Fatores Humanos e Organizacionais da Segurança Industrial - FHOSI-portugues-v2_Maio-2014
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Fatores Humanos e Organizacionais da Segurança Industrial
O método da memorização influencia o acesso à informação memorizada
Se você procura o número de dias que tem o mês de abril, você vai encontrá-lo facilmente
com a alternância aprendida na escola: janeiro 31, fevereiro 28, março 31, abril 30.
A memória de
longo prazo
classifica as
situações.
Mas a memória de longo prazo não é simplesmente um estoque de lembranças. Os traços
memorizados são permanentemente recompostos, por comparação com as situações nas
quais nós estamos inseridos. Constroem-se, assim, “classes” de situações vizinhas, nas quais os
elementos comuns são memorizados muito intensamente, ao passo que os elementos específicos
de uma situação particular serão dificilmente reencontrados. A memória elabora, portanto,
sínteses, acessíveis à consciência, situações cujos detalhes podem ser mais facilmente acessíveis.
Os elementos assim memorizados e sintetizados têm naturezas muito diversas: lembranças perceptivas
(o cheiro de um perfume, os termos de uma conversa, uma paisagem) e sensório-motoras
(a lembrança do impulso que é preciso tomar para saltar um riacho), enunciados aprendidos
na formação (a lei dos gases perfeitos), esquemas descritivos (por exemplo, um esquema de
processo), regras formais (“se a temperatura do reator ultrapassar 250º C, faça-o parar”). Mas,
igualmente, as regras da experiência (“cada vez que faço isso, tenho tal resultado”) e os esquemas
de ação, que reúnem a percepção da situação que desencadeia a ação, a sequência de
operações e de buscas de informações para enfrentar uma determinada situação:
Um esquema de ação conhecido
O odor de gás na minha casa me leva a verificar as válvulas do fogão e, se estão fechadas, a
examinar o aquecedor de água. Se essas buscas são negativas e o odor persiste, eu chamo o
serviço de gás.
Para um operador com pouca experiência, a resposta a uma situação não habitual passará, muitas
vezes, pela aplicação de uma regra formal, aprendida ou procurada em um manual. Para os
operadores experientes, foram desenvolvidos esquemas de ação, unidades mentais que colocam
em relação os elementos percebidos e as ações a serem efetuadas. Esse funcionamento é muito
mais econômico em recursos que o primeiro (cf. seção 5-4 deste capítulo).
d/ Uma aprendizagem permanente
O ser humano está em constante aprendizado, estocando e sintetizando os traços de sua experiência.
É evidente que ele aprende também nos momentos concebidos como períodos de
formação. Mas não é garantido que os conhecimentos adquiridos na formação constituam um
todo harmonioso com aqueles resultantes da experiência prática.
O fato de que conhecimentos sejam ativados numa situação profissional depende das semelhanças
dessa situação com as circunstâncias de aquisição.
Diferenças entre situação de aprendizagem e situação real
Se a lei do Ohm foi ensinada sob a forma “U=RI”, a questão “U=?” vai provocar facilmente
a resposta “RI”. Isso não prova que, diante de um problema elétrico, a pessoa estará em
condição de utilizar a lei Ohm.
Se, em situação de formação, são recriadas situações próximas daquelas que são vividas no
ambiente profissional, os novos conhecimentos poderão ser integrados à síntese realizada pelo
cérebro em relação a essas famílias de situações. Caso contrário, é provável que elas sejam classificadas
com muitos outros enunciados, prontos a aparecer somente numa situação semelhante
àquela da formação.
O cérebro
antecipa.
e/ O cérebro voltado para o futuro e suas simulações
O cérebro, como já dissemos, não se contenta somente em esperar que as informações cheguem
até ele. A partir da antecipação das consequências da ação em curso, ele comanda a exploração
perceptiva, prediz as informações que a ação deveria fornecer e controla, por amostragem, o
que se passa como previsto.
O cérebro constantemente realiza predições, utilizando as lembranças de configurações similares.
Ele simula as consequências de diferentes ações possíveis, ativando as mesmas vias nervosas
como se a ação tivesse sido verdadeiramente efetuada: somente a realização é inibida. Ele
compara, desse modo, diferentes possibilidades de ação e suas consequências.
42