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O círculo da paz - AMB

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Justiça<br />

Segundo Haroldo, há, por traz <strong>da</strong> mera necessi<strong>da</strong>de de inclusão na ativi<strong>da</strong>de<br />

econômica, uma insatisfação com o modelo econômico formal, baseado na exploração<br />

humana e na degra<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> natureza. Os grupos inspirados na economia solidária têm<br />

como princípio a sustentabili<strong>da</strong>de em to<strong>da</strong>s as suas dimensões – ambiental, econômica,<br />

social etc. Não se admite, por exemplo, o uso de agrotóxicos ou práticas agrícolas nocivas<br />

ao meio-ambiente, <strong>da</strong> mesma maneira que são vetados os produtos obtidos com base na<br />

exploração <strong>da</strong> força produtiva. São conceitos que não estão escritos em nenhuma lei, mas<br />

impregnados de um forte sentido de justiça.<br />

“A economia solidária, como diz a expressão, reúne economia e soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de. Implica<br />

não só em um campo econômico e socialmente justo, mas também ecologicamente sustentável,<br />

com qualificação dos produtores e outras questões. Mas só isso ain<strong>da</strong> não é economia<br />

solidária. É preciso colocar o bem viver <strong>da</strong>s pessoas acima de qualquer interesse. Não há<br />

lucro, mas compartilhamento dos excedentes”, resume Euclides André Mance, um dos<br />

maiores teóricos <strong>da</strong> economia solidária no Brasil. “O preço justo é a questão-chave. A lógica<br />

do mercado é a <strong>da</strong> oferta e <strong>da</strong> procura. Se houver pouca oferta, o preço sobe. Se houver<br />

uma superprodução, os agricultores entram em crise. A lógica do mercado não é a lógica <strong>da</strong><br />

abundância, mas a <strong>da</strong> escassez. Na economia solidária, trabalha-se com o preço justo. Se há<br />

superprodução, ela é compartilha<strong>da</strong>. Pelo mesmo preço, adquire-se uma quantia maior do<br />

produto abun<strong>da</strong>nte. A comuni<strong>da</strong>de pode criar alternativas para consumir o excedente sem<br />

provocar prejuízos aos produtores. Na lógica <strong>da</strong>s redes de economia solidária entende-se<br />

que se o produtor não vender não terá condições de comprar outra coisa”, explica Mance.<br />

A teia<br />

O sociólogo espanhol Di<strong>da</strong>c Sanchez-Costa, de pai catalão e mãe uruguaio-brasileira,<br />

dedica-se a criar redes de troca pelo mundo afora. Só na América Latina esteve envolvido na<br />

criação de pelo menos 20 grupos deste tipo, no Brasil, Argentina, Uruguai e Chile.<br />

Entusiasmado, ele vê enorme potencial neste tipo de iniciativa: “Resolve-se, com a criação<br />

de uma rede de troca num bairro, problemas graves no âmbito psicossocial, <strong>da</strong> auto-estima<br />

pessoal e comunitária, do controle local dos recursos locais, <strong>da</strong> recuperação dos tecidos solidários,<br />

o que aju<strong>da</strong> a acabar com a violência, por exemplo, desde a própria comuni<strong>da</strong>de. Redescobremse<br />

muitos recursos locais, sempre existentes e muitas vezes esquecidos ou subestimados por um<br />

capitalismo voraz que não os valoriza nem contempla, em nome <strong>da</strong> eficiência de uma economia<br />

para a qual o meio-ambiente e o ser humanos são externali<strong>da</strong>des”.<br />

Ao contrário do que se poderia pensar, o sociólogo diz que as redes de troca aju<strong>da</strong>m<br />

o modelo capitalista, na medi<strong>da</strong> em que integram grupos de excluídos à economia. “A implementação<br />

<strong>da</strong>s redes não priva o capitalismo de seus ganhos e sim, ao contrário, permite introduzir<br />

ao sistema muitos setores que estavam fora e agora, graças a um esquema paralelo<br />

mais amável, generoso, cooperativo e abun<strong>da</strong>nte, podem gerar riqueza”, diz.<br />

Di<strong>da</strong>c, agora de volta a Barcelona, embarcou num novo sonho, para o qual diz ter<br />

reunido mais e 300 pessoas em mais de 30 países: a idéia é adquirir um barco ca<strong>paz</strong> de ro<strong>da</strong>r<br />

o mundo fomentando as redes de trocas e montando uma teia mundial de economia solidária.<br />

Na América Latina, o grupo pretende formar uma integração econômica às avessas do<br />

que existe com o Mercosul, por exemplo, com base nos conceitos <strong>da</strong> economia solidária.<br />

Mais uma vez, a aposta, talvez utópica, na organização <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de para cumprir as deman<strong>da</strong>s<br />

que o Estado (ou os estados) não vê, não quer ver ou via, mas esqueceu.<br />

JORNAL DO MAGISTRADO<br />

MARÇO A ABRIL DE 2004<br />

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