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Psicologia e Educação, 6 (1), 2007 Dificuldades na Escrita de ...

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Os trabalhos oriundos da neuropsicologia, nomeadamente aqueles <strong>de</strong>correntes<br />

do estudo <strong>de</strong> doentes com lesões cerebrais, ajudaram bastante a estabelecer a<br />

arquitectura cognitiva dos processos envolvidos <strong>na</strong> escrita. A constatação <strong>de</strong> casos em<br />

que as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> fala e <strong>de</strong> leitura coexistem com bons <strong>de</strong>sempenhos <strong>na</strong> escrita<br />

conduziu a mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> escrita que não são inteiramente coinci<strong>de</strong>ntes com os mo<strong>de</strong>los<br />

explicativos das outras duas áreas. O facto <strong>de</strong> doentes incapazes <strong>de</strong> converterem os<br />

fones nos grafemas correspon<strong>de</strong>ntes se revelarem, apesar disso, capazes <strong>de</strong> escrever<br />

palavras familiares (Bub & Kertesz, 1982b; Shallice, 1981) levou ao abandono da<br />

hipótese teórica segundo a qual a escrita resultaria sempre, e obigatoriamente, <strong>de</strong> uma<br />

mediação fonológica (que é requerida <strong>na</strong> fala), responsável pela tradução dos sons em<br />

grafemas (Déjerine, 1914; Luria, 1947/1970). A existência <strong>de</strong> doentes com<br />

dificulda<strong>de</strong>s <strong>na</strong> produção oral <strong>de</strong> palavras que conseguem, ainda assim, escrever essas<br />

mesmas palavras (Caramazza, Berndt, & Basili, 1983) vem reforçar a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que<br />

existe uma representação ortográfica da palavra que po<strong>de</strong> funcio<strong>na</strong>r<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da sua representação fonológica. Por outro lado, consi<strong>de</strong>rem-se<br />

ainda os casos <strong>de</strong> pacientes disléxicos que, apesar das suas dificulda<strong>de</strong>s <strong>na</strong> leitura,<br />

conseguem escrever (Beauvois & Dérouesné, 1981; Bub & Kertesz, 1982a). Casos<br />

documentados como estes sustentam a hipótese <strong>de</strong> que as representações ortográficas<br />

serão diferentes para as áreas da leitura e da escrita.<br />

Admitida a existência <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo específico da escrita, este revelar-se-á<br />

um instrumento fundamental para percebermos não só o funcio<strong>na</strong>mento <strong>de</strong>sta mestria,<br />

como também os problemas particulares que a po<strong>de</strong>m afectar. Embora se reconheçam<br />

algumas diferenças entre as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvimentais e as adquiridas, interessa<br />

realçar que umas e outras po<strong>de</strong>m ser interpretados à luz <strong>de</strong>ste mo<strong>de</strong>lo (Castro &<br />

Gomes, 2000; Vidal & Manjón, 2000). Referimo-nos, claro está, às dificulda<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>rivadas da componente linguística. A componente motora, igualmente importante<br />

<strong>na</strong> produção escrita, exige uma abordagem diferente. Aliás, a existência <strong>de</strong>stas duas<br />

componentes está <strong>na</strong> origem <strong>de</strong> uma primeira distinção que é preciso fazer entre<br />

agrafias centrais, <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> problemas nos processos linguísticos, e agrafias<br />

periféricas, causadas por distúrbios ao nível motor (Rapcsak & Beeson, 2000).<br />

No presente artigo a<strong>na</strong>lisaremos como se po<strong>de</strong>m avaliar as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

escrita <strong>de</strong>correntes da perturbação <strong>de</strong> processos linguísticos (as agrafias centrais), e,<br />

mais concretamente, em que medida tal avaliação é permitida pela PAL-PORT –<br />

Bateria <strong>de</strong> Avaliação Psicolinguística das Afasias e <strong>de</strong> outros Distúrbios da<br />

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