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O PROGRESSO - 1º de janeiro de 2021

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MISCELÂNEA

Sexta, 1º de janeiro de 2021

EXTRA-2

Aureliano Neto*

Que venha 2021

Folha em branco. O pensamento voa,

em busca de caminhos. Estou num pequeno

e aconchegante apartamento. O lar do

brasileiro cordial, no dizer de Sérgio Buarque

de Holanda. Os livros espalhados.

Uns lidos; outros, visitados como faziam

os antigos caixeiros viajantes, na caminhada

de casa em casa. Dois mil e vinte se

escoando a nos dizer adeus. Uma partida

que não deixa saudade. Invade-me o samba

de Ataulfo: Vai, segue o teu caminho /

Que eu seguirei o meu, / Se a saudade

apertar, / Morro de dor, / Mas não vou te

procurar. Pois é. Muitos se foram antes

de 2020 escapar dos últimos dias do calendário.

Passará para a história. Daqui a

cem anos se falará dele. Alguns mais deterministas

afirmarão: - Foi o fim de uma

era. Talvez sim, talvez não. Ouso pensar:

antes de nascer, morreu o socialismo, com

a queda do Muro de Berlim. Mas também,

nesse mesmo ano de 1989, no dia 2 de

agosto, embora tenha morrido o rei do

baião, Luiz Gonzaga, a Asa Branca continua

sendo um hino de libertação/denúncia

do Nordeste: Quando olhei a terra ardendo

/ Com a fogueira de São João / Eu

perguntei a Deus do céu, uai / “Por que

tamanha judiação?”. Gonzaga e Humberto

Teixeira deixaram para o Brasil e o mundo

esse manifesto de sociologia viva, que

continua a expressar a nossa crua e odiosa

realidade nordestina, que não morreu.

Nada é eternamente imutável. Quem

sabe se, com o advento de 2021, o nordestino,

como ocorreu com a queda do

Muro de Berlim, consiga derrubar os grilhões

do atraso que o torna escravo da

elite fundiária, que domina a nossa amada

pária desde o período escravagista.

2020, que está indo tarde, serviu no

mínimo para se pensar na vida. Porém não

há como apressar o tempo da sua partida.

No calendário, são doze meses e trezentos

e sessenta seis dias. E o tempo

vale dinheiro, costumam vociferar os adeptos

empedernidos do idolatrado lucro. A

pandemia que se alastrou em 2020 fez

muita gente tropeçar nos seus próprios

passos, enquanto outros souberam encontrar

o caminho da fortuna. A mim me

fez prisioneiro, sob a vigilância inexorável

dos meus filhos e da minha diligente mulher.

Tive pouca, ou quase nenhuma, alternativa.

Consequência: estou aqui, de

frente para a tela do computador, tentando

exorcizar o ano que ainda não acabou

e que talvez, como se deu em 1968 e 1989,

não acabe. Pois bem. Há um historiador

que, de vez em quando, a ele recorro –

John Lukacs -, que afirma que tudo tem a

sua história, inclusive a história. Conclu-

são: quer se queira ou não, 2020 terá a

sua história. De dor, de sofrimento, de alegria,

pois enfim alguns poucos lucraram,

de burrice, inclusive burrice oficial, de negacionismo,

de idiotice, de bravura (haja

vista os médicos e médicos, os grandes

heróis e heroínas brasileiros) e da certeza

de que é mais que preciso que se pense

em um novo modelo de sociedade,

construída na solidariedade. O liberalismo

ou o neoliberalismo, de caráter essencialmente

individualistas, estão esgotados.

O conflito entre o capitalismo neoliberal e

o trabalho está perfeitamente colocado,

nesse estertor do ano de 2020, não apenas

como mera reflexão. Tivemos tempo

de pensar sobre a fatalidade epidêmica e

social. Se não houver mudança desse

modelo de desigualdade, os muitos miseráveis

não suportarão e irão para luta, se

não ideologicamente, mas como instinto

de sobrevivência.

Meu avô foi carroceiro. Meu pai foi operário.

Eu fui operário nos primórdios de

minha vida. Sei o que é carência. Dificuldades

de vencer trilhando o caminho do

estudo e da honestidade. Não tenho dúvida:

há um alerta no ar. Mercado resolve

seus problemas pelas leis do mercado.

Mas o trabalhador e quem dele depende

não podem ser vítimas dessas leis.

A história do Brasil nos conta que os endinheirados

sempre mantiveram em suas

mãos o poder, desde o Brasil colônia, passando

pelo Império e na República. Exemplo

atual: a briga pela presidência da Câmara

Federal não é por mim, por você,

pelo professor, pelo trabalhador rural,

pelo servidor público ou pelo empregado.

Não. Não é. É pelos interesses econômicos

da elite, com o fim específico de

aprovar os projetos que a beneficiem economicamente.

2020 seguirá o seu caminho para, como

Maria Antonieta, ser decapitado pelo males

de nossas omissões. Temos sido omissos.

Somos responsáveis solidários pela

disseminação de nossa pobreza. Do pobre

material. Do pobre cultural. Do pobre

educacional. Do pobre de amor, de solidariedade.

Não conseguimos ver além do

nosso nariz. Quando voltaremos a ter homens

e mulheres que sacrificaram a sua

vida para melhorar a vida dos outros?

Quando? Quando voltaremos a ter um

Gláuber Rocha? Um Chico Pinto? Paulo

Brossard? Ulisses Guimarães? Um outro

Chico Buarque de Holanda, que foi obrigado

a se exilar? A histórica deputada

Cristina Tavares? Mário Covas? Miguel

Arraes? Neiva Moreita? E tantos brasileiros

que não se submetiam à ordem unida.

Quando? Só nos resta, nesta dúvida

atroz, dá a adeus a 2020 e esperar que

2021 nos reserve lucidez para iluminar o

nosso caminho de libertação, em luta constante

por plena democracia e pelo Estado

de direito. Boas festas!

* Membro da AML e AIL.

aurineto@hotmail.com

ANO NOVO O QUE SEJA NOVO...

Nelson Bandeira

... Pois é tempo de melhorias, de gratidão

Aliando-se ao valor essencial do ser

e de criar propósito para o ano humano, que depende o respeito que to-

de 2021.

dos devem ter uns com os outros, denominada

O ano que acaba de se encerrar foi

de (dignidade).

sem semelhança com nenhum outro. O Por fim, essa obrigação assumida,

mundo foi contaminado pela pandemia comprometimento, que todos juram antes

(covid-19) que até hoje afronta a humanidade

de assumirem (compromisso).

e a ciência.

Essa trilogia é ouvida por todos os

Em nossa cidade não foi diferente. meios de comunicação quando se

Perdemos familiares, amigos, deixando dispõe a candidatar há qualquer cargo

uma grande lacuna inesquecível para todos

público...

os machucados por essa doença

Se não fosse a amnésia dissociativa

impiedosa.

que são contemplados depois de elei-

Vamos orar e pedir ao Pai celestial que tos, senão pelo menos se postaria como

os governantes deste planeta terra deixem

executivo e representantes políticos har-

as picuinhas e diferenças de lado, monizados.

unam-se em busca de uma vacina que

Toda cidade tem as sementes dos

venha imunizar a humanidade.

sonhos, cresçam e floresçam!

Infelizmente, todo processo é de caráter

Que seja Novo! Que venha uma chuvarada

político; e só quem leva o prejuízo é

de alegrias e realizações!

a natureza humana em relação aos desfavorecidos.

Isso é o desejo que a população almeja

em ter outorgado e confiado os

Aqui no Brasil se discute briga até para seus respectivos mandatos.

fazer um “caché” para ser receitado em

prol da saúde brasileira.

Sempre lembrando, que o conceito de

política tem a ver com organização, direção

Certos homens públicos que dirigem

e administração – para gerenciar os

os seus munícipes, beneficiados com negócios públicos.

dinheiro carimbado para dar ânimo e

melhorar o atendimento da população,

Adaptar-se é preciso...

não. Mete a mão e dissuadindo para outras

Como bem disse o grande mestre (te-

finalidades, até pessoais.

ólogo, jurista e poeta) – RUMI:

É obrigado ter a incumbência; essa “Levante suas palavras, não sua voz.

qualidade é de alguém que administra o É a chuva que faz as flores crescerem,

erário possa ser ponderado de (responsabilidade).

não os trovões”.

Assim seja

...

O Espaço dos Estudantes de hoje traz a Dayana Feltrin. Ela tem 30 anos e é acadêmica de Jornalismo da Faculdade Estácio de Sá, em

Sorocaba –SP. Atualmente está cursando o 2º período e escolheu essa área porque acredita que pode ter voz para ajudar aqueles que

realmente precisam de justiça, em todos os aspectos. Ela possui o seguinte lema: “Jornalismo é a arte de sintonizar o mundo e as pessoas”.

Hoje, a estudante compartilha a experiência de passar por uma cirurgia de emergência. Nesse texto, Dayana nos faz refletir sobre a

importância das pequenas coisas da vida. Confira!

REFLEXÕES DE UMA CAMA DE HOSPITAL

É nessas horas que pequenas coisas tornam-se

importantes, não é mesmo?

Começo relatando minha história, para que você,

leitor, possa entender.

Descobri que estava com um cisto no ovário.

Quando recebi a notícia fiquei sem chão... Chorei,

liguei pra pessoas que amo e até cogitei um testamento

kkk (sim, sou uma pessoa ansiosa).

Um belo domingo eu e minha família fizemos um

piquenique... Tudo certo até aqui.

Até que fui embora e, depois, desmaiei no banheiro...

Só acordei no hospital.

Os médicos correram para fazer uma cirurgia não

planejada, era urgente. Isso porque, em um curto espaço

de tempo, o cisto evoluiu e chegou a medir o

diâmetro de uma melancia. Não é exagero: ele estava

com 30 centímetros.

Por isso, foi necessário realizar uma cesárea para extrair

o cisto. Dessa forma, acabei perdendo um ovário.

E são em momentos inesperados como esse

que passamos a valorizar o ar que respiramos, a

possibilidade de caminhar “com as próprias pernas”

e a independência de tomar uma banho, por

exemplo. E, assim, começamos a entender que

precisamos melhorar como seres humanos, porque

não somos melhores do que ninguém. Compreendemos

a necessidade de exercer a empatia

e sermos gratos pelas pequenas coisas da vida.

Não sei se o meu relato fez algum sentido, mas

espero que, de que alguma forma, a minha experiência

te ajude a encarar a vida “com outros olhos”.

Portanto, observe com atenção os detalhes do dia

a dia. Cuide da sua saúde, faça exames, acompanhamento

médico. E não deixe cair no esquecimento

a mensagem transmitida por meio dessa pequena

reflexão de uma cama de hospital.

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