12.04.2013 Views

IX. A viagem das palavras

IX. A viagem das palavras

IX. A viagem das palavras

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>IX</strong> A VIAGEM DAS PALAVRAS<br />

462<br />

Frutos como o caju, a manga, especiarias como a canela e o caril, produtos<br />

como o betel, a areca e a copra, madeiras preciosas, tecidos, animais exóticos,<br />

partiam de Lisboa para a Europa, etiquetados em português. As descrições dos<br />

novos povos e costumes, <strong>das</strong> drogas e simples, <strong>das</strong> desconheci<strong>das</strong> configurações<br />

sociais, os nomes e títulos de dignatários, templos e palácios, aci dentes<br />

geográficos e topónimos espalham-se pelo Velho Mundo, im pondo noutras<br />

línguas as designações que os Portugueses lhes tinham dado, na sua maioria<br />

em «segunda mão», apropria<strong>das</strong> de línguas africanas, orientais e americanas.<br />

A influência <strong>das</strong> línguas de Além-Mar no Português<br />

Lisboa, em meados do século XVI, transformara-se num enorme empório, a<br />

que os produtos trazidos de África e da Ásia davam um ar de bazar oriental<br />

à beira Tejo. Exibiam-se animais exóticos que, para os europeus, durante<br />

séculos, não tinham passado de monstros míticos do bestiário medieval. Os<br />

tecidos e tapetes do Oriente, porcelanas da China e do Japão, madeiras exóticas,<br />

jóias, objectos de ouro, prata e marfim estavam à venda nas lojas da<br />

Rua Nova dos Mercadores.<br />

Um espanto maravilhado pela riqueza do Oriente, as artes sumptuosas da<br />

China e da Índia, os objectos exóticos da Ásia e a miscelânea de estranhezas<br />

que enchiam as lojas e ruas de Lisboa ecoa num poema do século XVI, de<br />

Diogo Velho 61 :<br />

Ouro, aljôfar, pedraria,<br />

gomas e especiaria,<br />

toda outra pedraria<br />

se recolhe em Portugal.<br />

Onças, liões, alifantes,<br />

monstros e aves falantes,<br />

porcelanas, diamantes,<br />

é já tudo mui geral.<br />

Gentes novas escondi<strong>das</strong>,<br />

são a nós tão conheci<strong>das</strong><br />

como qualquer natural.<br />

Um Romance Indiático, incluído num manuscrito 62 do início do século<br />

XVII, espelha no humor do sem-sentido dos seus versos a abundância, a

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!