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Florestan Fernandes

Florestan Fernandes, 20 anos depois

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<strong>Florestan</strong> <strong>Fernandes</strong> • 20 anos depois 45<br />

construção, desta formação, desta organização da sociedade, ele é obrigado a<br />

trabalhar simultaneamente com duas exigências que constituem um dilema,<br />

não dá para pegar as duas coisas ao mesmo tempo, ou é uma ou é outra, e elas<br />

colidem entre si. Ou bem temos a construção de uma ordem social que em<br />

termos políticos assegure a democracia, porque só com a democracia se pode<br />

usar a expressão de <strong>Florestan</strong> “competitivo”, ou seja, o sistema é aberto. Ou<br />

então temos a revolução, a mudança integral. Ele não estava apostando na<br />

revolução, não que não tivesse simpatia, mas naquele momento ele não via as<br />

condições dadas historicamente para isto. A outra exigência era mais modesta,<br />

uma coisa está dada e vamos trabalhar em cima disto. Então ele não tem<br />

muita saída senão partir para aquilo que deve soar meio fraco para vocês, mas<br />

é uma coisa extremamente forte, que é o radicalismo democrático, que é tentar<br />

ir até a raiz mantendo a exigência básica da integral participação no interior<br />

da sociedade e do avanço no sentido da igualdade. Eu diria que em <strong>Florestan</strong><br />

o termo forte é radicalismo, ele era uma espécie de boxer, quando travava o<br />

maxilar era difícil convencê-lo a soltar e, para usar a velha frase, ser radical é<br />

ir às raízes, vocês viram isto com os exemplos que eu dei sobre a integração do<br />

negro, é ir até o fundo. A gente sempre costuma pensar “o que diria o nosso<br />

grande mestre se estivesse aqui sentado nesta mesa?”. Eu só sei de uma coisa:<br />

ele continuaria persistentemente procurando as raízes dos nossos dilemas. Há<br />

um modo de pensar no político que é eminentemente radical em si, e acho que<br />

<strong>Florestan</strong> representa isto, e eu diria, me arriscaria a dizer, que isto se traduz<br />

em ir persistentemente às raízes dos dilemas do presente, que é o único modo<br />

de se perceber para que lado este troço pode andar, como é que se pode efetivamente<br />

intervir, sempre admitindo esta coisa que... eu diria que <strong>Florestan</strong><br />

sempre foi um radical, inclusive na militância política, forte, entretanto, pelas<br />

circunstâncias todas no mundo que lhe coube viver, e da sua inserção muito<br />

peculiar neste mundo, vindo de fora, eu diria uma espécie de pensamento<br />

sempre no exílio. Assim, ele é sensível a uma coisa que o grande pensamento<br />

revolucionário europeu esqueceu e isto torna <strong>Florestan</strong> mais atormentado<br />

do que, digamos, os grandes intelectuais da esquerda mais radical europeia<br />

do século XX, ele era sensível às exigências da constituição dos agentes que<br />

possam mudar o mundo. Qual foi uma das armadilhas em que cai, digamos,<br />

o guerrilheiro? Ele acha que automaticamente mudando o mundo ele muda<br />

os homens, e curiosamente <strong>Florestan</strong>, que nada tinha contra a transformação<br />

revolucionária, mas sempre estava atento aos dilemas envolvidos na ação,

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