Grupos de Cultura Popular - Revista Mutações

More documents

Recommendations

Info

(1994) essas culturas não estão fadadas a desaparecer, pois estão continuamente passando por um processo de apropriação e expropriação do qual argumenta Stuart Hall (2003, p.259-260) ao problematizar a questão da tradição: [...] A tradição é um elemento vital da cultura, mas ela tem pouco a ver com a mera resistência das velhas formas. Está muito mais relacionada às formas de associação e articulação dos elementos. Esses arranjos em uma cultura nacionalpopular não possuem uma posição fixa ou determinada, e certamente nenhum significado que possa ser arrastado, por assim dizer, no fluxo da tradição histórica, de forma inalterável. Os elementos da ‘tradição’ não só podem ser reorganizados para se articular a diferentes práticas e posições e adquirir um novo significado e relevância. Trata-se de reinventar o tradicional, pois nenhuma cultura é pura e está em constante processo de negociação de novos significados, é o que Canclini (2003) chama de hibridização das culturas, em uma explicação da mistura dos processos massivos, popular, tradicional e erudito. A manifestação da Pastorinha de Parintins, por exemplo, se constitui um caso onde essas visões teóricas podem ser comprovadas. Trata-se de uma cultura popular tradicional de origem ibérica introduzida no Brasil certamente com a vinda dos jesuítas, que ao retratar o auto natalino em prosa e verso lembram as trovas medievais. Essa cultura popular se constitui naquilo que Barbero (2006) chama de narrativa anacrônica, no entanto que vem se ressignificando ao interagir com os processos massivos contemporâneos. A reinvenção do tradicional nessa manifestação perpassa pela articulação de processos e meios que atrelados a prática e ao cotidiano dessas comunidades vem se atualizando com a incorporação de dinâmicas da indústria cultural, quando por um desejo da própria comunidade passam a espetacularizar por meio de um festival organizado desde 2001 pela secretaria de cultura do Município de Parintins suas tradições e todo seu universo simbólico. 10 As pastorinhas acham-se organizadas por meio da Associação Cultural das pastorinhas de Parintins, que congrega 12 grupos folclóricos oficialmente. Nessa manifestação cultural pode-se observar como operam os cruzamentos entre o massivo, o popular, o tradicional e o erudito, quando a pastorinha uma tradição herdada da colonização européia de origem portuguesa é
assimilada e ao mesmo tempo metamorfoseada pela cultura brasileira em um espaço cultural onde comunidades rurais e urbanas reorganizam e dão novo significado, que alimentadas pelo folclore, transformam-se em uma causa do próprio reconhecimento do seu espaço social. Essa cultura popular tradicional é eminentemente assentada em uma tradição oral, em que seus integrantes na qualidade de narradores difundiram essa cultura de boca em boca, que passada de geração a geração se apresenta hoje incorporada aos dispositivos imaginários da indústria cultural. O ritual não se restringe somente ao festival, enquanto instância, em que se operam os mecanismos da indústria cultural, mas de celebrações tradicionais nos barracões na periferia do município e de saídas nas ruas da cidade no dia 06 de Reis, e com a queima da palhinha, ritual quando as festividades natalinas são encerradas. Esse universo lúdico quando incorporado pela indústria cultural se eterniza e se renova continuamente, fato que a pastorinha assim como O narrador de Leskov em Benjamin (1980) articula todo um universo simbólico, épico, pautado na experiência que alimenta o sonho, o devaneio, que por sua vez faz parte dos mecanismos em que operam a indústria cultural. Por outro lado a articulação dessa cultura folclórica com os processos massivos permitiu que os produtores dessa cultura saíssem do anonimato e difundissem seus propósitos por meios de seus processos de comunicação inscritos na vida prática e cotidiana. Conclusão Diante da análise teórica constata-se como o lugar do popular sempre foi negado na cultura, no entanto com as transformações advindas na sociedade, o popular ao poucos vai se fazendo integrante na sociedade, mesmo que seja por inclusão abstrata como revela Barbero. O fato é que a questão da exclusão do espaço do popular na cultura é um assunto que toca a hegemonia, e que nos faz compreender a complexidade do popular e das culturas populares tradicionais na contemporaneidade. O redimensionamento da experiência é um processo necessário e inevitável ao popular, como se constata a luz das obras de Benjamin, em face de mudanças na sociedade que são inevitáveis como ele mesmo defende, a experiência foi um dos espaços que mais ocorreu mudanças, entretanto, não se constatou o definhamento, mas uma resignificação dessa prática cotidiana, incorporada pelos dispositivos imaginários da indústria cultural. 11 A tese que ora se defende é o olhar da indústria cultural não como degradação da cultura, mas como um processo onde também o popular é incorporado, e onde pode também ocorrer à interpelação de práticas comunicacionais das culturais populares
Page 1 and 2: RELEM - Revista Eletrônica Mutaç
Page 3 and 4: conceito, um modo específico de re
Page 5 and 6: suscitam o retorno ao passado obscu
Page 7 and 8: apoio prático à vida imaginária
Page 9: (crônica, artigo, reportagem) a ri

Grupos de Cultura Popular - Revista Mutações

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

Delete template?

Save as template?