a conversa 16 “Estive muitos anos a trabalhar em empresas privadas, também em IA, criando projetos de desenvolvimento em situações reais. Aí vê-se diretamente o impacto que estes sistemas têm. Isso não acontece quando se está na universidade”
Quando Virgínia Dignum se interessou por inteligência artificial, não podia imaginar que, trinta anos depois, seria esta a tecnologia mais sexy do planeta. A atenção mediática de que a sua área de especialidade está agora a ser alvo fá-la sorrir. Diz que a culpa é do marketing. Não que desdenhe do potencial da IA, mas argumenta que esta popularidade repentina deve-se às roupagens que lhe vestiram, as aplicações conversacionais que, como tops de lantejoulas, captaram a atenção pública. Professora de Ciência da Computação na Universidade de Umea, na Suécia, e professora associada na Delft University of Technology, nos Países Baixos, faz parte do órgão consultivo em IA da ONU, destinado a realizar análises e apresentar recomendações para a governação internacional da Inteligência Artificial. A sua missão é contribuir para criar a agência internacional que vai regular a utilização desta tecnologia no mundo. Um desafio que, por ser gigantesco, a estimula muito. Nasceu em Portugal, passou a viver na Holanda e agora trabalha na Suécia. Por isso, Virgínia gosta de se definir como europeia, embora da sua biografia constem também estadias em África e Austrália, onde se dedicou a projetos de desenvolvimento, sempre na área digital. Casada com um professor de IA holandês e mãe de dois filhos já adultos, espera retornar à casa de partida quando chegar à idade da reforma, pois nas geografias onde mais tem passado o seu tempo não há nada que se compare ao velho e luminoso céu azul português. 17
