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O círculo da paz - AMB

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14<br />

S é r i e<br />

Uma chance à <strong>paz</strong><br />

Por Warner Bento Filho<br />

A expressão “viver em <strong>paz</strong>” não é só um clichê para quem vive em comuni<strong>da</strong>des<br />

intencionais como as ecovilas ao redor do mundo. Fazer a <strong>paz</strong> e vivê-la é como uma<br />

obsessão entre as pessoas destes lugares. O que não quer dizer que elas não conheçam<br />

conflitos e disputas. Eles existem. Mas estas comuni<strong>da</strong>des desenvolveram diferentes maneiras<br />

de encara-los, onde o diálogo e o entendimento desempenham papel fun<strong>da</strong>mental.<br />

Comuni<strong>da</strong>des intencionais acompanham praticamente to<strong>da</strong> a história <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de,<br />

com os mais diversos propósitos. Em território brasileiro, as primeiras experiências talvez<br />

tenham sido as dos jesuítas nos Sete Povos <strong>da</strong>s Missões, no Rio Grande do Sul, ain<strong>da</strong> no<br />

século XVII. Este tipo de assentamento ganhou importância no mundo a partir <strong>da</strong> revolução<br />

industrial, no século XVIII, que em pouco tempo transformou ci<strong>da</strong>des como Londres em<br />

lugares inabitáveis. O fechamento <strong>da</strong>s proprie<strong>da</strong>des rurais na Europa, na transição do<br />

feu<strong>da</strong>lismo para o capitalismo, expulsou <strong>da</strong> terra milhares de camponeses, que se refugiaram<br />

nas ci<strong>da</strong>des, conformando o enorme exército que alimentou o grande salto <strong>da</strong> produção<br />

industrial. Não havia moradias nem escolas nem salários nem saneamento nem hospitais<br />

para atender a to<strong>da</strong> a população que procurou abrigo nas ci<strong>da</strong>des. Pensadores que depois<br />

ficaram conhecidos como os socialistas utópicos buscavam então alternativas sustentáveis<br />

Na terceira reportagem <strong>da</strong> série sobre justiça não<br />

estatal, o Jornal do Magistrado mostra como se<br />

resolvem conflitos em comuni<strong>da</strong>des intencionais.<br />

Elas experimentam modelos de vi<strong>da</strong> mais libertários e<br />

Comuni<strong>da</strong>de de Tamera: laboratório para a criação de uma cultura de <strong>paz</strong> no mundo<br />

MARÇO A ABRIL DE 2004 JORNAL DO MAGISTRADO<br />

resolvem suas questões na base do diálogo<br />

para os assentamentos urbanos. Caso do britânico Ebenezer Howard, autor <strong>da</strong>s “Ci<strong>da</strong>des-<br />

Jardins do Futuro”, um projeto de assentamento que reunia vantagens <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> no campo<br />

com as facili<strong>da</strong>des <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, conceito que depois foi assimilado pelo mercado imobiliário<br />

inclusive no Brasil - em São Paulo são famosos os bairros-jardins, inspirados em Howard.<br />

A própria Brasília incorpora em seu projeto a idéia <strong>da</strong> “ci<strong>da</strong>de-parque”, como reconhece o<br />

próprio autor do projeto urbano <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, o arquiteto Lúcio Costa.<br />

A mesma geração contestatária dos anos 60, do movimento hippie, do maio de 68<br />

e de woodstock, deu novo impulso às comuni<strong>da</strong>des “alternativas”. Hoje, as comuni<strong>da</strong>des<br />

intencionais têm essa cultura entre suas referências. Algumas <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des cria<strong>da</strong>s naquela<br />

época persistem até hoje. Mas novos valores foram incluídos nas comuni<strong>da</strong>des intencionais,<br />

entre eles o conceito de sustentabili<strong>da</strong>de não apenas ambiental, mas também econômica,<br />

social, espiritual. Enfim, nas diversas dimensões do ser humano e <strong>da</strong> sua relação a Natureza e<br />

o mundo. Estas comuni<strong>da</strong>des, mais comuns nos Estados Unidos e na Europa, começam a se<br />

firmar também no Brasil. Levantamento <strong>da</strong> organização “Intentional Communities” registra<br />

431 comuni<strong>da</strong>des pelo mundo afora, a maior parte nos Estados Unidos.<br />

Algumas delas especializaram-se em mediação de conflitos, como a comuni<strong>da</strong>de<br />

de Lebensgarten, na Alemanha. A comuni<strong>da</strong>de foi construí<strong>da</strong> sobre uma antiga fábrica de<br />

munição que serviu à ditadura de Hitler. Era um lugar para onde ninguém queria ir, e por<br />

isso as terras valiam pouquíssimo. Hoje é uma comuni<strong>da</strong>de que desenvolve tecnologias<br />

sustentáveis e exporta metodologias para mediação de conflitos. Eles desenvolveram também<br />

um caminhão movido a energia solar, que circula dentro <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de. Um dos principais<br />

problemas que enfrentam é o silêncio. O motor elétrico do caminhão não faz barulho e, por<br />

esse motivo, passaram a acontecer pequenos atropelamentos (o caminhão an<strong>da</strong> devagar).<br />

Agora, eles consideram a possibili<strong>da</strong>de de equipar o caminhão com um sino.<br />

Uma <strong>da</strong>s mais tradicionais comuni<strong>da</strong>des deste tipo no mundo está na Escócia,<br />

a Findhorn. A comuni<strong>da</strong>de tem mais de 40 anos e conta com população entre 500 e<br />

600 pessoas. Nasceu em 1962, num antigo lixão. Com muito trabalho, a comuni<strong>da</strong>de<br />

mudou a cara do lugar. O solo foi praticamente construído de novo, com o uso intenso de<br />

compostagem. Uma terra que não tinha na<strong>da</strong> além de substâncias tóxicas, hoje produz seis<br />

vezes mais do que a comuni<strong>da</strong>de é ca<strong>paz</strong> de consumir. O lugar ficou famoso por produzir<br />

repolhos de até 20 quilos.<br />

May East é uma brasileira que mora há anos em Findhorn. A casa dela é um antigo<br />

barril de uísque descartado por uma fábrica. Ela conta que qualquer decisão na comuni<strong>da</strong>de

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