agora, socialista e sociólogo estão definitivamente<br />

fundidos no mesmo texto e o seu projeto é “enlaçar a sociologia como ciência,<br />

ao socialismo, como movimento político revolucionário” (1980: 15).<br />

Ademais, embora sua visada continue fortemente nacional, suas referências<br />

à América Latina se ampliam, tanto na temática, quanto em relação aos interlocutores.<br />

15<br />

A partir de 1980, a oposição à ditadura avança e tem início uma certa<br />

liberalização do regime. <strong>Florestan</strong> retoma algumas atividades públicas: várias<br />

palestras, cursos de pós-graduação na Pontifícia Universidade Católica<br />

de São Paulo, e, desde 1984, a atividade onde realiza sua vocação intelectual,<br />

a de publicista, especialmente uma coluna semanal na grande imprensa.<br />

16 <strong>Florestan</strong> havia encontrado sua melhor arma de combate à ditadura<br />

e ao capitalismo selvagem. Foi neste ofício que construiu uma tribuna de<br />

divulgação da sua interpretação da sociedade brasileira e do tipo de república<br />

que sonhava para o Brasil. Foi como contribuiu para a formação de uma<br />

comunidade de esquerda que avançou coesa na luta pela abertura democrática<br />

e pela Constituinte. 17<br />

No fundo, cada artigo surgia como se eu estivesse escrevendo cartas aos<br />

leitores, largando a pele de sociólogo em troca do papel de publicista, agarrado<br />

15 O exílio é uma experiência vivida por milhares de intelectuais latino-americanos neste<br />

período. Ainda está para ser feita uma análise sobre o impacto das ditaduras militares na reconstrução<br />

do horizonte intelectual latino-americano. O fato é que houve uma radicalização<br />

intelectual e política a partir desta época. <strong>Florestan</strong>, por exemplo, fortalece seu diálogo com<br />

outros intelectuais latino-americanos como Orlando Fals Borda (Colômbia), Aníbal Quijano<br />

(Peru), Pablo Gonzáles Casanova (México), Jules Riverend (Cuba), José Nun (Argentina),<br />

com o qual conviveu no Canadá, e muitos outros.<br />

16 O presente livro, Brasil: em compasso de espera, publicado originariamente em 1980, é um<br />

marco decisivo da nova fase da vida deste sociólogo que recorre a todos e quaisquer interstícios<br />

para engajar o pensamento socialista na luta contra a ditadura.<br />

17 Os artigos foram publicados no livro Que tipo de república? (reeditado em 2007).

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