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Nota da Segunda Edição - Rosenvaldo Simões de Souza

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“Os carros corriam velozes pela longa aveni<strong>da</strong> e eu tentava atravessá-la. Na época, a<br />

alguns anos atrás, eu era uma moça muito bonita e usava um vestido azul e tinha um<br />

cabelinho todo arrepiado, muito na mo<strong>da</strong> então.”<br />

“Mas o vento naquela aveni<strong>da</strong> acabou por <strong>de</strong>smanchar o meu mo<strong>de</strong>rno penteado<br />

arrepiado. E era um vento tão forte que chegava mesmo a querer levantar meu vestido para<br />

cima, <strong>de</strong> modo que eu tinha <strong>de</strong> segurar com uma <strong>da</strong>s mãos a minha bolsa <strong>de</strong> couro, uma<br />

bolsa muito na mo<strong>da</strong> também, e com a outra mão eu tinha que segurar o meu vestido junto<br />

ao corpo para que o vento não o levantasse e <strong>de</strong>ixasse à mostra o que não <strong>de</strong>via ser<br />

mostrado no meio <strong>de</strong> uma aveni<strong>da</strong>.”<br />

“Assim, ocupa<strong>da</strong> em <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r-me <strong>da</strong>quele vento, atravessei a aveni<strong>da</strong> movimenta<strong>da</strong><br />

e segui até um ponto <strong>de</strong> ônibus, na ver<strong>da</strong><strong>de</strong> o mesmo ponto <strong>de</strong> ônibus <strong>de</strong> todos os dias e <strong>de</strong><br />

sempre. Ali, aguar<strong>de</strong>i durante alguns minutinhos até que o meu ônibus chegou. Então entrei<br />

nele.”<br />

“Dentro havia vários lugares vazios. Ocupei um <strong>de</strong>les. Sentei-me e tratei <strong>de</strong> cruzar<br />

as pernas. Afinal, eu estava <strong>de</strong> vestido. Mas, para meu espanto, o vento <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong>quele<br />

ônibus era também muito intenso, <strong>de</strong> modo que pu<strong>de</strong> perceber que estava a se <strong>de</strong>smanchar<br />

<strong>de</strong> vez por to<strong>da</strong>s o meu mo<strong>de</strong>rno penteado.”<br />

“Fechei uma <strong>da</strong>s janelas. O vento agora era menor.”<br />

“Paramos em um outro ponto, no qual eu não <strong>de</strong>sci. Contudo, subiram várias<br />

pessoas. Seguimos e paramos em mais vários outros pontos, nos quais eu também não<br />

<strong>de</strong>sci, e nos quais mais pessoas entraram, <strong>de</strong> maneira que em pouco tempo o ônibus estava<br />

repleto <strong>de</strong> gente <strong>de</strong> todos os tipos.”<br />

“O ar <strong>de</strong>ntro do ônibus começou a ficar abafado <strong>de</strong>vido ao monte <strong>de</strong> gente aperta<strong>da</strong><br />

próximas uma <strong>da</strong>s outras. Por isso, alguém resolver abrir uma janela logo ao meu lado. E<br />

então o vento <strong>de</strong>sagradável recomeçou o seu bater incômodo em meus cabelos já bastante<br />

<strong>de</strong>sarranjados. Pedi, com to<strong>da</strong> a <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za <strong>de</strong> que fui capaz, com minha voz macia, para<br />

que o moço que havia aberto a janela tornasse a fecha-la, por causa do vento excessivo nos<br />

meus cabelos. Lembro-me ain<strong>da</strong> que pu<strong>de</strong> notar pelo reflexo no vidro <strong>da</strong> janela que, no<br />

momento exato em que pedi ao moço pelo favor, meus lábios carnudos e vermelhos <strong>de</strong> um<br />

batom forte abriram-se e fecharam-se graciosamente.”

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