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1 Archivo General<br />

de Índias (Sevilha),<br />

Contratación,<br />

922ª, N.12<br />

VAGA GENTE 20 21<br />

N.5 OUTONO INVERNO 2006 2007<br />

AGI (Sevilha), Testamento de Tomé Álvares, Contratación, 922A, nº12.<br />

Tomé Álvares, natural da cidade de<br />

Tavira, vizinho de Triana, enfermo do corpo<br />

e são da vontade, em seu perfeito juízo e<br />

entendimento, ditou um testamento 1 , poucos<br />

dias antes de falecer, a 18 de Março de<br />

1582, em Santiago de Guayaquil.<br />

Nasceu no reino de Portugal, filho de<br />

Lázaro Fernandes e de Inês Martim, e emigrou<br />

para Triana, bairro de marinheiros na<br />

margem direita do Guadalquivir, frente à<br />

cidade de Sevilha, reino de Espanha. Daqui<br />

partiu para as Índias do Mar Oceano com<br />

outros algarvios e andaluzes por companheiros.<br />

Instalou-se bem longe daqui, na margem<br />

oriental do Oceano Pacífico, na cidade<br />

portuária de Guayaquil, reino do Peru.<br />

Não sabemos a sua idade, apenas que,<br />

à data do seu testamento, os seus pais eram<br />

defuntos e não tinha filhos. Casara em<br />

Triana, segundo a ordem da Santa Madre<br />

Igreja Católica Romana, com Catalina Garcia,<br />

filha de Francisco Garcia e de Isabel Peres,<br />

naturais de Vila Nova de Portimão e vizinhos<br />

desse bairro marítimo. Tomé partiu<br />

para as Índias, Catalina ficou em Triana,<br />

com a mãe, cuidando da casa e da fazenda<br />

com a ajuda das negras que tinha ao seu<br />

serviço. O dote que levara consigo havia<br />

sido duplicado em bens pela habilidade do<br />

marido que, agora, no outro lado do mundo,<br />

falecia deixando-lhe apenas um testamento<br />

que pouco acrescentava àquilo que ficara<br />

por dizer: universal herdeira dos bens em<br />

Triana e de mais ou menos seiscentos<br />

pesos de prata corrente, cobradas as dívidas<br />

alheias e o salário de carpinteiro de ribeira<br />

do marido.<br />

Partira do Algarve para a Andaluzia,<br />

de Portimão ou Tavira para Aiamonte ou Sevilha<br />

em busca de uma viagem para a<br />

Índia, desassossego que não passava disso<br />

mesmo, desassossego por fortuna muitas<br />

vezes transformada em má sorte.Tomé não<br />

enriqueceu. Não tinha casa própria em<br />

Guayaquil, apenas um colchão, um cobertor,<br />

uma almofada e lençóis gastos. A roupa<br />

que vestia era modesta, o melhor ficou<br />

registado no testamento – um capote negro<br />

guarnecido de passamanes, uns imperiais<br />

negros de terciopelo e um velho saio azul.<br />

Entre os seus parcos bens, fez questão de<br />

nomear a ferramenta de carpinteiro com a<br />

qual ia construindo o barco que o alcaide<br />

ordinário de Guayaquil encomendara ao<br />

mestre António Fernandes e que lhe valeria<br />

os 280 pesos de salário por cobrar.<br />

Os seus albaceias eram o mestre de<br />

fazer navios e o alcaide ordinário da cidade.<br />

Testemunhas do testamento e dos últimos<br />

dias de vida de Tomé foram outros algarvios,<br />

como António Resio, mercador natural<br />

de Vila Nova de Portimão que era vizinho<br />

de Aiamonte e viajava de cá para lá do<br />

Atlântico ao Pacífico. António mal teve<br />

tempo de satisfazer uma vontade do seu<br />

amigo enfermo – comprar-lhe 36 pesos de<br />

queijos. Foi também António que trouxe<br />

para Sevilha os 120 ducados que Tomé<br />

devia aos herdeiros do bretão Francisco<br />

Martins. Chegado a Sevilha com cópia do<br />

testamento para Catalina, não resistiu à<br />

insistência desta para que lhe entregasse os<br />

ducados de prata. Isabel Fernandes, viúva<br />

do bretão, mandou António para a cadeia<br />

por este não lhe ter pago a dívida do carpinteiro<br />

defunto, e este vê-se envolvido<br />

num processo motivado pela má-fé da<br />

viúva do seu amigo. Coisas de mulheres,<br />

disputas de herdeiros.

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