O PROGRESSO - 1º de janeiro de 2021
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LITERATURA
Sexta, 1º de janeiro de 2021
EXTRA-4
OBRA ABERTA: TRECHOS DE LIVROS DE AUTORES(AS) DA AIL
NOTA EDITORIAL: Caro(a) Leitor(a), como forma de incentivar o acesso à produção literária dos membros da
Academia Imperatrizense de Letras, estamos publicando trechos de livros dos nossos confrades e confreiras. E
continuamos publicando trechos de “Cemitério de Sonhos”, romance de Gilmar Pereira que foi um dos vencedores
o I Prêmio Literário Edelvira Marques, promovido pela Fundação Cultural de Imperatriz, em 2019. Apreciem!
CEMITÉRIO DE SONHOS - GILMAR PEREIRA (XIII)
EXPEDIENTE
O Espaço das Letras é uma publicação da Academia
Imperatrizense de Letras - AIL
Capítulo XIII
O Estranho Professor
Almar chegou um pouco mais cedo
ao colégio, já com uma ideia pronta.
Em sua apreensão, deixou todos os
colegas chegarem e avisou, no pé de
ouvido de cada um, para não chamar a
atenção dos outros colegas de sala,
que não tinha nada a ver com o assunto
do portão e da missão que eles assumiram
realizar.
- Temos que nos reunir no intervalo
do recreio!Disse ele a cada um em separado.
Todos já sabiam do que se tratava,
só não sabiam que tinha assuntos novos
para serem socializados no grupo.
As aulas seguintes, para os quatro,
aproximaram-se de quase uma eternidade.
O tempo não dava sinal de que
passava.
Eles olhavam tanto entre si, que não
prestavam nenhuma atenção nas aulas
que prosseguiam em seus ritmos normais.
Por alguns momentos, a Maíra olhava
para Almar como se também soubesse
do segredo que envolvia a sua
turma.
- Ela não pode saber. Só se alguém
desobedeceu ao pacto que
fizemos.Pensava tão intenso que, sem
perceber, se aproximou do limite da
ação.
Não sabia ele que o motivo de ela
estar a olhá-lo era outro e, seguidamente,
ela olhava, balançava os cabelos
para os lados, deixando transparecer
uma sedução contida nos gestos.
Só ele não sentia. E ele achando que
ela já sabia o que estava acontecendo
com sua turma.
- Já tem um traidor no grupo, meu
Deus! É tão normal ter traidor? Pensava
ele, achando que já tinha um infiltrado
no grupo, que repassava as informações
e as metas traçadas que eles
estariam fazendo.
Seu pensamento não dava espaço
para seu coração sentir a sedução evidente
da Maíra. Ela tentava, incessantemente,
lhe transmitir a atração que
sentia por ele.
Ainda de relance, ele viu mais uma
tentativa; ela mordia os lábios em uma
sedução provocante. Almar passou a
olhar para o outro lado, não deixando
margem para qualquer comunicação
entre ele e ela.
A sirene do colégio tocou. Os quatro
anteciparam a ida para o banheiro. A
Sarah ficou receosa de entrar no banheiro
masculino.
- Que vergonha! Declarava com
medo de ser vista por mais colegas
que não sabiam de que se tratava entre
eles.
Com as astúcias do Coriolano, não
foi difícil, a Sara adentrou o banheiro
junto com os seus parceiros de segredo,
disfarçada com um boné cobrindo
tanto os cabelos com parte do rosto.
Antes, o Aldo foi à frente e ficou na
porta pelo lado de dentro, mantendo-a
fechada, para que outros meninos não
entrassem no QG improvisado.
Na reunião, o Almar relatou tudo com
detalhes, o que ele fez sozinho, atravessando
a fronteira do portão. Ao confessar,
Aldo e Coriolano não gostaram e,
incisivamente, reclamaram em um ato
da traição do amigo.
- Covardia! Balbuciou Aldo.
- Um a zero! Finalizou Coriolando indignado
com o amigo.
Para Almar, aquele aviso foi uma indireta,
foi bem claro que ele agiu de
forma arbitrária, indo sozinho e sem ao
menos avisar o restante da turma.
Antes que eles planejassem o ponto
seguinte, o Flávio, o menino de cabelo
ruivo, com quem ainda não conseguiu
socializar, saiu do box onde, para variar,
ele sempre estava.
- Tu, aqui? Alarmou Sarah, num misto
de susto e vergonha.
- Tu ouviste alguma coisa que falamos
aqui dentro, Flávio? Perguntou Coriolando,
um tanto desconfiando ou jogando
uma indireta.
Flávio, com seu jeito esquisito, olhou
lentamente para cada um ali presente
e foi lacônico na sua resposta:
- Tô nessa, e ninguém me tira!
Como ficou claro que ele já sabia do
que estava acontecendo, não houve outra
saída para o grupo:
- Tudo bem! Confirmou Almar, pois,
de antemão, já lhe devia um grande favor.
Não esquecera que ele o tinha socorrido
de umas porradas e um batismo
com mijo, no primeiro dia de aula,
naquele colégio.
- Por mim, tudo bem! Aceitou Sarah,
sem quaisquer prerrogativas.
Os outros dois componentes do grupo
relutaram em aceitar. Mas, com inúmeras
justificativas de Almar e Sarah,
eles cederam, mesmo enciumados da
preferência de exclusividade.
Agora o grupo ganhou mais um componente.
Para Almar, uma boa aquisição;
primeiro, porque seria uma forma
cabal de ele quebrar o paradigma do
medo de gente ruiva; e, segundo, retribuir
o grande favor que sentia dever.
Com todo aquele contratempo, pela
aparição de Flávio, o grupo não teve
tempo para formular o plano seguinte
e a sirene do colégio tocou surpreendendo
a todos.
De volta à sala, qual não foi o espanto
que Almar teve.
- Ele aqui? Assustou-se.
Almar esperava qualquer um em sua
sala, menos aquele estranho que apareceu
na feira de ciência e, logo em seguida,
apareceu próximo a sua casa,
anotando alguma coisa, depois que seu
tio fora levado pela Força Nacional.
- Booom diarr! O estranho com sua
voz arrastada, desejou um bom dia a
todos.
Colocou seu material em cima da
mesa, que consistia, também, um globo
terrestre, que foi colocado em uma
posição em que toda a turma via o
mapa da União Soviética em toda sua
extensão global.
Ele deu uma levantada de vista e viu
Almar sentado poucos metros a sua
frente, ou seja, Almar sentiu que ele lhe
olhou e prestou bem atenção.
- Sou o professor John Amazonas,
estou aqui substituindo a professora de
ciência que está de licença.
- Professor, só o que faltava!
Almar ficou ressabiado com aquela
proposta de professor, para ele, não
fazia nenhum sentido.
- Quero ver onde isso vai dar! Concluía
Almar em sua introspecção.
O professor, com seu sotaque arrastando
as letras e as palavras, iniciou a
aula com muita segurança no assunto,
depois, no final da aula, explicou que
era médico de profissão.
- Como um médico pode se rebaixar
ao nível de um simples professor de
ciência em um colégio mais simples
ainda? Substituindo uma humilde professora?
Almar não se conformou e queria
compartilhar com os amigos aquele
assunto, que lhe tirava a concentração
de outros assuntos. Até mesmo porque
ele ainda não falara da coincidência que
aconteceu entre ele e o suposto professor.
Enquanto o John Amazonas juntava
seu material em cima da mesa, já no
final da aula, e Almar se questionava
por todos os polos de seu corpo, coincidiu
que o escritor e historiador na cidade
de Imperatriz, Maranhão, Paulo
Maciel, finalizava e dava título a sua
obra Guerrilha no Araguaia-Tocantins.
Raimundo Trajano Neto
Presidente
Liratelma Cerqueira
Vice-Presidente
Marcos Fábio B. Matos
Jornalista/Editor - DRT-1059
Hérika Almeida
Editora do Espaço dos Estudantes
As opiniões expressas nos textos deste informativo não refletem,
necessariamente, as da diretoria da AIl nem da editoria.