A Maria do cangaço - Revista Algomais
A Maria do cangaço - Revista Algomais
A Maria do cangaço - Revista Algomais
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Martinho da Vila, <strong>Maria</strong> Rita. O que<br />
esse povo tem a ver com o carnaval<br />
pernambucano? É melhor quan<strong>do</strong><br />
Caetano Veloso vem, sem ser chama<strong>do</strong>,<br />
e fica na rua conversan<strong>do</strong>.<br />
AM | O Frevo perdeu espaço pelo<br />
poder público ou a culpa é da população?<br />
Ld | Temos a mania de culpar o<br />
poder público por tu<strong>do</strong>, mas nos<br />
esquecemos de que os meios de<br />
comunicação também têm sua<br />
parcela, por dizer que frevo é uma<br />
coisa descartável. O Multicultural<br />
é tu<strong>do</strong> contra o frevo. Nas outras<br />
épocas <strong>do</strong> ano, não temos manifestação<br />
de frevo, mas no carnaval,<br />
vem tu<strong>do</strong>.<br />
AM | O que o senhor mudaria no<br />
carnaval de hoje?<br />
Ld | Acabaria com o palco <strong>do</strong><br />
Marco Zero. Para que um palco tão<br />
grande? Só pode ser para fazer dinheiro.<br />
Faria <strong>do</strong>is, com orquestras<br />
tocan<strong>do</strong> e as atrações entrariam<br />
no meio, como era feito antigamente.<br />
Entre uma atração e outra,<br />
às vezes, leva uma hora e quarenta<br />
minutos para subir alguém no palco.<br />
Isso não pode acontecer.<br />
AM | Se essas mudanças ocorressem,<br />
o público não se afastaria?<br />
Estão desacostuma<strong>do</strong>s a gostar de<br />
frevo?<br />
Ld | Não. Quan<strong>do</strong> você bota a<br />
Frevioca na rua, existe uma grande<br />
quantidade de pessoas logo atrás.<br />
O problema é colocar a Frevioca<br />
nos subúrbios. Tem que ser no<br />
centro da cidade. Nos subúrbios,<br />
a Frevioca gasta mais tempo se<br />
deslocan<strong>do</strong> <strong>do</strong> que tocan<strong>do</strong>. Existe<br />
uma mania de espalhar o carnaval,<br />
mas acho que é uma festa que tem<br />
o centro como base, como to<strong>do</strong>s<br />
os grandes eventos.<br />
AM | Os compositores estão<br />
compon<strong>do</strong> menos, já que quase<br />
não se ouve música nova?<br />
Ld | Há muito tempo que se faz<br />
o carnaval e o disco <strong>do</strong> ano não é<br />
publica<strong>do</strong>. É preciso ter organiza-<br />
Alexandre Albuquerque<br />
O Galo da<br />
Madrugada<br />
deixou<br />
de ser um<br />
clube de<br />
máscaras<br />
para ser um<br />
verdadeiro<br />
rap. Não<br />
tem nem<br />
mais<br />
orquestra,<br />
só trios<br />
elétricos<br />
ção, começan<strong>do</strong> em maio <strong>do</strong> ano<br />
anterior para, em outubro, produzir<br />
o cd e fazer um trabalho junto<br />
às rádios.<br />
AM | As mudanças passam pelo<br />
fato <strong>do</strong> carnaval ter vira<strong>do</strong> um<br />
grande negócio?<br />
Ld | Antes era uma paixão, hoje é<br />
negócio. E gosto muito das coisas<br />
apaixonadas, ainda mais se forem<br />
feitas com profissionalismo. Por<br />
exemplo, não acredito que um grupo<br />
de paulistas possa escrever a<br />
memória <strong>do</strong> frevo, como está sen<strong>do</strong><br />
realiza<strong>do</strong> para o novo centro<br />
“Passo <strong>do</strong> Frevo”.<br />
AM | O Galo da Madrugada anunciou<br />
mudanças. O que o senhor<br />
acha disso?<br />
Ld | Deixou de ser um clube de<br />
máscaras para ser um verdadeiro<br />
Rap. Não tem nem mais orquestra,<br />
são apenas os trios elétricos.<br />
A Rua da Concórdia realmente não<br />
tem condições. O Galo era um bom<br />
exemplo <strong>do</strong> que é carnaval. No<br />
desfile era proibi<strong>do</strong> qualquer música<br />
que não fosse frevo. Em 1983,<br />
criaram-se os primeiros carros alegóricos.<br />
Deixou de ser um clube de<br />
máscaras para ser um clube de alegorias.<br />
Quem saiu nos carros não<br />
queria mais ir no chão. Depois, vieram<br />
os trios elétricos e o costume<br />
de juntar os vizinhos para irem fantasia<strong>do</strong>s<br />
foi esmorecen<strong>do</strong>. Hoje, se<br />
pergunta para que camarote a pessoa<br />
vai. Virou um negócio. Agora, é<br />
o maior evento carnavalesco, sem<br />
dúvidas.<br />
AM | Na disputa Pernambuco-<br />
Bahia. Os baianos são mais competentes<br />
para organizar e divulgar<br />
o carnaval?<br />
Ld | A Bahia é o esta<strong>do</strong> mais rico<br />
em recursos naturais <strong>do</strong> Brasil. Começou<br />
a ser divulgada por Dorival<br />
Caymmi, depois Ari Barroso. Depois,<br />
seguiu com Carmem Miranda, que<br />
pegou carona em Hollywood. Agora,<br />
o baiano é muito desorganiza<strong>do</strong>.<br />
Pega as coisas que copia <strong>do</strong>s outros<br />
e não dá continuidade. Porque to<strong>do</strong><br />
ano tem que ter novidade.<br />
AM | Como foi criada a Frevioca?<br />
Ld | Da necessidade de ter orquestra<br />
no Centro, e não ter dinheiro. Na<br />
administração de Gustavo Krause, o<br />
dinheiro era pouco para fazer o carnaval.<br />
Na época, fui o executivo da<br />
Fundação de Cultura da Cidade <strong>do</strong><br />
Recife, então era praticamente responsável<br />
pelo carnaval. Primeira coisa<br />
que fizemos foi tirar a decoração.<br />
Passaram-se quatro anos e ninguém<br />
reclamou que não tinha decoração.<br />
AM | Como foi feito?<br />
Ld | Usamos a criatividade. Tiramos<br />
os refletores de Boa Viagem e<br />
da Prefeitura para colocar no centro.<br />
A Frevioca passava pelas principais<br />
ruas para ocupar os espaços<br />
que eram deixa<strong>do</strong>s pelas agremiações.<br />
Precisávamos de mais agremiações.<br />
Fizemos concursos para<br />
estimular as agremiações.<br />
AM | Por que o carnaval saiu <strong>do</strong><br />
centro?<br />
2011 fevereiro ><br />
><br />
11<br />
u