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IX. A viagem das palavras

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<strong>IX</strong> A VIAGEM DAS PALAVRAS<br />

434<br />

O «Português» língua franca<br />

A existência de uma vasta rede de núcleos populacionais ao longo <strong>das</strong> costas<br />

de África e do Oriente, núcleos onde os crioulos de base portuguesa foram<br />

a língua materna de parte da população e em cuja periferia se utilizava um<br />

pidgin português como língua de contacto, tornou o Português (nas suas<br />

metamorfoses crioulas ou nas versões pidginiza<strong>das</strong>), do século XV ao século<br />

XVIII, a língua veicular do comércio e do contacto interétnico em vastas<br />

zonas do Globo. Mercadores e missionários europeus tinham assim ao seu<br />

dis por uma língua «simplificada», com um léxico onde eram facilmente reconhe<br />

cíveis as <strong>palavras</strong> de uma língua europeia, facilitando o contacto imediato<br />

e dispensando a aprendizagem <strong>das</strong> línguas locais.<br />

No Índico, durante os séculos XVII e XVIII, em grande parte dos domínios<br />

ingleses e holandeses, funcionaram como línguas francas versões mais ou<br />

menos criouliza<strong>das</strong> de um «corrupted Portuguese» 4 , utiliza<strong>das</strong> por administradores<br />

coloniais, por visitantes ocasionais e por missionários <strong>das</strong> Igrejas<br />

anglicanas, no seu trato com os habitantes locais.<br />

Em nenhum outro lugar a sobrevivência desta língua veicular foi tão forte<br />

como no Ceilão. Durante a primeira metade do século X<strong>IX</strong>, atestando a<br />

sobre vivência da língua franca até à época, foram impressos vários glossários<br />

e gra máticas do Ceylon Portuguese, com reedições sucessivas, para uso dos<br />

admi nistradores coloniais ingleses, mais ainda do que para o simples viajante.<br />

Berrenger (1811), autor de uma dessas gramáticas, dedica-a «to the English<br />

Gentlemen in the Civil and Military Service on Ceylon». E, no prefácio, onde<br />

comenta as vantagens e as características da língua, afirma:<br />

Few of the natives of this Island talk English with sufficient fluency and correctness<br />

to convey their meaning in that Language, but most of them speak and understand<br />

this corrupted Portuguese 5 .<br />

Charles Lockyer, um viajante inglês, refere, no início do século XVIII, a existência<br />

de uma língua de contacto, espalhada pelos Portugueses, nos portos<br />

da Índia:<br />

This they may justly boast, they have established a kind of Lingua Franca in all the<br />

Sea Ports in India, of great use to other Europeans, who would find it difficult in<br />

many places to be well understood without it 6 .

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