Grupos de Cultura Popular - Revista Mutações
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3. O valor da experiência em Benjamin<br />
Mesmo em que pese à negação do<br />
popular pelos frankfurtianos Adorno e<br />
Horkheimer, Walter Benjamin integrante da<br />
escola <strong>de</strong> Frankfurt faz da análise da<br />
experiência do homem consi<strong>de</strong>rado trivial<br />
para Adorno, uma forma <strong>de</strong> explicar as<br />
transformações que se processavam na<br />
socieda<strong>de</strong> pré-industrial. É assim que<br />
Barbero (2006, p. 72) diz que Benjamin foi<br />
capaz <strong>de</strong> pensar o não pensado: “o popular na<br />
cultura não como negação, mas como<br />
experiência e produção”.<br />
Benjamin em o Narrador (1980) que<br />
conta a história <strong>de</strong> Leskow, um autêntico<br />
narrador, discute e <strong>de</strong>screve a narrativa como<br />
uma forma <strong>de</strong> comunicação artesanal que<br />
caminha para o fim com o surgimento da<br />
imprensa, trazendo uma nova forma <strong>de</strong><br />
comunicação - a informação.<br />
A explicação para isso não se trata<br />
apenas do advento da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, mas <strong>de</strong><br />
transformações históricas muito lentas e<br />
inevitáveis no tempo e no espaço, como<br />
<strong>de</strong>screve:<br />
“Mas se hoje ‘dar<br />
conselhos’ começa a<br />
soar nos ouvidos como<br />
algo fora <strong>de</strong> moda, a<br />
culpa é da circunstância<br />
<strong>de</strong> estar diminuindo a<br />
imediatez da<br />
experiência. Por causa<br />
disso não sabemos dar<br />
conselhos nem a nós,<br />
nem aos outros [...] O<br />
conselho, entretecido<br />
na matéria da vida<br />
vivida, é sabedoria. A<br />
arte <strong>de</strong> narrar ten<strong>de</strong><br />
para o fim porque o<br />
lado épico da verda<strong>de</strong>,<br />
a sabedoria está<br />
agonizando. Mas este é<br />
um processo que vem<br />
<strong>de</strong> longe. Nada seria<br />
mais tolo do que querer<br />
vislumbrar nele apenas<br />
um ‘fenômeno da<br />
<strong>de</strong>cadência’- muito<br />
menos ainda<br />
mo<strong>de</strong>rno’[...]<br />
(BENJAMIN, 1980b, p.<br />
59)<br />
A experiência que é inerente ao<br />
narrador na arte <strong>de</strong> contar estórias que se<br />
<strong>de</strong>sdobram a cada narração então se vê<br />
ameaçada <strong>de</strong> extinção por outros gêneros,<br />
que primeiramente foi imposto pelo romance<br />
e <strong>de</strong>pois à informação passível <strong>de</strong><br />
verificabilida<strong>de</strong>. É claro que em face <strong>de</strong>ssas<br />
transformações históricas como Benjamin<br />
expõem em o Narrador o estilo <strong>de</strong>scrito da<br />
narração foi diminuindo enquanto<br />
comunicação artesanal, e ce<strong>de</strong>ndo espaço<br />
para outras formas e gêneros como o<br />
romance e <strong>de</strong>pois a informação. Todavia não<br />
se constata a extinção <strong>de</strong> todo da narrativa,<br />
visto que as culturas populares tradicionais<br />
ainda conservam esse tipo <strong>de</strong> comunicação. É<br />
claro que no séc. XXI a feição <strong>de</strong>ssa<br />
narrativa convive com outros gêneros e são<br />
incorporados pelos meios <strong>de</strong> comunicação<br />
massiva. Hoje se vê uma tendência cada vez<br />
maior do jornalismo contemporâneo em<br />
utilizar os vários gêneros jornalísticos<br />
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